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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2014 Sara Craven

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

A sedução nunca mente, n.º 1589 - Fevereiro 2015

Título original: Seduction Never Lies

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6416-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Volta

Capítulo 1

 

Octavia Denison pôs a última carta, na última caixa do correio da rua e, suspirando, virou-se para montar a bicicleta e regressar ao vicariato que era bastante longe dali.

Por vezes, aquela era uma delas, desejava que o pai, o reverendo Lloyd Denison, enviasse a sua mensagem mensal por e-mail.

Tal como Patrick costumava dizer, todos deveriam ter um computador em casa.

Mas o pai preferia dar um toque mais pessoal e, quando Tavy chegava a casa da senhora Lewis, que desejava conversar e beber chá com alguém, porque a sobrinha estava de férias e não tinha computador, nem telemóvel, tinha de admitir que o pai tinha uma certa razão.

Em qualquer caso, não era o dia ideal para andar naquela bicicleta velha.

Estavam a ter uma pequena onda de calor no fim de maio que, além disso, coincidira com uns dias de férias escolares.

«Para as crianças é bom», pensou Tavy, enquanto pedalava. Contudo, teria de voltar ao trabalho no dia seguinte.

A chefe, Eunice Wilding, pagava-lhe o que considerava ser adequado para uma secretária jovem, sem qualificação.

Apesar do baixo salário, aquele trabalho na escola fora uma salvação, um pequeno raio de sol na escuridão e na dor que partilhara com o pai depois da morte repentina da mãe.

O pai protestara, quando anunciara que ia deixar a universidade e voltar para casa, para o ajudar, mas olhara para ela com alívio. Assim sendo, Tavy começara a assumir as tarefas paroquiais que até então tinham sido feitas pela mãe com tanto carinho e bom humor. E descobrira que, para a senhora Wilding, a palavra secretária era sinónimo de «rapariga que fazia tudo».

Apesar dos inconvenientes, o trabalho permitia ter uma certa independência económica e contribuir para o orçamento do vicariato.

Tinha de cumprir um horário normal de escritório, cinco dias e meio por semana, com apenas quinze dias de férias, gozando uma semana na primavera e outra no outono. Não tinha nada a ver com as férias dos professores.

Naquela tarde, não estava a trabalhar porque havia reunião. Apesar do preço elevado, a escola de Greenbrook tinha muito sucesso graças aos bons resultados. A senhora Wilding não ensinava, era a diretora, mas sabia escolher os professores e até os alunos menos promissores eram bem-vindos.

Quando se reformasse, a escola continuaria a florescer sob o comando de Patrick, o seu único filho, que regressara de Londres no ano anterior para se tornar sócio de uma empresa numa cidade próxima e que trabalhava como tesoureiro na escola.

«A esposa, quando casar, também terá o seu papel», pensou Tavy, sentindo um calor que não tinha nada a ver com o sol.

Conhecia Patrick há anos e estivera apaixonada por ele na adolescência. Enquanto as colegas fantasiavam com estrelas pop e atores, ela pensava apenas naquele Adónis alto, de cabelo claro e olhos azuis, que vivia na casa ao lado.

Embora nunca tivesse reparado nela. Além disso, fora para a universidade, depois fora estudar para os Estados Unidos e quase não ia lá. Portanto, nunca teria imaginado que ele voltaria a viver em Hazelton Magna. Mas fora o que acontecera, há seis meses.

E descobrira isso, numa tarde em que a diretora entrara no seu pequeno gabinete, acompanhada por ele.

– Patrick, não sei se te lembras de Octavia Denison… – comentara.

– Claro, já fomos amigos – declarara, sorrindo. – Estás muito bonita, Tavy.

Corara e tentara fazer com que a voz não tremesse, ao responder:

– É um prazer ver-te, Patrick.

Depois daquele dia, Patrick passava pelo escritório sempre que ia à escola, para conversar, como se realmente tivessem sido amigos e Tavy não fosse a rapariga magra e ruiva do vicariato, tal como algumas das amigas de Patrick a tinham descrito uma vez.

Mantivera as distâncias, fora educada mas não demasiado simpática, pois o seu instinto dizia-lhe que a senhora Wilding não iria aprovar aquela confraternização. E nem sequer sabia se ela própria aprovava.

Portanto, no primeiro dia em que Patrick a convidara para jantar, a sua recusa fora imediata e definitiva.

– Porquê? – perguntara ele. – Costumas comer, não é verdade?

– Patrick, trabalho para a tua mãe. Não seria… Adequado, se saísses com uma empregada.

«Além disso, preciso deste trabalho, porque encontrar outro na zona é muito complicado…», pensara.

Ele soprara.

– Meu Deus, em que século vivemos? A minha mãe vai adorar, garanto-te.

Tavy mantivera-se firme, mas ele adotara a mesma atitude e, por fim, à terceira tentativa, tinham saído juntos.

Enquanto se arranjava, procurara no armário o único vestido decente que tinha e rezara para que ainda lhe servisse. Pensara que não tinha saído com um homem desde os poucos meses que passara na universidade, onde saíra algumas vezes com um colega chamado Jack.

Depois disso… Nada, ninguém.

Na verdade, havia poucos homens solteiros e disponíveis na zona. Além disso, entre o trabalho e o que tinha de fazer para o pai, acabava por andar demasiado cansada.

Portanto, esperava que Patrick não se tivesse apercebido disso e não a tivesse convidado para sair porque tinha pena.

Se assim fosse, escondera-o muito bem durante toda a noite e Tavy ainda sorria ao recordá-la. Levara-a a um pequeno restaurante francês, onde tinham jantado um patê delicioso com sabor a alho, confit du canard servido com feijão-verde e gratin dauphinois. E, como sobremesa, uma deliciosa musse de chocolate. Tudo isso, regado com um vinho suave, frutado.

A comida era típica da região de Dordogne, segundo dissera Patrick. «Provavelmente, nunca mais voltarei lá», pensara, antes de adormecer.

Depois disso, tinham começado a ver-se mais vezes ainda que, quando se encontravam no trabalho, a relação fosse sempre estritamente profissional. Tavy não sabia se a mãe dele estava ao corrente da situação. A senhora Wilding não fizera nenhum comentário, mas talvez fosse porque não parecia ser relevante ou porque pensava que era uma relação temporária, que não iria durar.

Embora não parecesse estar perto de acabar. Por enquanto, Patrick não fizera nenhuma tentativa séria para a levar para a cama, que era o que Tavy esperara. Talvez quisesse, porque não queria ser a última virgem aos vinte e dois anos.

Apesar de saber que o pai não acharia bem, era um homem realista, portanto, a única coisa que lhe aconselhara antes de ir para a universidade fora que se respeitasse a si mesma, sempre.

Achava que o faria, mesmo que fosse para a cama com um homem com quem tivesse uma relação estável.

Embora fosse certo que Patrick e ela se encontravam sempre longe da vila.

Quando brincara com o assunto, Patrick admitira que tencionava manter a relação em segredo. Dissera que, naquele momento, a mãe tinha muitas coisas em mente e que estava à espera que surgisse a oportunidade certa para lhe contar.

Tavy questionara-se se essa ocasião chegaria, alguma vez. Não queria pensar em como a senhora Wilding reagiria, quando descobrisse que a secretária poderia, um dia, tornar-se sua nora.

No entanto, enquanto limpava o suor da testa, pensou que não iria preocupar-se com isso.

Ouviu uma buzina e foi então que percebeu que havia um carro atrás dela. A bicicleta cambaleou por um instante, mas depressa voltou a controlá-la.

O carro que a assustara e que a ultrapassou era um desportivo descapotável, que parou uns metros mais à frente.

– Olá, Octavia – cumprimentou a dona do carro, prendendo os óculos de sol de marca no cabelo loiro. – Ainda usas essa relíquia?

Tentou não perder a cabeça, mas resmungou em silêncio.

«Fiona Culham», pensou, resignada. Teria reconhecido aquela voz em qualquer lugar. Embora preferisse não voltar a ouvi-la durante muito tempo.

Contrariada, desmontou a bicicleta e aproximou-se do carro.

– Olá, senhora Latimer – cumprimentou, num tom civilizado, mas frio, apesar de Fiona ser apenas dois anos mais velha do que ela. – Como está?

– Estou bem. Embora veja que não percebeste que, agora que estou a divorciar-me, voltei a usar o meu apelido de solteira.

Tavy surpreendeu-se com a notícia. Aparentemente, o casamento durara apenas um ano e meio.

– Não sabia, lamento muito.

Fiona Culham encolheu os ombros.

– Não lamentes. Foi um erro tremendo.

O erro tremendo fora publicado em todos os jornais e revistas cor-de-rosa, onde fora descrita como sendo uma noiva radiante de felicidade.

Tavy pigarreou.

– Deve estar a ser muito difícil. Vieste passar férias?

– Antes pelo contrário – replicou Fiona. – Voltei para ficar.

Depois, olhou para Tavy de cima a baixo, fazendo com que se apercebesse de que estava despenteada, com o cabelo avermelhado molhado de suor. Além disso, examinou com desprezo a t-shirt e as calças que usava.

O coque de Fiona era perfeito, usava uma camisa de seda e calças de ganga, de marca.

– Pode saber-se que boa ação estás a fazer? Foste visitar um doente ou dar esmola aos pobres? – perguntou.

– Fui distribuir o boletim informativo da vila – esclareceu Tavy.

– Que filha tão diligente e bondosa – escarneceu Fiona. – Até logo. Não posso ficar mais tempo ao sol, Octavia. Parece que estás prestes a derreter.

Tavy viu o carro a desaparecer na curva e desejou não voltar a vê-lo durante muito tempo.

Embora nem sequer o tempo pudesse ajudar Fiona, que sempre fora uma menina mimada, filha única de uma família muito rica. Fora ela que comentara, num tom depreciativo, que era magra e ruiva.

No entanto, enquanto voltava a montar a bicicleta, pensou que Fiona tinha razão em algumas coisas. Estava prestes a derreter, mas isso tinha uma solução e sabia onde encontrá-la.

Seguiu a estrada da esquerda, na primeira bifurcação que encontrou, que a levaria para o outro lado do muro de pedra que rodeava os terrenos de Ladysmere Manor.

Ao chegar perto do muro, viu que o cartaz desgastado, que dizia «vende-se», caíra no chão. Saiu da bicicleta, apanhou-o e endireitou-o com cuidado, apesar de saber que não serviria de nada.

O imóvel estava vazio, à venda e abandonado há três anos, desde a morte de sir George Manning, um viúvo que não tivera filhos. O herdeiro, um primo que vivia em Espanha e não tinha intenção de voltar, leiloara o recheio da casa e colocara o imóvel à venda, pedindo uma quantia exorbitante por ele.

A casa tinha uma mistura estranha de estilos. Diziam que uma parte era da época jacobina, mas que depois a tinham acrescentado, por isso, quase não restava nada da estrutura original.

Sir George era um homem amável e generoso, que abrira as portas aos habitantes da vila para celebrarem a festa anual, permitira que os escuteiros acampassem na sua propriedade e dera ali lendárias festas natalícias.

Contudo, sem ele, a casa ficara vazia.

Tavy sempre a adorara e, na sua imaginação, transformara-a num lugar mágico, num palácio encantado.

Naquele momento, enquanto atravessava «a selva» em que o jardim se transformara, pensou com tristeza que seria preciso um milagre para devolver a vida à propriedade.

Entre os arbustos, viu o brilho verde dos salgueiros que ladeavam o lago, ao longe. Ao princípio, vários voluntários da vila tinham cuidado do jardim, até terem sido avisados de que a casa não tinha seguro para cobrir acidentes e terem deixado de o fazer.

Porém, o facto de estar tudo tão descuidado não desanimou Tavy. Já enfrentara o mato nos verões anteriores, quando a temperatura era tão alta que a única coisa que importava era refrescar-se. E, como tinha o lago só para ela, nunca se incomodara em vestir o fato de banho.

Aquilo transformara-se num prazer secreto, de que não desfrutava com demasiada frequência, claro, mas que também não incomodava ninguém. Pelo menos, não se esquecera daquela casa.

Nem da mulher que estava lá há quase trezentos anos e que devia ter achado aqueles últimos meses muito aborrecidos. Nua, no seu pedestal, a olhar para a água, com um braço de mármore branco a tapar os seios e uma mão a cobrir castamente o centro das coxas.

Tavy alegrara-se por não terem vendido a estátua. Aquela Afrodite, Helena de Troia ou quem quer que fosse, conseguira escapar. Tirou a roupa e deixou-a dobrada sobre o pedestal, antes de soltar o cabelo. O lago não seria o mesmo sem a estátua.

A água estava muito fria e deu um grito abafado ao começar a andar pela margem. Entrou mais um pouco na água e agradeceu a sensação, até mergulhar por completo, suspirando de prazer.

Viu o sol e foi ao seu encontro, vindo à superfície de repente, com graciosidade.

E então, viu algo preto que lhe tapava o sol.

Levantou as mãos para afastar o cabelo da cara e esfregou os olhos, que deviam estar a enganá-la.

Mas não, não estava a alucinar. A escuridão era real. De carne e osso. Era um homem alto, com ombros largos, ancas estreitas, todo vestido de preto e que, aparentemente, saíra do nada e parara à frente da estátua para a observar.

– Quem és tu? – perguntou Tavy. – O que fazes aqui?

– Que estranho! Ia perguntar-te o mesmo – troçou, em voz baixa e num tom divertido.

– Não tenho de te responder – declarou, horrorizada ao perceber que estava com os seios nus e voltando a entrar na água. – Está em propriedade privada, não pode entrar aqui.

– Já somos dois – indicou o homem, sorrindo de orelha a orelha. – Interrogo-me qual dos dois está mais surpreendido.

Tavy percebeu que era moreno e que o cabelo castanho, encaracolado, era demasiado comprido. Usava um relógio, provavelmente barato, e um cinto com fivela prateada, que era a única coisa que se salientava na roupa preta.

Pensou que parecia ser um daqueles vagabundos que davam tantos problemas no inverno.

Devia ter ido ali para procurar sucata.

Apesar de ser difícil falar com dignidade, naquelas circunstâncias, tentou.

– Se te fores embora, agora, não informarei as autoridades. Em qualquer caso, o lugar está vigiado, há câmaras. Portanto, não poderás levar nada.

– Obrigado pelo aviso. Devem estar muito bem escondidas, essas câmaras, porque ainda não vi nenhuma.

Afastou a roupa de Tavy do pedestal e sentou-se.

– Talvez possas indicar-me uma saída que seja segura. Suponho que terás entrado por lá.

– Sugiro que te vás embora por onde vieste e não percas mais tempo – declarou Tavy, que começava a tiritar de frio, de nervos, ou de ambas as coisas ao mesmo tempo.

– Nem pensar! Este lugar é muito bonito e não tenho pressa – retorquiu o estranho.

– Eu tenho – afirmou, tentando falar com naturalidade. – Portanto, gostaria de poder vestir-me.

Ele apontou para a roupa.

– Veste-te.

– Mas, sem olhares para mim.

Preferia ficar congelada, a ter de ficar nua à frente daquele homem.

Ele voltou a sorrir.

– Como sabes que não estava a ver-te, enquanto te despias? – perguntou.

Tavy engoliu em seco.

– Estavas?

– Não. Mas tenho a certeza de que haverá outras oportunidades – troçou.

O telemóvel dele começou a tocar e tirou-o do bolso.

– Sim? Sim, está tudo bem. Não demorarei.

Desligou e levantou-se.

– «Salvos pelo gongo» – comentou.

– Sem dúvida, porque estava a pensar denunciar-te por assédio sexual.

– Só por ter brincado um pouco? – perguntou, abanando a cabeça. – Não acredito. Terias de dizer à polícia onde estavas e o que estavas a fazer. E duvido muito que queiras fazer isso.

Depois de dizer aquilo, atirou um beijo para o ar e acrescentou:

– Até logo.

E foi-se embora sem olhar para trás.