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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Legado de segredos, n.º 54 - Junho 2016

Título original: A Legacy of Secrets

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin

Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8384-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Epílogo

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Prólogo

 

Elia tinha a certeza de que nunca esqueceria aquele momento.

– Por favor, Elia, não te vás embora…

Levantou-se. Estavam no aeroporto de Sidney e tinha o passaporte e o cartão de embarque na mão. Olhou mais uma vez para os olhos suplicantes da sua mãe. Eram da mesma cor de âmbar que os seus. Esteve prestes a ceder. Doía-lhe deixá-la sozinha com o seu pai.

Mas, tendo em conta tudo o que tinha acontecido, também não acreditava que pudesse ficar.

– Tens uma casa linda…

– Não! – interrompeu-a Elia com firmeza. – Tenho um apartamento que comprei com a esperança de que fosses viver comigo. Pensei que assim te decidirias finalmente a deixá-lo, mas não o fazes.

– Não posso.

– Podes, sim – insistiu Elia. – Fiz tudo o possível para te ajudar a sair de lá, mas recusas-te.

– É o meu marido…

– E eu sou a tua filha – disse-lhe, tentando conter a sua raiva. – Bateu-me, mamã!

– Porque o enervaste, filha. Estás a tentar que o deixe e vá…

A sua mãe estava na Austrália há mais de trinta anos e era casada com um australiano, mas o seu inglês continuava bastante fraco. Podia continuar a tentar convencê-la, mas sabia que não lhe serviria de nada. Além disso, não tinha tempo para isso. Estava na altura de lhe dizer as palavras que já tinha ensaiado na sua cabeça. Queria dar uma última oportunidade à sua mãe.

– Vem comigo – disse-lhe, enquanto lhe entregava o bilhete que tinha comprado em segredo.

– Como…?

– Trouxe o teu passaporte – acrescentou, tirando-o da mala e entregando-o à mãe para lhe demonstrar que falava a sério e que o pensara muito bem.

– Podes ir-te embora e deixá-lo, mamã. Podes voltar para a Sicília e viver lá com as tuas irmãs. Poderias ter uma vida…

Pôde ver no rosto da sua mãe como lutava para tomar uma decisão. Tinha saudades do país de origem. Não parava de falar das irmãs e, se por fim tivesse a coragem necessária para se afastar do marido, Elia ajudá-la-ia em tudo o que pudesse.

– Não posso – disse por fim a sua mãe.

Sabia que não ia consegui-lo, mas Elia fez tudo o possível para persuadir a sua mãe até à altura de passar pelo controlo de segurança e ir até à porta de embarque. Tentou convencê-la a ir com ela, mas a sua mãe já tinha decidido que não ia falar mais disso.

– Espero que tenhas uma boa viagem, Elia.

– Não é só uma viagem, mamã. Não vou de férias… – recordou-lhe Elia.

Queria que a sua mãe se desse conta da gravidade da situação, que não ia para o estrangeiro passar algumas semanas de férias.

– Mamã, vou procurar trabalho lá.

– Mas disseste-me que ias à Sicília…

– Pode ser que o faça.

A verdade era que não tinha a certeza.

– Não sei se poderei, mamã. Esperava ir contigo. Agora, acho que vou ficar em Roma.

– Bom, se sempre fores à Sicília, dá um abraço grande às tuas tias da minha parte. Diz-lhes que… – Gabriella hesitou por um instante.

– Queres que lhes diga qualquer coisa menos a verdade, não é? – replicou Elia, olhando para a mãe.

Sabia que ia arranjar problemas por se ter atrevido a ir com ela ao aeroporto. Mas, mesmo assim, queria que dissesse às suas tias que a vida dela na Austrália era fantástica. Parecia-lhe incrível que quisesse continuar a manter as aparências daquela maneira.

– Estás a pedir-me que minta, mamã?

– Porque estás a fazer-me isto? – perguntou-lhe Gabriella.

Era a mesma reação que tinha sempre que Elia questionava as coisas ou se recusava a aceitar a sua situação.

Às vezes, parecia-lhe que era mais siciliana do que a sua mãe. Certamente, achava que tinha mais caráter do que ela. Não entendia porque é que a sua mãe estava a fazer algo do género. Porque se limitara a observá-los e a gritar quando o seu pai lhe batera, em vez de ter a coragem de se levantar e partir de lá. Mas sabia que não era a melhor altura para lho atirar à cara. Elia não tinha partilhado os seus sentimentos com ninguém, nem sequer com a sua mãe, desde aquele dia.

– Tenho de ir, mamã – disse-lhe, enquanto olhava para o ecrã que anunciava as partidas. – Mamã, por favor… – acrescentou mais uma vez com emoção contida.

– Vai, Elia.

Gabriella despediu-se da filha entre lágrimas, mas Elia conteve-as. Não tinha chorado desde aquele dia terrível, embora já tivessem passado dois meses. Abraçou a sua mãe e dirigiu-se para o controlo de segurança. Depois, sentou-se com os olhos ainda secos no avião. Tinha um lugar vazio ao seu lado. Sentia-se muito culpada por ter deixado a sua mãe, mas também sabia que não havia mais nada que pudesse fazer. Tinha vinte e sete anos e já tinha passado bastante tempo a tentar afastá-la do seu pai. Ao ponto de ter escolhido o seu trabalho pelo dinheiro, não porque a apaixonasse.

Trabalhara como assistente pessoal para alguns diretores-gerais. Depois, tinha ido subindo na sua corrida até chegar a ser secretária de um político. Tinha passado os últimos dois anos em Camberra, receando o que veria em casa quando voltasse para Sidney. Como não podia viver assim, trocara um bom emprego por um não tão bom para poder viver perto deles. Inclusive tinha comprado uma casa mais perto dos seus pais. Mas, depois de tantos anos a tentar ajudar a sua mãe, apercebera-se de que tinha de se afastar. Tinha muito boas referências e sabia falar italiano. Achava que já era hora de ter uma nova vida. A sua vida. Não lhe tinha passado pela cabeça que fosse necessitar de tempo para recuperar de tudo o que tinha acontecido. Concentrara-se por inteiro na procura de um novo emprego. Mas, depois de tomar a decisão, apercebera-se de que a ideia era mais intimidante do que lhe tinha parecido de início.

Para começar, chegou a Roma em pleno mês de janeiro. Tinha passado do verão australiano quente para um inverno frio. E aquela era uma cidade grande. Nunca tinha vivido num sítio tão grande, nem com tanta gente.

Aproveitou os primeiros dias para visitar os lugares mais turísticos. Foi ao Vaticano e atirou de costas uma moeda à Fontana di Trevi, como a sua mãe lhe tinha pedido que fizesse. Mas não sabia porque lho tinha pedido. Afinal, tinha a certeza de que a sua mãe nunca mais voltaria para a Itália.

Foi de comboio a Ostia Antica, visitou as ruínas e congelou enquanto caminhava pela praia. Tinha muito tempo para pensar e esperava sentir que a sua alma começava a sarar depois de tudo o que se tinha passado, mas isso não aconteceu. Portanto, em vez de se sentar à espera, começou a procurar trabalho.

«Tem muita experiência para uma pessoa da sua idade, mas…», diziam-lhe em todas as agências de emprego.

Também o fez Claudia, a mulher que estava a entrevistá-la. Tinha um currículo impressionante e sabia falar italiano, mas o seu nível não era bom ao ponto de a agência de emprego contar com ela.

– Entende-o melhor do que o fala – disse-lhe Claudia. – Interessa-lhe outro tipo de trabalho?

Fora muito amável com ela e decidiu que era melhor ignorar o comentário e não deixar que isso a ofendesse. Quanto a outro tipo de trabalho, esteve prestes a dizer-lhe que não, mas apercebeu-se de que não tinha nada a perder sendo sincera.

– Interessa-me muito a indústria do cinema – confessou-lhe Elia.

– Não temos atores inscritos na nossa agência, não nos encarregamos disso.

– Não, não… – esclareceu Elia. – O que me interessa é a realização.

Era o que sempre quisera fazer. Mas, até àquele momento, a sua prioridade fora ter um tipo de trabalho com o qual pudesse poupar dinheiro suficiente para que a sua mãe pudesse sair de casa. Em vez de tentar fazer um estágio mal pago na área do cinema, sempre tinha procurado empregos bem remunerados. Mas, naquela manhã, sentada naquela pequena agência de emprego no centro de Roma, Elia apercebeu-se de que tinha chegado a altura de se concentrar em si mesma.

– Lamento – respondeu Claudia, encolhendo os ombros com expressão impotente.

Elia abriu a boca para lhe agradecer enquanto se levantava da cadeira, mas Claudia parou-a.

– Espere. Temos um cliente em Palermo, a Corretti Media, que necessita de uma pessoa. Já ouviu falar deles?

– Um pouco – replicou. – Tiveram uns quantos sucessos nos últimos anos, não foi?

– Sim. Alessandro é o diretor-geral da empresa e Santo é produtor de cinema.

– É verdade. Já ouvi falar dele.

Mas não o conhecia precisamente pelos seus dotes como produtor, senão pela sua vida escandalosa.

– Disseram-me que troca constantemente de secretária – disse-lhe a mulher, franzindo os lábios. – Teria de viajar com ele durante as filmagens. Mas necessita de alguém com uma mente aberta. Está sempre a meter-se em confusões e tem fama de mulherengo.

A Elia não a preocupava nada a fama que tivesse. Apaixonava-a a mera ideia de estar num local de rodagem e começar a ter um pouco de experiência no cinema. Achava que, pelo menos, seria um começo.

– Talvez não lhe importe que o seu italiano não seja perfeito se lhe disser que está familiarizada com a indústria do cinema.

– Além disso, o meu italiano está a melhorar a cada dia que passa – insistiu Elia.

– E também devia melhorar o seu aspeto.

Daquela vez, não conseguiu evitar sentir-se ofendida.

– Santo Corretti esperará ver alguém com um aspeto impecável.

– Então, é o que terá – replicou Elia com um sorriso forçado enquanto se levantava.

– Espere um pouco – pediu-lhe a proprietária da agência.

Elia sentou-se enquanto Claudia fazia uma chamada. Estava muito nervosa. Pela primeira vez na sua vida, queria realmente um trabalho, desejava-o acima de qualquer outra coisa. Não conseguiu evitar ruborizar-se quando Claudia olhou para ela e disse ao seu interlocutor que era bonita e loira.

– Lamento… – disse-lhe Claudia quando desligou. – Falei com a que ainda é a secretária dele. Embora esteja desejosa de deixar o trabalho, acha que não encaixa no perfil. Pelo visto, é muito particular.

– Bom, obrigada por tentar.

Saiu da agência depois de se despedir de Claudia e foi beber um café. Distraiu-se a olhar para as pessoas pela janela do estabelecimento. Não sabia porque se sentia tão dececionada. Tratava-se de um trabalho para o qual nem sequer fora entrevistada. E, mesmo que se tivesse apresentado diante de Santo Corretti, não acreditava que tivesse tido alguma hipótese. Parecia-lhe que as mulheres italianas tinham uma elegância inata e Claudia já lhe dissera que aquele homem não queria ninguém que não encaixasse nesse sentido. Ter-lhe-ia bastado olhar para ela e ver o seu fato cinzento aborrecido para lhe dar a mesma resposta negativa que tinha obtido na agência. De qualquer modo, nem sequer estava certa de querer trabalhar na Sicília, onde tinha nascido a sua mãe. Embora uma parte dela sentisse curiosidade.

Quando saiu da cafetaria, em vez de ir à agência seguinte da sua lista, descobriu-se a olhar para a montra de uma butique exclusiva, perguntando-se o que vestiria a secretária de Santo Corretti.

Alguns minutos mais tarde, estava a perguntar o mesmo à empregada da loja. Não lhe disse o nome do produtor, disse-lhe apenas que tinha uma entrevista de trabalho muito importante.

Uma hora depois, estava sentada num salão de beleza. Cortaram-lhe as pontas e apanharam-lhe o cabelo comprido encaracolado. Também a maquilharam e arranjaram-lhe as unhas.

Ao início da tarde, pagou a conta do hotel e fez o voo curto que a separava da Sicília. Quando estava prestes a chegar, olhou pela janela para a ilha que vira num sem-fim de fotografias descoloridas e que a sua mãe lhe tinha descrito vezes sem conta. Apesar da beleza das montanhas cobertas de neve, do mar azul brilhante e das casinhas brancas da costa, não sabia se estava realmente preparada para aquilo. Mas recordou a si mesma que estava ali para trabalhar.

Achava que a coisa mais valente que fizera na sua vida fora deixar a Austrália. Mas, enquanto se levantava do seu assento e saía do avião, apercebeu-se de que o que estava a fazer naquele momento também era muito corajoso. Ou talvez fosse a decisão mais absurda da sua vida. De qualquer forma, não ia demorar a ter uma resposta. Parou um táxi e meteu-se nele.

– Corretti Media – indiciou ao taxista, contendo a respiração.

Elia tirou o espelho da mala. Alisou o cabelo e retocou a maquilhagem. Sorriu ao ver o seu reflexo e reparou nos seus dentes brancos. Sabia que ninguém adivinharia o preço que pagara para conseguir aquele sorriso. E não se referia precisamente ao dinheiro. Fechou o espelho e guardou-o. Não queria pensar naquilo. Quando o táxi parou diante do edifício da Corretti Media, pagou ao taxista e entrou com passo firme. Foi direta à rececionista e disse-lhe que estava ali para uma entrevista de trabalho para a vaga de secretária.

Un attimo, prego – pediu-lhe a rececionista e fez um telefonema. Disse-lhe depois que subisse até ao último andar.

Quando saiu do elevador, encontrou-se com uma mulher muito bela e chorosa que lhe deu uma agenda preta e as chaves de um carro.

Buona fortuna! – disse-lhe a jovem.

Depois, gritou por cima do ombro uma expressão em italiano que Elia tinha ouvido algumas vezes da sua mãe.

– Se me enganar uma vez, a culpa é dele. Se me enganar duas vezes, a culpa é minha.

– Então, presumo que isso seja um «não», não é verdade?

Elia virou-se ao ouvir atrás dela uma voz profunda e muito masculina.

Ao vê-lo, não lhe custou entender porque a secretária se disponibilizara a dar-lhe uma segunda oportunidade. Mas estava claro que não ia dar-lhe uma terceira. Ficou sem fôlego ao ver os seus olhos verdes e o seu sorriso. Reparou então na sua boca sensual e na sua face esquerda, onde ainda tinha a marca vermelha da bofetada que acabavam de lhe dar.

– Está aqui para a entrevista de trabalho? – perguntou a Elia em italiano.

Quando ela assentiu com a cabeça e se apresentou, o homem fez-lhe sinal para que entrasse no seu escritório, e ela assim o fez.

Não lhe dissera quem era ele, mas estava claro que não necessitava de apresentação.