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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Entre rumores, n.º 49 - Janeiro 2016

Título original: Rumor Has It

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7736-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Amanda Altman voltara à cidade.

Não se falava de outra coisa e Nathan Battle começava a cansar-se. Não havia nada que odiasse mais do que ser o centro das fofocas e já o fora numa outra altura, anos antes.

Felizmente, conseguira fugir do pior mudando-se para Houston e entrando na academia de polícia e, mais tarde, concentrando-se no seu trabalho.

Mas agora não ia funcionar. Tinha a sua casa ali e não se ia embora para lado nenhum. Sobretudo, porque Nathan Battle não fugia. De modo que teria de lidar com aquilo até que surgisse outro assunto para as pessoas falarem.

Assim era a vida em Royal, Texas. Uma localidade muito pequena para haver privacidade e demasiado grande para ter de repetir o mesmo boato uma e outra vez.

Nem sequer ali, pensou Nathan, entre as paredes sagradas do Clube de Fazendeiros do Texas, podia fugir dos falatórios, nem da especulação. Inclusive do seu melhor amigo.

– Então, Nathan – disse-lhe Chance sorrindo com malícia. – Já viste a Amanda?

Nathan olhou para o homem que estava à sua frente. Chance McDaniel era o dono do rancho e do hotel McDaniel’s Acres. Chance herdara o terreno da sua família e decidira construir lá, e fizera um bom trabalho.

– Não – limitou-se a responder.

Disse a si próprio que, sendo conciso, transmitiria melhor a mensagem. E talvez tivesse funcionado com qualquer outra pessoa, mas Chance não se ia dar por vencido tão rapidamente. Eram amigos há muito tempo e não havia ninguém que o conhecesse melhor do que ele.

– Não a vais conseguir evitar eternamente – comentou Chance, dando um gole ao uísque.

– Até agora funcionou – respondeu-lhe Nathan, levantando também o seu copo.

– Naturalmente – disse o amigo rindo. – Por isso, estás há duas semanas tão tranquilo.

Nathan franziu a testa.

– E achas piada?

– Nem imaginas como – admitiu o seu amigo, fazendo uma careta. – Então, xerife, onde bebes café se andas a evitar ir ao Royal Diner?

Nathan agarrou o copo com força.

– Na bomba de gasolina.

Ao ouvir aquilo, Chance riu-se às gargalhadas.

– Deves estar muito desesperado. Talvez seja um bom momento para aprenderes a fazer um bom café.

– E talvez seja um bom momento para que me deixes em paz – replicou Nathan, aborrecido.

Toda a sua rotina se alterara quando Amanda voltara a Royal. Costumava começar o dia com um bom café e, às vezes, comia uns ovos no bar. A irmã de Amanda, Pam, tinha sempre o café pronto quando chegava. Mas desde que Amanda voltara para o seu mundo, tivera que se conformar com o horrível café da bomba de gasolina e um bolo industrial.

Por muito que a tentasse evitar, Amanda estava a incomodá-lo.

– A sério, Nate – continuou Chance baixinho para que os outros membros do clube ali presentes não o ouvissem, – é evidente que a Amanda veio para ficar. Ao que parece, está a fazer algumas mudanças no café e inclusive anda à procura de casa, ou pelo menos foi o que disse a Margie Santos.

Nathan também ouvira isso. Margie era a agente imobiliária de Royal e uma das pessoas mais coscuvilheiras da terra. Se Margie dizia que Amanda andava à procura de um lugar para viver era porque ia ficar uma boa temporada.

O que significava que ele não poderia continuar a fazer como se não estivesse ali durante muito mais tempo.

Era uma pena, porque finalmente conseguira deixar de pensar nela. Ou quase. Uns anos antes, não conseguia pensar noutra coisa, dia e noite. O passado que tinham partilhado tinha-o consumido por completo.

Inclusive chegaram a estar noivos.

Franziu a testa e pousou o olhar no seu copo de uísque. «Os tempos mudam», pensou.

– Vamos falar de outra coisa, Chance – murmurou, olhando à sua volta.

Enquanto o amigo falava do rancho, Nathan pensou que o clube não mudara praticamente nada ao longo dos anos. O tempo parecia estagnado ali. Apesar de as mulheres serem oficialmente aceites, a decoração não mudara: paredes forradas com painéis de madeira; sofás e cadeirões de pele escura; paredes enfeitadas com quadros de caça; e uma enorme televisão onde se viam todos os acontecimentos desportivos do Texas.

O ar cheirava a cera e limão e tanto o soalho como as mesas brilhavam à luz do candeeiro. A televisão estava ligada sem som e vários membros do clube liam o jornal e falavam.

Um riso de mulher inundou o salão e Nathan sorriu ao ver que Beau Hacket estremecia. Beau tinha quase sessenta anos e pensava que aquele não era um lugar para mulheres, que elas deviam ficar em casa, na cozinha e, além disso, dizia-o sem qualquer pudor.

Naquele momento, Beau olhou à sua volta com a testa franzida.

Ninguém fez qualquer comentário, mas Nathan sentiu a tensão no ar. Estavam ali porque ia fazer-se a reunião semanal do clube e a velha guarda não gostava que estivessem mulheres.

– Parece que a Abigail se está a divertir – murmurou Chance.

– A Abby está sempre divertida – respondeu Nathan.

Abigail Langley Price, casada com Brad Price, fora a primeira mulher a ser membro do clube. Naturalmente que estava divertida, pois já tinha outras mulheres com quem falar. Não obstante, não fora fácil para ela ter lugar ali. Apesar de ter contado com o apoio de Nathan, de Chance e de outros membros do clube, tivera de lutar pelo lugar e Nathan admirava-a por isso.

– A ti não te parece estranho, que haja mulheres no clube? – perguntou-lhe Chance.

– Não – replicou ele acabando o copo. – Era mais estranho que não houvesse.

– Sim. Entendo-te. Mas alguns homens, como o Beau, não acham graça nenhuma.

Nathan encolheu os ombros.

– Alguns homens, como o Beau, precisam de estar sempre a queixar-se de alguma coisa. Eles acostumam-se.

Depois disse ao seu amigo o que estivera a pensar só uns minutos antes:

– Os tempos mudam.

– Isso é verdade. Repara no que vamos votar esta noite.

Nathan sentiu-se aliviado ao ver que o amigo não voltava a falar de Amanda e tentou concentrar-se na votação. Com a chegada das mulheres ao clube, tinham-se proposto ideias novas e naquela noite ia votar-se uma das mais importantes.

– A creche?

Chance assentiu.

– Os membros mais conservadores vão ficar mais chateados do que nunca.

– É verdade – disse Nathan. – Mas faz sentido haver um lugar onde deixar as crianças, enquanto os pais estão aqui. Devia-se ter feito isto há anos.

– Penso como tu, mas temo que o Beau não vá estar de acordo.

– O Beau nunca está de acordo com nada – comentou Nathan rindo.

Como xerife, Nathan tinha de lidar com Beau da melhor maneira, já que o homem se queixava de tudo.

– É verdade.

O relógio por cima da lareira de pedra deu as badaladas e ambos se puseram em pé.

– Calculo que está na hora de começar a reunião.

– Vai ser divertido – comentou Chance, seguindo Nathan para a sala de reuniões.

 

 

Uma hora mais tarde continuavam a discutir a respeito da creche. Beau Hacket tinha o apoio de Sam e Josh Gordon, os gémeos donos da Gordon Construction.

– Eu diria que o Sam Gordon cada vez se parece mais com o Beau Hacket – comentou num sussurro Nate ao seu amigo Alex Santiago.

– Estou de acordo – respondeu o amigo, também baixinho. – Até o gémeo parece pasmado.

Alex estava há pouco tempo em Royal, mas tinha feito muitos amigos e tinha-se integrado bem. Era investidor de capital de risco e tinha muito dinheiro, de modo que rapidamente se tornara uma das pessoas mais influentes da terra. Nate perguntara-se uma vez o que fazia um homem tão rico num lugar como Royal, mas também era provável que muitas pessoas se perguntassem o que fazia ele como xerife ali. Era dono de metade do rancho Battlelands, de modo que não precisava de trabalhar para viver.

Nate olhou para os membros presentes na reunião. Não estavam todos, mas eram suficientes para votar. Ryan Grant, que fora uma estrela dos rodeos, assistia à sua primeira reunião e parecia divertido. Dave Firestone, cujo rancho ficava ao lado do da família de Nathan, tinha-se posto à vontade na cadeira e observava a discussão como se estivesse a ver um jogo de ténis. Chance estava sentado ao lado de Shannon Morrison, que parecia querer levantar-se e dizer a Beau Hacket o que pensava das suas opiniões.

E depois estava Gil Addison, presidente do clube, a presidir a mesa. A julgar pela forma como os seus olhos brilhavam, estava a chegar ao limite da sua paciência.

Nesse momento, Gil bateu na mesa com o martelo para impor silêncio e disse:

– Já chega. Votemos. Quem estiver a favor da construção da creche no clube, diga «sim».

Todas as mulheres votaram a favor rapidamente, inclusive Missy Reynolds e Vanessa Woodrow, e Nathan, Alex, Chance e vários homens apoiaram-nas.

– Quem estiver contra, diga «não» – acrescentou Gil.

Os votos contra foram poucos.

Gil voltou a bater na mesa com o martelo.

– Moção aprovada. O Clube de Fazendeiros do Texas terá uma creche.

Beau e os membros da velha guarda estavam furiosos, mas nada podiam fazer.

Nathan viu-os a sair pela porta e quase sentiu pena deles. Compreendia-os, mas não podiam ficar presos ao passado. O mundo mudava todos os dias e havia que evoluir com ele. As tradições eram uma coisa e outra muito diferente era ficar preso na lama.

As coisas mudavam e o melhor era adaptar-se. O mesmo que ele faria com Amanda.

– É estupendo – disse Abigail Price sorrindo de orelha a orelha a toda a gente. – E a nossa Julia será a primeira a estreá-la.

– Naturalmente que sim, querida – respondeu-lhe o marido. – É uma pena que o Beau e os outros não tenham gostado, mas vão ultrapassar isto.

– Tu já o fizeste – lembrou-lhe Abigail sorrindo.

Nate pensou que era verdade. Brad Price tinha feito os possíveis para evitar que Abby entrasse no clube, e depois tinham-se apaixonado e casado, e tinham uma menina linda.

– Que tal um café e um pedaço de bolo? – sugeriu Alex a toda a gente.

– Boa ideia – respondeu Chance, olhando para Nathan.

Ele pensou que tinha uns amigos bem chatos. Estavam a tentar que visse Amanda, mas não ia resultar. Logo a veria quando chegasse o momento. À sua maneira. Não queria fazer um espetáculo para toda a terra.

– Não, obrigado – respondeu, levantando-se. – Tenho de ir ao escritório acabar uns papéis e depois vou para casa.

– Continuas a esconder-te? – murmurou Alex.

– É complicado esconder-me numa povoação do tamanho de Royal.

– Pois não te esqueças disso – disse-lhe Chance.

Incomodado, Nathan cerrou os dentes e foi-se embora. Não valia a pena discutir.

 

 

Amanda estava tão ocupada que não tinha tempo para se preocupar com Nathan.

Ou quase.

A verdade era que, apesar de ter de tratar do café da família, de procurar casa e de conseguir que lhe arranjassem a transmissão do carro, ainda tinha espaço na cabeça para Nathan Battle.

– É normal – disse a si própria pela enésima vez naquela manhã.

Voltar a Royal tinha remexido com todas as lembranças, que eram muitas.

Conhecia Nathan praticamente desde sempre e estava louca por ele desde os treze anos. Ainda se lembrava da emoção que sentira quando Nathan, no último ano da escola, a tinha levado a ela, que estava no primeiro, ao baile de finalistas.

– Se tivesse sido tudo, a história teria tido um final feliz – murmurou, enquanto enchia a cafeteira de água e de café acabado de moer.

Carregou no botão da máquina e olhou à sua volta. Apesar das mudanças que fizera no café nas últimas semanas, continuava a sentir-se em casa.

Crescera no café dos seus pais e trabalhara ali quando já era suficientemente crescida. O Royal Diner era uma instituição local e ela estava decidida a que continuasse a sê-lo. Por isso voltara para casa depois da morte do pai, para ajudar a irmã mais velha, Pam, a gerir o negócio.

Ao relembrá-lo, Amanda endireitou os ombros. Não voltara por causa de Nathan Battle. Embora estremecesse só de pensar nele. Não significava nada. A sua vida tinha mudado.

Ela tinha mudado.

– Amanda, querida, quando vais casar e vens comigo para a Jamaica?

Saiu dos seus pensamentos e sorriu ao ver Hank Bristow, que aos oitenta anos e, já não podendo trabalhar no rancho familiar, passava a maior parte do tempo no café, com os amigos.

– Hank, só me queres por causa do meu café – respondeu Amanda, enchendo a chávena que o idoso tinha na mão.

– Uma mulher que faz um bom café vale o seu peso em ouro – afirmou ele muito sério.

Ela sorriu, deu-lhe uma palmadinha na mão e percorreu o balcão com a cafeteira de café acabado de fazer na mão para atender os outros clientes. Era tudo tão… fácil. Tinha recuperado a sua vida em Royal como se jamais tivesse saído dali.

– Porque compraste ementas novas?

Amanda pensou que talvez não fosse tudo assim tão fácil. Virou-se para Pam, que, como de costume, parecia zangada com ela. Na realidade, nunca se tinham dado bem. Ela voltara para Royal principalmente para a ajudar, mas a verdade era que precisar de ajuda e querer ajuda eram duas coisas diferentes.

Amanda voltou a percorrer o balcão, pousou a cafeteira e respondeu:

– Porque havia que substituir as velhas. Estavam partidas. E desatualizadas.

Viu que Hank olhava para elas com interesse e baixou a voz para acrescentar:

– Já não servimos metade das coisas que apareciam nelas, Pam.

A irmã, de estatura baixa e cabelo castanho, estava vestida com uma t-shirt vermelha, calças de ganga e umas sandálias roxas, e batia com uma delas no chão do café.

– Os nossos clientes habituais sabem disso. Não gostam de ementas modernas, Amanda.

Ela suspirou.

– As ementas novas não são modernas, mas pelo menos não são miseráveis.

A sua irmã bufou.

– Está bem, desculpa – disse Amanda, procurando ter paciência. – Estamos nisto juntas, não estamos? Disseste que precisavas de ajuda e eu vim ajudar. Gerimos o café juntas?

Pam ficou pensativa uns segundos e depois respondeu.

– Eu não te pedi que viesses e tomasses as rédeas da situação.

– Não estou a tomar as rédeas da situação, Pam. Estou a tentar ajudar.

– A mudar tudo? – inquiriu a irmã.

Depois baixou a voz e continuou:

– Aqui valoriza-se a tradição. Ou já te esqueceste depois de viveres em Dallas tanto tempo?

Amanda não conseguiu evitar sentir uma pontada de culpabilidade. Era verdade que não fora muito a Royal nos últimos anos. E sabia que devia tê-lo feito. Depois da morte da mãe, anos antes, e do pai, Pam e ela tinham-se distanciado. E Amanda sabia que lamentaria durante o resto da sua vida não ter passado mais tempo com o seu pai quando o podia ter feito.

Mas ela crescera no café, tal como Pam. De modo que também não era fácil para ela mudar as coisas. Em parte, odiava desfazer-se das coisas que o seu pai levara para ali, mas os tempos mudavam, quisessem ou não.

– O papá contou que ao herdar o negócio do pai dele fez muitas mudanças – argumentou.

Pam franziu a testa.

– Não se trata disso.

Amanda respirou fundo. Cheirava a café acabado de fazer, a ovos e a bacon.

– Então, do que se trata, Pam? Pediste-me que voltasse para te ajudar, lembras-te?

– Para me ajudar, não para assumir o comando.