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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Kristi Goldberg

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Da paixão ao amor, n.º 494 - dezembro 2018

Título original: Dr. Destiny

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-319-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Era Adónis disfarçado de médico e estava de pé junto à porta do gabinete de Cassandra Alien.

Cassie centrou toda a sua atenção em Brendan O’Connor quando ele entrou na sala e se sentou numa cadeira. O seu alvoroçado cabelo castanho indicava que tinha tido um dia agitado, tal como os seus olhos verde-azulados que combinavam com a sua bata. Mudavam de cor como um camaleão para combinar com a sua aparência e, às vezes, em função do seu humor. Ele era um camaleão, ainda que a maior parte das pessoas não pensasse isso de um homem tão sereno e tranquilo, mas Cassie conhecia-o.

Considerava Brendan um bom amigo e um excelente neonatologista e não podia evitar de se sentir atraída por ele. A maioria das mulheres que o conheciam apaixonavam-se um pouco por ele e ela não era excepção.

Cassie fechou o arquivador e, depois de pousar a caneta sobre a mesa, disse:

– Bom, o que é que eu fiz para que tenhas vindo até aqui?

– Nada de mal – disse ele com um pequeno sorriso que fez com que o coração de Cassie acelerasse. – Só te queria dizer que acho que trataste muito bem dos Kinsey.

Cassie retirou importância ao elogio.

– O trabalho social é assim e, para além disso, são boas pessoas.

Brendan deixou de sorrir.

– Crianças a ter crianças. Dás-lhes umas cervejas, ficam com as hormonas descontroladas e vê o que acontece. Gémeos prematuros.

Ela bebeu um golo de café frio e fez uma careta, sabia muito mal mas era a única coisa que tinha para humedecer a garganta.

– Pelo menos, os Kinsey têm um bom apoio – e os bebés tinham pais que os amavam, algo que Cassie nunca tinha tido. – Não têm dinheiro, mas estou a tratar do assunto.

– Também não terminaram o secundário – Brendan afastou a cadeira e pôs os pés sobre a mesa. – Farei com que esses bebés se ponham bons e depois mando-os para casa.

Cassie conhecia Brendan há seis meses e, visto que era uma das assistentes sociais do hospital San António Memorial, tinha trabalhado com ele em várias ocasiões. No entanto, nunca o tinha visto criticar os pais dos seus pacientes.

Ainda que às vezes fosse muito difícil saber o que estava a pensar, Cassie tinha aprendido a notar quando algo o aborrecia e essa tarde havia qualquer coisa a incomodá-lo.

– Qual é o problema, Brendan?

– O que é que queres dizer? – perguntou ele olhando-a.

– Vamos, estás a falar comigo. Cassie a clarividente, lembras-te? – sorriu ao pronunciar a alcunha que ela tinha atribuído a si mesma depois de acertar no que ele estava a pensar em mais do que uma ocasião. Ele já não tentava ocultar-lhe os seus pensamentos, quem sabe porque se sentia bem com ela. Era assim aquela amizade e, cada dia que passava, Cassie valorizava mais a amizade que mantinha com ele.

Permitiu que ficasse uns minutos em silêncio, tinha aprendido que era melhor não pressionar Brendan. Mais tarde ou mais cedo, ele falaria.

Ele suspirou e uma nuvem de tristeza embaciou o seu olhar.

– Acho que o bebé dos Neely não vai sobreviver. – Cassie tentou achar palavras de consolo.

– A senhora Neely deu à luz com o quê, vinte e nove semanas?

– Vinte e sete. O bebé pesa pouco mais de um quilo e tem muitos problemas – ficou em silêncio uns instantes. – Às vezes pergunto-me por que é que faço isto.

Cassie também já tinha pensado nisso, mas Brendan nunca lhe tinha dado essa informação. Não era a primeira vez que o via preocupado com um dos seus pacientes e, inclusive, às vezes parecia-lhe que se preocupava demasiado.

Para além do stress, havia alguma coisa que o preocupava, algo pessoal. Ela nunca lhe tinha perguntado nada e ele nunca lhe tinha dado nenhuma pista acerca de quais eram os motivos da sua preocupação.

– Fazes isto porque és muito bom na área – disse ela com optimismo. – Porque és o melhor.

– Se tu o dizes…

– Exactamente.

– Tenho boas notícias – disse ele.

Cassie perguntou-lhe com interesse.

– Encontraste a rapariga dos teus sonhos?

Ele esboçou outro sorriso.

– O Matthew Granger vai amanhã para casa com os pais.

Cassie queria gritar de alívio, não só por o bebé dos Granger ter sobrevivido ao seu nascimento prematuro, mas também por Brendan não ter encontrado a sua meia laranja. Isso não devia preocupá-la, desde o momento em que se conheceram, seis meses atrás, ela soube que estavam destinados a ser só amigos, ainda que às vezes ela desejasse algo mais. Mas Brendan tinha-lhe deixado claro que ele não procurava nada mais que amizade e ela não queria complicar a relação que mantinham ao confessar os seus sentimentos.

– Bem, Brendan, isso é estupendo – disse-lhe. – O doutor Granger e o doutor Brooke devem estar contentíssimos. Tens que pensar nisso. És o responsável por esse pequeno milagre e por muitos outros.

– Não deveria perder nem um só – tirou os pés da mesa e levantou-se. – Vou-me embora. Já suportei tudo o que posso suportar neste sítio.

O que Cassie sabia com toda a certeza era que ele não podia ficar sozinho nessa noite. E o que é que ela tinha em casa? Uma casa vazia e um gato arisco. Nada muito atractivo e nada comparado com passar a noite com Brendan O’Connor a jogar uma amigável partida de ténis.

A única coisa que podia fazer era propor o jogo e esperar que ele aceitasse.

– Ah, já terminaste por hoje?

Brendan parou à porta.

– Sim, o meu turno terminou. Agora entra o Segóvia.

– Muito bem. Vem ter comigo aos campos de ténis dentro de uma hora.

Ele olhou para o relógio.

– É tarde.

– Já temos jogado mais tarde.

– Não tenho a certeza se que serei uma boa companhia.

Tinha chegado o momento de usar a artilharia pesada. Brendan gostava de deporto tanto como Cassie e, assim, ela decidiu aproveitar-se disso.

– Não há nada como um jogo amigável para acabar com o stress.

– Obrigado pelo convite, mas não me apetece.

– Vamos, Brendan. Sê justo. É a minha vez de te dar um pontapé no traseiro.

– Achas que me podes dar uma abada, eh?

– Sim.

– Se tu o dizes.

– Tenho a certeza – ela pôs-se de pé e sorriu. – O que é que me dizes?

Brendan suspirou e disse:

– Suponho que se estás decidida a dar uma abada a alguém, será melhor que seja a mim.

– Estupendo – aproximou-se dele e deu-lhe uma palmadita no queixo. – Quem sabe será melhor levares uma almofadinha para proteger o traseiro.

– Não é necessário. Não vais ganhar.

– Isso é o que vamos ver, Doutor.

Brendan sorriu e uma covinha apareceu na sua face. Cassie adorava o seu sorriso, adorava quando ele baixava a guarda e deixava de ser um rapaz para se converter num homem. Adorava quando ele se ria, algo que não acontecia muitas vezes nos últimos tempos.

Esse era o objectivo que Cassie tinha para aquela tarde, fazer com que Brendan O’Connor se risse… e, claro, ganhar.

 

 

– Ganhei! Ganhei!

Brendan riu-se ao ver Cassie correr pelo campo, agitando a raqueta sobre a cabeça como se tivesse ganho o torneio de Wimbledon. A sua saia branca e curta subia e baixava com cada movimento, deixando a descoberto os seus músculos bronzeados. A brisa fresca do mês de Outubro agitava umas quantas madeixas louras que tinham escapado do rabo-de-cavalo de Cassie. O seu sorriso, o olhar malandro dos seus olhos escuros e o seu corpo de atleta podiam desintegrar qualquer homem, inclusive Brendan. Mas ele não estava disposto a estragar a relação ao tentar procurar algo mais que uma amizade, não importava o quão tentadora ela fosse. Também não estava disposto a estragar o momento da sua vitória dizendo-lhe que a tinha deixado ganhar. De acordo, não a tinha deixado ganhar, mas também não se tinha concentrado no jogo. Tendo em conta que no seguinte dia seria o aniversário de um acontecimento que preferiria esquecer o quanto antes, não podia pensar noutra coisa. Apesar de tentar durante anos, não tinha conseguido esquecer.

Cassie aproximou-se dele e disse-lhe:

– Eu disse-te que ganhava, não foi?

– Não me podes deixar em paz? – tentou falar com seriedade, mas não conseguiu conter uma gargalhada.

– Ah! É a segunda vez que o fazes hoje.

– O quê?

– Rir.

Ele encolheu os ombros.

– E? Estás a anotar?

– Sim e, como prometi, consegui alcançar o meu objectivo – aproximou-se dele e deu-lhe uma palmadita no traseiro.

– Vais-mas pagar, Cassandra Alien.

Brendan correu atrás de Cassie, mas ela foi mais rápida. Só a alcançou quando chegaram à entrada traseira do clube, agarrou-a pela cintura, deu-lhe várias voltas e depois abraçou-a.

– Solta-me, Brendan O’Connor.

– Não solto até me pedires desculpas por te aproveitares do meu cansaço e do meu vulnerável traseiro.

Cassie ergueu o queixo com decisão.

– És um bruto.

Brendan agarrou-a com mais força.

– Eu é que sou o bruto?

– Estou a falar a sério. Solta-me – disse, contorceu-se nos seus braços.

Ele desejava que deixasse de se mover, havia partes do seu corpo que não podia ignorar. O roçar dos seus seios contra o seu peito, o toque dos seus músculos… A única coisa que tinha que fazer era soltá-la, mas, por algum motivo, não conseguia fazê-lo ou, quem sabe, não queria.

– O que é que vais fazer agora?

Ela olhou-o um instante e pôs um sorriso malvado.

– Queres mesmo saber?

– Sim.

– Está bem, tu é que pediste.

Agarrou-lhe o rosto com as mãos e beijou-o na boca.

Brendan largou-a assustado.

Ela deu um passo atrás e sorriu.

– Funciona sempre.

Brendan não se moveu, nem pronunciou uma única palavra. Não conseguia, os seus pés estavam presos ao solo por uma estranha força que provinha dos lábios de Cassie.

Cassie voltou-se e dirigiu-se até à porta de vidro. Brendan conseguiu mover-se e seguiu-a.

Ela parou com a mão na ombreira da porta e olhou para ele.

– Vou tomar um duche. Encontramo-nos à porta dentro de vinte minutos. Podes convidar-me para beber cerveja.

Brendan tinha de ir para casa e dormir um pouco, eram quase dez horas mas, depois do beijo que Cassie lhe tinha dado, duvidava que conseguisse dormir. Por isso seria melhor aceitar a sua oferta.

– Está bem, mas despacha-te.

– Tu é que tens que te despachar – disse Cassie indo-se embora.

Brendan dirigiu-se aos vestiários e tomou um duche mais longo do que o normal para tentar não pensar no beijo de Cassie. Não conseguia tirá-la da cabeça. Porque é que o tinha feito? Se queria mesmo que a soltasse, podia ter-lhe dado um murro. Quem sabe queria impressioná-lo. Se esse era o seu objectivo, tinha conseguido.

Brendan gostava muito de Cassie, gostava que o ouvisse como uma boa amiga e não tinha intenção de estragar algo tão bom fazendo algo tão estúpido como beijá-la. Beijá-la de verdade.

Ele não precisava de mais complicações, já tinha bastantes com o seu trabalho e com a sua vida.

Brendan vestiu umas calças de ganga e uma t-shirt e foi ter com Cassie. Ela estava impaciente junto à porta principal.

– Estás cinco minutos atrasado – protestou.

– Os duches estavam ocupados – mentiu. Só estava um rapaz a tomar um duche e tinha terminado muito antes de Brendan, mas não estava disposto a admitir que tinha demorado mais tempo debaixo do duche para tratar de apagar os efeitos do beijo de Cassie. Era melhor ignorar o facto, quem sabe uma cerveja ajudaria a esquecer.

Caminharam até um pequeno bar nos arredores e sentaram-se na sua mesa favorita, uma que estava a um canto. O local estava quase vazio e só havia dois homens de negócios sentados ao balcão.

Brendan pediu uma cerveja para Cassie e outra para ele, uma rotina habitual que se tinha convertido em algo tão agradável como o seu sorriso. Brendan gostava de cerveja importada e ela de nacional, ele normalmente bebia duas e ela raramente terminava uma. Sorriu ao pensar em como tinha memorizado os hábitos de Cassie… como afastava o cabelo da cara com uma mão, como estava sempre a transbordar energia e como tinha que brincar com qualquer coisa que tivesse ao seu alcance, fosse uma palhinha ou um papel. Aquela noite não era excepção e ela já estava a brincar com um guardanapo.

Brendan iniciou a conversa com uma desculpa tardia:

– Desculpa ter sido tão duro com os Kinsey.

Cassie largou o guardanapo e agarrou a mão de Brendan.

– Não faz mal, Brendan. A sério.

– Faz, faz sim. Não tenho direito de julgar ninguém – o seu comentário era mais sincero do que Cassie imaginava.

Brendan retirou a mão, agarrou a caneca de cerveja e limpou uma gota que caía, desejando poder ignorar o efeito da carícia de Cassie. Nunca o tinha afectado estar tão perto dela, mas agora sentia que a sua companhia afectava os seus instintos básicos.

Nunca tinha desejado nada mais do que conversar com ela, nem sentido a necessidade de tocá-la, ainda que às vezes tivesse gostado de o fazer.

Nesse momento, tinha que conter a vontade de acariciar o contorno da sua boca com um dedo ou com os lábios.

Cassie continuou a brincar com o guardanapo.

– Estás preocupado com as dificuldades de se ser pai na adolescência, Brendan. Ninguém te pode culpar por isso.

Não, Cassie não o ia culpar por isso nesse momento, mas se soubesse que Brendan reagia dessa maneira perante os jovens pais devido a um erro que tinha cometido anos atrás, quem sabe mudaria de opinião.

– Pelo menos parece que estão a tentar – era mais do que ele tinha feito.

Cassie bebeu um golo de cerveja e olhou para Brendan com preocupação.

– Pois é, os dois pareciam comprometidos a cuidar das crianças. Já sabemos que nem sempre é assim.

Brendan supunha que ela via a situação do ponto de vista de uma assistente social. O bom e o mau. Ele admirava a sua convicção e a sua força. Se ele tivesse tido essa força… Durante um momento pensou em confessar os seus pecados a Cassie, mas depois pensou melhor. Ela não tinha que saber os erros que ele tinha cometido no passado, isso poderia fazer com que ela mudasse de opinião sobre ele e arruinar a melhor amizade que alguma vez tinha tido.

Olhou para o relógio. Eram onze da noite, mais tarde do que esperava, tinha que ir para casa. Ainda que não gostasse de ter que se separar de Cassie, tinha a responsabilidade de estar em boa forma logo de manhã para tratar dos seus pacientes.

– Já terminaste?

Cassie estava abstraída, como se estivesse noutro mundo onde ele não estava incluído. Não era o seu estilo, normalmente ela estava sempre muito atenta. Quem sabe também estaria preocupada com alguma coisa.

Brendan agitou a mão diante dos seus olhos.

– Estás aí?

Cassie deu um salto e disse:

– Desculpa, acho que estava a sonhar acordada – sorriu, mas os seus olhos escuros pareciam perturbados. – Estás pronto para te ires embora?

– Não até tu me dizeres o que é que se passa contigo.

– Não se passa nada, só estava a pensar.

– Em quê?

– Em bebés.

– Há alguma coisa que me queiras dizer?

– Como por exemplo?

– Estás grávida?

Cassie arregalou os olhos.

– Estás louco?

Ele encolheu os ombros.

– És uma mulher muito bonita, Cassie. Tudo é possível.

– Estás muito equivocado, doutor O’Connor. Teria que… como é que hei-se dizer?… teria que me expor ao perigo para ficar grávida e, a menos que eu estivesse adormecida, isso não me acontece há muito tempo.

– Não há possibilidades?

– De forma alguma.

– E como é isso? – perguntou ele com curiosidade.

– Como é o quê?

– Como é que ainda não assentaste? Desde que te conheço, não me lembro que tenhas saído com ninguém.

– Não tenho tempo para essas coisas, tenho demasiado trabalho. Para além disso, não tenho intenção de assentar nem de ter filhos até ter todo o tempo do mundo para me dedicar a eles. – Brendan sentiu-se aliviado, principalmente por saber que ela não tinha intenção de ter filhos. Mesmo que ele não tivesse nada que opinar acerca do que ela fazia, ou com quem o fazia, não gostava da ideia de ver Cassie com um homem que ele não conhecesse.

– Bom, Cassie, é uma lástima que não tenhas oportunidade de te expores ao perigo. Há alguma coisa que eu possa fazer a esse respeito?

Cassie atirou-lhe com o guardanapo.

– Que engraçadinho.

Na realidade não se tratava de ser engraçado, ele também não queria ter filhos, mas praticar com Cassie também não lhe desagradaria, mais do que isso, parecia-lhe uma ideia agradável.

Afastou a cadeira e levantou-se.

– Está na hora de ir para a cama – disse, e arrependeu-se. Não queria dizer isso.

Se Cassie tinha ficado surpreendida, não o demonstrou. Sorriu e disse:

– Brendan, por muito que me apeteça ir para a cama contigo acho que deveríamos escolher um momento em que não estejamos tão cansados de trabalhar e de jogar ténis.

Estaria a brincar? Quereria mesmo ir para a cama com ele? Não. Como sempre, só estava a tentar provocá-lo com o seu sarcasmo descarado. Eram precisos dois para que o jogo continuasse.

Brendan inclinou

– Tens razão, Cassie. Para te mostrar todas as jogadas de O’Connor iria precisar de toda a noite e, tal como estão as coisas, tenho a unidade de cuidados intensivos de neonatologia cheia de bebés prematuros que necessitam da minha atenção e tenho que estar bem lúcido amanhã de manhã.

Cassie pegou na sua mala e retirou o cabelo da cara com a mão.

– Toda a noite, eh? Eu só preciso de dez minutos para fazer com que te ajoelhes aos meus pés.

Brendan sentiu o coração a acelerar, deu um passo atrás e permitiu que Cassie se levantasse. Mas as suas palavras sensuais retumbavam na cabeça. Dez minutos? Não podia ser, ela devia estar a gozar com ele outra vez. Nesse momento, Brendan sentiu os joelhos a tremer e não era devido à partida de ténis nem ao efeito da cerveja.

Brendan acompanhou Cassie até ao carro, com a ideia de se despedir dela antes de cometer um grande erro, antes de sugerir que tinha mais dez minutos antes de se ir embora. Deduziu que o repentino desejo que sentia por ela se devia ao facto de não ter relações sexuais há algum tempo ou, quem sabe, à necessidade de escapar à vida real e à necessidade de esquecer os erros do passado.

Quando chegaram ao carro de Cassie, ela voltou-se e disse a Brendan:

– Foi um bom jogo, O’Connor. Prometo que da próxima vez serei mais branda contigo, em consideração ao teu exigente trabalho e ao teu corpo cansado.

Brendan não queria que fosse mais branda com ele, nem queria que se fosse embora.

– Foi tudo muito bem, excepto uma coisa.

– O quê? Eu ter celebrado o meu triunfo?

Sem pensar no que estava a fazer, Brendan agarrou o rosto e acariciou-lhe o queixo com o polegar.

– Tem a ver com uma coisa que começaste mas que não terminaste.

– Céus, Brendan, eu pago-te a cerveja. Para além disso, foste tu que me disseste para me despachar…

Ele silenciou as suas palavras com um beijo. Não com um simples beijo nos lábios, não havia nada de inocente na sua forma de agir e, quando Cassie separou os lábios, ele introduziu a língua e sentiu o calor da sua boca e a maneira perfeita como ela encaixava no seu corpo.

Mas a perfeição tinha um preço e o corpo de Brendan pagava por isso. Estava quase a perder o controlo e não podia permitir que isso acontecesse, tal como não podia permitir que o beijo continuasse para não lhe custar a sua amizade.

Afastou-se dela e pediu-lhe desculpas com a respiração acelerada.

– Não sei porque é que fiz isto.

Cassie apoiou-se no carro e cruzou os braços. Tinha as faces coradas e os olhos escuros e turvos.

– Não tenho a certeza de que o impulso é o que actua em momentos como este, mas sei que não se deve dar demasiada importância.

– Foi mesmo um impulso.

– Achas que sim? Quero dizer, não me atiraste ao chão para me violar nem nada disso.

– Temos uma boa amizade, ou tínhamos, se não estraguei tudo agora mesmo.

– A única coisa que estragaria tudo é se me dissesses que beijo muito mal. Então, teria que te dar com a raqueta na cabeça.

«Isso é o que devia ter feito uns segundos atrás», pensou Brendan.

– Quanto à tua maneira de beijar, numa escala de um a dez dou-te… – franziu a testa e olhou-a fixamente.

– Estou à espera.

– Um vinte.

Cassie sorriu e respondeu:

– Tens sorte, safaste-te. Por agora.

Brendan perguntou-se sobre o que lhe prepararia o destino da próxima vez que estivesse com Cassie. Se não se controlasse, quem sabe dessa vez não se conseguisse conformar só com um beijo.