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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Nicola Marsh. Todos os direitos reservados.

UMA RAPARIGA VINTAGE, N.º 1363 - Janeiro 2013.

Título original: Girl in a Vintage Dress.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2513-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Quando Chase Etheridge entrou em Errol Street, um calafrio percorreu-lhe as costas.

Como se não fosse calvário suficiente ter de conduzir pelo norte de Melbourne, pelo bairro dos subúrbios da cidade que fora o seu lar, agora entrava naquela rua carregada de lembranças que tinha apagado da sua memória há muito tempo.

Errol Street representava tudo aquilo do qual tinha escapado, tudo o que preferia esquecer.

No entanto, ali estava, a conduzir no meio do trânsito, procurando um sítio para estacionar, tentando concentrar-se na estrada e dissipar as lembranças que passavam pela sua mente.

Os seus passeios de bicicleta por Arden Street para ir ver os treinos dos Kangaroos, a sua querida equipa de futebol, o caminho para a escola do bairro ou quando ia buscar Cari a casa de uma amiga, não era que fossem lembranças más, eram imagens do seu passado. Um passado no qual criara Cari e assumira muitas responsabilidades desde muito jovem. Um passado no qual se fartara de preparar sandes, de rever trabalhos de casa e de fazer jantares. Um passado que lhe tinha negado a oportunidade de ser criança.

Embora tivesse saído algo bom de tudo aquilo. Cari, a sua irmã, adorava-o e ele sentia o mesmo por ela. Faria tudo pela sua irmã e essa era a única razão pela qual estava ali.

Estacionou o seu Jaguar com cuidado, ignorando uma sensação inusitada de nervos no estômago. Nervoso, ele? Era uma ideia ridícula, como podia confirmar qualquer um dos seus empregados da Dazzle.

Assinar contratos milionários? Arrasar na indústria do entretenimento? Ser o melhor do seu ramo? Podia fazer tudo isso de olhos fechados. Não tinha tempo para ficar nervoso e, no entanto, não pôde evitar uma certa ansiedade ao percorrer aquela rua renovada, cheia de cafés e lojas, tão diferente da Errol Street que recordava.

E, caso voltar a percorrer as ruas do seu passado fosse pouco, tinha de entrar numa daquelas lojas vintage, que eram o último grito da moda, para organizar a despedida de solteira da sua irmã. Semelhante panorama assustaria o mais robusto dos homens.

O seu telemóvel tocou e apressou-se a responder a uma mensagem da sua secretária, Jerrie, com um olho posto no telefone e outro nas montras das lojas até localizar a que procurava: a Go Retro.

O nome estava escrito em letras cor-de-rosa sobre um fundo de sapatos, chapéus e batons. Preferiria estar em qualquer outro lugar, mas tinha de tratar de um negócio e os negócios eram precisamente a sua especialidade.

Enquanto enviava outra mensagem a Jerrie, abriu a porta com o ombro e entrou na loja, calculando mentalmente as margens de lucro e as novas datas, antecipando a sua resposta à próxima pergunta da sua secretária eficiente.

Uma campainha tilintou sobre a porta, mas não levantou o olhar. Franzia o sobrolho enquanto via o e-mail de Jerrie com a lista atualizada de convidados para o lançamento da agência de modelos naquela noite.

– Desculpe.

Chase levantou um dedo, indicando que não estava disposto a que o interrompessem enquanto resolvia aquela última contrariedade.

– Aqui não são permitidos telemóveis.

Devia tê-lo imaginado. Uma loja que se dedicava à estética retro certamente viveria sumida na Idade Média.

– É só um minuto...

– Desculpe, são as regras da Retro.

Antes que pudesse argumentar uma resposta, o telefone voou das suas mãos, o que fez com que levantasse por fim o olhar, disposto a arremeter contra a vendedora impertinente.

– Como se atreve...?

O resto da diatribe morreu nos seus lábios quando o seu olhar furioso se encontrou com os maiores e mais quentes olhos castanhos que vira na vida, emoldurados por umas pestanas compridíssimas que lhes davam um ar de fragilidade.

Não estava habituado a que ninguém o enfrentasse e muito menos uma loira de um metro e setenta e curvas esculturais que parecia saída dos anos cinquenta, com o cabelo ondulado adornado com uma fita do mesmo estampado às bolas do seu vestido rockabilly.

– Atrevo-me porque sou a proprietária e regras são regras – guardou o telefone no bolso da saia volumosa e atreveu-se a dedicar-lhe um sorriso. – Devolvo-lho quando partir. Vejamos, no que posso ajudar?

Chase olhou para ela com o sobrolho franzido e, quando estava prestes a pedir-lhe que lhe devolvesse o seu telefone para partir imediatamente, detetou um vislumbre de medo sob aquelas pestanas infinitas cobertas de rímel.

Por muito que mostrasse audácia no seu papel de «polícia», a proprietária de todas aquelas ninharias não gostava de fazer de má. Identificava-se nisso com ela, de modo que enfiou as mãos nos bolsos das calças e olhou à sua volta, contemplando o estabelecimento pela primeira vez.

Um frenesi de cores invadiu os seus sentidos: rosas artificiais decorando chapéus pretos, luvas cor de laranja e azuis em caixas às flores, estolas verdes de plumas cobrindo os ombros de manequins vestidas de cetim e lenços de caxemira com estampados floreados. Havia pequenas amostras da mercadoria por todos os cantos da loja.

A seu ver, que preferia linhas modernas e elegantes em todos os âmbitos, desde o mobiliário à moda, aquele lugar era um pesadelo.

– Está à procura de alguma coisa em concreto? Uma peça de roupa? Acessórios? Alguma coisa especial para a sua esposa?

– Não tenho uma esposa – disse ele, sentindo que começava a instalar-se uma ligeira dor de cabeça atrás dos olhos perante a invasão visual incrível de flores, folhos, plumas, brilhos, vestidos e adornos berrantes que cintilavam sob a iluminação suave das lâmpadas de halogéneo, a única concessão ao século XXI.

– Ah... Bom, temos coisas para todos os gostos – disse ela, com uma nota de diversão na voz enquanto o observava para calcular o seu tamanho.

– Não quero nada para mim – respondeu ele, indignado.

– Não precisa de se envergonhar. Pode provar o que quiser.

Ele ficou boquiaberto. Já o tinham tomado por muitas coisas na vida, mas nunca por um travesti.

– É sempre tão direta com os seus clientes?

– Só com os recalcitrantes – respondeu ela.

Um sorriso iluminou a sua cara e acendeu uma faísca nos seus olhos que a fez passar de bonita a linda.

– Lamento corrigir a sua apreciação perante uma possível venda, mas as mulheres com quem saio não põem em dúvida a minha masculinidade, de modo que agradecia que fizesse o mesmo.

Ela ruborizou-se, o sorriso esfumou-se do seu rosto enquanto olhava para o outro lado e ele voltou a detetar o vislumbre de vulnerabilidade que notara antes.

As mulheres do seu ambiente, tanto profissional como social, nunca davam mostras de vulnerabilidade. Eram mulheres seguras, do seu talento e de si mesmas, mulheres que sabiam o que queriam e não tinham reparos na hora de o obter.

Aquela mulher tinha tão pouco a ver com elas como ele com o seu passado e, no entanto, havia algo nela que o intrigava profundamente.

Sempre confiara no seu instinto e, naquele momento, dizia-lhe que tinha de averiguar o que a movia antes de a contratar.

Ela pigarreou.

– Bom, agora que já deixámos claro que não está interessado num vestido de noite dos anos vinte, no que posso ajudá-lo?

Sorria um pouco e olhava-o hesitante, como se estivesse convencida de que, assim que olhasse para outro lado, ele não demoraria nem um minuto a provar uma saia de tule.

– Ouvi dizer que organizam festas de aniversário.

Ela assentiu.

– É verdade. Oferecemos mudanças de imagem, fotografias, disfarces e todas essas coisas. As mulheres adoram – fez uma pausa e os seus lábios vermelhos carnudos desenharam um sorriso travesso. – E alguns homens também.

Chase encontrou-se a devolver-lhe o sorriso, quando, na realidade, queria dizer-lhe que começava a fartar-se de que questionasse a sua masculinidade.

– Esse tipo de coisas poderia aplicar-se a uma despedida de solteira?

Os olhos dela iluminaram-se.

– É óbvio. Umas quantas horas de diversão para a futura esposa...

– Eu estava a pensar mais numa semana.

Ela arqueou uma sobrancelha perfeitamente depilada.

– Uma semana?

– Exato.

Ele começou a passear pela loja, brincando com uma travessão coberto de purpurinas, um lenço às bolas, incapaz de ver por si mesmo no que radicava o atrativo de tudo aquilo, mas sabendo que Cari adoraria aquele sítio.

E ele dava a Cari o que ela queria. A sua irmã fora a única pessoa que estivera ao seu lado durante todos aqueles anos e se não tivesse sido ela quando ainda era um rapaz... Reprimiu um calafrio.

– Deixe-me ver se entendi bem. Quer que organize uma despedida de solteira de uma semana?

– Sim.

Chase parou diante do balcão repleto de cestas cheias de acessórios femininos, espantado com a quantidade de objetos que ocupavam o menor espaço disponível.

– Isso é impossível.

– Não há nada impossível – disse ele, enquanto a observava a retocar um manequim, ajustando o cinto largo e alisando-lhe a saia. – Consultei os seus preços na sua página Web. Estou disposto a pagar-lhe o dobro do que cobra à hora e suportar todas as despesas de transporte.

Ela abriu ainda mais os olhos, espantada, e ele continuou, consciente de que a sua oferta era demasiado atraente para a rejeitar:

– E, como diretor-executivo da Dazzle, da qual, sem dúvida, já terá ouvido falar, terei todo o prazer em recomendá-la pessoalmente para os próximos eventos relacionados com a moda que requeiram uma nova visão.

Ela olhou para ele com os seus olhos castanhos grandes, um olhar fixo que o fez sentir-se estranhamente incomodado. Ao ver que não parecia entusiasmada com a proposta, compreendeu que tinha de passar ao plano B: usar o seu arsenal de elogios e sedução.

Mas o plano B deparava-se com um obstáculo. Nem sequer sabia como se chamava a rapariga e era consciente de que, se lhe perguntasse o nome agora, perderia muito terreno.

– Então, o que me diz?

A rapariga endireitou-se, puxou os caracóis loiros para trás e cravou-lhe um olhar que dizia tudo sem sequer abrir a boca.

– Muito obrigada pela oferta, mas a resposta é que não.