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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Lynne Graham. Todos os direitos reservados.

REFÉM DO ITALIANO, N.º 1157 - Dezembro 2012

Título original: The Italian Billionaire’s Pregnant Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1373-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Sergio Torenti entrou no palácio Azzarini pela primeira vez em dez anos. O palácio, uma mansão esplêndida situada nas colinas da Toscânia, era tão famoso pela sua arquitectura palatina grandiosa como pela produção do lendário vinho Azzarini, artífice de um império de vinhedos situados por todo o mundo. Infelizmente, os recentes problemas financeiros tinham cobrado o seu preço: a colecção de tesouros deslumbrante que uma vez enchera a mansão e a sua grandeza tinham desaparecido. Mas a partir daquele momento pertencia a Sergio na sua totalidade, cada pedra e cada metro de terra produtiva, e ele era suficientemente rico para remediar esse abandono.

Devia ter sido um momento de triunfo supremo. No entanto, Sergio não sentia nada. Há muito tempo que deixara de sentir. Ao princípio, tratava-se de um mecanismo de defesa, mas depressa se transformou num hábito que alimentava. Gostava da estrutura limpa e eficaz da sua existência. Não sofria desigualdades emocionais. Quando queria mais, quando precisava de um pouco de excitação para o reviver, obtinha-a através de sexo ou de desafios físicos. Escalara paredes rochosas no meio de tempestades de neve, atravessara selvas em condições terríveis e praticara desportos extremos. Não descobrira o medo, mas também não descobrira nada de que realmente gostasse.

Sergio percorreu o hall de entrada vazio lentamente. Houve um tempo em que o palácio fora um lar feliz e ele, um filho adorado, que presumia que sempre teria afecto, riqueza e a segurança que a sua família oferecia. Mas essas lembranças tinham sido apagadas pelo pesadelo que se seguira. Sabia muito mais do que teria desejado saber sobre a imensidão da avareza humana. O seu rosto atraente ficou tenso e saiu para o terraço traseiro, que dava para os jardins. Ouviu uns passos e virou a cabeça. Uma mulher dirigia-se para ele. O rosto perfeito de Grazia estava emoldurado pelo seu cabelo loiro. O vestido branco que se colava aos seus mamilos e delineava as suas coxas deixava pouco à imaginação: estava nua sob a seda. Grazia sempre soubera o que mais atraía um homem e não era a conversa. Ele captou a sua mensagem: era básica e imediata.

– Não me expulses – os olhos lânguidos expressaram um convite brincalhão e suplicante ao mesmo tempo. – Não há nada que não fizesse para ter uma segunda oportunidade contigo.

– Eu não dou segundas oportunidades – Sergio arqueou uma sobrancelha com desdém.

– Nem sequer se desta vez te oferecer uma prova sem compromissos? Sei pedir perdão com muito estilo – com um olhar provocante, Grazia ajoelhou-se à frente dele e agarrou a fivela das suas calças.

Sergio ficou tenso durante um segundo e, depois, deu uma gargalhada de apreço. Grazia, uma sobrevivente nata, tinha a moral de uma prostituta, mas, pelo menos, era honesta a respeito disso. Oferecia-se. E, sem dúvida alguma, era um prémio que muitos homens matariam para possuir: era bela, aventureira no sexo e de sangue e educação aristocrata. Sabia exactamente o que Grazia era, porque uma vez fora dele. No entanto, quando o seu futuro brilhante se destruíra, passara a ser do seu irmão. O amor com um orçamento pequeno não atraía Grazia; ia atrás do dinheiro. Mas o tempo provocara mudanças dramáticas, dado que Sergio se tornara milionário e os vinhedos Azzarini eram apenas uma pequena parte dos seus negócios.

– És a esposa do meu irmão – recordou-lhe num tom de voz suave, chegando-se para trás para se apoiar na parede e ficar a escassos centímetros das suas mãos, – e eu não gosto de adultério, minha querida – o seu telemóvel tocou. – Desculpa-me – murmurou.

Entrou em casa, deixando-a ali, submissa e de joelhos sobre os ladrilhos do terraço.

Era o seu chefe de segurança, Renzo Catallone, a telefonar de Londres. Sergio susteve um suspiro. O homem, agente da polícia já reformado, levava o seu trabalho muito a sério. Sergio tinha um jogo de xadrez valioso exposto no seu escritório de Londres e, há algumas semanas, surpreendera-se ao descobrir que alguém, ignorando o cartaz que ordenava «Não tocar», resolvera o problema de xadrez do tabuleiro. Depois, cada movimento de Sergio fora respondido por outro.

– Olha, se te incomoda tanto, põe uma câmara de segurança – sugeriu Sergio.

– Esta tolice com o tabuleiro de xadrez está a enlouquecer a minha equipa – confessou Renzo. – Estamos empenhados em caçar este brincalhão.

– E o que vamos fazer com ele quando o encontrarmos? – perguntou Sergio, num tom de voz seco. – Denunciá-lo por me desafiar para um jogo de xadrez?

– É mais sério do que pensa – contradisse o homem mais velho. – Esse hall está numa zona privada mesmo ao lado do seu escritório, no entanto, alguém entra e sai sempre que quer. É uma falha grave de segurança. Vi o tabuleiro esta tarde, mas não saberia dizer se alguma peça mudou de posição.

– Não te preocupes com isso – tranquilizou-o Sergio. – Eu saberei imediatamente.

Entre outras coisas, porque jogava contra um adversário muito inovador, que usava o jogo para chamar a sua atenção. O culpado só podia ser um membro ambicioso da sua equipa de directores, que queria impressioná-lo com a sua destreza para a estratégia.

 

 

O jovem estava tão ocupado a olhar para Kathy que quase tropeçou numa cadeira ao sair do café.

– És fantástica para o negócio! – o rosto redondo e amável de Bridget Kirk iluminou-se com um sorriso. Era uma morena de quarenta e um anos e dona do negócio. – Todos os homens querem que tu os sirvas. Quando vais escolher um com quem sair?

– Não tenho tempo para namorados – Kathy forçou uma gargalhada e os seus olhos verdes toldaram-se para esconder a inquietação que a pergunta lhe causava.

Bridget, observando a jovem a vestir o casaco para ir para casa, susteve um suspiro. Kathy Galvin era uma ruiva espantosa de apenas vinte e três anos, mas vivia como uma ermitã.

– Podias sempre arranjar algum tempo para um. Só se é jovem uma vez. A única coisa que fazes é trabalhar e estudar. Espero que não te preocupes com essa história do passado e com como explicá-la. Isso já ficou para trás.

Kathy controlou o desejo de dizer que o passado estava sempre com ela, fisicamente como uma cicatriz nas costas, emocionalmente nos seus pesadelos nocturnos e entristecendo os seus dias com uma sensação de insegurança. Sabia que quando alguém era desafortunado não era preciso fazer nada de mal para perder tudo. A sua vida seguira um curso dramático aos dezoito anos. Ela não fizera nada para causar a situação, a calamidade aparecera sobre ela de repente e quase a destruíra. Sobrevivera, mas a experiência mudara-a. Antes fora segura, aberta e confiante. Também tivera fé na integridade do sistema judicial e na bondade essencial inerente aos seres humanos. Quatro anos depois, essas convicções não se tinham recuperado e ela preferia retrair-se a dar azo a mais dor e rejeição.

– Já ficou para trás – murmurou Bridget. Kathy era bastante mais alta do que ela e teve de esticar o braço para lhe dar um aperto suave no ombro. – Pára de pensar nisso.

Enquanto caminhava para sua casa, Kathy pensou em como era sortuda ao trabalhar para alguém como Bridget, que a aceitava apesar do seu passado. Infelizmente, Kathy descobrira que, se quisesse trabalhar, a sinceridade era um luxo e aprendera a ser imaginativa no seu currículo para explicar o seu período de desemprego. Sobrevivia graças a dois empregos: limpava escritórios no turno da tarde e era empregada de mesa durante o dia. Precisava de cada cêntimo para pagar as contas e não lhe sobrava nada. Mesmo assim, meses de desemprego longos e frustrantes tinham-na ensinado a agradecer o que tinha. Poucas pessoas eram tão generosas e abertas como Bridget. Apesar de Kathy ser muito qualificada, tivera de se conformar com trabalhos simples e mal remunerados. Como sempre, foi um alívio chegar ao seu estúdio e fechar a porta atrás de si. Adorava a sua intimidade e agradecia não ter vizinhos ruidosos. Pintara as paredes do estúdio em tons pálidos, para reflectir a luz que entrava pela janela. Tigger estava enroscado no parapeito exterior, à espera da sua chegada. Abriu a janela para que entrasse e deu-lhe de comer. Era um gato vadio e demorara meses a ganhar a sua confiança. Ainda sentia pânico se fechasse a janela, portanto, por muito frio que estivesse, deixava-a aberta durante as suas visitas. Entendia perfeitamente a sua desconfiança e a saúde do gato melhorara muito desde que começara a cuidar dele. Tinha o pêlo mais lustroso e engordara.

Tigger fazia-a lembrar-se do animal de estimação familiar da sua infância. Kathy fora abandonada pela sua mãe biológica num parque quando tinha um ano e fora adoptada pouco depois. No entanto, a tragédia voltara a atingi-la com dez anos de idade, quando a sua mãe adoptiva falecera num acidente ferroviário e, pouco depois, uma doença afectara a saúde do seu pai. Durante a sua adolescência, Kathy tivera de cuidar do seu pai, gerir o lar com um orçamento muito pequeno e manter-se em dia nos seus estudos. O amor que sentia pelo seu pai dera-lhe forças e o seu único consolo era que ele falecera antes de o futuro académico brilhante da sua filha ficar destruído.

Duas horas depois, Kathy entrou no edifício de escritórios onde trabalhava quatro noites por semana. Gostava de limpar. Era tranquilo. Se fizesse o seu trabalho a tempo, ninguém lhe dava ordens e não costumava haver homens por ali para a incomodarem. Descobrira rapidamente que ninguém prestava atenção aos empregados da limpeza: a sua pouca importância tornava-os invisíveis e isso era perfeito para Kathy. Nunca se sentira confortável com a atracção que o seu aspecto causava no género masculino. Dado que ainda havia empregados nos seus locais de trabalho, primeiro ocupava-se das zonas comuns. Até os mais entregues ao trabalho estavam a arrumar quando começava com os escritórios. Estava a esvaziar um cesto de papéis quando um homem a chamou do outro extremo do corredor num tom de voz impaciente.

– É a empregada? Venha ao meu escritório, entornei uma coisa!

Kathy virou-se. O homem do fato elegante virou-se sem se dignar a olhar para ela. Seguiu-o rapidamente com o carrinho até desaparecer atrás da porta que dava para o escritório privado onde estava o jogo de xadrez pretensioso. O cartaz que ordenava «Não tocar» continuava lá. Os seus lábios curvaram-se quando deu uma olhadela de soslaio. O seu adversário desconhecido fizera outro movimento. Ela faria o seu durante o seu descanso, quando fosse a única pessoa no andar.

O escritório era enorme e imponente, com uma vista fabulosa da cidade de Londres. O homem, de costas para ela, falava ao telefone num idioma estrangeiro. Era muito alto, de costas largas e cabelo preto. De uma olhadela, descobriu o líquido a que se referia: uma chávena de café de porcelana entornara o seu conteúdo por uma zona extensa. Limpou o líquido escuro o melhor que pôde e foi encher o balde com água limpa.

Sergio concluiu a chamada e sentou-se à frente da secretária de vidro. Só então reparou na empregada, que estava ajoelhada a lavar a carpete, no outro extremo do escritório. O cabelo comprido que tinha preso na nuca era uma mistura atraente de tons cobre, âmbar e mogno.

– Obrigado. Assim bastará – replicou, displicente.

– Se o deixar agora, ficará uma mancha – avisou Kathy, levantando o olhar.

Pousou os seus olhos verdes enormes nele. Sergio, abstraído, pensou que estavam emoldurados por pestanas dignas de um veado de desenhos animados. O rosto era fora do comum e de uma beleza tão espectacular que ele, que nunca olhava para uma mulher, foi incapaz de desviar o olhar. Nem sequer a bata conseguia esconder a graça do seu corpo esbelto e de pernas compridas. Pensou imediatamente que não podia ser uma empregada. Devia ser uma actriz ou modelo. As mulheres tão bonitas não ganhavam a vida a lavar o chão. Perguntou-se como conseguira evadir a sua equipa de segurança.

Talvez um dos seus amigos estivesse a fazer-lhe uma brincadeira, embora lhe parecesse improvável. Seria um truque demasiado juvenil para Leonidas e Rashad perdera o espírito aventureiro depois de ter esposa e filhos. Tinha outros amigos, mas o mais provável era que a mulher estivesse a tentar enganá-lo pelas suas próprias razões.

Quando Kathy focou o homem que estava por trás da secretária, ficou boquiaberta por um segundo ao ver como era atraente. Tinha o cabelo preto e bem cortado, olhos brilhantes como azeviche, maçãs do rosto bem esculpidas e um nariz recto. Os batimentos do seu coração tornaram-se pausados e sonoros, dificultando a sua respiração.

– Na carpete – particularizou ela, obrigando-se a concentrar-se na tarefa que estivera a realizar, ao mesmo tempo que se levantava.

Sergio estava a memorizar a perfeição dos seus traços. As mulheres deslumbrantes não eram nenhuma novidade para ele. Não entendia o que o seu rosto tinha para exercer aquele poder magnético sobre ele. Recostou-se no banco com uma indolência fingida.

– Então, continue a limpá-la – declarou, num tom de voz rouco. – Mas antes de o fazer, responda a uma pergunta. Qual dos meus amigos a enviou aqui?

Ela olhou para ele com um ar inquieto. A sua pele adquiriu um tom rosado e parou de olhar para ele um segundo, mas sentiu a necessidade de o fazer novamente.

– Desculpe, não entendo o que quer dizer. Voltarei depois para limpar isto.

– Não, faça-o agora! – a ordem de Sergio obrigou-a a parar. Ele, ao ver a sua surpresa, começava a questionar as suas suspeitas iniciais.

Arrogante, exigente, obcecado com o sexo... Kathy etiquetou-o mentalmente, corando de raiva. Queria sair dali, não era tola. Sabia porque lhe perguntara se um amigo dele a enviara. Noutra ocasião, um executivo esperançado perguntara-lhe se era uma stripper enviada pelos seus amigos. Zangava-a que presumissem algo tão insultante baseando-se apenas na sua aparência. Estava a fazer o seu trabalho e tinha tanto direito como qualquer outra pessoa de o fazer em paz. Voltou a ajoelhar-se e, novamente, os seus olhos dirigiram-se acidentalmente para os olhos pretos que cintilavam faíscas. Ficou transfigurada por um instante, sem ar e com a boca seca. Depois, pestanejou, obrigou-se a desviar o olhar e descobriu que tinha a mente em branco. Só via o seu rosto atraente.

Sergio observou-a atentamente e verificou que não fazia nada óbvio para chamar a sua atenção. A roupa de trabalho cobria-a por completo e os seus movimentos não eram provocadores, portanto não entendia porque continuava a olhar para ela. Havia alguma coisa diferente nela, um elemento desconhecido que captava a sua atenção. O rubor que tingira a sua pele cremosa causara uma reacção instantânea das suas hormonas viris. Os olhos impressionantes eram tão verdes como as maçãs da horta do seu avô inglês e tinham um olhar surpreendentemente directo. Aquela boca levou-o a um nível de desconforto desconhecido.

Kathy continuou a trabalhar na mancha, embora soubesse que requereria um tratamento especializado mais adiante. Custava-lhe pensar. Nenhum homem causara uma resposta semelhante nela desde Gareth e ele nunca conseguira toldar o seu pensamento. Apesar de então estar apaixonada, era uma adolescente sonhadora que se deixara levar por expectativas românticas ridículas. Disse para si que a sua reacção face ao executivo era apenas uma lembrança de que a mãe natureza a abençoara com as mesmas reacções químicas que a qualquer outro ser humano e a atracção sexual era apenas mais uma delas. Talvez devesse agradecer a descoberta de que a desilusão e um coração partido não tinham conseguido apagar a sua capacidade de sentir o mesmo que qualquer mulher normal.

– Desculpe... – murmurou com educação, dirigindo-se para a porta para se ir embora.

Sergio levantou-se por instinto. Perto da soleira, ela levantou a cabeça e os seus olhos verdes expressaram a sua tensão. O protesto que ele tinha estado prestes a expressar para impedir que ela se fosse embora morreu nos seus lábios. Por todos os diabos, era uma empregada e ele era um Torenti! Os seus traços ficaram tensos e impôs-se o autocontrolo. Continuava a parecer-lhe difícil aceitar que uma mulher tão bela estivesse a trabalhar tão perto do seu escritório. E ainda era mais estranho que ele trabalhasse até tarde sem a presença dos seus assistentes. Tinha de ser algum tipo de truque!

Sergio tinha consciência de que a sua riqueza fabulosa o tornava um alvo desejado. As mulheres faziam de tudo para chamar a sua atenção. Ainda era um adolescente quando qualquer rasto que pudesse ter tido de galanteria no seu carácter se transformara no mais puro cinismo. Demasiadas raparigas em apuros tinham tentado atraí-lo com falsos incidentes que iam desde problemas mecânicos no carro a chaves que se tinham partido, voos misteriosamente perdidos, carências de alojamento de última hora ou doenças súbitas. Inumeráveis mulheres tinham usado truques para o conhecerem. Uma secretária supostamente respeitável e inteligente levara-lhe o café em roupa interior e muitas outras tinham usado reuniões e viagens de trabalho para se despirem e se oferecerem a ele. Com trinta e um anos, recebera inumeráveis ofertas sexuais, algumas subtis, a maioria descarada e algumas inequivocamente estranhas.

Kathy respirou fundo quando a porta se fechou atrás dela. Perguntou-se quem seria ele, mas rejeitou o pensamento porque, ao fim e ao cabo, não importava. Quando passou à frente do tabuleiro de xadrez, com as suas peças de metal, hesitou, estudou o jogo e sacrificou um peão, com a esperança de tentar o seu adversário a baixar a guarda. Perguntou-se se seria ele, mas pareceu-lhe improvável: havia outros dois escritórios que davam para aquele hall e num deles havia meia dúzia de mesas. Um tipo elegante que usava botões de punho de ouro e tinha um sotaque frio de classe alta, que clamava a gritos «escola privada britânica», não parecia um candidato a trocar movimentos de xadrez com um adversário desconhecido. Saiu para o corredor para reatar o seu trabalho.

Sergio estava a fechar o seu computador portátil quando o telefone tocou.

– Temos o jogador de xadrez secreto gravado, senhor – revelou Renzo, com satisfação.

– Quando conseguiram? Esta tarde?

– O incidente produziu-se ontem à noite. Tive um homem a rever a gravação durante horas. Acho que o surpreenderá saber o que descobri.

– Surpreende-me – urgiu Sergio, impaciente.

– É uma jovem, membro da equipa de limpeza, que trabalha no turno da noite, uma empregada chamada Kathy Galvin. Trabalha aqui há um mês.

– Envia as imagens para o meu computador! – ordenou Sergio. Os seus traços denotaram incredulidade que depressa se transformou em curiosidade.

Sergio observou as imagens ainda ao telefone com Renzo. Era ela: a ruiva deslumbrante. Observou-a a levantar-se do sofá do hall, onde obviamente estivera a descansar. Deu uma olhadela ao tabuleiro e mexeu o bispo branco. Perguntou-se se era sexista suspeitar que alguém muito mais inteligente lhe aconselhara o movimento destro através de um telemóvel. Depois, ela soltou o rabo-de-cavalo e passou um pente pelo cabelo. Fê-lo lembrar-se de uma sereia a mostrar toda a sua glória para atrair os marinheiros para as rochas. Enquanto estudava o seu rosto delicioso, perguntou-se se ela sabia que havia uma câmara a filmá-la.

– É má conduta, senhor – afirmou Renzo.

– Achas? – Sergio levantou-se e saiu para o hall com o telefone na mão. Olhou para o tabuleiro e descobriu que fizera um novo movimento ao sair. Sem dúvida, com a intenção de ele revelar a sua identidade e morder o anzol. Até dormia no sofá. Dedicar-se à limpeza devia ser um grande desafio para uma mulher que só tinha intenção de se atravessar no seu caminho.

– Será admoestada e certamente a empresa de limpeza despedi-la-á quando apresentarmos queixa...

– Não. Deixa este assunto nas minhas mãos e sê discreto – declarou Sergio. – Eu tratarei de tudo.

– Tratará de tudo, senhor? – repetiu o chefe de segurança, com espanto. – Tem a certeza?

– É claro. E quero que desliguem a câmara imediatamente – Sergio desligou o telefone. Os seus olhos escuros e ardilosos resplandeciam com faíscas douradas. Não era uma empregada verdadeira e esforçada que merecesse o seu respeito. Perguntou-se porque estivera disposto a acreditar nisso, mesmo durante alguns minutos. Esse rosto e esse corpo gloriosos, juntamente com o jogo de xadrez criativo para chamar a sua atenção, apontavam para outra caçadora de fortunas à espreita.

Sergio pensou que ela estava a pedi-las. Era uma estratégia muito original e tencionava divertir-se. E quanto antes melhor, porque no dia seguinte abandonaria Londres para participar numa maratona de esqui, na Noruega. E depois tinha negócios em Nova Iorque. Demoraria dez dias a regressar ao Reino Unido.

Endireitou o seu corpo imponente de um metro e oitenta e sete de altura e saiu do escritório à procura da sua presa. Encontrou-a a limpar uma secretária. O seu cabelo fabuloso resplandecia sob as luzes do tecto. Quando se ergueu e o viu à porta, os seus traços delicados expressaram surpresa. Sergio não teve outro remédio senão admirá-la: sabia fazer o seu papel. Ao ver a sua expressão, ninguém teria imaginado que estivera a tentá-lo com um jogo que considerava privado durante quase três semanas.

– Joguemos xadrez no mundo real, bella mia – sugeriu Sergio, num tom de voz frio e sedoso. – Desafio-te a acabar o jogo esta noite. Se ganhares, ter-me-ás a mim. Se eu ganhar, também. O que podes perder?