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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Sara Wood

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A amante inocente, n.º 534 - junho 2019

Título original: The Innocent Mistress

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-202-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Kathleen O’Hara pensou em Lorcan Fitzgerald e estremeceu. Era como se, durante os três meses anteriores, tivesse estado uma espada presa por um fio sobre a sua cabeça.

A sua apreensão tivera início logo após a morte de Harry, quando o procurador publicara um anúncio no Irish Times em busca de alguma informação sobre o paradeiro de Lorcan, irmão de Harry. Daí em diante, sempre que Kathleen acordava, de manhã, imaginava que seria o último dia que passaria no belo solar georgiano.

Se Lorcan viesse reclamar a sua herança, nada seria como antes. Kathleen e o seu bebé estariam na rua.

– Calma, Kathleen, o feijão não vai fugir!

Ela pestanejou, voltando à realidade, ao ouvir a brincadeira de Declan e ao dar-se conta de que parara de escolher os feijões e que apertava um entre os dedos.

– Seu tolo! – sorriu, divertida. – Eu estava a imaginar o que poderíamos fazer, se Lorcan entrar em contacto.

– Acho que não vale a pena preocupares a tua linda cabecinha com isso. Não houve resposta ao anúncio, que não foi mais publicado. Lorcan teve uma oportunidade e perdeu-a.

Por via das dúvidas, Kathleen tentou não se animar muito.

– Pode ser. Mas ainda não estou tranquila.

– Bem, eu estou. O Ballykisteen é teu, afinal.

– Metade dele – corrigiu-o, enxotando um bando de galinhas, muito interessadas nos brilhantes feijões.

– E isso não é espantoso? Ainda não entendi o que Harry pretendia, ao dividir o solar entre vocês dois. Sei que ele mudou muito naquelas últimas semanas, mas não poderia estar tão confuso, pois não? Lembro-me bem de que Harry tinha aversão a Lorcan!

Kathleen suspirou, procurando desviar as terríveis recordações do ano que tinha passado.

– Pobre Harry… Suponho que ele tenha querido deixar as dívidas ao irmão, num último gesto de antagonismo.

– Talvez. Mas aquelas dívidas são tuas por direito e sou capaz de bater em quem disser o contrário! – com aquelas palavras, Declan provocou Kathleen, tal como tinha pretendido. – Vamos, sabes que estou certo. Eras esposa de Harry por piedade, Kate!

Kathleen estremeceu e nada disse. Ninguém sabia que ela e Harry nunca se tinham casado. Sempre se sentira culpada pela mentira que ambos impingiram aos outros, mas jurara nunca dizer nada.

No entanto, se Lorcan aparecesse no solar, um dia, se viesse a saber de tudo…

Ela empalideceu. Não suportava nem pensar nisso. Temia pelo futuro do bebé. Que o céu tivesse pena deles, se Lorcan desvendasse o segredo!

 

 

Faltavam menos de duas milhas para chegar a casa. Lorcan soltou um brado de triunfo, quando uma repentina energia se espalhou pelos seus músculos e por todas as partes do seu corpo cansado.

Reanimado pela adrenalina e com mais entusiasmo do que precisão, começou a cantarolar, acompanhando uma canção folclórica irlandesa tocada no rádio do carro.

Deu uma dentada na sanduíche de rosbife que comprara em Galway. Estava faminto.

Estivera oito anos ausente, lembrou-se, espantado. E se Harry não tivesse morrido de forma prematura, jamais teria voltado.

Procurou encontrar no seu íntimo um mínimo de tristeza, mas não conseguiu. Uma breve irritação ensombrou a sua alegria. Porque deveria lamentar-se por Harry? As mentiras do seu irmão tinham-no marcado tanto, que acabaram por denegrir a sua reputação.

Os Fitzgerald tinham adoptado os dois rapazes de diferentes famílias: Harry, logo ao nascer; Lorcan, onze anos depois, ao completar nove. Fora um erro fatal. Em vez de se tornarem companheiros um do outro, passaram a ser inimigos no mesmo instante, por se verem como o invasor e o invadido.

Agora, porém, Harry já não existia para atormentá-lo.

Passou os dedos pela cicatriz irregular que lhe descia pela mandíbula, causada por Harry numa brincadeira estúpida e que tinha servido de pretexto para aproximação de inúmeras mulheres.

Então, lembrou-se de Kathleen, a mais ambiciosa e ardilosa das criaturas.

Filha ilegítima do administrador do seu pai, Kathleen parecia frágil e desamparada, quando era criança. Morena, de óculos e aparelho nos dentes, era o eterno alvo das brincadeiras cruéis de todos.

No entanto, na adolescência, ela tornara-se uma beleza, com cada centímetro perfeito. O aparelho de correcção fora removido para revelar dentes brancos e impecáveis, num sorriso constante. O problema visual fora corrigido e a sua pele…

Lorcan apertou com força o volante. Afagá-la fora como tocar pura seda.

Contudo, havia um problema… Kathleen atraía-o para um perigo sensual e exótico.

Sedutora e irresponsável, ela revelara-se uma mulher fútil e gananciosa, louca por sexo e poder. Aos dezassete anos, beijara-o. Uma hora depois, estava a rir com Harry, na cama. Na manhã seguinte, Lorcan viu-a aos abraços com Declan, o filho do jardineiro.

Com uma exclamação irritada, reposicionou-se melhor no assento. Apesar da sua exaustão, uma parte da sua anatomia parecia ter saltado para a vida.

Irado, flexionou os dedos enrijecidos e o pescoço, numa tentativa de aliviar a tensão sexual. Desejá-la era uma perda de energia preciosa.

Pouco a pouco, conseguiu acalmar-se.

Por sorte, ela e a mãe há muito que tinham deixado o solar de Ballykisteen. Caso contrário, Lorcan teria sido tentado a pôr de lado os seus planos em relação à propriedade e a concentrar-se em arquitectar uma vingança bem justificada.

Os seus olhos brilharam. Agora, sim, poderia esperar algo para o futuro.

 

 

Curvando-se para acariciar as orelhas macias dos seus dois cães, Kathleen estremeceu ao pensar no que aconteceria a todos os animais que recolhera, se Lorcan aparecesse e a forçasse a partir.

Próximo dali, no caminho que atravessava a horta cercada, vários gatos, com as mais variadas deficiências, apanhavam sol, felizes da vida. Da várzea que ficava além, ela podia ouvir os gansos a grasnar quando o velho burro e dois póneis adoptados galopavam de baixo para cima no cercado, em alegre brincadeira.

– Sei que é maldade minha dizer isto, mas não posso deixar de desejar que Lorcan nunca apareça por aqui.

– Seria um desastre, sem dúvida alguma – concordou Declan, num tom sombrio.

Kathleen sentiu uma irresistível vontade de chorar.

– O que achas que ele faria, Dec? Iria insistir para comprar a minha parte?

– Bem, não poderias comprar a parte dele, pois não?

– É ridículo! Só posso conseguir algum dinheiro se o solar for vendido! Não há dúvida de que eu seria forçada a ir-me embora. O que acontecerá ao Conor, a mim, a ti, à Bridget, às crianças, ao Kevin, aos nossos fregueses… a todos os que dependem do nosso negócio?!

– Não te aborreças…

– Não posso evitar, Dec. Tentei ser sensível e aceitar a situação, mas tenho pensado nisto noite após noite, desde que Harry morreu. Estou a ficar doente por me preocupar tanto!

Declan olhou para ela.

– No caso de Lorcan reivindicar os seus direitos, terias de dividir tudo com ele. Rachar a horta ao meio: cebolas à direita, repolhos à esquerda. Cada um ficaria com metade do burro. Diz a Lorcan que pode ficar com os bodes e divide a casa de modo a que a cozinha fique para ti. Que tal?

Kathleen fez uma careta, sem poder deixar de sorrir, ainda que por polidez. Declan era uma pessoa agradável, que procurava evitar conflitos. Sempre optara por soluções mais fáceis.

No entanto, ela e Lorcan não poderiam jamais viver próximos um do outro, quanto mais sob o mesmo tecto. O seu desprezo contundente deixara feridas, que Kathleen ainda tentava curar. Numa explosão selvagem, ele expulsara-a e lançara-a num pesadelo.

– Impraticável – Kathleen enrolou uma madeixa negra entre os dedos. – Podes imaginar as discussões? Sem dúvida, provocariam terramotos. Lorcan iria querer atirar-me para a sarjeta, de onde acha que vim.

Ela suspirou.

– Espero que ele nunca volte!

– Nunca voltará, Kate. Pára de te preocupar.

Mas ela não podia evitar. Linhas de ansiedade marcavam a sua testa. Lorcan sempre a amedrontara e fascinara pela sua extravagância, como se fosse um cavalo selvagem inesperado. Harry contara-lhe histórias muito assustadoras sobre ele.

E agora eles eram inimigos. Kathleen sabia que não possuía nenhum direito em relação ao solar que tanto adorava e que Lorcan se aproveitaria desse facto para encará-la com o seu terrível olhar, até que ela revelasse toda a verdade. E, então, ordenar-lhe-ia que fizesse as malas.

Kathleen começou a tremer dos pés à cabeça.

– Grande dia! – comentou Declan, sem suspeitar o que lhe ia na alma.

– Perfeito. Uma residência maravilhosa, céu azul, nuvens além das montanhas, pássaros a cantar… – Kathleen olhou ao redor com uma tristeza cada vez maior, imaginando que iria ver tudo aquilo pela última vez.

Não! Ela não conseguiria suportar! A respiração tornou-se difícil.

– Não quero partir, Declan! Farei tudo o que puder para ficar. Rastejarei, suplicarei a Lorcan de joelhos para que se vá e nos deixe em paz!

– Não, não farás isso.

– Farei! Se acontecer e Lorcan insistir que eu vá, implorarei para ser sua criada, lavar os seus pratos… talvez mesmo lamber as suas botas, se ele insistir!

Declan, com uma expressão sombria, enterrou o forcado no chão e aproximou-se dela, apoiando as suas mãos enormes e sujas de terra nos seus ombros frágeis. Kathleen sentiu-se protegida por aquele homem gigantesco, cujos cabelos eram pretos e lisos como os dela.

– A graxa costuma deixar um gosto péssimo na boca, querida.

– Oh, Dec! – riu-se, sem achar graça. – Não deixes que isso aconteça comigo!

– Não acontecerá, Kate.

Kathleen sentiu o desespero atravessar-lhe a alma com a agudeza de uma faca. Nunca fora capaz de superar a morte de Kieran. Aquilo fazia com que aumentasse ainda mais o seu amor pelo bebé, Conor, que agora era o seu bem mais precioso.

Por Conor, sacrificaria até o seu orgulho, se isso garantisse a sua segurança e protecção.

Conteve a respiração. Lutaria com unhas e dentes, agradaria, manipularia… Faria qualquer coisa para salvaguardar os direitos de Conor.

 

 

A vila de Dooley surgiu, por fim. A taberna agora estava pintada de rosa e roxo, com as molduras das janelas e portas em turquesa. Refeito dessa visão, Lorcan sentiu os músculos relaxarem quase que por milagre.

Um banho prolongado e uma farta refeição irlandesa com uma garrafa de cerveja preta pô-lo-iam em forma. E depois…

Os muitos planos que tinha para o solar fariam arrepiar os cabelos da sua mãe, pensou, ansioso.

Animado, antecipou a surpresa da sua mãe quando chegasse. Ela tinha parado de responder às suas cartas há cinco anos e a nota seca de Harry deixava claro que o culpava pela morte do seu pai adoptivo.

Naquela ocasião, Lorcan encontrava-se tão dilacerado pelo remorso, que não se sentia capaz de encarar a possibilidade de ser rejeitado pela mãe. Muitas pessoas tinham reagido assim no passado. A rejeição era algo com que ele não sabia lidar e, assim, afastara da mente o aparente alheamento da mãe, dedicando todas as horas da vida ao trabalho; e os anos a passar, velozes, tal como a água através dos dedos.

Agora que Harry estava morto, Lorcan sentia-se confiante de poder reconquistá-la. Sorriu, ao decidir que não se dedicara ao curso de direito em vão.

Através da janela aberta, inalou o cheiro bom e limpo do ar salgado. E com ele chegou o indisfarçável aroma da turfa queimada, cujas fatias secas eram usadas como combustível nas lareiras das tradicionais casas de Ballykisteen.

Alegrou-se ao ver que alguns edifícios ainda ostentavam os telhados de palha, com redes de cordas para torná-los seguros durante os violentos vendavais do Atlântico.

Naquele momento, tudo estava calmo e o mar à sua direita cintilava como vidro. Um silêncio agradável vindo das colinas verdejantes parecia penetrar nos seus ossos doloridos.

Estava em casa.

Feliz, soltou um longo suspiro. Aquele condado mágico e belo, na costa atlântica da Irlanda, jamais deixara os seus sonhos.

Quantas vezes despertara com o coração repleto da agonia da saudade? E agora, os seus sonhos tornavam-se realidade.

Um sorriso incrédulo suavizou todas as linhas das suas faces angulosas. Amava aquele lugar com uma paixão que fora forçado a negar desde a sua partida repentina e indesejada, com a idade de vinte anos. Nada o faria afastar-se daquela vez.

Diante da agência de correios, que orgulhosamente ocupava a sala da frente da senhora O’Grady, viu um grupo de pessoas a conversar.

Sentiu um frio no estômago ao reduzir a velocidade, de acordo com o permitido no local. Para sua surpresa, notou que as suas mãos tremiam. Exaustão, diagnosticou.

– Boa tarde, senhora O’Grady… Senhoras… – Lorcan ficou tenso ao ver a senhora O’Grady erguer o punho contra ele.

– Vá-se embora, Lorcan Fitzgerald!

– Um bom dia para si, também! – e fechou logo a janela do automóvel.

«Que bela recepção!». Bem, fora tolice imaginar que lhe tivessem perdoado ou esquecido.

Respirando fundo, bebeu um gole de água para acalmar o mal-estar, imaginando que deveria agradecer por não estar a viver no século dezanove, quando teria sido pendurado na árvore mais próxima para ser comido pelos corvos.

Uma olhada rápida para o retrovisor mostrou a figura atarracada da senhora O’Grady a gesticular e a gritar. As pupilas dela faiscavam. Ela apontava para os rochedos escarpados da parte Norte da baía, onde o seu pai adoptivo escorregara, acabando por mergulhar e morrer no oceano.

– Sim, eu lembro-me. Está gravado dentro de mim. Não tem coração, mulher? – murmurou Lorcan e acelerou com uma violência desconhecida, que não imaginara possuir.

Fora um acidente, mas mesmo assim ele ficara marcado como o assassino do seu pai. Não era verdade. Não importava o que pensassem, pois não era culpa sua.

E quando os seus planos começassem a tomar forma, conseguiria redimir-se diante dos habitantes da vila.

Alcançou a entrada do solar de Ballykisteen, passando devagar pelos belos jardins, de forma a que o barulho do motor quase não pudesse ser ouvido.

Pretendia envolver a sua mãe nos braços e esperar por uma reacção instintiva dela. Não queria dar-lhe a hipótese de se lembrar de alguma mentira que Harry lhe tivesse dito durante todos aqueles anos.

Ansioso, curvou-se para a frente para ter uma primeira visão da sua querida casa. Ao fazê-lo, o seu coração parou por um momento e Lorcan teve de lutar para acalmar a raiva que lhe subiu ao peito.

Algo estava errado. A pintura não se encontrava em perfeitas condições como dantes e duas janelas estavam a soltar-se das dobradiças. Os seus olhos penetrantes buscaram detalhes reveladores e localizaram um pedaço de calha a cair e, depois, partes da chaminé a deslocarem-se.

A construção ainda era maravilhosa, mas percebia-se muito bem que não tinha recebido os reparos necessários.

– Harry… A deixar as coisas ao deus-dará!

Desligou o motor e dirigiu-se à entrada principal. Encontrando a porta aberta, lembrou-se de que, naquela parte da Irlanda, ninguém trancava nada.

– Mãe?

O silêncio imperava.

Lorcan foi de sala em sala, notando, cada vez mais alarmado, que faltavam alguns objectos de valor. O grande espelho dourado por cima da lareira da saleta de desenho. Um vaso de Portland da sala de jantar que valia, por baixo, cerca de trinta e cinco mil libras. Um dos candelabros do salão de baile.

O seu pulso disparou.

Por quanto tempo Harry estivera doente? Porque não existia sinal da presença da sua mãe? E quem levara aqueles objectos de tanto valor?

Um ladrão, talvez. Ou pior…

Um calafrio percorreu-lhe a espinha ao perceber que algo acontecera. Sem examinar a ala dos empregados, subiu os degraus a correr, dois a dois, e entrou no quarto da sua mãe.

Nenhuma fotografia, nem chinelos, perfumes ou cosméticos. Olhou para a cama coberta com lençóis empoeirados e teve de encarar a verdade inevitável: a sua mãe poderia não estar viva.

Chocado, e quase no fim das suas resistências, cambaleou, recostando-se numa das grandes janelas internas. E ali ficou, imóvel.

Atordoado, pensou na mulher que se tornara sua mãe, que lhe dera um lar e que o tinha amado, apesar de todos os esforços de Harry para separá-los… até as suas cartas pararem de chegar. Nunca lhe ocorrera que tal quietude pudesse ter ocorrido devido ao seu falecimento.

Os seus olhos brilharam cheios de lágrimas, quando imaginou os seus últimos momentos. Talvez tivesse chamado por ele… e Harry, satisfeito e triunfante, ter-se-ia recusado a satisfazer o seu pedido.

Hesitante, Lorcan apoiou-se no parapeito, numa frustração e pesar sem remédio. Poderia ter estado ao lado dela. Harry proibira-o de pôr os pés no solar, mas ele, Lorcan, não tinha medo de nada nem de ninguém e deveria ter ignorado aquela ordem em benefício dela.

Um cansaço extremo tomou conta dele. Estava tão abatido, que não conseguia raciocinar bem. Se não se deitasse logo, cairia a dormir onde estava.

Então, ao erguer a cabeça, um movimento lá fora no jardim atraiu a sua visão confusa.

Ergueu a mão e esfregou os olhos húmidos, desejando que uma das figuras desfocadas que estava lá fora fosse a sua mãe.

Afinal, talvez a sua vinda não estivesse destinada à tristeza.