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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Michelle Celmer

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Brincadeira de crianças, n.º 602 - junho 2019

Título original: Playing by the Baby Rules

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-055-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

– Digo-te mesmo a sério, Lisa, que o que tu precisas é de uma bisnaga.

– O quê?

– Uma dessas coisas que se usam para regar o peru antes de metê-lo no forno.

Marisa Donato ergueu os olhos da caixa de velas aromáticas que estava a guardar na estante e fulminou com o olhar Lucy López, a sua sócia maluca.

– Queres que seja fecundada com uma bisnaga? Deves estar a brincar.

– Se o sexo te desagrada tanto, porque não?

Marisa fez uma careta quando as duas raparigas que estavam a escolher sutiãs se entreolharam, divertidas. Falar de sexo seria normal, com toda a certeza, já que a loja era uma sex shop, mas desde que ela a transformara em Segredos Íntimos, uma boutique de roupa interior, que a mercadoria sexual era coisa do passado. A linguagem descarada da sua sócia era, no entanto, algo a que Marisa ainda não tinha conseguido pôr freio.

– O sexo não me desagrada – disse em voz baixa. – Desagrada-me esse tipo de sexo. E mesmo que considerasse a ideia de fecundar-me com um artigo de cozinha, coisa que não penso fazer, onde iria buscar o… material genético?

Sem pensar nas clientes, Lucy respondeu:

– Não sei. Num banco de esperma?

Como resposta chegou um risinho do outro lado da loja.

Marisa fez outra careta.

– Não me parece que possa entrar e dizer: «Olá, quero retirar um depósito». Além disso, parece-me uma coisa esquisitíssima.

– Bem, então esqueçamos isso da bisnaga – suspirou Lucy, tirando uma caixa de fósforos para acender uma vela de sândalo. – E que tal se fizeres o que tínhamos pensado no princípio, fecundares-te artificialmente?

– O médico disse-me que as probabilidades de sucesso são de dez a quinze por cento por cada ciclo menstrual e ele é suposto ser um dos especialistas mais importantes de Michigan. Isso quer dizer que poderia custar-me uma fortuna. Recomendou-me fazê-lo de forma natural.

– Ou seja, ou gastas uma fortuna ou tens de fazê-lo como toda a gente.

– Exactamente. E por culpa da endometriose poderia demorar meses a conceber.

Lucy apoiou os cotovelos no balcão.

– O que tu precisas é de um homem que queira manter relações sexuais sem compromisso.

– Sim, presumo que assim seja – suspirou Marisa, com um nó no estômago. Ironicamente, a sua mãe teria adorado tal situação. Um homem diferente cada noite e subiria às alturas.

– E que homem não aceitaria isso? – riu Lucy. – Em Royal Oak deve haver, pelo menos, uns duzentos.

– Isso era o que ela temia. A ideia de manter relações sexuais com um estranho parecia-lhe tão… nojenta. Infelizmente, estava a ficar sem alternativas.

O que começara na sua adolescência como um par de dias desagradáveis em cada ciclo menstrual era agora uma dor insuportável. O check-up anual com o seu ginecologista revelou o que já suspeitava: que a operação era inevitável. E se queria ter um filho, teria de fazê-lo rapidamente.

Os meios artificiais tinham-lhe parecido a resposta até que descobriu que custava um dinheirão e que a percentagem de êxito era muito reduzida. A adopção de um menino estrangeiro também custava uma fortuna e para uma rapariga solteira adoptar uma criança do país era quase impossível.

Existia sempre o convencional «casar e ter família», mas os oito divórcios dos seus pais haviam-lhe ensinado uma lição: a felicidade conjugal não era para ela. Quando foi para a universidade já tinha perdido a conta dos «tios» que viveram com ela e a sua mãe. Tios que, quando Marisa começou a crescer, a olhavam de um modo que a punham doente. Nunca se atreveu a dormir sem fechar a porta do seu quarto a sete chaves. Mais valia prevenir…

Nas suas circunstâncias, deveria ter esquecido a questão de ter filhos, mas ultimamente cada vez que se cruzava com uma mãe a empurrar um carrinho de bebé sentia a habitual pontada de inveja a transformar-se numa angústia infinita. Marisa desejava, com todas as suas forças, ter o carinho incondicional de um filho e dar-lhe todo o amor que acumulava guardado no seu coração.

Mas, deitar-se com um estranho? Poderia descer tanto o nível quando passara toda a vida a evitar esse tipo de existência frívola?

– Não sei se posso fazê-lo – disse a Lucy. – E se pudesse, teria de ser com alguém com quem quisesse ir para a cama. E, sobretudo, com um homem que eu gostasse para pai do meu filho.

– Tem de haver alguém – suspirou a sua sócia e amiga, afastando um caracol da testa. – Vamos a ver, diz-me o que estás à procura.

Marisa sentou-se no banco atrás da caixa registadora.

– Bem, para começar, deveria ser saudável e não ter nenhuma doença genética.

– Parece-me razoável. Terias de pedir-lhe um historial médico. Mais alguma coisa?

– Teria de ser atraente. Não é preciso que seja lindo, só razoavelmente bonito. E agradável. Não poderia deitar-me com alguém que não me agradasse.

– Isso não parece ser assim tão difícil – disse Lucy, contando com os dedos: bonito, agradável, saudável… quem conhecemos que corresponda a essa descrição?

Nesse momento, tocou a campainha da porta e Marisa levantou a cabeça para saudar a nova cliente… mas não era uma cliente. Era o seu melhor amigo, Jake. Com cara de aflito, por causa do calor asfixiante de Julho, de camisa havaiana e sandálias.

– Olá, meninas.

Marisa olhou para Lucy, Lucy olhou para ela e as duas voltaram-se para olhar para Jake.

– Marisa?

Ela e Jake? Sim, pois. A ideia era tão absurda como a da bisnaga para perus. Jake e ela eram amigos desde o liceu. Sim, inicialmente gostava dele. Na verdade, todas as raparigas da escola gostavam de Jake Carmichael. Mas já não era uma adolescente. E não se arriscaria a estragar a sua amizade. Era demasiado importante para ela.

Marisa negou com a cabeça.

– Isso é que não pode mesmo ser.

– Jake olhou para uma e para a outra, surpreendido.

– Que se passa?

– Nada – sorriu Marisa. – Pensei que estarias toda a tarde no estúdio.

– Precisava de descansar um bocado – disse ele, apontando para a porta. – Tenho sanduíches no jipe e pensei que te apeteceria comer no parque.

– Que boa ideia – sorriu Lucy. – É mesmo um rapaz muito agradável, não é?

– Sim, Lucy, é muito agradável – assentiu Marisa, enviando-lhe uma mensagem com o olhar: «fecha o bico».

Infelizmente, a sua sócia não era muito boa a entender mensagens em código.

– E hoje estás lindo, Jake.

Ele passou uma mão pelo cabelo.

– A sério?

– A sério. E pareces muito saudável. Aposto que na tua família não há nenhuma doença genética.

Sob o balcão, Marisa pisou um pé da amiga, sem deixar de sorrir.

– Ai!

– Jake, vou já de seguida ter contigo. Espera-me lá fora.

Ele olhou para as duas com cara de caso, mas encolheu os ombros.

– Estacionei no fim da rua.

A porta mal se fechara quando Lucy abriu a boca…

– Não! – interrompeu-a Marisa. – Não o digas.

– Porque não? Seria perfeito. Como podes ser amiga de um homem como Jake e não quereres deitar-te com ele? É incompreensível.

Marisa saltou do banco, tirou o telemóvel da mala e guardou-o no bolso.

– Nós não temos esse tipo de relação.

– Porque não?

– Porque não. E a ideia de procurar um estranho para ficar grávida… é repulsiva. Não posso fazê-lo, Lucy. Teremos de pensar numa outra solução.

As raparigas que estavam a ver sutiãs aproximaram-se então.

– Esse não era Jake Carmichael, o saxofonista? – perguntou uma delas, deixando um sutiã carmim sobre o balcão.

Admiradoras. Ufa!

– O próprio – disse Marisa.

A que falava deu uma cotovelada à outra.

 

 

– Bem te tinha dito que era ele. Fogo, é bom como o milho.

Marisa ergueu os olhos ao céu.

– Querem uma vela aromática?

– Já te vi no bar onde ele toca – prosseguiu a rapariga. – Estás sempre sentada na primeira fila. É o teu namorado?

– Bom, não podemos dizer nada – sorriu Lucy, conspiradora. – Ainda não é oficial.

– Não vamos contar a ninguém. Pois não?

A sua amiga assentiu, entusiasmada.

 

 

– Não contaremos a ninguém. Prometo-te.

– Bem, se me prometem… – disse Lucy, inclinando-se um pouco. – Estão noivos. Vão casar na Primavera.

– A sério? – a rapariga do sutiã não pareceu ficar muito contente com a notícia. – Que sortuda.

Marisa sorriu.

– Dir-lhe-ei que encontrei duas das suas fãs. Ele ficará muito contente.

O que não era verdade. Apesar da sua popularidade, Jake seria sempre a mesma pessoa. Isso das fãs fazia-lhe pele de galinha.

– Poderias apresentar-no-lo – insistiu a rapariga. – Assim pedir-lhe-íamos um autógrafo.

– Ou uma madeixa de cabelo – murmurou Lucy.

Marisa cerrou os lábios para evitar uma gargalhada.

– Tenho a certeza que conseguiríamos arranjar isso – disse, guardando o sutiã numa caixa. – Voltem quando quiserem.

Quando as clientes saíram, Lucy fez uma expressão de desagrado.

– Fogo, que chatas que são as fãs.

– E tu não deverias contar-lhes parvoíces.

– Porquê? Era uma brincadeira. E em relação ao sexo…

– Não – interrompeu-a Marisa. – Não vamos falar mais sobre esse tema.

– Vá…

– Não. Vou-me embora, voltarei dentro de um bocado – disse, abrindo a porta. – Liga-me para o telemóvel se precisares.

– Pensa bem – insistiu Lucy. – Jake seria perfeito!

Marisa estava a escapar-se às bocas da sua amiga e, ao voltar-se, chocou contra um sólido torso masculino.

– Eia, que apressada! – sorriu Jake.

A porta fechou-se então, batendo-lhe no traseiro e empurrando-a na direcção dele. Marisa apoiou uma mão no seu torso e, pela primeira vez, apercebeu-se de que era um torso duro, cheio de músculos. A imagem súbita que lhe surgiu na mente, exactamente do que ela e Jake teriam de fazer para ter uma criança, fez com que sentisse um calafrio.

Ela nunca pensara em Jake daquela forma… Era tudo culpa de Lucy, disse-se.

Mas não podiam fazê-lo. Era impossível.

– Sou perfeito para o quê? – perguntou ele então, pegando-lhe no braço.

Ele tinha ouvido aquilo. Que horror!

Jake tinha umas mãos grandes e fortes, mas o toque era surpreendentemente delicado. E Marisa teve de fazer um esforço para afastar-se.

– Que se passa contigo?

Deu-se conta então de que estavam no meio da estrada, interrompendo a passagem. E deu-se conta também de que sentia calor não só no braço, mas noutras zonas do corpo.

– Estou bem. Vamos.

– Para que seria perfeito? – insistiu ele.

– Para nada – respondeu Marisa. Sentia as gotas de suor a cair pelo decote… Deviam estar mais de quarenta graus na rua, mas o sol não tinha culpa. Sem dúvida, Lucy atingira o seu objectivo. Se tivesse mantido a boca calada…

– Depois de dezassete anos, sei quando estás a mentir – sorriu Jake. – Vamos, diz-me.

– É melhor não saberes.

– Porquê?

– Porque sim.

– Marisa, por que ficaste corada?

Por favor…

– Vamos, apressa-te – interrompeu-o ela, quase correndo para o jipe. Jake não tinha nenhum problema para segui-la, enquanto ela estava quase a ter um enfarte.

– Não vou parar de perguntar-te, portanto é melhor dizeres-me já.

– Não posso.

Ele pestanejou com aquelas pestanas que seriam a inveja de qualquer mulher.

– Por favor.

– Não.

– Por favor, Marisa, por favorzinho…

Estava certa de que continuaria a chateá-la até que lhe dissesse, por isso…

– Vamos, diz-me. Para que seria perfeito?

– Sexo, Jake – disse ela, por fim. – Lucy acha que serias perfeito para umas cambalhotas…