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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Ann Major. Todos os direitos reservados.

A FANTASIA DE UM HOMEM, N.º 1133 - junho 2013

Título original: Cowboy Fantasy

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2005

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2981-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Sul do Texas. Zona fronteiriça.

 

Asas negras sobrevoavam lentamente o céu azul e limpo. Teo, deitado no chão duro, observou os pássaros. Doía-lhe a cabeça e sentia dores no estômago.

Apenas sabia que estava a norte da fronteira, no Texas. Em alguma parte de um enorme rancho chamado El Dorado. Teófilo Pérez tinha dez anos e estava a morrer.

– Mãezinha – gemeu, esgravatando na areia. Lembrou-se então que ela o tinha mandado buscar comida noutro extremo da grande lixeira, com Chaco e o seu grupo. Depois, ela e o papá tinham desaparecido.

Teo ficara acordado toda a noite, esperando-os. Mas Chaco ria-se dele.

– Não vão voltar. Isto está sempre a acontecer – Chaco olhara com indiferença para norte. – Há muitos órfãos pela lixeira. Abandonados pelas famílias que conseguem passar para o outro lado. O meu pai... fez o mesmo.

Agora, Chaco também já não estava. Umas gotas de suor arderam-lhe nos olhos, como se fossem lágrimas a ferver. Tinha espinhos cravados nas costas. Por entre as ervas altas havia serpentes, aranhas e também animais selvagens. Se Teo não se levantasse e prosseguisse caminho, morreria.

Ardia de febre e estava morto de fome. Sentia-se como uma esponja ressequida. Os coiotes voltaram a uivar e sentiu o sabor ácido do seu próprio pânico. Tinha de levantar-se e alcançar Chaco. Tinha de avançar para Norte, cruzando os intermináveis e arenosos pastos. Tinha de ir para Houston, ter com a tia Irma.

Chaco avisara-o para que se escondesse bem, para que a guarda fronteiriça não o visse dos helicópteros. Teo, demasiado fraco para se pôr de pé, continuou deitado, com as pálpebras inchadas e queimadas pelo sol. Através das suas espessas pestanas via raios brilhantes de luz por entre os ramos retorcidos das árvores.

A sua última refeição tinha sido o pequeno-almoço de há alguns dias: dois ovos cozidos e três tartes de milho, duras e cheias de areia. Cerrou os punhos e tentou engolir saliva, mas tinha a língua demasiado inchada. Teo tremeu ao imaginar-se nas garras de um puma ou nos dentes de um coiote.

– Ajuda-me, Deus!

Queria voltar para casa, não para a Cartolândia, como chamavam ao bairro de Novo Laredo perto da lixeira. Queria voltar para Tepóztlan, a sua aldeia das montanhas; mas ali não havia trabalho para o papá, nem futuro para eles. Nada.

«Nada, meu filho, nada», tinha dito o seu pai, uma semana depois dos bulldozers do governo destruírem a sua barraca e o seu jardim, como o de centenas de famílias, deixando-os sem lar. No dia seguinte, o papá foi procurar trabalho a norte.

Teo não se lembrava da última vez que tinha ido à escola ou tinha tomado duche. O papá prometera-lhe uma casa no Norte, com casa de banho, brinquedos e um jardim para brincar.

As negras penas desceram do céu e assentaram nos ramos de uns arbustos espinhosos. Eram abutres. Teo contemplou como um pássaro enorme recolhia as asas.

Tinha de continuar, mas ficou tonto ao tentar ajoelhar-se. Uma doce recordação invadiu a sua mente: estava na sua rede, à sombra do alpendre, e a sua mãe e avó cantavam uma canção de embalar. Começou a rezar ave-marias.

Quando voltou a abrir os olhos, estava no chão e os abutres voavam em círculo. Entre remoinhos de pó, um grande cavaleiro solitário chegava num enorme cavalo negro. O homem tinha um chapéu cor de areia e um estranho e gasto fato de pele. Estava tão sujo quanto Teo, mas a destreza com que manejava o cavalo indicava que era alguém, não um desesperado a tentar cruzar a fronteira.

O seu rosto moreno era duro e seco, com um bigode dourado, mas tinha os dentes tão brancos como os chicletes que Teo vendia aos turistas.

Teo agarrou com uma mão o saco de tartes que levava atado ao cinturão e com a outra agarrou a garrafa que continha os restos do refresco de Chaco. A tremer, pôs-se de pé.

– Cuidado, amigo – acalmou-o o homem.

A amabilidade do estranho e a sua pronúncia suave e cantada aterraram-no. Teo perguntou-se se seria um fantasma ou simplesmente alguém que queria enganá-lo, como quando o tinham deixado a ele e a Chaco, e a todos os outros, ali, no meio do nada, jurando-lhes que um camião os apanharia pouco depois do controlo da fronteira.

Tudo começou a andar à volta e Teo caiu no chão. O refresco derramou-se sobre a sua camisa. Tinha desperdiçado a última gota do precioso líquido e Chaco iria bater-lhe. Aos soluços, rogou a Deus que lhe perdoasse os seus pecados. O empoeirado cavaleiro desceu do cavalo e Teo começou a gritar.

Viu então uma rapariga de cabelo liso, avermelhado e doirado, que cintilava ao sol. Era um anjo. O seu anjo. Teo fechou os olhos e viu-se invadido por uma grande paz. Já não tinha medo de morrer.

– Meu anjo! – sussurrou. Abriu os olhos. A rapariga não era um anjo. Era a sua mãe e a sua voz era tão doce como quando lhe cantava canções de embalar.

– Não tenhas medo. Estás a salvo, pequeno.

Teo usou a pouca força que lhe restava para erguer a mão, mas ela desapareceu. Só ficou o misterioso cavaleiro.

Só o terror e a morte numa terra selvagem e desconhecida.