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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Julia James

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Anel de vingança, n.º 927 - Agosto 2016

Título original: His Wedding Ring of Revenge

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8821-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Umas fontes frescas entre pedras arredondadas soltavam os seus jorros de água cristalina sobre o granito gentil. Uma leve rajada de vento que rodeou o edifício fez com que um dos minúsculos penachos de água hesitasse, enviando gotas minúsculas para cima de Rachel que passava em frente.

Refrescou-lhe a pele.

Teria gostado que lhe tivesse refrescado a mente. Disse para si que ia ali tratar de um assunto de negócios. Mais nada.

Porque se pensasse que ia ali com outra expectativa, então...

«Não! Não penses. Não sintas. Desse modo, poderás levá-lo a cabo. E, acima de tudo, não recordes...»

No seu cérebro foi activado uma espécie de interruptor que cortou essa linha de pensamento.

Como correspondia, no Reino Unido, ao quartel-general de um dos maiores e de maior sucesso conglomerados industriais, Farneste Industriale, era o edifício de maior prestígio daquele novo e elegante parque empresarial... situado precisamente nos confins de uma das vilas mais antigas de Londres, Chiswick, com excelente comunicação com a auto-estrada M4 e o Aeroporto de Heathrow.

Continuou a andar. Os saltos altos dos sapatos italianos a condizer com o conjunto faziam as suas ancas bambolearem com elegância, ataviada no fato caro feito à medida e nas meias de seda, tal como a sua roupa interior. O casaco acentuava subtilmente a forma dos seus seios e o seu estômago liso.

Queria parecer... imaculada.

Afinal de contas, a pessoa que queria impressionar tinha uns padrões exigentes. Excepcionalmente exigentes.

Ela devia sabê-lo.

Certa vez, não tinha estado à sua altura. Não devia falhar desta vez.

E enquanto atravessava as enormes portas duplas que se que abriram automaticamente quando se aproximou, prometeu a si própria que não o faria. Sabia que desta vez podia manter a cabeça bem erguida perante qualquer mulher com quem a comparassem.

Alguns preferiam as morenas, pequenas ou voluptuosas ou vistosas ruivas à sua beleza loira e elegante, mas dentro do seu estilo, se agradasse a um homem era perfeita.

Soignée. Com aprovação, assim lhe teria chamado a sua mãe.

A emoção invadiu-lhe o coração. Conteve-a imediatamente. Os sentimentos de qualquer tipo seriam inconvenientes naquele encontro. Se albergava alguma esperança de sucesso, esta devia passar pela serenidade, segurança e total compostura.

Ia tratar de negócios. Mais nada.

Distraída, ao atravessar o hall, ouviu o ciciar das portas que se fechavam.

Como se fosse uma prisioneira.

Uma ligeira sensação de apreensão percorreu-a dos pés à cabeça. Dominou-a.

Não era uma prisioneira. Nem sequer uma refém. Estava ali para propor uma transacção, mais nada, que teria um resultado favorável para ambas as partes.

Perfeitamente directa. Tanto que as partes implicadas não deviam contribuir para mais nada.

Chegou até à enorme recepção semicircular situada no meio, atrás da qual se erguia outro artefacto de água: uma parede de água tão inteligentemente desenhada que esta não parecia fluir.

Parou diante da recepcionista elegante que olhou para ela com educada curiosidade.

– Vim ver o senhor Farneste – anunciou Rachel ao mesmo tempo que depositava a mala de mão sobre a superfície da recepção que servia como uma barricada em redor da mulher com quem acabava de falar.

– O seu nome, por favor? – replicou a recepcionista, consultando a agenda de reuniões.

– Rachel Vail – respondeu com firmeza.

A recepcionista franziu o sobrolho.

– Sinto muito, menina Vail. Não parece haver nenhuma reunião com a senhora

Rachel reagiu impavidamente.

– Se telefonar para o seu escritório e disser o meu nome, vai ver que me receberá – manifestou com segurança.

A recepcionista olhou para ela com decisão: Rachel soube a causa.

«Achas que sou uma das suas amantes, não é verdade? E não sabes o que fazer. Figuro na sua lista actual? Ou terá dado ordem de não passar a ligação se telefonar ou, pior ainda, se me apresentar em pessoa?»

Conhecia a rotina.

– Um momento, por favor – disse a recepcionista, levantando o auscultador do telefone. – Senhora Walters? Tenho a menina Rachel Vail na recepção. Receio que não haja nenhuma reunião marcada na agenda – reinou um momento de silêncio. Depois: – Muito bem. Obrigada, senhora Walters.

Pela expressão da sua cara, Rachel soube o que lhe tinham mandado fazer: dispensá-la.

Estava prestes a desligar. Com calma, Rachel interceptou o movimento e tirou-lhe o auscultador. A recepcionista ofereceu uma objecção sobressaltada, mas não lhe prestou atenção.

– Senhora Walters? Sou Rachel Vail. Por favor, informe o senhor Farneste de que me encontro na recepção. Diga-lhe que estou em posição de lhe oferecer algo que considera muito valioso para ele. Muito obrigada. Ah, senhora Walters. Devia dizer-lhe desde já. Em três minutos sairei do edifício e retirarei a oferta. Bom dia – devolveu o auscultador à recepcionista, que olhava para ela atónita. – Esperarei aqui – comunicou-lhe com frieza.

Olhou para o relógio, pegou na mala e dirigiu-se para a ilha de sofás brancos de pele que rodeavam uma mesa circular enorme, sobre a qual os jornais do dia estavam distribuídos com dolorosa precisão.

Pegou num exemplar do The Times e ficou a ler os títulos.

Precisamente dois minutos e cinquenta segundos mais tarde, tocou o telefone da recepção. Rachel virou uma página do diário e continuou a ler.

Trinta segundos depois, a recepcionista encontrava-se à sua frente.

– A senhora Walters irá reunir-se consigo no escritório, menina Vail – disse.

Na sua voz havia um tom que Rachel só não teria reconhecido se fosse surda.

Espanto.

 

 

Quando as portas do elevador se abriram, uma mulher de meia-idade impecavelmente vestida começou a aproximar-se dela. Tinha o rosto inexpressivo.

– Menina Vail?

Rachel assentiu, impassível.

– Venha por aqui, por favor...

Conduziu-a por um espaço amplo, alcatifado em cor creme e intercalado com estátuas grandes e abstractas. Impressionava. Estava desenhado para intimidar os interlocutores insolentes como ela, que não tinham razão para estar ali.

Ao chegar ao outro extremo da sala, pôde ver outra recepção, com duas mulheres jovens a trabalhar ali, ambas excepcionalmente bonitas. Rachel apertou os lábios, mas não alterou a expressão. Conduziram-na além das recepcionistas e depois pelo escritório que, evidentemente, era da senhora Walters, até umas grandes portas de madeira de nogueira.

A senhora Walters falou com discrição e abriu uma.

– A menina Vail, senhor Farneste – anunciou.

Rachel entrou.

Na sua cara não havia um único vestígio de emoção.

 

 

Ele estava exactamente igual. Sete anos não o tinham alterado. Era, como seria o resto dos seus dias, o homem mais bonito que alguma vez conhecera.

«Bonito», pensou distraída. Uma palavra estranha para aplicar a um homem. No entanto, era a única que encaixava em Vito Farneste.

O cabelo preto, o rosto irrepreensivelmente cinzelado, a linha fina que era o seu nariz, o ângulo afiado do queixo.

E a boca. Perfeita, como a de um anjo. Mas não um anjo de luz.

Um anjo de pecado.

A tentação tornada visível.

Encostou-se na poltrona de pele preta, impassível.

Uma mão repousava sobre a superfície de ébano da secretária. Contra essa escuridão, parecia pálida, mas o seu tom cítrico era escuro contra a brancura imaculada do punho da camisa, o resplendor dourado do relógio.

A outra estava apoiada sobre o apoio para os braços da poltrona, com os dedos longos estendidos, imóveis.

Não se levantou.

Ouviu o suave clique da porta ao fechar-se e compreendeu que a senhora Walters tinha cumprido o seu dever.

Uns olhos escuros e inexpressivos, com umas pestanas longas, estudaram-na.

Não falou.

Mas no silêncio, ouviu mentalmente, como se o tempo se tivesse dissolvido, as primeiras palavras que lhe dissera.

 

 

Onze anos atrás. Tinha catorze anos. Só catorze anos.

Alta. Desajeitada. Vulgar.

Era a primeira semana das férias de Verão. Supunha-se que devia ir passar quinze dias com uma colega da escola, mas no último dia de aulas, Jenny tinha contraído uma infecção e os pais da sua amiga tinham cancelado o convite. A escola tinha informado a sua mãe, e no último momento tinha recebido um bilhete de avião que a levaria para Itália.

Não tinha querido ir. Sabia que a sua mãe não a queria perto dela. Não queria estar junto dela desde que se tinha apaixonado por Enrico Farneste e mudado para Itália para estar perto dele. A partir de então, a sua mãe via-a só uma semana, ou algo do género, durante as férias de Verão, num hotel de Londres pago por Enrico. Rachel sabia que Arlene ficava sempre contente quando a visita acabava, podendo voltar para junto do homem que amava.

Mas nessas férias, sem outro sítio para onde ir, tinha acabado em Itália.

A villa em que Enrico tinha instalado a sua mãe era bonita, situada no alto de um desfiladeiro com vista para uma vila costeira na Riviera italiana, muito na moda, a pouca distância de Turim, onde estavam as fábricas dos Farneste. Como antes nunca tinha visto o Mediterrâneo, sentiu-se fascinada apesar da sua relutância em estar ali e, naquela primeira tarde, depois de o motorista ter ido buscá-la ao aeroporto e a ter deixado na villa, não tinha perdido tempo a descer à piscina do terraço inferior.

Além da governanta, que dava a impressão de falar só italiano, a villa tinha estado deserta, apesar da presença de um imponente carro desportivo vermelho que tinha visto na entrada. Enquanto nadava feliz sob o sol do Mediterrâneo, tinha dado por assente que a sua mãe e Enrico estavam fora.

Mas ao chegar à parte da piscina onde tinha pé, e parando momentaneamente com um braço apoiado sobre a borda de pedra da piscina para recuperar o fôlego antes de regressar ao exercício, deu-se conta de que a villa não estava deserta.

Havia alguém de pé no alto dos poucos degraus de pedra que conduziam do terraço superior até à zona da piscina. Varão, talvez de uns vinte anos, evidentemente italiano. Muito esbelto. Alto.

Durante um momento, tinha permanecido onde estava, sem se mover.

Depois, devagar, tinha começado a descer os degraus.

Usava uns sapatos de cor creme com uma mão no bolso, esticando o tecido da camisa sobre uns abdominais como uma tábua de lavar roupa. Uma camisa clara com os punhos levemente arregaçados e, aos ombros, uma camisola de tom claro também.

Tinha descido os degraus com uma graça indolente e letal que a tinha deixado sem fôlego.

Ao pousar a vista sobre a cara dele, sentira que todos os músculos do seu corpo tinham ficado tensos de forma insuportável.

Era o rosto mais bonito que jamais tinha visto. Cabelo preto, caindo levemente sobre uma testa bronzeada, maçãs do rosto cinzelados, queixo e nariz afiados, e uma boca... uma boca que pareceu derreter-lhe as entranhas.

Tinha levado óculos escuros e irradiado um ar de tal imparcialidade, que dava a impressão que acabava de sair da cena de um filme.

A tensão no estômago tinha-a feito sentir-se tonta e aturdida.

Ele tinha-se detido no final dos degraus, a uns dois metros da borda da piscina. Tinha olhado para ela. E apesar do corte desportivo do seu fato-de-banho, de repente, sentira-se muito exposta.

Não tinha tido a mais remota ideia de quem era, mas instintivamente tinha sabido que era o tipo de pessoa que se conhecia muito bem... e que se tratava de alguém que podia ir para onde quisesse. Não era só pelo seu aspecto arrebatador. Irradiava uma graciosidade natural e arrogante que teria provocado uma satisfação instantânea a qualquer desejo que pudesse ter tido.

Em particular pelas mulheres. Era o tipo de homem pelo qual as mulheres se babariam, pelo qual discutiriam para obter a sua atenção.

E com uma espécie de horror, deu-se conta de que nesse momento era ela quem captava a sua atenção.

E não tinha gostado.

Porque se sentira espantosamente intimidada. Porque, quem quer que fosse, era evidente que sabia que tinha o total direito de estar ali mas, e devido à inesperada presença de Rachel, talvez desconhecesse que também ela tinha esse mesmo direito.

E sob o intenso escrutínio daqueles olhos, tinha chegado à conclusão de que o seu fato-de-banho talvez fosse o menos sedutor do mercado, mas, apesar disso, tinha-lhe moldado o corpo e revelava as suas pernas e braços.

Já na altura sabia que não tinha uma grande figura. Comparada com algumas raparigas da sua idade, estava muito pouco desenvolvida, particularmente no que se referia aos seios, e todo o desporto que tinha praticado tinha-lhe musculado os braços. Quanto à sua cara... estava bem, ou pelo menos era o que ela supunha, mas era bastante vulgar.

E sabia exactamente qual o tipo de raparigas com quem sairia. As da «Lista A», as que emanavam atracção sexual, que tinham um aspecto fabuloso em cada momento do dia. As que superavam todas as restantes raparigas e que sabiam, além disso, quão excitantes eram.

As restantes raparigas jamais apareceriam no seu radar.

Tudo isso tinha passado pela sua mente em meros segundos, e tinha compreendido que, já que não era uma rapariga da «Lista A», e era demasiado jovem para ele, nem sequer existiria como membro da espécie feminina. Portanto, o que importava se considerasse o seu fato-de-banho pouco tentador, tal como a sua cara e a sua figura?

Mas o que lhe tinha importado era que pudesse considerá-la uma intrusa, uma turista atrevida a desfrutar dos prazeres de uma villa vazia.

Ele tinha continuado a olhar para ela, com expressão reservada e misteriosa. Estaria à espera que dissesse alguma coisa, que explicasse a sua presença ali?

Tinha-se sentido quase a morrer de calor. Hesitante, tinha levantado uma mão numa espécie de saudação, ou de sinal de comunicação visual. Assim que o tinha feito, sentiu-se tola. Mas fora impossível voltar atrás.

– Olá... – disse desconfortavelmente. – Provavelmente estás a perguntar-te quem sou, mas...

Assim que começou a falar, compreendeu que fora ainda mais parva. Falava em inglês e era absolutamente óbvio que ele era italiano.

Mas ele interrompeu-a secamente.

– Sei exactamente quem és – replicou num inglês fluído e preciso, sem que a pronúncia italiana suavizasse a aspereza das suas palavras. – És a filha bastarda da amante do meu pai.