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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Skdennison, Inc.

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Paixão arrebatadora, n.º 639 - setembro 2019

Título original: In Forbidden Territory

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-528-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

 

O sócio de Tyler Farrell entrou no seu escritório com o pânico espelhado no rosto.

– Tens de me ajudar, Ty. Afasta-a de mim durante os próximos dias.

– Quem queres que eu afaste de ti?

– Não te roubará muito tempo. É apenas uma miúda.

– Quem é apenas uma miúda? – perguntou Tyler, com a confusão inicial a transformar-se em irritação. – De quem estás a falar, Mac?

McConnor Coleman parou um momento para respirar fundo.

– A única coisa que sei é o que a minha mãe me contou ao telefone no outro dia. Aparentemente, a minha irmãzinha mais nova quer mudar-se de Portland para Seattle, procurar trabalho e ter o seu próprio apartamento. Chegou ontem à noite e vai ficar comigo enquanto a ajudo a ambientar-se. Prometi à minha mãe que tomaria conta dela. Estás a ver, levá-la uma noite ao cinema, convidá-la para uma pizza, fazer uma visita ao porto ou levá-la ao alto da Agulha Espacial. Essas coisas.

Mac reuniu toda a sua determinação:

– Não vais ter de renunciar à tua agitada vida social para passeares a minha irmã. Como te disse, é apenas uma miúda. Sabes a quantidade de horas que vou ter de dedicar à conclusão do novo desenho. Os planos de expansão da empresa dependem desse projecto. Não quero que ela fique sozinha e aborrecida em casa, e muito menos que ela saia sozinha à noite.

Ty tentou dar algum sentido lógico ao tumulto que assolava Mac.

– Estamos em Bainbridge Island, não estamos em Seattle. Não há nenhuma razão para que não possa sair sozinha.

– Uma miúda não deveria andar sozinha pelas ruas – afirmou Mac, num tom que não admitia discussão.

A testa de Ty franziu-se ligeiramente. Na sua mente surgiu a imagem de Angelina Coleman, a chata rapariga que uma vez conhecera em casa dos pais de Mac, em Portland, Oregon. Abanou a cabeça e suspirou.

– Realmente não tenho tempo para...

– Vim demasiado cedo para o almoço?

Ty voltou-se para onde vinha aquela voz. Aquela voz sensual encaixava perfeitamente com a bela loura que estava à porta. Uma onda de desejo substituiu a surpresa inicial de Ty. Seria aquela impressionante mulher a mesma pessoa a quem Mac tinha chamado de «irmãzinha mais nova»?

Mac aproximou-se dela apressadamente.

– Angie... Já é meio-dia? – perguntou, consultando, envergonhado, o seu relógio. – A manhã parece-me ter corrido a voar.

Ela dirigiu-lhe um sorriso brincalhão.

– Por que será que isso não me surpreende?

Recomposto da surpresa, Ty entrou em acção. Pegou na mão de Angie, beijou-a no dorso e fez-lhe uma reverência.

– Angelina Coleman, Tyler Farrell, ao teu dispor. Seguramente, não te lembrarás, mas conhecemo-nos há alguns anos.

Tyler sentiu a energia que emanava da junção das suas mãos. Uma onda de desejo subiu pelo seu braço e estendeu-se a todo o seu corpo. O olhar decidido dela, que combinava com a expressividade dos seu olhos verdes, provocou outro impulso que percorreu todo o seu corpo, uma estranha combinação de luxúria e cautela.

– É claro que me lembro de ti. Foi há catorze anos, mais ou menos um mês antes de tu e o Mac se licenciarem na Universidade de Washington. Mac era o ansioso, preocupado com os exames finais; eu era a esquelética menina de dez anos com aparelho nos dentes – um deslumbrante sorriso iluminou o seu belo rosto; – e tu eras o estúpido arrogante.

Ty largou-lhe a mão, levou-a ao peito e deu uns passos vacilantes para trás, como se tivesse sido ferido de morte, e a sua acção provocou o riso dela. Era um som encantador, Tyler desejava ouvi-lo uma e outra vez. Ao terminar o contacto físico com ela, uma estranha sensação de perda abriu caminho dentro de si. As palavras dela deixaram-no atónito, mas tinham sido ditas como uma piada, sem malícia. Pelo menos, foi assim que ele as preferiu interpretar.

Recuperou da brincadeira enquanto fazia um reconhecimento do seu corpo atraente. Calculou que media, mais ou menos, um metro e sessenta e cinco, perfeito para o seu metro e oitenta. O seu olhar pousou sobre aqueles olhos cativantes e foi-lhe percorrendo todo o corpo até à ponta dos pés. Um sorriso de apreço formou-se no seu rosto. Era uma mulher perfeita.

Sentiu o peito oprimido. A pele da sua mão ainda vibrava, ali onde tinha estado em contacto com a dela. Forçou-se por mostrar uma tranquilidade que não sentia e dirigiu-lhe um sorriso travesso.

– Bom... Fico contente por ver que pelo menos um de nós melhorou com os anos.

Angie colocou as mãos nos bolsos das calças, numa tentativa inconsciente de apagar a sensação do toque tão arrepiante daquele homem. O brilho travesso nos seus olhos cor de avelã revelava, exactamente, o que estava a pensar. Ela tinha já visto aquele olhar em muitos outros homens antes, mas nunca lhe tinha provocado tanto impacto. Era um olhar que prometia muitas noites de prazer sensual à mulher que tivesse a sorte de partilhar a sua cama.

Também era um olhar que prometia diversão, a capacidade de tirar partido das coisas quotidianas e da vida em geral, algo que Angie não tivera no último ano da sua vida. Queria recuperar essa capacidade de alegria que perdera, precisava senti-la de novo.

Tyler Farrell era um homem muito desconcertante, mas havia algumas coisas que ela não podia subestimar: havia algo mais para além do seu aspecto de estrela de cinema, o seu denso cabelo negro e a sua constituição atlética. Um arrepio de antecipação percorreu-lhe a pele. Podia sentir como que uma paixão que emanava dele e que a fazia estremecer, como ela nunca sentira, e que se recusava a desaparecer.

Angie olhou para o seu irmão. Um olhar inseguro e uma breve expressão de desaprovação surgiram no rosto de Mac enquanto o seu olhar deambulava entre o seu sócio e a sua irmã.

– Hum… Angie… sobre almoçarmos hoje… – começou Mac, inseguro.

Ty tomou, de imediato, o controlo da situação.

– Não dês mais voltas ao assunto, Mac. Sei quão ocupado estás com o projecto. Será para mim uma honra substituir-te e acompanhar Angie a almoçar – afirmou, olhando a cativante mulher e voltando o olhar para o seu sócio. – Faço-o pelo bem da empresa e pelos nossos planos de expansão.

– Não me agrada a ideia de interromper a tua agenda, Ty. Posso garantir-vos que me consigo entreter sozinha até o Mac chegar a casa à noite.

A alusão aos planos de expansão da empresa não lhe passou despercebida. Com um pouco de sorte, os projectos da empresa podiam encaixar com a sua própria agenda, com o objectivo pelo qual se tinha mudado para Seattle: um plano que não tinha partilhado com o irmão, ainda que ele fosse a chave para o seu êxito.

Ty dirigiu-lhe um sorriso deslumbrante e piscou-lhe o olho.

– Não digas parvoíces. Nada é mais importante que convidar uma bela e encantadora dama para almoçar – afirmou, despedindo-se de Mac enquanto saía, reparando no seu olhar de advertência.

Ty acompanhou Angie até à saída do edifício. O aperto no seu peito aumentou ao sentir o seu perfume. Uma onda repentina de incómodo deixou-o inquieto. Sentia-se obrigado a dizer alguma coisa, ainda que não soubesse muito bem o que dizer àquela encantadora mulher que tinha conseguido anular a sua lábia e o seu encanto habituais. Respirou fundo. Talvez Mac ainda a visse como uma criança, mas Angelina Coleman era toda ela uma mulher, bonita e fascinante.

Voltou a respirar fundo e tentou afastar da sua mente os pensamentos lascivos que o invadiam. Não tinha nenhuma intenção de seduzir a irmã mais nova de Mac… a sério que não. O aperto no seu peito aumentou. Sentiu um calor na zona inferior do seu corpo. Ainda que quisesse convencer-se do contrário, uma pizza e uma ida ao cinema eram as últimas coisas em que estava pensar.

Dadas as circunstâncias, os pensamentos libidinosos que controlavam a sua mente e o seu corpo eram absolutamente desapropriados, mas isso não era uma razão suficiente para que desaparecessem. Ela era a irmã de Mac, a sua «irmãzinha mais nova», como ele dizia num tom protector. Um tom que estava relacionado com o olhar de advertência que lhe tinha dirigido.

Ty voltou-se para Angie:

– Vamos já, não? Há um restaurante pequeno e encantador perto daqui, podemos ir andando.

Caminharam pelo cais até ao porto. Ainda que tentasse, Tyler não conseguia afastar o olhar dela. Deleitava-se com os seus traços finamente esculpidos, com o seu nariz direito, com a sua deliciosa boca.

– Por que olhas para mim?

As palavras dela surpreenderam-no. Tentou encontrar alguma explicação plausível.

– Eu… Tentava encontrar semelhanças entre ti e o Mac. Ambos parecem ter traços familiares.

– Somos os dois parecidos com a nossa mãe.

– Não és o que eu estava à espera – comentou Tyler, enquanto a percorria com o olhar. Recordava-se da imagem da menina de dez anos.

Ela suspirou, meio exasperada, meio resignada.

– Pois, essa é também a imagem que o Mac tem de mim sempre que alguém diz o meu nome. Ele e a minha mãe fazem o mesmo, ambos me tratam com condescendência. Calculo que isso possa ser explicado pelo facto de ser a única rapariga e, além disso, por ser a mais nova de uma família com cinco irmãos mais velhos. Mac é o mais velho, tem mais treze anos que eu. Continuo à espera que chegue o dia em que parem de me tratar como uma criança, mas creio que esse dia não está para breve.

Chegaram ao restaurante. Estava um soalheiro dia de Outono e, por isso, sentaram-se na esplanada coberta que havia no cais. Pediram o almoço e Tyler recostou-se na cadeira, tentando transmitir uma sensação de descontracção, algo bastante longe da inquietude que havia dentro de si.

– Mas conta-me, como foi a tua vida desde a altura em que eras essa menininha?

A boca dela esboçou um sorriso brincalhão:

– Foi, principalmente, a tentar que toda a gente me deixasse de ver como essa menininha.

Estava a rir-se dele? A sua mente estava tão confusa que não sabia muito bem o que pensar. Voltou a percorrê-la com o olhar, detendo-se uns instantes na forma como a blusa lhe moldava os seios. Depois, centrou-se na sua sedutora boca, uma boca feita para ser beijada com frequência e paixão.

– E que mais fizeste, para além de não continuares a ter dez anos? – insistiu, com um timbre na sua voz, rouco e sussurrante, que lhe desagradou.

Colocou a cabeça de lado e olhou-a nos olhos. Um arrepio de ansiedade percorreu-lhe a espinha, seguido de um tremor de insegurança. Uma pizza e um filme com a irmã mais nova de Mac... No que é que se estava a meter? Já não tinha muitas certezas, definitivamente.

– Fui para o colégio, depois para a escola secundária e depois participei num concurso de beleza, em Oregon, em que fiquei em segundo lugar.

– Ena... Então és uma rainha da beleza.

Uma sombra de irritação cruzou o rosto dela.

– O título era-me indiferente. O que eu queria mesmo era a bolsa para a universidade. Tinha algumas poupanças, mas não era suficiente e queria arranjar o dinheiro que me faltava. Com a quantidade de cadeiras em que me queria inscrever não poderia trabalhar durante a semana.

Aquilo não era o que Ty esperava ouvir. Ela estava a falar a sério, não como se estivesse a fazer conversa de ocasião. Seria sempre assim tão séria? No pouco tempo que a conhecia, tinha demonstrado ter sentido de humor. Ele não estava habituado a ter conversas sérias com mulheres.

– E o que aconteceu?

– Mac acorreu em minha ajuda, como sempre fez com qualquer membro da família.

A empregada interrompeu a conversa ao colocar os pratos em cima da mesa. Angie observou-a, pensativa e, quando esta se retirou, voltou a concentrar a sua atenção em Ty.

– Como certamente o Mac te contou, o nosso pai morreu quando eu era muito pequena e o Mac ainda estava na secundária. A nossa mãe teve problemas económicos: estava a criar seis crianças sozinha e o dinheiro era mesmo à conta. Depois de ter terminado a secundária, o Mac trabalhou durante dois anos para juntar o dinheiro necessário para a universidade, por isso é mais velho dois anos que todos vocês, que frequentaram a sua turma – brindou-o com um sorriso brincalhão, – e, logo, é mais maduro que a maioria.

Ty voltou a simular como se tivesse sofrido um duro golpe no ego, em parte por brincadeira, mas consciente da parte inerente de realidade.

– O Mac ajudou-me quando precisei dele – continuou Angie. – Tomou a seu cargo o resto das minhas despesas com a universidade. Licenciei-me com inscrição no quadro de honra em Gestão Empresarial e Design Industrial.

Ty deixou escapar um assobio de admiração.

– Isso é um feito impressionante.

– Nunca o teria conseguido sem a ajuda do Mac. Sempre o admirei. Foi não só o meu irmão mais velho como a figura paterna que eu nunca tive. Sempre cuidou de mim – pestanejou para diluir as lágrimas que acorriam aos seu olhos. – Devo-lhe muito.

O que resolveu não contar a Ty foi que sempre se tinha sentido um pouco intimidada por Mac e pelos seus múltiplos sucessos. Idolatrava o seu irmão e sabia que nunca poderia pagar-lhe o que tinha feito por ela.

– Sim, o Mac é muito generoso e dedicado.

– Aparte isso, durante os últimos três anos, depois de me ter licenciado na Universidade de Oregon, trabalhei numa empresa de design industrial, em Portland. Infelizmente, era um trabalho que não oferecia qualquer desafio nem qualquer futuro.

«Para não falar do meu chefe, que pensava que eu fazia parte da decoração e nunca levava a sério o meu trabalho.»

Era uma questão delicada para Angie e uma atitude que a magoava profundamente. Queria ser tratada pelos seus méritos, não pela sua beleza. Houve um momento em que pensou pintar o cabelo para deixar de ser o alvo de todas as anedotas de louras tontas. Mas desistiu logo da ideia: ela era como era e não iria mudar para agradar a alguém cuja opinião não tinha para si qualquer importância.

Ty avivou toda a sua atenção. De repente, ela era mais do que a concorrente incrivelmente bonita de um concurso de beleza. Era inteligente e sabia expressar-se com sentido de humor e um carácter aberto, o que constituía uma brisa de ar fresco, sobretudo quando comparada com a quantidade de mulheres pretensiosas com que estava habituado a lidar.

– A tua família é muito unida, não é? – perguntou.

Era um tema pelo qual ele tinha alguma curiosidade, mas que também lhe provocava algum incómodo, uma vez que não tinha qualquer experiência nesse assunto.

– Sei que o Mac se sente muito próximo da sua família, ainda que não os veja muito frequentemente – continuou Tyler, – o que não me surpreende tendo em conta que é um viciado no trabalho. Nunca guarda o tempo necessário para si próprio, tempo para não fazer nada e para se divertir.

Diversão… A palavra chegou à alma de Angie. Observou Tyler durante uns instantes. Tinha a sensação que ele sim sabia como se divertir e que era alguém com quem se podia passar um bom bocado.

– Sim. Somos uma família muito unida nos nossos corações, ainda que estejamos dispersos geograficamente. Apenas um dos meus irmãos ainda vive em Portland. Os outros mudaram-se para outras zonas do país para construirem as suas carreiras.

– Que gostas de fazer nos teus tempos livres?

– Bom… Gosto de ir a museus, concertos, galerias de arte e ao teatro. E quanto a desportos, pratico esqui, tanto na montanha como na água. Na verdade, adoro tudo o que esteja relacionado com a água. E, além disso, adoro viajar e conhecer novos lugares.

Ele assentiu, concordando com ela.

– Eu no primeiro lugar da minha lista poria navegar, o que é uma sorte, visto que a nossa empresa se dedica a desenhar e a construir barcos «à medida», personalizados. No resto, temos os mesmos gostos.

Angie deu um par de garfadas na sua salada.

– Já falámos o suficiente de mim – disse, e olhou-o interrogativamente. – E tu? Como é a tua família?

As suas recordações de Tyler Farrell eram as mesmas de há catorze anos atrás. Até uma miúda de dez anos conseguia reconhecer um estúpido arrogante e mulherengo. E, a julgar pelo que podia ver, continuava igualmente um mulherengo.

Não tinha dúvidas sobre o que Ty estava a pensar. O brilho de malícia nos seus olhos e o seu sorriso cativante diziam tudo. Mas havia algo mais sob a fachada de bom rapaz de Tyler Farrell. Ela reconhecia honestidade nele em contraste directo com o brilho sexy dos seus olhos e a imagem de playboy que parecia gostar de cultivar. Era o tipo de honestidade que indicava que ela estaria a salvo de avanços não desejados. Provavelmente, ele tentaria seduzi-la, mas aceitaria um «não» como resposta e não a pressionaria. E o mesmo aconteceria se não fosse irmã de Mac, o seu melhor amigo, e, além disso, Ty e ele tinham sido sempre sócios.

Sim, aos dez anos ela tinha pensado que ele era um estúpido. Um formigueiro de excitação percorreu-lhe as entranhas, tornando-a consciente de quanto o achava atraente passados tantos anos. Tinham passado seis meses desde que ela rompera o seu noivado com Caufield Woodrow III, o homem com quem a sua mãe insistia que se devia casar. Tinha tudo: dinheiro, uma boa família, estatuto social e um futuro garantido. Era um homem que lhe teria dado tudo o que ela desejasse. Mas Angie não estivera de acordo com isso: podia ter-lhe oferecido todas as coisas materiais, mas nunca tinha respeitado o que ela queria na vida, ele apenas tinha em conta os seus próprios desejos.

E não sabia divertir-se. Quando estava com ele, Angie nunca ria. E gostava de rir. Tudo era sempre tão sério com ele... Tudo tinha de ser planeado de antemão, não conhecia a espontaneidade. Tinha sido uma relação angustiante, que a tinha asfixiado sob um manto criado por ele, até ao ponto em que ela se começou a afundar.

Angie afastou esses pensamentos da sua mente. Era passado e não queria voltar a pensar nisso. Sentia-se aliviada por ter escapado àquela relação.

– A minha família... – começou Ty.

Respirou fundo, susteve o oxigénio por um momento e depois expirou. A palavra «disfuncional» veio-lhe imediatamente à cabeça. Ele era filho único, criado entre dinheiro e privilégios, mas isso não substituía o tipo de proximidade que Mac tinha com a sua família e que Angie acabava de descrever. A maior recordação que tinha de quando era pequeno eram as constantes brigas entre a mãe e o pai. No fim, divorciaram-se quando ele estava na secundária, mas as batalhas continuaram.

Depois veio o seu desastroso casamento que durou dois anos, quando faltava pouco tempo para terminar a universidade. Era raro o dia em que não tinha uma discussão ou que não estivesse completamente tenso. Uma família? Um casamento feliz e cheio de amor e uma família unida, era algo que ele nunca tinha conhecido. Diria, inclusivamente, que não existia, não fosse o facto de conhecer Mac e a sua família. Mas o casamento e a intimidade emocional era algo que ele nunca conheceria e que não queria tentar experimentar novamente noutra relação; sabia que a tentativa estava condenada desde o início.

Lançou o que esperava ser um sorriso confiante.

– Fui filho único, nascido e criado em Seattle. Os meus pais viviam em Seattle, a minha mãe em Bellevue e o meu pai em Mercer Island. E é tudo.

– Que conciso – respondeu ela, devolvendo-lhe o sorriso e fazendo-lhe perceber que não se sentia ofendida com a sua resposta evasiva, ainda que tivesse sido desconcertante.