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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Stella Bagwell

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Doce coração, n.º 546 - julho 2019

Título original: Falling for Grace

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-281-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Ele estava de volta! As suas preces tinham sido ouvidas!

Sem se importar com a hora tardia, Grace Holliday afastou-se da janela e vasculhou a sala à procura das suas sandálias.

Sem as conseguir encontrar, após uma busca mais do que rápida e superficial, decidiu que nada a impedia de ir descalça até ao bangalô vizinho. Da sua casa, não conseguia ver boa parte da fachada que ficava encoberta pelos pinheiros e pelas magnólias que cresciam à sua volta, mas tinha quase a certeza de ter visto luz na cozinha.

Incapaz de conter a ansiedade, correu pela relva que separava as duas casas. À medida que se aproximava, o seu trajecto tornava-se mais fácil, devido à luminosidade. De qualquer forma, apesar de a gravidez já estar avançada, estava a sentir-se leve como uma pluma ao subir os degraus de madeira que conduziam à varanda.

A porta de madeira estava aberta à brisa do oceano. Pela porta de rede, Grace pôde ver que a pequena sala de estar estava às escuras. O silêncio no interior era absoluto. Trent devia ter adormecido.

Bateu antes de entrar.

– Trent! Trent, sou eu, Grace. Onde estás?

Esperou alguns segundos, quase sem conseguir respirar. À sua esquerda, à porta da garagem, estava estacionado um carro escuro, impossível de distinguir. Não era o mesmo com que Trent viera nas suas férias, mas ele podia ter trocado de carro desde a última vez que se tinham visto.

– Trent! O que se passa? Onde estás?

Mais um longo minuto passou sem qualquer tipo de resposta. Preocupada, Grace resolveu entrar e investigar. Com certeza, Trent não tinha ouvido as suas batidas nem a sua voz, senão já teria vindo a correr para recebê-la. Afinal, a sua volta a Biloxi, após todos aqueles meses, devia significar algo.

Atravessou a sala escura em direcção à luz que provinha da cozinha.

– Trent?

Um rangido no soalho fê-la estremecer e a voz grave provocou-lhe um arrepio de medo.

– Quem é você?

Com o coração aos saltos, Grace virou-se e, sem perceber, começou a recuar até as suas costas tocarem na parede.

– Sou Grace Holliday. E você?

– Obviamente não sou a pessoa que procura.

A voz grave e profunda soou sarcástica e ameaçadora. Assustada, Grace continuou a recuar junto à parede até chegar à cozinha.

– Eu pensei que fosse Trent.

– Eu sei. Eu ouvi.

Grace ergueu uma sobrancelha. Se ele tinha ouvido, porque é que não respondera?

– Trent está?

O homem foi atingido pela claridade naquele momento. Por pouco, Grace não deu um grito, quando ele avançou na sua direcção, parando a poucos centímetros dela.

– Porque é que quer saber?

– Eu pensei que ele…

Grace não conseguiu concluir a frase. Estava demasiado impressionada com o desconhecido. Era alto e forte. Os seus olhos e queixo projectavam uma imagem de firmeza e determinação. Os cabelos castanhos eram levemente ondulados e chegavam à gola da camisa. Apesar das circunstâncias, ela não pôde deixar de pensar que aquele era o homem mais sensual que alguma vez vira.

– Pensou que ele o quê, menina Holliday?

Intimidada, Grace humedeceu os lábios com a ponta da língua e baixou os olhos. Depois, olhou para a cozinha. Nada tinha mudado naquele ambiente aconchegante desde a chegada e a partida de Trent. Ao contrário do que se passara com ela.

– Nada. Vi a luz acesa e pensei que ele tivesse voltado. Desculpe o engano.

A jovem diante dele apresentava o cabelo encaracolado e preto preso no alto da cabeça. Usava calções brancos e uma T-shirt vermelha folgada. Tinha os pés descalços e as pernas, longas e bem torneadas. Mas não foram as pernas que lhe chamaram realmente a atenção. Foi a forma arredondada e saliente sob os seios que o deixou surpreso. Ela estava grávida! Muito grávida!

A constatação desconcertou-o. Por um instante, perdeu a linha de raciocínio, o que era um pecado mortal para um homem do seu ramo.

– O meu nome é Jack Barrett – apresentou-se, por fim.

Mas foi ela que tomou a iniciativa de estender a mão. Jack apertou-a, porque seria rude da sua parte ignorar o gesto, não por sentir prazer em conhecê-la.

– Você… você comprou o bangalô ou algo do género?

Enquanto afastava a mão, Jack decidiu que a jovem não podia ter mais de vinte e dois ou vinte e três anos. Tentou vasculhar na sua mente e recordar se Trent tinha mencionado alguma vez uma rapariga chamada Grace, apesar de saber de antemão que o esforço seria inútil. Numa semana, Trent falava sobre mais raparigas do que a maioria dos homens durante um ano. Além disso, não costumava ver o sobrinho com muita frequência. Aliás, desde que o filho da sua irmã atingira a maioridade, raramente se encontravam.

– Algo do género – respondeu Jack, cauteloso. Se aquela jovem tinha algum tipo de envolvimento com Trent, precisava de descobrir o que poderia querer. As pessoas que se aproximavam dos Barrett normalmente tinham um único objectivo: melhorar a sua situação financeira.

– Diga-me, menina Holliday, tem o hábito de invadir as casas dos outros à noite como acabou de fazer?

Um forte rubor cobriu as faces da jovem e ele reparou que não estavam maquilhadas. A sua pele era naturalmente bronzeada. As pestanas e sobrancelhas eram escuras como os seus cabelos. Os olhos, porém, eram verde-claros. A imagem que lhe ocorreu foi a de uma nativa do Tahiti. Uma mulher naturalmente bela, de uma sensualidade primitiva. Do tipo que faria qualquer homem perder a cabeça.

– Não – respondeu Grace. – Mas a porta estava aberta e eu pensei…

A sombra de um sorriso passou pelos lábios de Jack.

– E pensou que Trent estaria aqui.

Ela anuiu com um gesto de cabeça e ele pôde ver a decepção estampada no seu rosto.

– Vive aqui em Biloxi?

– Na casa ao lado – informou ela. – Foi assim que conheci Trent por ocasião das suas férias no início do ano.

Jack voltou a accionar os dados da sua memória. Trent tinha acabado a faculdade no fim de Dezembro e ele deve ter-lhe oferecido a casa de praia para descansar. Ou talvez Trent tivesse vindo sem o avisar. O sobrinho nunca precisara de pedir licença para usufruir do bangalô. Afinal, este estava sempre fechado e vazio. Desde que o comprara, era a sua primeira visita.

A propriedade tinha sido adquirida há dois anos por uma pechincha. Um dos seus empregados estava a precisar de uma importância com urgência e resolveu vender o bangalô. Jack preencheu um cheque mais para o ajudar do que por interesse pela casa. Afinal, para que é que lhe serviria um bangalô numa das praias do Mississipi?

– Dois anos e ainda não sentiste curiosidade em conhecer o lugar? – as palavras da sua secretária, no dia anterior, foram a alavanca que o levou a tomar a decisão de viajar. No início, respondeu a Irene que não havia mais nada que tivesse o poder de lhe despertar a curiosidade, pois já tinha feito e visto tudo o que poderia ser feito e visto. Felizmente, enganara-se ao afirmá-lo. Nunca tinha conhecido uma criatura tão atraente e interessante como Grace Holliday.

– Há quanto tempo não vê esse… Trent?

Grace hesitou. Não conhecia aquele homem. Porque haveria de lhe dar satisfações sobre a sua vida particular?

– Eu… Eu acho melhor voltar para casa. Sinto muito ter invadido a sua casa. Espero que me desculpe.

Jack cruzou os braços e encarou-a com desconfiança.

– Já pediu desculpas. Se não estivesse grávida, eu diria que entrou aqui para roubar.

Um brilho de incredulidade surgiu nos olhos verdes, mas imediatamente foi substituído por outro de indignação.

– Ora, por eu estar grávida é que deve estar a pensar uma série de coisas erradas a meu respeito.

E estava. Mas não o tipo de coisas que ela imaginava. E por conhecer as mulheres como conhecia, resolveu não dizer que era tio de Trent. Pelo menos até descobrir quais eram as suas intenções em relação ao seu sobrinho.

O olhar de Jack recaiu sobre a mão esquerda de Grace. Ela não usava aliança, nem sequer um anel de compromisso.

– Esse Trent é seu noivo?

Grace negou com um gesto de cabeça, mas deteve-se em seguida.

– Porque é que quer saber?

Jack encolheu os ombros.

– Por nenhum motivo em especial. Talvez, pela sua forma de o chamar. Parecia ansiosa por vê-lo.

Era verdade. Cinco meses se tinham passado desde que Trent a deixara. Chegara a aceitar o facto de que ele não a queria na sua vida. Mas não deixara de rezar todas as noites para que ele voltasse.

– Sim – admitiu ela, num fio de voz.

– Pretende casar-se com ele? – insistiu Jack.

Um sorriso triste surgiu naqueles lábios. Jack sentiu-se mal ao vê-lo.

– Não.

– É o pai do seu bebé?

Grace respirou fundo.

– Sinto muito, mas tenho que ir. Adeus, Jack Barrett.

Por um momento, quando ela passou por ele, pensou em agarrá-la pelo braço. Mas não o fez. Era óbvio que Grace não queria falar com ele. E ele não estava em posição de a pressionar sem parecer suspeito.

Quando ouviu a porta de rede bater, Jack dirigiu-se ao alpendre e seguiu Grace com os olhos.

Ela caminhava devagar e de cabeça baixa em direcção à casa vizinha. Sem dúvida estava a tentar encontrar uma maneira de contar aos seus pais que não era Trent quem estava no bangalô, mas sim, um desconhecido.

Jack não queria acreditar que Trent fosse o pai da criança. O seu sobrinho não era do tipo solitário. Se realmente viera passar as férias ao bangalô, teria trazido amigos. Sempre que o via, estava com um grupo. Não seria de admirar que a jovem se tivesse envolvido com um dos amigos de Trent e agora estivesse a querer a sua ajuda.

De uma forma ou de outra, Jack estava determinado a descobrir o que acontecera. Pelo menos pela sua irmã. Jillian era dez anos mais velha do que ele e fora abandonada pelo marido, quando Trent nascera. A última coisa de que a sua irmã precisava na vida era de uma caçadora de fortunas a tentar aproveitar-se do seu único filho.

 

 

Trémula, Grace atirou-se para cima da sua cama de dossel. Fechou os olhos com força e cerrou os punhos na tentativa de expulsar a imagem de Jack Barrett da sua mente. Não sabia quem era nem o que estava a fazer em casa de Trent. Só sabia que ele não gostara da sua pequena visita.

Sentiu os olhos marejarem, mas conteve o choro. Era tarde de mais para lágrimas e arrependimentos.

Ainda assim, o seu coração tinha-se deixado embalar pela esperança ao ver luz no bangalô. Trent tinha voltado. Senão por sua causa, pelo menos pelo filho. Ela tinha aceite a realidade. Trent não a amava. A vinda a Biloxi significara apenas uma oportunidade de diversão e de descanso, após os seus exames finais na Universidade do Texas, em Austin.

Comunicou-lhe a gravidez, assim que o resultado do teste foi positivo. O silêncio de Trent deixou-a desesperada no início, mas, pouco a pouco, os sentimentos que lhe dedicara foram morrendo. Mas não a esperança de que Trent assumisse a paternidade. Não queria que o seu filho ou filha fosse considerada uma criança ilegítima.

A frágil esperança tinha morrido de vez naquela noite. Em vez de Trent, ela vira-se diante de um homem estranho, diferente de todos os que já conhecera. Um homem que exalava autoridade com um simples olhar.

Não encontrou coragem para lhe perguntar se estava ali sozinho ou se tinha planos para ficar por uns tempos. A urgência em afastar-se daqueles olhos cinzentos perscrutadores ocupou todos os seus pensamentos. Mas, mesmo na segurança e na escuridão do seu quarto, Grace continuava a sentir aqueles olhos pousados no seu corpo e no seu rosto.

 

 

Na manhã seguinte, Irene, a secretária de Jack, demorou a atender.

– O que é que aconteceu? Ocupada a comer bombons? – quis saber Jack, impaciente. – Já ia desistir.

– Não, estava a tentar seduzir um dos teus clientes, mas agora já podes falar. Ele fugiu ao terceiro toque – brincou Irene. – Mas, porque é que estás a telefonar para cá, afinal? O médico não ordenou que te afastasses do trabalho e das preocupações?

Jack deu um suspiro, enquanto tentava obter uma visão melhor da casa ao lado. Ainda era muito cedo quando viu Grace entrar no carro carregando uma pilha de livros e uma mala de palha. Tinha o cabelo solto pelos ombros e a brisa que vinha do mar agitava-o, da mesma forma que fazia com a saia longa e florida contra as pernas, moldando-as. Momentos depois, ela tinha saído em direcção a Gulfport e até àquele instante não tinha regressado. A velha e imensa casa parecia silenciosa. Ou os pais de Grace ainda não se tinham levantado ou ela morava sozinha.

– Não estou a trabalhar, Irene – protestou Jack. – Estou apenas a falar contigo.

– Não sei porquê. Disseste que não querias ouvir nem os toques de telefone nem de despertadores nem o som da rádio e da televisão ou de vozes enquanto estivesses de férias. Frisaste que não querias nem sequer pensar em processos, depoimentos e veredictos.

– É verdade. Não penses que mudei de ideias acerca disso.

Jack pousou a chávena vazia na mesinha em frente ao sofá, enquanto ouvia Irene rir do outro lado da linha.

– Por acaso estás a pensar em demitir-te da Barrett, Winslow e Layton?

«Estou?», perguntou-se Jack. Na sua opinião, pedir demissão era o mesmo que perder. E Jack Barrett nunca tinha perdido uma causa. Não sabia o significado da palavra derrota. Por outro lado, o excesso de trabalho e de tensão nervosa vinha afectando a sua saúde nos últimos tempos e não tivera outra alternativa, senão consultar um médico. O seu estômago parecia estar em chamas. A pressão sanguínea estava suficientemente alta para o matar.

Durante trinta minutos, foi obrigado a ouvir o discurso do médico sobre a sua necessidade de viver e não apenas de trabalhar. Tentou explicar ao médico que não tinha uma vida fora do escritório e dos tribunais, mas ele recusou-se a ouvi-lo.

– Então, arranje uma, senão em breve não terá oportunidade para isso.

– Não respondeste, Jack – insistiu Irene. – Estás a demitir-te?

– Não daria esse desgosto ao meu pai – respondeu, sem pensar.

– John Barrett está morto, Jack – lembrou-o Irene. – Já não precisas de fazer o possível e o impossível para lhe agradar.

John Barrett. Durante anos, a simples menção daquele nome fazia as pessoas tremerem. Ninguém queria enfrentar o maior advogado do país num tribunal.

Desde que Jack era criança, o pai induzira-o a seguir os seus passos e a continuar no escritório criado pela família há várias gerações.

– Não telefonei para ter uma sessão grátis de psicanálise, Irene. Só quero saber se tens visto ou falado com Jillian.

Irene fez uma pausa.

– Não me lembro da data exacta, mas acho que foi há duas semanas que falei com a tua irmã. Ela passou por aqui para te ver, mas estavas no tribunal nesse dia.

– Ela disse sobre o que queria falar?

– Não. Acho que saiu para fazer compras e aproveitou para te ver. Porquê?

– Ela não disse nada sobre Trent?

– Não. Eu perguntei-lhe por ele e ela disse que estava bem. Contou-me que está a gostar do novo emprego.

– E sobre a namorada?

-se cada vez mais comuns.

Aquela rapariga tinha algo de especial. Ao estender-lhe a mão, fizera-o lembrar uma dama da aristocracia sulista criada nos valores da moral e da família. A sua postura não combinava com a de uma mulher capaz de se deitar com um homem para lhe extorquir dinheiro.

 

 

Algumas horas depois, as gaivotas começaram a fazer tanto alvoroço, que Jack resolveu levantar-se da espreguiçadeira e ver o que se passava.

Pestanejou ao dar-se conta de onde estava e recordou de um relance os últimos acontecimentos. O diagnóstico do médico e a consequente viagem a Biloxi no dia anterior. A inquietação que sentira ao entrar no bangalô e a surpresa de ver Grace Holliday invadi-lo em seguida.

Ao pensar na jovem vizinha, Jack olhou em direcção à sua casa. Ela já deveria ter chegado. Não que a estivesse a vigiar. Passara quase toda a tarde a trabalhar num caso, apesar da promessa que fizera a si mesmo e a Irene de que iria descansar. Quando resolveu fazer um pequeno intervalo, sentou-se na varanda e entregou-se ao murmúrio do oceano e às fragrâncias do mar e dos pinheiros.

«Devia estar mais cansado do que supunha para adormecer», deduziu enquanto se dirigia à casa contígua.

Parou, chocado, ao ouvir a voz de Grace.

– Joshua, não faças isso com o instrumento. Lembra-te do que te tenho ensinado nas últimas três semanas. Mantém-no firme e em posição. Agora, tenta outra vez.

A que é que ela se estava a referir? Incapaz de seguir em frente, Jack tentou espreitar por entre os arbustos de azáleas que dividiam os dois quintais.

Viu-a de costas. Ela vestia a mesma saia comprida e a mesma blusa amarela, mas o cabelo estava novamente preso como na noite anterior. De Joshua, não viu nem sequer sinal. Até que, subitamente, o barulho que o acordara se repetiu e Joshua, um menino de cerca de oito anos, apareceu no seu campo de visão munido de um violino.

Um aprendiz de violinista! Que Deus o ajudasse! Viera em busca de paz e de silêncio! Aquele era o som mais insuportável que alguma vez ouvira na sua vida. E Grace Holliday não podia ser uma professora de música. Era demasiado jovem para isso. E estava muito grávida!

– Assim está melhor, Joshua – elogiou-o Grace. – Mas continuas com dificuldade em manter o violino e o arco ao mesmo nível. Lembra-te de os igualar.

– Sim, menina Holliday. Prometo prestar mais atenção. É que não consigo pensar no arco, quando tenho de mudar os dedos de posição.

Jack viu Grace dar uma palmadinha no ombro do menino e sorrir-lhe.

– Eu sei, Joshua. Ao princípio é difícil, mas dentro de pouco os sons tornar-se-ão harmoniosos. Num piscar de olhos, estarás a tocar como Strauss.

Com um resmungo de impaciência, Jack voltou para o bangalô, fechou todas as portas e janelas e ligou o ar condicionado. Já era tarde, de qualquer maneira. Prepararia algo para comer e depois arranjaria maneira de falar novamente com Grace. E, desta vez, pretendia obter algumas respostas.