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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2014 Carol Marinelli

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma mulher corajosa, n.º 1579 - Dezembro 2014

Título original: The Only Woman to Defy Him

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5828-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Volta

Prólogo

 

Naquele dia não.

Demyan Zukov olhou pela janela do jato privado enquanto iniciava a descida para Sidney, na Austrália.

Era uma vista magnífica e ele era o dono de parte dos arranha-céus. Os seus olhos escuros localizaram o apartamento em que vivia e, depois, fixaram-se nas numerosas enseadas da costa. A água era de um azul-escuro surpreendente e estava cheia de barcos, ferribotes e iates que abriam caminho até ao porto, deixando uma esteira branca atrás deles.

Aquela vista entusiasmava-o e emocionava-o sempre. Havia sempre a possibilidade de se divertir assim que o avião aterrasse.

Contudo, naquele dia, não.

Demyan recordou a sua primeira viagem à Austrália. Fizera-o com muito menos estilo e, certamente, a imprensa não o esperava para lhe dar as boas-vindas. Então, era um desconhecido, embora já disposto a deixar rasto. Tinha treze anos quando se viera embora para sempre da Rússia.

Chegara num avião comercial, em classe económica, com a tia Katia. E olhara pela janela para observar a terra que o esperava. Katia falara-lhe da quinta na montanha que, em breve, seria o seu lar.

A educação de Demyan fora brutal. Não conheceu o pai e a mãe, solteira, vira-se presa numa espiral de pobreza e álcool. Era com ela própria que gastava o escasso apoio que recebia do Governo.

Aos cinco anos, Demyan tivera de se tornar responsável pelo sustento de ambos. Trabalhou arduamente e não só na escola. À tarde e aos fins de semana, acompanhado por Mikael, um menino de rua, limpava os para-brisas dos carros parados nos semáforos e pedia esmola aos turistas.

Se fosse necessário, procurava comida no lixo dos restaurantes e hotéis. E, assim, todas as noites, mãe e filho podiam jantar. No final da sua vida, a mãe deixara de se preocupar com a comida e só exigia vodca e mais vodca, enquanto se tornava cada vez mais paranoica e supersticiosa.

Quando ela morreu, Demyan pensou que viveria na rua com Mikael, mas Katia, a irmã da mãe, chegara à Rússia da Austrália, onde vivia, para o funeral de Annika.

Katia ficou horrorizada ao saber como a irmã e o sobrinho tinham vivido naqueles anos, já que Annika dizia sempre nas cartas e nas chamadas telefónicas que estavam bem. Olhou atentamente para o sobrinho esquálido, cujo cabelo preto e olhos cinzentos contrastavam com a pele pálida, e, embora não chorasse, o rosto dela expressou confusão, receio e pena.

Ao enterro de Annika só tinham ido ele e a tia. O ofício religioso sombrio tivera lugar muito longe de qualquer igreja e Demyan quase conseguia ouvir os gritos de protesto da mãe enquanto o caixão descia em terra não consagrada.

– Porque é que Annika não me disse que as coisas estavam tão más? – perguntara Katia ao sobrinho, enquanto se afastavam da sepultura.

– Era muito orgulhosa – indicara, virando-se para olhar para a sepultura pela última vez.

Sim, Annika Zukov fora demasiado orgulhosa para pedir ajuda, mas demasiado fraca para mudar em seu próprio benefício ou no do filho, pensara Demyan, com amargura.

– As coisas vão melhorar agora – afirmara Katia, enquanto lhe passava o braço pelos ombros, mas o menino afastara-se.

Viajaram do frio da cidade de São Petersburgo para o verão australiano. Durante a viagem, Demyan, antissocial e sofrendo em silêncio, só se animara ao observar a beleza majestosa da terra a que tinham chegado. Ouvira dizer que Sidney tinha um dos portos mais bonitos do mundo.

E era verdade.

Pela primeira vez em muito tempo, o que lhe tinham dito era verdade.

Era como ver o sol pela primeira vez. Cegava-o, mas não conseguia evitar voltar a olhar para ele.

O coração de Demyan continuava a ser de gelo, tão frio e escuro como a terra em que jazia a mãe, mas, ao aproximar-se do seu novo lar, ao ver pela primeira vez a Opera House e o Harbour Bridge, jurara-se que nunca voltaria à Rússia e que aproveitaria cada oportunidade que se apresentasse a partir daquele novo começo.

E Demyan aproveitara todas as oportunidades.

Todas e cada uma delas.

Aprendera a falar inglês, embora com um sotaque russo forte, mas com muito boas qualificações, que tinham continuado a ser boas quando entrara na universidade. O estudo sempre fora a sua prioridade, mas, quando acabava o trabalho do dia, dedicava-se a divertir-se.

Poucas mulheres resistiam ao seu aspeto inquietante e à recompensa ocasional que era vê-lo sorrir. O sexo tinha sempre lugar nos termos que ele ditava. Não se entretinha a beijá-las, mas a sua falta de afeto era compensada com uma boa técnica, embora depressa se aborrecesse e mudasse de namorada.

Com Nadia, tivera uma aventura curta.

Como era uma compatriota, fora agradável voltar a falar na sua língua materna. O cérebro cansava-se depois de algum tempo a fazê-lo em inglês.

Foi uma só noite, mas tivera consequências. Aos dezanove anos, Demyan soubera o que é ser pai.

Deixara de estudar e começara a trabalhar. Diversas empresas tinham tentado contratá-lo, mas ele recusara-se a comprometer-se só com uma. Não conseguira controlar a vida da mãe, mas controlava a sua completamente.

Aos vinte e um anos, já se divorciara de Nadia, mas não considerara o seu breve casamento um fracasso porque Roman, o filho, era o seu maior sucesso.

Quando o jato aterrou, Demyan fechou os olhos e tentou esquecer a revelação terrível de Nadia, mas voltou a abri-los. Estava em Sidney para enfrentar a situação.

Ia ser uma visita difícil. Os meios de comunicação social tinham descoberto que Nadia ia casar-se com Vladimir e que levaria Roman, de catorze anos, para viver na Rússia.

A família Zukov era o equivalente à realeza na Austrália, por isso os meios de comunicação social perseguiam Demyan com perguntas cruéis, que ele se recusava a responder.

Passou a alfândega e tentou proteger-se dos jornalistas que o esperavam.

E talvez fosse melhor que se protegessem dele, porque, se mais uma câmara se interpusesse no seu caminho, no estado de ânimo em que estava, ia haver uma exclusiva na última edição do telejornal. Nem sequer se dignou a responder «sem comentários» às perguntas sobre Nadia e Roman.

Não tinha vontade de falar com os meios de comunicação social quando nem sequer pudera falar ainda com Roman.

Como ia dizer-lhe que havia a possibilidade de não ser filho dele?

Dobry den, Demyan – Boris, o motorista, deu-lhe as boas tardes quando entrou no carro.

Enquanto se dirigiam para sua casa, Demyan ligou a Roman, mas continuou sem obter resposta.

Finalmente, e contra a sua vontade, ligou a Nadia.

– Quero falar com Roman.

– Foi com uns amigos por uns dias – informou-o Nadia. – Queria estar com eles antes de irmos para a Rússia.

– Para de brincar, Nadia. Sou eu que quero estar com ele antes de se ir embora. Estou aqui, em Sidney. Diz-me onde está.

– Porque não nos vemos e falamos? Posso ir a tua casa e…

Nadia baixou o tom de voz e Demyan sorriu sem alegria. Se ela soubesse como as suas tentativas de o seduzir o deixavam gelado, não o faria. Menos de um mês antes do casamento dela, não lhe produzia prazer algum que estivesse disposta a trair Vladimir.

– Não temos nada para falar.

– Demyan…

Ele finalizou a chamada porque, se não o tivesse feito, teria dito a Nadia o que pensava dela.

– Leva-me para um hotel – indicou ao motorista, já que se via incapaz de ir para sua casa.

Já não era o seu lar.

– Qual prefere?

– Quando é a inauguração do novo casino?

– Na semana que vem – respondeu Boris, reprimindo um sorriso. Demyan voltara! – Suponho que estará convidado.

– É óbvio – replicou Demyan, incomodado, pois teria gostado de ir ao novo complexo de hotel e casino. – Procura um hotel que tenha a suíte presidencial livre durante toda a minha estadia na cidade. Provavelmente, ficarei um mês.

Mariana, a secretária, estava nos Estados Unidos e trataria de qualquer encargo do patrão. Boris fez algumas chamadas e, pouco depois, o carro deteve-se à frente de um hotel luxuoso.

O pessoal esforçou-se ao máximo para atender a chegada inesperada do seu hóspede mais prestigioso.

A suíte estava livre e preparada para o receber. No entanto, o facto de ser Demyan Zukov a chegar, fez com que, vinte e quatro andares mais acima, um bom punhado de trabalhadores se dedicasse a toda a velocidade a verificar se tudo estava perfeito para o receber.

Ao entrar, Demyan mal olhou à sua volta.

Os hotéis, por muito luxuosos que fossem, pareciam-se muito.

– Quer beber alguma coisa? – perguntou o mordomo.

– Quero estar sozinho.

– Gostaria…?

– Disse que quero estar sozinho. Chamo-o se precisar de alguma coisa.

Quando a porta se fechou, Demyan ficou sozinho pela primeira vez desde que Nadia lhe dera a notícia.

Parou uns segundos para a assimilar. Recusou-se a aceitar a possibilidade de que Roman não fosse seu filho, certamente. Tinha de ser. Abraçara-o quando nascera, olhara para ele nos olhos e amara-o desde esse instante. Nunca duvidara que fosse filho dele.

Tentara esquecer o que Nadia lhe dissera com álcool e mulheres.

Quase conseguira.

O pessoal do hotel, apesar dos seus esforços, ignorara um detalhe. Enquanto Demyan folheava os jornais, viu uma revista com Vladimir e ele na capa e o título: Quem escolheria?

Demyan pensou, com amargura, que induzia a erro, já que Nadia não podia escolher entre os dois, pois ele não voltaria a aceitá-la, mesmo que ela albergasse a fantasia de voltarem a ser uma família.

Porém, a imprensa sensacionalista adorava aqueles joguinhos. Demyan virou as páginas até chegar ao artigo em questão.

Ali estava Vladimir, com cinquenta e poucos anos, muito rico e com boa reputação. A única coisa que lhe faltava na vida era um filho.

E ali estava ele.

Trinta e três anos, com uma fortuna que fazia com que Vladimir, em comparação, parecesse pobre e com uma aparência que lhe dava vantagem.

Qual era a parte negativa?

Demyan não tinha de virar a página para saber, mas fê-lo. Era verdade. Era um playboy que se dedicava a percorrer o mundo, alojando-se em hotéis, preferivelmente com casino. E também era verdade que, às vezes, desaparecia no seu iate com uma coleção de loiras.

Demyan trabalhava muito e divertia-se mais.

Não era solteiro?

Continuou a ler e teve de reconhecer que, por uma vez, a imprensa jogara limpo.

Em efeito, tinha uma reputação escandalosa, mas via-se compensada pelo seu êxito enorme, porque ninguém podia pôr em dúvida que adorava o filho e porque os seus excessos tinham sempre lugar fora da Austrália.

O artigo questionava-se porque não enfrentara Nadia.

Porque deixava que levasse o filho para a Rússia sem lutar por ele? Quando Demyan Zukov queria alguma coisa, conseguia-a. Então, porque não pedia a um tribunal que o filho, nascido na Austrália, ficasse lá?

Demyan continuou a ler e sentiu um nó no estômago ao pensar que Roman estaria a ler o mesmo.

O artigo era implacável. Talvez Demyan não se importasse com o filho e talvez a boa relação entre eles tivesse sido uma pose à frente das câmaras. Havia uma senhora Zukov nos bastidores?

Pobrezinha, afirmava o artigo.

Demyan estaria cansado das suas viagens frequentes a Sidney e contente por Nadia se ocupar sozinha do filho?

Serviu-se de uma bebida, bebeu um gole e aproximou-se da janela. Dali, via a sua casa, onde passara muitas noites a ouvir o grupo de música do filho e dos amigos a tocar. Ali, na piscina do terraço, ensinara Roman a nadar.

Parou de olhar e, cheio de raiva, atirou o copo ao chão.

Não suportava pôr os pés lá. Queria vendê-la. Também teria de vender a quinta que fora o seu primeiro lar na Austrália, já que, se Roman fosse para a Rússia, não haveria nada que o retivesse ali nem motivo algum para voltar.

Demyan pensou em pedir à secretária para se encontrar com ele e tratar de tudo, mas decidiu que não o faria, apesar de gostar do profissionalismo dela na cama. Afinal de contas, não se tratava de negócios, mas de algo pessoal. Se ia ser a sua última viagem a Sidney, teria de se ocupar de muitas coisas que iam magoá-lo.

Pegou no telefone.

– Preciso de uma secretária durante algumas semanas, talvez um mês. Alguém discreto e que perceba de imóveis.

– É óbvio. Para quando a…?

Demyan interrompeu-o.

– Para amanhã às oito da manhã.

No dia seguinte, começaria a enfrentar o que o esperava.

Começaria a desmantelar a sua vida ali e deixá-la-ia para trás para sempre.

Já nada o retinha naquela cidade.

Serviu-se de outra bebida.

O que ia fazer naquela quarta-feira à noite? Decidiu ir ao casino. Embebedar-se-ia e, por uma vez, honraria a sua reputação em Sidney.

Loira, pensou enquanto bebia.

Não, morena ou, talvez, ruiva.

Porque não as três?

Naquela noite, festejaria como se não houvesse amanhã.

Voltou a olhar pela janela e observou a vista que o acalmava noutro tempo.

Naquele dia, não.