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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2009 Helen Brooks

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Com sinceridade, n.º 1645 - Outubro 2015

Título original: The Boss’s Inexperienced Secretary

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-7467-1

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

Como fora tão estúpida para se meter naquilo? O velho ditado de que o orgulho levava à queda ia tornar-se realidade, nesse dia. Há muito tempo que devia ter enviado uma carta educada, a dizer que tinha mudado de opinião devido a circunstâncias imprevistas…

Kim gemeu e olhou-se ao espelho de corpo inteiro, no quarto. Não costumava admirar-se tão a fundo. Costumava bastar uma olhadela para verificar se a maquilhagem não estava borrada, que não tinha um buraco nas meias. Nesse dia, era diferente. Tinha de estar perfeita dos pés à cabeça.

Os olhos castanhos sob uma franja espessa, castanha, retribuíram um olhar ansioso. Talvez não devesse ter escolhido o fato azul. Um tom mais suave teria sido melhor. Os cinzentos neutralizavam as suas curvas generosas, sem enfatizar o facto de, com um metro e oitenta de altura, descalça, ser aquilo que o pai, amavelmente, apelidava de escultural. A mãe, uma loira minúscula, esbelta e delicada, limitava-se a suspirar. A menina bonita que a mãe tinha insistido em vestir com folhos e laços, depressa se transformara numa mulher muito chique, com tendência para acidentes, que tinha continuado a crescer. Não achava que a mãe lhe tivesse perdoado por isso.

Era demasiado tarde para trocar de roupa. Não podia chegar atrasada ao encontro com Blaise West.

Sentiu um nó no estômago e engoliu em seco. A sensação de pânico não era novidade. Estava nervosa desde que tinha recebido aquela carta breve e direta, há dez dias. A sua candidatura ao lugar de assistente pessoal do senhor West merecia uma reunião às dez, na sede da West Internacional, no dia um de junho. Incluía um número de telefone, no caso de lhe ser inconveniente.

Não telefonara. Gemeu, novamente. Por causa de Kate Campion. A bela e fria Kate, secretária do diretor do departamento de contabilidade, que lhe dera a alcunha de Amazona Abbott. E não era um elogio, certamente.

Kate e as amigas não sabiam que estava num dos cubículos da casa de banho, quando tinham entrado para retocar a maquilhagem, antes do almoço.

– Tens a certeza de que ele a deixou, Kate? – perguntara uma delas. – Pode ter sido ao contrário.

– O quê? Um homem tão bonito como Peter Tierman, rejeitado pela amazona Abbott? Duvido, Shirley. Além disso, foi ele que me disse, depois de me convidar para jantar, hoje à noite.

– A sério? – e ouvira uns gritinhos. – Vais sair com Peter, esta noite?

– Disse-me que tinha passado muito tempo a desejar fazê-lo, mas que não sabia como se ia livrar da amazona. Embora seja alta como uma torre, pelos vistos, não o deixa em paz. Sentia pena dela e, por isso, convidou-a para sair. Vamos, estou cheia de fome – tinham saído e deixando uma nuvem de perfumes enjoativos atrás delas.

Kim saíra do cubículo com as faces a arder e os olhos cheios de raiva.

Não tinham o direito de falar assim. E Peter mentira. Fora ela que o deixara há algumas noites, pois estava farta de ouvir as grandes ideias sobre si próprio.

Peter era bonito, mas vaidoso. Isso, aliado ao seu empenho em levá-la para a cama, tinha-a aborrecido. Devia ter posto fim à relação há muito tempo. Soubera desde o segundo encontro que não era o homem que pensara que era, mas rejeitara tantos homens nos últimos dois anos, desde David, que decidira perseverar. Um erro colossal.

Voltara para o escritório e, enquanto comia a sua sanduíche, decidira não tentar justificar-se. A oportunidade de deixar as coisas bem claras chegaria, mais cedo ou mais tarde. E fá-lo-ia de uma forma serena, com dignidade.

A respeito da alcunha não podia fazer nada. Sempre soubera que Kate não gostava dela, certamente, porque não expressara o menor interesse em juntar-se ao seu grupo de amigas.

No dia seguinte, ouviu dizer que Kate ia pedir o cargo máximo. Assistente pessoal de Blaise West, o grande homem, que fora anunciado dentro e fora da West Internacional. Um demónio interno levara-a a candidatar-se. Era tão boa como Kate Campion.

Trabalhara na carta e no seu currículo durante metade da noite, e apresentara-a na manhã seguinte. Arrependera-se imediatamente, mas convencera-se de que não teria notícias. No máximo, receberia uma carta a agradecer a sua candidatura, a desejar-lhe o melhor.

Kim respirou fundo e agarrou na mala. Nunca estivera no escritório principal, situado num edifício de luxo, perto de Hyde Park. A West Internacional tinha sucursais por toda a Inglaterra, assim como na América e na Europa. Ela estava lá há dois anos, a trabalhar como secretária do diretor de vendas, na sucursal de Surrey. Antes disso, depois de se licenciar na universidade, tivera um trabalho medíocre, que via como sendo uma forma de passar o tempo, até se casar com David e iniciar uma família. Os seus sonhos tinham-se concentrado em David desde o dia que se tinham conhecido num churrasco, na primeira semana da universidade.

«Estúpida», disse a si mesma. Tivera de aprender, da pior maneira, que os homens diziam uma coisa e faziam outra. Que não eram de confiar.

Parou à porta e olhou à sua volta. Mudara-se para o pequeno apartamento graças à West Internacional, quando o seu salário duplicara, e nunca se arrependera disso. Antes, vivia com os pais, poupando o máximo para o casamento.

Kim adorava o seu apartamento. Demorava quinze minutos a ir para o escritório, a pé, se não quisesse conduzir. E o seu chefe, Alan Goode, era fantástico. Tinha muitas amizades e uma vida social bastante ativa. Algumas amigas tinham casado há pouco tempo, mas continuava a ter muitas amigas solteiras, dispostas a divertir-se. Sentia-se satisfeita.

Saiu para o vestíbulo da casa vitoriana, que tinha um apartamento em cada um dos seus três andares.

Não era feliz pois, depois do trauma do abandono de David, pensara que nunca mais voltaria a ter paz mental. Sentir-se satisfeita já era muito.

Segundo a mãe, qualquer um que não estivesse casado ou numa relação séria aos vinte e cinco anos de idade, era anormal. Mas não voltaria a tentar ser «normal». Não haveria mais erros como Peter.

Kim dirigiu-se para o seu Mini, estacionado na rua. Ser autónoma tinha os seus benefícios. Podia decidir o que fazer, quando e com quem. Não haveria mais tardes de sábado à chuva, a ver um jogo de futebol que não lhe interessava. Com David, muitos sábados tinham sido assim. Já não tinha de se sacrificar por ele, nem permitir que lhe estragasse um bom dia só porque estava de mau humor.

Entrou no carro e interrogou-se porque estava a pensar tanto em David. Ultimamente, passava semanas sem se lembrar dele e, se o fazia, era para agradecer por se ter livrado dele. O homem que pensara que David era não a teria tratado com tanta crueldade. Nos meses que se seguiram ao abandono, compreendera que não o conhecia. Isso fora humilhante, mas ensinara-lhe uma lição valiosa. Ninguém sabia o que outra pessoa pensava ou sentia realmente.

Endireitou os ombros, ergueu o queixo e arrancou. Tinha de conduzir para a estação de comboios e viajar para a cidade. Faria o que pudesse na entrevista e deixaria para trás o triste episódio.

Pelo menos, tinham marcado uma entrevista. Sorriu. Segundo uma das raparigas, Kate ficara verde de inveja ao descobrir. Ela não a conseguira. Isso alegrara o seu dia.

Uma hora e meia depois, estava no gabinete da secretária de Blaise West, uma jovem atraente e muito grávida. Chegara cedo, exatamente quando outra candidata ia a entrar no gabinete do patrão. Era uma mulher alta, magra e muito bem vestida, com um sorriso que tinha dedicado apenas à secretária do senhor West. Olhara para Kim de cima a baixo, como se soubesse que não precisava de se preocupar com a sua adversária.

Kim concordava e, surpreendentemente, isso acalmou-lhe os nervos. Devia ser a perdedora do grupo e, se o que diziam sobre Blaise West fosse verdade, ele perceberia isso assim que a visse.

O edifício de escritórios era um amontoado de tapetes macios e elevadores de vidro. Pelos vistos, Blaise West tinha diversificado os seus negócios, depois de ganhar o seu primeiro milhão no ramo imobiliário, quando era muito jovem. O seu outro forte, o fabrico e distribuição de mobiliário para casas e comércio, tinha nome em todo o mundo ocidental.

Kim nunca vira uma fotografia dele, mas sabia o que esperar, graças aos mexericos da empresa. Tinha cerca de quarenta anos, era pura energia e tinha reputação de ser desumano, frio e tenaz. Casara e divorciara-se. Tinha uma filha. Inúmeras namoradas. Atraente, segundo diziam, mas muitas mulheres consideravam o seu poder e a sua riqueza como sendo atributos.

Continuou a pensar, enquanto fingia folhear uma das revistas que estavam na mesa. A secretária tinha perguntado se queria um café e pedira-o pelo telefone. Isso tinha-a impressionado. Pelos vistos, a secretária pessoal de Blaise West não se ocupava de tarefas tão mundanas.

Espantou-a ainda mais que, instantes depois, chegasse uma bandeja com uma chávena de porcelana e um prato com bolos.

Não bebera mais de dois goles de café, quando a mulher do sorriso elétrico saiu do gabinete. Kim teve a impressão de que a entrevista não tinha corrido muito bem. A candidata não parou para conversar com a secretária do senhor West e foi-se embora com a cabeça bem erguida.

Um momento depois, ouviu o intercomunicador da secretária.

– Pat? – era uma voz grave, com um laivo de irritação. – Pensei que tinhas dito que tinhas escolhido as melhores candidatas. Se o que vi até agora é o melhor, odeio pensar como será o resto. Espero que haja pelo menos uma que não seja parva de todo.

Kim viu que a secretária lhe dava uma olhadela, antes de carregar numa tecla e murmurar «muito qualificada» no auscultador que tinha na mão. Já não conseguia ouvir o que respondiam do outro lado e a secretária falava tão baixo que teve de apurar o ouvido.

– Uma esta manhã e outra esta tarde. Combinámos que veria seis, lembra-se? E a menina Abbott já está aqui – fez uma pausa. – Sim, fá-lo-ei. E organizei a conferência com as pessoas da McBain para segunda-feira que vem. Isso dará à equipa de vendas algum tempo para preparar a apresentação. Recorda-se que o seu compromisso para o almoço é à uma? – desligou e olhou para Kim. – O senhor West vai recebê-la agora, menina Abbott.

– Obrigada – levantou-se e sorriu. – Tentarei restaurar a sua fé no género feminino – murmurou.

– Ontem, entrevistou dois homens e não correu melhor. O senhor West pode ser difícil de agradar.

Kim pensou que seria impossível agradar, mas não lho disse. Esperou que a secretária batesse à porta, abrisse e a deixasse passar.

– A menina Abbott, senhor West – anunciou.

Kim entrou e percebeu várias coisas ao mesmo tempo. Era uma divisão grande, luminosa e arejada. A janela que ocupava uma parede inteira oferecia uma vista incrível da cidade. O mobiliário era fantástico. E não se ouvia barulho. A luz que entrava pela janela transformava o homem sentado à secretária numa silhueta, pondo qualquer visitante em clara desvantagem.

– Bom dia, menina Abbott! Por favor, sente-se – levantou-se e indicou a cadeira à sua frente.

Kim agradeceu. Se o gabinete era imponente, o homem ainda era mais. De traços duros e curtidos, não era propriamente bonito. Mas o cabelo preto e espesso, grisalho nas têmporas, e os olhos azuis, brilhantes, davam-lhe um aspeto viril, vibrante. O fato elegante gritava alta-costura, mas ficou impressionada com a forma como o usava. Com isso e com a sua estatura. Costumava ficar à altura dos olhos da maioria dos homens ou acima. E o facto de Blaise West ser vinte centímetros mais alto do que ela surpreendeu-a, juntamente com a sua masculinidade agressiva. Não encaixava num escritório. Devia estar a escalar montanhas ou a lutar com crocodilos, numa terra selvagem, num lugar remoto. Alguma coisa radical.

– Portanto, quer trabalhar para mim, menina Abbott – declarou. – Porquê?

Kim olhou para ele, cegamente, sabendo que tinha de dizer alguma coisa, se não queria confirmar que era mais uma parva. Acalmou-se e obrigou-se a responder à pergunta que tinha esperado que lhe fizessem, em algum momento, na entrevista.

– Como disse na minha carta, estou há dois anos na sucursal de Surrey e acho que isso me deu bases para entender porque é que a West Internacional é uma empresa de sucesso. Gosto do meu trabalho, mas acho que chegou a hora de enfrentar um novo desafio.

Ele ficou em silêncio, por um instante. Kim sentiu o desejo de continuar a falar, mas conteve-se. Dissesse o que dissesse, não lhe iriam oferecer o lugar. Sabia isso, mas queria fazer a entrevista sem parecer uma idiota. Portanto, esperou.

– Resposta de livro de texto. Dita de uma forma muito semelhante ao resto dos candidatos.

– Lamento – Kim decidiu que não gostava de Blaise West.

– Não lamente, diga alguma coisa original.

Achou que ele não ia gostar daquilo que lhe ocorrera, por muito original que fosse. Recordou-se de que precisava de manter o seu emprego em Surrey e que ele controlava todas as sucursais.

– Gostaria de ter mais responsabilidades e a oportunidade de viajar de vez em quando, como suponho que este cargo exige.

– Ficaria surpreendida ao saber que todos os outros disseram isso?

– Não, na verdade, não – decididamente, não gostava nada dele.

– E isso porquê?

– Porque, se tratar as pessoas como idiotas, normalmente, irão comportar-se como se o fossem – afirmou. Arrependeu-se imediatamente, pois ninguém respondia assim a Blaise West e rosto dele deixou-o bem claro.

– Ah… – inclinou-se para a frente e estudou-a com uns olhos azuis. – Ouviu-me.

Ela assentiu, decidindo que não ia pedir desculpa. Se a despedissem em Surrey, teria de se aguentar. Sobreviveria.

– Peço desculpa. Suponho que não foi o melhor começo para uma entrevista de emprego.

– Não importa, senhor West. Tal como os restantes, é óbvio que não sou a pessoa que procura. Obrigada pelo seu tempo – e levantou-se.

– Onde acha que vai? – e semicerrou os olhos.

– Pensei que a entrevista já tinha acabado – disse ela, com as faces vermelhas.

– Pensou mal. Ainda nem sequer começámos – escrutinou o rosto dela, enquanto se sentava. Kim nunca se sentira tão incomodada. – Vejamos… Vou repetir a pergunta e quero uma resposta honesta. Porque quer trabalhar para mim, menina Abbott?

– Há pouco, disse a verdade – afirmou, tensa. Ele arqueou as sobrancelhas. – Mas, talvez não toda.

– E então?

O tom suave e sedoso não a enganou. Queria rir-se dela. Poderia ter inventado mil razões mais aceitáveis do que a verdade, mas pensou que ele iria reparar. Endireitou-se com orgulho.

– Como já disse, acho que já cheguei ao ponto máximo na sucursal de Surrey mas, certamente, não me teria candidatado se não tivesse ouvido um certo comentário – hesitou. – Isso levou-me a querer provar algo a mim própria, suponho.

– O que ouviu? – aqueles olhos azuis estudaram-na.

– Era pessoal. Digamos que se referia a mim e não era algo lisonjeador.

– Tinha a ver com o seu trabalho?

– Não, o meu trabalho sempre foi satisfatório. Tenho a certeza de que o senhor Goode o pode confirmar.

– Já o fez. Ou não estaria aqui. Então, menina Abbott… Quer fazer-me perder tempo?

– O quê? – e voltou a corar.

– Aceitaria este cargo, se lho oferecesse?

Há alguns minutos, a resposta teria sido não. Já não tinha a certeza. Trabalhar para alguém como Blaise West seria enervante, cansativo, mas também não queria estancar em Surrey durante dez ou vinte anos. E era o que tinha estado a fazer. Tinha uma certa independência, mas continuava a estar perto da família e dos amigos. O seu trabalho já não era um desafio e cada semana era igual à anterior. Fora bom, ao princípio, depois da rutura com David. Tinha sido bom até entrar naquela divisão, de facto.

– Sim, senhor West – afirmou. – Consideraria seriamente esse cargo, se mo oferecesse.

– Está bem – e olhou para os papéis que tinha na mesa. – Então, vamos prosseguir com a entrevista.