cub_desj671.jpg

6138.png

 

 

Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2005 Michelle Celmer

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Beijos de seda, n.º 671 - Fevereiro 2015

Título original: Bedroom Secrets

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6475-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Volta

Capítulo Um

 

Não tinha dinheiro suficiente.

Tina DeLuca observou as moedas que tinha na mão enquanto o medo ocupava o espaço vazio que o prato de sopa não chegara a encher. Era o mais barato da ementa, mas não contara com o imposto.

Não só não tinha dinheiro para pagar a conta, como nem sequer podia usar o telefone para tentar encontrar o pai. Queria ligar-lhe antes de apresentar-se em sua casa para comprovar se ele era o Martín López que procurava.

E se não fosse? E se estava de novo num beco sem saída? Tina mordeu os lábios. Estava em Chapel, Michigan, sem dinheiro, e sem ninguém a quem pudesse recorrer. Só podia esperar que na cidade houvesse um albergue para passar a noite.

Ou uma cadeia, que era onde ia parar se não pudesse pagar a conta. Também poderia tentar algum subterfúgio para não pagá-la… mas se havia algo que Tina DeLuca odiava mais do que estar sem dinheiro era ter de mentir.

«Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela», escrevera a sua mãe no seu diário. E Tina perguntou-se se haveria uma janela nos lavabos do restaurante pela qual conseguisse escapar.

Não. Tinha chegado ali sem mentir e sem enganar ninguém. Teria de ser honesta e esperar que aquela mulher tivesse pena dela.

– De certeza que não queres mais nada, querida? – perguntou a empregada, uma mulher de cabelo grisalho e olhos amáveis que deveria ser a Mae deste Restaurante Mae.

O coração de Tina começou a bater com força. As mãos tremiam-lhe de tal modo que algumas das suas moedas caíram sobre a mesa.

Mae olhou para ela, preocupada.

– Sentes-te bem?

Ela engoliu em seco. Como ia dizer àquela senhora tão simpática que não podia pagar a conta?

– Não tenho dinheiro suficiente – disse por fim. Mas disse-o tão baixinho que Mae não a ouviu.

– Que disseste, filha?

– Que não tenho dinheiro suficiente – repetiu Tina em voz alta. As duas mulheres que estavam na mesa ao lado olharam para ela sem dissimular o desprezo. – Pensei que tinha que chegasse para pagar o prato de sopa, mas esqueci-me do IVA. Faltam-me vinte centavos.

Mae arqueou uma sobrancelha pintada.

– Com que então faltam-te vinte centavos?

Os olhos de Tina encheram-se de lágrimas, mas tentou contê-las. Não queria que aquela mulher pensasse que ela era uma burlona.

– Posso lavar pratos. Ou cozinhar, sou uma boa cozinheira.

– Não és daqui, pois não?

Ela negou com a cabeça.

– Vem comigo – disse Mae então. – Ao meu escritório.

«Já está», pensou Tina, com o coração apertado. Ia chamar a polícia. Enfim, uma cela era melhor do que dormir na rua. E se Ray a denunciasse pelo que se tinha passado na noite anterior, decerto a deteriam… por agressão.

A tremer, levantou-se e pegou na mochila. Com a cabeça erguida, apesar do olhar de puro desdém que as duas mulheres da mesa ao lado lhe lançaram, seguiu Mae até ao fundo do restaurante, tentando ver-se a si mesma como ela a estaria a ver. A sua roupa estava enxovalhada e suja, após tantos dias sem mudá-la. Pareceria, certamente, uma vagabunda, como as que tinha visto a dormir na estação de autocarros.

Mae levou-a até à cozinha e o seu estômago começou a fazer ruídos quando aqueles deliciosos aromas chegaram ao se nariz. Há alguns dias que não comia nada decente. Para esticar o seu parco pé-de-meia tinha subsistido à base de sopa e bolachas…

Mae levou-a até um pequeno escritório e apontou para uma cadeira de metal.

– Como te chamas, querida?

– Tina – respondeu ela. – Tina DeLuca.

– Muito bem, Tina DeLuca, espera um momento.

Mae saiu do escritório e ela tentou fazer-se forte para suportar o que estava por vir. Entretanto, olhou para os diplomas da Câmara do Comércio que estavam na parede e para o cartaz que dizia que as sobremesas de Mae eram as melhores de Michigan. Também havia dezenas de filhos e netos de Mae. Pelo menos, pareciam seus filhos e netos. Todos pareciam tão felizes…

Uma família feliz. Esse conceito era estranho para Tina. Depois de perder a sua mãe ficou sozinha, com a tia Louise e o primo Ray.

«Um dia destes, também eu terei uma família», pensou. Encontraria o homem da sua vida, assentaria e teria muitos meninos. Com um pouco de paciência, conseguiria.

Quando saísse da prisão.

Tina recostou-se na cadeira e fechou os olhos. Estava esgotada. Não tinha dormido mais de um par de horas desde que saíra de Filadélfia. Perguntou-se então se as camas da prisão seriam mais confortáveis que o banco do autocarro…

A porta abriu-se nesse momento e ela resignou-se ao inevitável: Mae ia dizer-lhe que a polícia estava a caminho.

Em vez disso, a mulher deixou uma bandeja na mesa. Nela, um prato de batatas fritas, um hambúrguer e um refresco.

Tina ficou boquiaberta. Por que lhe levava mais comida quando não podia sequer pagar a sopa?

Mae sentou-se e abriu uma gaveta da secretária. Esteve à procura de algo durante uns momentos e depois ergueu os olhos.

– Não vais comer?

– Mas…

– Tens fome, não?

Não ia chamar a polícia. Ia ajudá-la. O medo de Tina esvaneceu-se e os seus olhos encheram-se de lágrimas de gratidão. Não sabia que pudesse haver tanta gente boa no mundo.

– Queres que ligue a alguém, querida?

– Não tenho ninguém.

– Já imaginava. Vamos, come o hambúrguer enquanto está quente – suspirou Mae, voltando a olhar para a gaveta. – Tinha deixado o cartão em algum lado…

Tina tirou uma batata. Estava quentinha e salgada, deliciosa. Mas mal conseguia engolir com a emoção.

– Ah, aqui está – disse Mae, triunfante, tirando um cartão de apresentação.

Tina leu o nome: Tyler Douglas. Mais nada, só o nome e o número de telefone.

– A minha irmã, pobrezinha, trabalhou para Tyler durante muitos anos limpando apartamentos. Mas este ano a ciática não a deixa mexer-se, especialmente quando faz frio, e sei que Tyler está à procura de alguém.

«Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela».

– Um trabalho? – exclamou Tina.

– Diz-lhe que foi a Mae quem te enviou e o Tyler dá-te trabalho, já verás – sorriu a mulher, levantando-se. – Vamos, acaba o hambúrguer. Depois, podes sair pela porta das traseiras.

– Obrigada. Pago-lhe assim que puder.

– Sei que o farás – sorriu Mae.

Quando desapareceu, Tina poderia jurar que havia uma auréola sobre o seu cabelo grisalho. E, algures, pareceu-lhe ouvir o som de uma janela a abrir-se.

 

 

Tyler Douglas decidiu que já chegava.

Emily era sua irmã e gostava muito dela, mas tinha de ser firme.

– Não penso ir ao teu casamento com um homem.

– Mas és o padrinho e o Alex é o meu melhor amigo – insistiu Emily. – Tens de ir com ele.

– O Alex é gay.

– E então?

– Como «e então?» Que vai toda a gente pensar se nos vêem juntos?

– Alex tem razão, és um homofóbico.

– Não irei ao casamento com nenhum homem, gay, heterossexual ou indeciso. E, claro, que pensará a mamã de a tua dama de honor ser um homem? – Emily não respondeu. – Não lhe contaste, pois não?

– É-me indiferente o que a mamã diga. É o meu casamento.

– Sim, pois.

– Pensa no assunto, está bem? E já que estamos a falar por telefone, fica a saber que o Matt disse-me que há nova secretária na escola. Loira, com muito peito, tonta… precisamente como tu gostas delas.

– Não estás a ganhar pontos, linda.

– Era uma piada. Matt diz que é muito simpática. E solteira. Poderíamos sair juntos os quatro.

– Não, obrigado.

– Ultimamente, não sais com ninguém, pois não?

Tyler fez uma careta. Não saía com ninguém, mas isso não ia mudar. Com o tempo, voltaria a ser o homem viril que sempre fora.

Pelo menos, assim esperava.

– Se estás com algum problema, podes contar-me.

– Não tenho problema nenhum – disse ele.

Nada que um par de anos de terapia intensiva não pudesse curar. Mas não podia contar isso à sua irmã.

– Ty, desde a escola que sempre tiveste namorada. Às vezes, duas ou três ao mesmo tempo.

Nesse momento, ouviu-se uma pancadinha na porta do escritório e Tyler agradeceu a interrupção.

– Ouve, tenho de desligar. Ligo-te mais tarde.

– Ty…

– Dá cumprimentos meus ao Matt. Até logo.

Conhecendo Emily, voltaria a ligar-lhe uma e outra vez até que conseguisse o que queria. Embora não fossem iguais, havia entre eles uma ligação cósmica habitual nos gémeos. E, dependendo das circunstâncias, isso podia ser bom ou mau.

– Olá – ouviu uma voz vinda do corredor.

Uma voz feminina. Maldição.

– Entre – disse Tyler. Tinha de contratar uma recepcionista, de preferência uma recepcionista feia, para controlar as visitas. Ou melhor, um homem.

A dona da voz, que apareceu no escritório um segundo depois, nem era feia nem era um homem. Um olhar aos seus olhos escuros, à sua pele morena e Tyler teve de dar um passo atrás para procurar a segurança do seu escritório.

Que horror. Se não conseguisse controlar-se quando via uma mulher bonita, certamente estava pior do que pensava. Três meses antes, tê-la-ia saudado calmamente, apertado-lhe a mão para gozar da suavidade da sua pele. Houve um tempo que adorava tudo nas mulheres. O seu cheiro, o seu sabor, a suavidade do seu cabelo.

Agora, via-as como inimigas. E estava certo de que aquela rapariga poderia ser um perigo.

– Você é Tyler Douglas?

– O próprio – ele tentou sorrir. – Que desejava?

«Por favor, que seja rápido».

– Foi Mae quem me enviou. Disse-me que você estava à procura de uma mulher para as limpezas.

Era linda. E tão nova… Tyler sentia-se um degenerado por causa dos pensamentos que cruzavam o seu cérebro depravado. Por exemplo, a redondez dos seus seios, os dedos femininos enredando-se no seu cabelo enquanto ele a beijava apaixonadamente…

Tinha de parar aquilo de imediato ou iria lamentá-lo. Começava a custar-lhe respirar com naturalidade e sentia aquela tensão tão familiar entre as pernas…

Quando ela deu um passo em frente, a sua pulsação acelerou. Tyler começou a suar profusamente e a cabeça a andar à roda.

«Relaxa. Respira fundo».

– Chamo-me Tina DeLuca – disse ela, estendendo-lhe a mão. – E venho pedir trabalho.

Capítulo Dois

 

«Brad Pitt, morre de inveja», pensava Tina enquanto observava Tyler Douglas. Estava à espera de um homem mais velho, alguém que não fosse tão bonito e com um corpo de estrela de cinema.

Alguém que não olhasse para ela… como se fosse uma leprosa.

Ele deu um passo atrás.

– Aqui não nos tratamos com formalidade.

Tina deixou cair a mão e, sem saber que fazer com ela, pô-la atrás das costas. Nunca tinha ido a uma entrevista de trabalho e não sabia qual era o protocolo. Ela nunca tinha trabalhado fora de casa porque estivera durante anos a cuidar da sua tia Louise e não sabia muito sobre relações sociais.

– A vaga continua livre?

– Sim, mas… o salário é curto.

Não podia ser menos do que estava a ganhar naquele momento: nada.

– Não faz mal.

– Mas mesmo muito curto, quase o salário mínimo.

– Parece-me bem.

Tyler arqueou as suas sobrancelhas loiras.

– É um trabalho muito duro.

Tina tentou sorrir, mas tinha o coração apertado. Pensara que era um trabalho certo. Se não o conseguisse, não sabia que mais fazer, nem onde ir. Não tinha sequer onde dormir.

– Não me importo de limpar. E tenho muita experiência.

– Uma rapariga tão bonita como você? Não seria melhor trabalhar como modelo ou algo assim?

Modelo? Devia estar a gozar. Com o seu metro e cinquenta e oito, não era precisamente material para passarelas.

– Senhor Douglas…

– Ty – corrigiu-a ele. E depois fez um esgar, como se revelar o seu nome tivesse sido um erro fatal. – Toda a gente me chama Ty.

– Ty, eu sou muito trabalhadora.

– Acredito que sim, menina…

– DeLuca. Mas toda a gente me chama Tina.

– Não duvido que sejas uma rapariga muito trabalhadora, Tina. Mas não sei se seria boa ideia.

Não ia contratá-la. Via-o na cara dele, ia dizer-lhe que não.

Conseguia ouvir a janela outra vez, mas estava a fechar-se. A única coisa que poderia fazer era meter a mão e esperar que não ficasse presa.

Tina respirou fundo, tentando ganhar coragem, mas a voz tremia-lhe:

– Preciso desse trabalho. Estou desesperada.

– Oxalá pudesse ajudá-la, mas temo que não será possível.

As lágrimas que há tanto tempo controlava começaram a correr pelo seu rosto. Estava tão cansada de estar sozinha, de ter medo, de passar fome. Estava esgotada.

E não conseguia aguentar mais. Tina deixou-se cair numa cadeira, enterrou a cara entre as mãos e começou a chorar.

 

 

Fizera-a chorar. Ty olhou em volta, desesperado, perguntando-se o que devia fazer. Ver aquela rapariga chorar sabendo que era por culpa sua era pior do que as tonturas e os suores frios.

Bem, pior não, mas igualmente mau. E poderia tê-lo evitado, se não fosse tão egoísta. Odiava o que se estava a passar com ele, mas não sabia como controlá-lo. O seu plano original, fingir que não se passava nada, não parecia estar a funcionar muito bem.

E agora, não só estava a sofrer ele, como também fazia sofrer outras pessoas.

Nervoso, pegou num lenço de papel e colocou-lho na mão.

– Toma.

Tina assoou-se.

– Lamento. Não queria… é que tive uma semana horrível.

– Compreendo.

Nos últimos meses, e mais do que uma vez, Ty também tivera vontade de chorar.

– Já me passa – continuou ela, secando os olhos com o lenço.

Tyler deu-se conta então de que ela não usava maquilhagem, nem sequer rímel. Tinha uma beleza natural. Não ficava com a cara vermelha e inchada quando chorava, como as outras mulheres. Poderia parecer uma rapariga normal, se as suas feições não fossem tão exóticas.

Mas era uma criança. Certamente, não teria mais do que dezasseis ou dezassete anos. E deveria precisar mesmo do trabalho para desesperar-se assim. Parecia tão perdida, tão… sozinha.

Raios!

– Podes começar amanhã?

Ela levantou os olhos, surpreendida.

– Vais contratar-me?

Era um perigo, decerto. Mas podia evitar que lhe agradassem as mulheres problemáticas? Sabia que era um erro, mas não seria nem o primeiro nem o último.

Tyler anotou uma direcção num papel e tirou uma chave da gaveta.

– Tudo o que precisas está na casa. Utensílios de limpeza, aspirador, esfregona. Os pintores terminaram há uns dias, por isso as paredes devem estar secas.

– Vou limpar a casa toda?

– De alto a baixo. Algum problema?

– Não, nenhum problema – respondeu Tina.

– Quero mostrar o apartamento o mais cedo possível, por isso tenta acabar amanhã. Depois, irei inspeccionar o trabalho e se tudo estiver bem, dou-te um cheque. Além disso, tenho outro prédio de escritórios que é preciso limpar na semana que vêm.

Tyna sorriu. Um sorriso que parecia iluminar todo o seu rosto e que o aqueceu por dentro. Porquê?, perguntou-se. Que lhe importava a ele o sorriso daquela rapariga?