desj829.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Harlequin S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Assunto privado, n.º 829 - Julho 2016

Título original: The Intern Affair

Publicado originalmente por Silhouette® Books

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas

registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8577-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Do diário de Maeve Elliott

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Do diário de Maeve Elliott

 

 

Há anos que o mesmo pesadelo me atormenta quase todas as noites. Nele ouço um recém-nascido chorar, e também os soluços da minha filha mais nova ao ver-se obrigada a renunciar à pequena que acabava de dar à luz. Depois, depois ouço o meu marido dizer-nos que é o melhor.

Passaram mais de vinte anos, mas Finola arrasta ainda um ressentimento para connosco, e eu continuo a sentir-me culpada.

Claro que... que outra coisa poderia ter feito? Finola só tinha quinze anos. Teria sido muito duro para ela ser mãe solteira com o peso de ser uma Elliott, sabendo que onde quer que fosse seria julgada e criticada.

Fizemos tudo o que pudemos por ela. Levámo-la para o que dissemos a todos ser um internato onde acabaria os estudos, mas as lembranças daquele convento onde deu à luz ainda me atormentam, tal como à própria Finola. Não chegou a ver a sua filhinha, nem sequer lhe permitiram sustê-la nos braços; ainda hoje vejo a dor nos seus olhos verdes, a mesma dor que lastra o meu velho coração.

O meu Patrick diz que fizemos o correcto, mas a mim ainda me assaltam as dúvidas, e questiono-me muitas vezes o que terá sido daquela linda criancinha, do bebé da minha filha.

Capítulo Um

 

– Querias ver-me?

Cade McMann afastou-se da janela que dava para Park Avenue, no décimo sétimo andar do edifício, virando-se ao ouvir a voz de Jessie Clayton, que tinha mandado chamar. A jovem estagiária, que trabalhava há seis meses na Charisma, a revista da qual ele era o subdirector, olhou-o com expectativa através das lentes dos seus horrendos óculos de massa.

Não os usava no dia em que a tinha entrevistado, mas desde o primeiro dia em que iniciara o estágio na revista que ocultava os seus lindos olhos verdes atrás daqueles óculos com lentes tingidas de violeta. Também não voltara a permitir-se exibir a sensual e longa melena ruiva, que lhe chegava quase à cintura, dado que optava por apanhá-la num rolo ou numa trança. Claro que no final da jornada o seu cabelo sempre se insurgia, e uma ou outra madeixa acabava por escapar àquela prisão para acariciar a sua cútis perfeita.

Acariciar a sua cútis perfeita? Santo Deus, em que estava a pensar?, repreendeu-se, obrigando-se a concentrar-se no motivo pelo qual a tinha chamado.

– Sim, há algo de que quero falar-te – disse-lhe, – senta-te, por favor – acrescentou indicando-lhe uma das duas cadeiras em frente da sua secretária.

Com a pasta apertada contra o peito, Jessie sentou-se.

– Tudo bem? – perguntou-lhe.

Bem? Não, quando aquela jovem de vinte e tantos anos estava na mesma divisão do que ele, o mundo de Cade virava-se de pernas para o ar de repente.

– Oh, sim, tudo na boa.

O riso cristalino de Jessie, que se tornara para Cade tão usual como o ruído dos telefones na redacção, invadiu nesse momento o seu escritório.

– «Na boa»? Achava que os chefes não utilizavam esse tipo de linguagem.

– Só tenho trinta anos, Jessie – disse-lhe Cade. – Além disso, não sou o chefe, só o braço direito da Finola. E por falar na Finola... tenho uma grande notícia para ti.

Era imaginação sua ou Jessie tinha empalidecido de repente?

– De… veras? – balbuciou a jovem com um sorriso vacilante.

– Foste escolhida para te converteres na sombra da Finola durante o mês de Setembro.

O sorriso desvaneceu-se dos lábios de Jessie, que franziu ligeiramente o sobrolho, e Cade viu-a engolir em seco com esforço, como se de repente tivesse ficado com a garganta seca.

– Que... misterioso parece isso – murmurou com um sorriso forçado.

– Fazemo-lo todos os anos. Seleccionamos um dos nossos estagiários, e é-lhe concedido um mês de aprendizagem como assistente pessoal da Finola. Se ela vai a uma reunião, acompanha-a; se tem de ir à tipografia rever o número do próximo mês, vai com ela, se um cliente a convida para jantar...

Jessie levantou uma mão para interrompê-lo.

– Acho que já captei a ideia.

Cade ficou calado, e ao vê-la engolir em seco de novo reafirmaram-se mais uma vez as suspeitas que o tinham levado a escolhê-la precisamente a ela. Jessie era trabalhadora, inteligente, e todos se davam bem com ela, no entanto havia algo estranho nela.

– É curioso, tinha pensado que ficarias louca quando to dissesse. É uma grande oportunidade e não a damos a qualquer um.

Jessie abanou a cabeça e subiu os óculos.

– E eu agradeço, mas não... não posso fazê-lo.

– Desculpa?

– Tenho a certeza que há outras pessoas que o merecem mais do que eu. Além disso, a Scarlet atribuiu-me um projecto muito importante, e... bom, já sabes, com todo este assunto que mantém a família em confronto, não queria começar a fraquejar no trabalho por me sentir incapaz de lidar com tanto volume de trabalho.

Cade inspirou profundamente e sentou-se também.

– Pois. E com esse «assunto» imagino que te referes a quem será o próximo presidente da Elliott Publication Holdings

Jessie assentiu com a cabeça, algo constrangida, embora não fosse nenhum segredo. Todos na empresa sabiam que Patrick Elliott tinha anunciado há já vários meses que as quatro principais revistas da EPH competiriam entre elas para decidir qual dos seus quatro filhos lhe sucederia no cargo.

– A ver se entendo: estás a dizer que rejeitas a oportunidade de ser a assistente pessoal da Finola Elliott durante um mês? – inquiriu Cade, juntando as mãos e inclinando-se para diante.

Jessie humedeceu os lábios como se também se tivessem secado, à semelhança da garganta.

– Sim, isso é exactamente o que estou a tentar dizer-te.

Cade soltou um riso abafado de incredulidade.

– Percebes que qualquer outro estagiário no teu lugar daria o que fosse por ter uma oportunidade assim?

– Eu... sinto-me muito agradecida por terem pensado em mim, Cade, embora nem sequer consiga imaginar por que me escolheram, mas...

– Porquê? Porque és uma pessoa de recursos, porque trabalhas com afinco, porque não chegaste tarde nem faltaste um só dia ao trabalho, porque demonstraste que vales... Que mais razões queres?

A razão principal, no entanto, era que desde o primeiro momento tinha evitado Finola, mas isso logicamente não lho ia dizer. Jessie ignorava que o seu inusual comportamento a tinha colocado no ponto de mira. Não podia negar que o seu sedoso cabelo e a sua esbelta figura tinham chamado também a sua atenção, mas tinha sido o facto de nunca a ter jamais visto ansiosa por impressionar a directora, como os demais estagiários, o que o levara a suspeitar dela.

– És uma empregada modelo e ganhaste esta oportunidade.

Jessie abriu a boca, como se quisesse dizer algo, mas voltou a fechá-la e subiu os óculos de novo antes de responder.

– Agradeço-te, Cade, de verdade, mas preferiria não fazê-lo.

– Mas... porque não?

– Já to expliquei, ando muito ocupada. Preferiria não me encher mais de trabalho neste momento, mais nada – respondeu ela num tom sereno.

Cade sabia que não estava a dizer-lhe a verdade, e estava convencido que só podia haver um motivo pelo qual estivesse a rejeitar aquela oportunidade.

– Sabes que mais, Jess? – disse-lhe inclinando-se para diante de novo. – Não engulo essa.

Dessa vez não houve lugar a dúvidas, ficou pálida como um lençol.

– Não te entendo.

– Sei que há algo que não me estás a dizer.

Jessie abriu muito os olhos, assustada, e Cade pensou que se ele não estivesse enganado, se ela realmente fosse uma infiltrada da Pulse ou da Snap, não tinham escolhido a pessoa mais indicada como espia. Sabia que se insistisse um pouco conseguiria fazê-la confessar a verdade. Só tinha de encontrar o modo de fazê-la baixar a guarda.

– Que te parece se formos tomar alguma coisa depois do trabalho para falarmos disto num ambiente mais descontraído? Talvez necessites pensar um pouco mais.

– To... tomar alguma coisa? – balbuciou ela, recuando como um animalzinho encurralado.

Tinha-a desarmado totalmente, pensou Cade.

– Foi o que eu disse. Conheces o pub Bull and Bear que há no Waldorf? – perguntou-lhe. Quando ela assentiu, acrescentou: – Estupendo, podemos combinar lá e falamos disto com mais calma.

Olhou-a fixamente enquanto esperava uma resposta. A verdade era que andava há meses a desejar seduzir aquela vivaz ruiva, mas não costumava misturar trabalho e prazer. Claro que aquilo não era um encontro romântico, só pretendia fazê-la confessar.

– Bem, o que dizes? – instou. – Vemo-nos lá às seis?

– É que eu... não sei...

Cade piscou-lhe um olho.

– Vá lá, Jess, só vamos beber um copo, é tudo.

Jessie subiu os óculos mais uma vez.

– De acordo. Às seis, no Waldorf.

Cade sorriu satisfeito, perguntando-se o que teria de fazer para conseguir que tirasse os óculos, que tirasse a máscara.

 

 

Às seis menos um quarto, Jessie marcou a extensão de Lainie Sinclair, a sua colega de trabalho e de apartamento.

– Ele já saiu? – perguntou-lhe. Do seu lugar conseguia ver o escritório de Cade.

– Sim, há uns minutos – respondeu esta em voz baixa. – Entrou um momento na casa de banho dos homens e saiu com a gravata ajustada, mas não pôs espuma no cabelo, nem cheirava a perfume.

– Serias uma espia genial, Lainie – riu-se Jessie.

De qualquer forma, a informação sobre o cabelo sobrava. Cade nunca punha espuma. O seu cabelo loiro escuro em geral exibia um aspecto informal, ligeiramente despenteado. Levava-a a ter vontade de tocá-lo.

– Deseja-me sorte – pediu a Lainie nervosa, levando uma mão ao estômago.

– Não necessitas – replicou a amiga. – O chefe da tua chefe escolheu-te para seres a assistente pessoal da directora da revista durante um mês. Ainda não entendo porque não queres fazê-lo.

Como tantas outras vezes, o desejo de poder contar a verdade assaltou Jessie. Lainie e ela tinham-se tornado amigas no dia em que tinha começado a trabalhar na revista, mas não era momento para confidências.

Lainie era um encanto, e sabia que poderia contar com ela para qualquer coisa, mas o seu segredo faria com que cambaleassem os muros da Elliott Publication Holdings caso se soubesse.

– Já te disse, neste momento estou muito ocupada com o projecto de que a Scarlet me responsabilizou.

– Estás louca. Deixar passar uma oportunidade como esta por esse ditoso projecto. Já falaste com a Scarlet?

– Está fora – respondeu Jessie, lançando um olhar à mesa vazia da chefe. – Suponho que foi por isso que Cade me deu a notícia em vez dela.

– Mas isso não explica que queira levar-te a esse pub no Walfdorf para tentar convencer-te a aceitares – referiu Lainie com malícia. – Achas que tem um quarto reservado?

– Não diga parvoíces – reprovou Jessie corando, – só vamos beber um copo e conversar.

Não era que tal coisa não lhe tivesse passado pela cabeça, mas os nervos que tinha nesse momento não se deviam à mais que improvável possibilidade de acabar a fazer amor com Cade McMann numa suite de luxo.

Aquele segredo de Jessie já Lainie conhecia, era a única pessoa do escritório que sabia que estava louca pelo subdirector da revista.

– Bom, tu ouve o que tiver para te dizer. Talvez encontres o modo de fazer esse projecto e não tenhas de rejeitar uma oportunidade assim – disse-lhe Lainie.

Jessie não se atrevia a passar nem um só segundo perto de Finola Elliott, mas isso era algo que não podia explicar à sua amiga.

– Já veremos – respondeu vagamente. – Tenho de ir andando.

– Queres que te espere levantada? – brincou Lainie.

– Não fará falta, estarei em casa às oito.

– Da manhã? – brincou a sua amiga de novo, rindo-se.

– Muito engraçadinha.

 

 

Quando Jessie saiu do edifício da EPH, uma leve brisa outonal agitava as copas das árvores do passeio central. Animada pela rara possibilidade de respirar um pouco de ar fresco, Jessie alçou o rosto e inspirou profundamente, mas o que inundou os seus pulmões foi a fumaça do tubo de escape de um táxi que passou nesse momento diante dela.

Parecia que tinham passado anos desde que saíra de Colorado, do rancho do seu pai. Tinha saudades dele.

Precisamente quando estava a atravessar uma passadeira, o telemóvel tocou e ao tirá-lo da mala e olhar para o monitor, viu, para sua surpresa, que era precisamente o seu pai quem lhe ligava.

– Olá, pai! – cumprimentou-o com voz animada. – Nem imaginas onde estou agora mesmo!

– Diz-mo tu, querida – respondeu a voz de Travis Clayton ao outro lado da linha.

– A atravessar Park Avenue! – respondeu Jessie rindo-se. – Não está mal, eh?

– Pois tem cuidado, filha. Os condutores em Nova Iorque são uns loucos perigosos.

Jessie riu de novo.

– Como estás, paizinho? E como está o Oscar?

– Eu estou estupendamente e o Oscar também. Levei-o a dar um passeio esta manhã – respondeu o pai. – Tem saudades tuas.

Jessie fechou os olhos um instante e, ao imaginar a lombo do seu potro, Oscar, foi invadida por uma onda de melancolia.

– Onde estás, pai? Estás sentado no alpendre?

– Sim, querida. Tenho de voltar ao trabalho dentro de um instante, mas pensei que talvez pudesse apanhar-te a caminho de casa.

– Pois a verdade é que não vou para casa – replicou ela. – Adivinha? Estou prestes a entrar no Waldorf-Astoria. Que te parece?

– Parece-me que a minha menina já é crescida e que a cada dia se afasta mais de Colorado e do que este velho conhece – respondeu o seu pai com uma certa tristeza.

Tinham passado já três anos da morte da sua mãe, mas talvez não tivesse sido uma boa ideia deixar o seu pai sozinho em Colorado. Ir para Nova Iorque tinha sido algo impulsivo, não podia negá-lo, e talvez uma loucura, mas sentira que precisava de saber.

– No Waldorf? E que fazes num hotel de cinco estrelas?

O porteiro abriu-lhe a porta com um sorriso, e Jessie devolveu-lho e agradeceu.

– Vou reunir-me aqui com o subdirector da revista, acreditas? – disse ao seu pai enquanto avançava pelo luxuoso vestíbulo.

– Oh. Isso significa que por fim te vão pagar? – inquiriu ele num tom algo sarcástico.

Jessie olhou em volta, buscando com o olhar a entrada do pub Bull and Bear, e quando a localizou foi sentar-se numa das poltronas do centro do vestíbulo para poder terminar tranquilamente a conversa com o seu pai. Ainda era cedo.

– Pai, desde o princípio que me disseram que era um estágio não remunerado; qualquer um dos meus colegas da faculdade de Belas Artes teria matado por esta oportunidade. Além disso, não tens que te preocupar: estou a controlar as minhas despesas ao máximo.

– Eu sei, querida, eu sei – disse o pai num tom mais suave. – Se viver em Nova Iorque e trabalhar numa revista mesmo que não te paguem te faz feliz, não tenho nada a objectar. E tenho a certeza que a tua mãe te teria apoiado a cem por cento.

Jessie fechou os olhos e visualizou o rosto da sua mãe, o da sua «verdadeira» mãe, a que a tinha criado, a que...

De repente, a necessidade de contar ao seu pai a verdade foi tão forte que por um instante lhe pareceu sentir falta de ar.

– Bom, e qual é o motivo dessa reunião então? Tens tempo para me contar? – instou o pai.

Jessie inspirou profundamente e olhou para o relógio. Não tinha a certeza se uns minutos bastavam para contar toda a verdade, mas se não o fizesse, sentir-se-ia muito mal.

– Propuseram-me a possibilidade de ser assistente pessoal de Finola Elliott, a directora da revista, durante um mês.

Ficou calada, para ver se o nome provocava alguma reacção no seu pai, mas não foi assim.

– Mas não tenho a certeza se devo aceitar ou não – acrescentou.

– O quê? Estás louca? Porque não? – exclamou o pai. – Pelo amor de Deus, menina, se te deram essa oportunidade será porque a mereces.

Jessie inspirou de novo.

– Pois, mas é que não sei se quero passar tanto tempo com essa mulher.

– Porquê? Não gostas dela ou algo do género? Jess, filha, se com isso conseguires um trabalho definitivo e um salário, não sejas parva.

Jessie não pôde reprimir o sorrisinho que aflorou aos seus lábios. Era evidente que Travis Elliott não achava graça que não pagassem um só cêntimo à sua «menina». Mas logo ficou séria. Não estava preparada para lhe dizer a verdade, mas tinha de o fazer.

– É que, pai... é que... a Finola Elliott é... é a minha mãe biológica.

Capítulo Dois

 

Quando Jessie entrou no pub já passavam dez minutos da hora a tinha combinado ali com Cade, e as palavras de reprovação e advertência do seu pai ainda lhe ressoavam na cabeça.

«Não esperes que apareça um coro de anjos do nada, a cantar Aleluia, quando ela souber. É uma mulher da cidade, provavelmente não tem nenhum desejo de se enfrentar a algo que sucedeu há vinte e três anos. Se tivesse querido recuperar-te, não achas que teria tentado pelo menos dar contigo?».

Jessie tinha-lhe dito que Finola se inscrevera num directório na Internet de mães que tinham dado os filhos em adopção, para o caso de estes quererem conhecê-las quando crescessem. Explicou-lhe que fora assim que dera com ela, e que talvez Finola também estivesse à sua procura, mas o seu pai mostrara-se céptico.

Jessie imaginara um sem-fim de vezes o momento em que Finola Elliott a olharia, lhe estenderia os braços abertos e exclamaria entre lágrimas de alegria: «minha menina!».

Claro que cabia a possibilidade de o seu pai ter razão. A verdade era que, após observar Finola durante os meses que trabalhava na EPH, Jessie não tinha visto nada que indicasse que aquela mulher de trinta e oito anos, viciada no trabalho, pudesse ter interesse algum em encontrar, conhecer ou amar uma filha que dera em adopção vinte e três anos antes.

Ver o deus de cabelo loiro sentado num canto devolveu-a ao presente. Desde o dia em que tinha entrado no escritório de Cade McMann para aquela entrevista de trabalho, Jessie sentira-se atraída por ele. No início tinha sido só pela sua beleza física: alto, forte, intensos olhos cinzentos..., mas depois começara a gostar dele também pelo seu sentido de humor e honradez.

O que não conseguia compreender era que a tivesse convidado a ela, uma simples estagiária, para beber um copo depois do trabalho, nem que se tivesse levantado ao vê-la e estivesse a olhar para ela como se quisesse alguma coisa. Que podia querer?

Um sorriso iluminou o seu atractivo rosto, e o coração de Jessie saltou-lhe no peito. Não tinha a certeza do que Cade queria, mas no seu íntimo desejava que esse algo fosse ela.

– Lamento o atraso – disse-lhe quando chegou a cadeira para que se sentasse.

– Deixa-me adivinhar: a Scarlet voltou da sessão fotográfica e pediu-te que fizesses vinte coisas antes que pudesses dizer-lhe que já estavas de saída.

Jessie pousou a mala no chão, junto da cadeira.

– Não, na verdade estava a falar ao telefone com o meu pai e não podia interrompê-lo.

– Estou a ver. Vives em Colorado, não é?

Jessie perguntou-se se recordava aquilo da entrevista, ou se teria estado a ler o seu curriculum.

– Sim, temos um rancho de gado não muito longe de Colorado Springs.

Cade chamou um empregado, este tomou nota do que iam tomar: um Martini para ela e uma cerveja para ele. Quando o empregado se retirou, Cade tirou o casaco do fato para pendurá-lo nas costas da cadeira, e Jessie teve dificuldade em desviar o olhar do musculoso tórax que se adivinhava sob a camisa.

– E como é que uma rapariga como tu, que cresceu num rancho de Colorado, acabou nesta selva que é Nova Iorque? – perguntou-lhe Cade, chegando-se para trás.