Editado por Harlequin Ibérica.
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© 1999 Robyn Donald
© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Mais do que amante, n.º 605 - dezembro 2019
Título original: A Reluctant Mistress
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-1328-591-7
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Créditos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Epílogo
Se gostou deste livro…
De pé, num escritório de um agente imobiliário, fingindo verificar umas propriedades, Clay Beauchamp levantou o olhar quando ouviu um riso rouco e baixo.
Na rua, uma mulher parou para falar e a sua voz sensual penetrou nas suas defesas e despertou a resposta masculina.
O sol subtropical do Outono do Norte caiu sobre uma cabeça com caracóis pretos como a noite, tinham o ar de terem sido atacados por umas tesouras, mas o mau corte só enfatizava a sua vitalidade. Enquanto Clay a observava, ela virou a cabeça.
Ao mesmo tempo que controlava a sua excitação física, ele estudou um rosto criado para protagonizar sonhos eróticos.
Não é que fosse bonita… nem sequer bela. Não, possuía algo ainda mais raro, uma sensualidade distante e reservada, produzida pelo feliz acidente genético de uma boca suavemente voluptuosa e uns olhos grandes e rasgados. Aquela mistura tentadora deixava em segundo plano uma pele de marfim e rasgos simétricos.
Clay analisou-a com interesse especulativo e intenso. Calculou que mediria um metro e setenta, com ombros largos e ancas arredondadas, que insinuavam uma sensualidade generosa e, embora falasse com uma pronúncia da Nova Zelândia, apostava que por aquele corpo de pernas compridas corria uma combinação de sangue exótico.
O homem com quem estava a falar interrompeu-a, a rir. Clay franziu o sobrolho. Sem a intervenção das palavras, o seu rosto adquiriu uma percepção vigilante e disciplinada, que negava acesso aos seus pensamentos e emoções.
Aquela boca! Carnosa e vermelha, provocava imagens demasiado vívidas. O que é que seria preciso para ver aquela contenção destruída pela paixão? O suor molhou as têmporas de Clay e ficou com a respiração ofegante quando o seu corpo reagiu com violento entusiasmo àquela ideia.
«Helena de Tróia», pensou, com irritada ironia, «provavelmente teria tido o mesmo efeito sobre os homens que a desejaram».
– É muito atraente, não é?
A voz nasalada do agente imobiliário quebrou a sua concentração. Incomodado por ter sido surpreendido a olhar para uma mulher desconhecida com o fervor de um cão no cio, inquiriu com brusquidão:
– Quem é?
– Natália Gerner. O seu pai comprou uma parcela da herdade Pukekahu… o segundo dossier. Sim, esse… – declarou, enquanto Clay folheava os documentos. – Deve ter sido há uns treze anos, quando o velho Bart Freeman, de Pukekahu, que tinha o fisco atrás dele por atrasos de pagamento nos impostos, teve que arranjar dinheiro rapidamente. A única maneira que encontrou foi dividindo algumas parcelas da sua terra. O pai de Natália, recém-chegado a Auckland e que nunca tinha pisado o campo, comprou uma e baptizou-a com algum nome poético e estúpido e fez todo o possível para entrar na falência.
Clay continuou a olhar para os papéis, mas as palavras fugiram-lhe da mente ao ouvir novamente aquele riso. Com decisão, controlou o seu corpo e obrigou-se a concentrar-se nos negócios que tinha em mãos. Tinha ido à agência com um propósito específico e nada iria meter-se no seu caminho.
O agente imobiliário continuou:
– Mas também tiveram má sorte… a mãe morreu quando Natália fez dezoito anos, depois o pai caiu fulminado por um ataque de coração… há uns três anos atrás. Se se decidir por Pukekahu, e não vai encontrar terras mais baratas no Norte, ela será sua vizinha.
Clay franziu a testa, tentando relegar para o fundo da sua mente o rosto exótico e o riso sensual de Natália Gerner. Estava ali por assuntos de negócios e nenhuma mulher, mesmo uma com o rosto de uma cortesã e um corpo que insinuava todo o tipo de prazeres decadentes, iria interferir com os seus negócios.
Na realidade, tratava-se de algo mais. Era a culminação de anos de tranquilo, constante e implacável esforço e luta. O agente imobiliário sorriu e as suas feições reflectiram astúcia.
– Dizem que é uma rapariga muito generosa. Dean Jamieson, o proprietário da mansão, e ela tiveram uma relação durante uma temporada que acabou por não dar em nada.
A vida ensinara a Clay que demasiada emoção levava à mágoa e à derrota. Ao longo dos anos, tinha aprendido a disciplinar as suas acções e inclusive os seus prazeres, mas teve que fingir que lia a página e que olhava para a fotografia de uma enorme mansão vitoriana nas suas últimas fases de desintegração enquanto tentava conter uma onda de raiva.
O agente soltou uma gargalhada.
– Provavelmente, a jovem pensou que o tinha conseguido, mas ele não pensava romper o seu casamento por ela. Soube que ela quis que ele pagasse as suas dívidas. Não a culpo… porque é que não obteria o melhor da situação?
A sua mente traidora invocou imagens de uma boca sedutora, olhos verdes, uma pele como a seda e um corpo elástico… e conseguiu desterrá-las, mas não antes de sentir um calor que lhe invadia o corpo. Quando conseguiu confiar na sua voz, perguntou:
– Porque é que Jamieson quer vender Pukekahu?
Já tinha sobrevoado as terras para o gado e sabia que as fotografias tinham sido tiradas sob uma luz excessivamente favorecedora, talvez até tivessem sido retocadas. Os terrenos de pastagem há anos que não recebiam fertilizante.
O homem de idade encolheu os ombros.
– É um dos Jamieson de South Island – replicou. – A sua madrasta, que era filha de Bart Freeman, deixou-lhe Pukekahu quando morreu, mas suponho que está demasiado longe das suas outras terras para que mereça a pena conservá-la.
«No entanto», pensou Clay, com fúria, «mereceu a pena despojá-la de tudo o que tinha valor, fazendo com que já não valesse nada. Sim, isso deve ter satisfeito a sua alma pequena e mesquinha».
Talvez o agente tivesse interpretado mal o silêncio de Clay, porque acrescentou:
– É um vendedor muito receptivo.
Outro riso feminino fez com que os dois virassem a cabeça. Zangado consigo mesmo, Clay voltou a prestar atenção aos papéis que tinha na mão.
– Está a falar com o capataz de Pukekahu – declarou o agente, com um sorriso. – Duvido que tenha alguma possibilidade. Para começar, não tem dinheiro suficiente… Phil nunca deixará de ser capataz. É bom no que faz. Se comprar a herdade, faria bem em mantê-lo no seu lugar, embora seja preciso lembrar-lhe o que deve fazer. É um brinquedo para Natália e vai aborrecer-se rapidamente dele. Não demorará nada a encontrar alguém novo… os homens têm andado sempre à sua volta.
Desgostoso, porque não queria ouvir falar da mulher que sorria para Phil e ainda mais desgostoso porque queria aquele sorriso para ele, comentou com voz impassível:
– Se comprar Pukekahu, será porque encaixa nos meus planos e não porque a vizinha do lado é promíscua.
O rosto do agente ficou vermelho.
– Claro – afirmou. – Seja como for, eu não disse que era promíscua! Aquela rapariga tem tido muita má sorte… – algo no rosto de Clay deve tê-lo alertado, porque continuou: – O seu pai deixou-a com muitas estufas e tantas dívidas que provavelmente ainda estará a dever dinheiro quando fizer cinquenta anos. A única coisa que tem a seu favor é o seu aspecto e não a posso culpar por tentar sair do sufoco. No entanto, se alguém pode consegui-lo é ela; tem sido sempre dura e tenaz e é uma grande trabalhadora.
Portanto, tinha algo mais a seu favor do que o aspecto. Era uma pena que tivesse aquela veia de mercenária…
Clay pousou a folha de papel na mesa, fingiu olhar para a seguinte e, com uma voz que não deixou entrever o seu interesse, inquiriu:
– Porque é que está a pagar as dívidas do pai? Normalmente, não são obrigados a isso a não ser que tivessem sido sócios.
– O pai pediu dinheiro emprestado aos amigos para as estufas. Pensava plantar orquídeas, mas os anos de esplendor já tinham passado. Ao morrer, Natália vendeu quase tudo o que não estava embargado e ficou só com dinheiro para pagar parte da dívida. No entanto, os credores principais são um casal de anciãos que teriam ficado sem nada se ela renegasse o resto do empréstimo.
Então, ela tinha consciência, se tinha hipotecado o seu futuro pelo bem de um casal de anciãos. Suprimiu um impulso de protecção e continuou com voz seca:
– Está bem, diga-me porque é que deveria comprar Pukekahu.
Tinha ido ali para comprar aquelas terras perdidas. Por isso, escolhera aquele agente imobiliário pequeno, que provavelmente nunca teria ouvido falar da sua empresa, a Beauchamp Holdings, já que nada daria mais prazer a Dean Jamieson do que fazer subir o preço da herdade se soubesse que o comprador era Clay.
De facto, até era provável que se negasse a vender-lha a ele, mesmo precisando desesperadamente de dinheiro.
Clay desejava Pukekahu com uma ânsia que se baseava na pior das emoções, a vingança, mas não pensava pagar nem mais um centavo do que valia.
E não tinha intenções de deixar que o facto de que Natália Gerber vivesse a meio quilómetro dali o afectasse.