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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Janece O. Hudson

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um milionário surpreendente, n.º 290 - dezembro 2017

Título original: Plain Jane’s Texan

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-650-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Enquanto permanecia em pé no altar da igreja Episcopal em Akron, Ohio, vestindo smoking e botas lustrosas, Matt Crow avistou um anjo. Jamais vira um ser tão perfeito desde que deixara o Texas, ao entardecer.

Em segundos, esqueceu-se dos convidados que assistiam ao casamento. A música que acompanhava a entrada da noiva tornou-se uma fraca melodia na sua mente. O seu olhar estava direccionado apenas para o anjo que caminhava na sua direcção.

Ao invés do sumptuoso vestido branco, ela usava um traje bege que delineava as curvas sensuais. Os raios de sol penetravam através dos vitrais, envolvendo a bela jovem como uma aura de prata e ouro, abrilhantada de pérolas.

Boquiaberto, observou-a a aproximar-se do altar, com os olhos baixos, segurando um ramo de liláses e rosas. Contudo, quando se posicionou ao lado das outras pessoas, ergueu levemente o rosto. Sob as longas pestanas revelou os olhos mais lindos que Matt já vira.

Os olhos de um anjo.

A tonalidade azul era intensa em comparação à pele dourada, semelhante ao céu azulado numa tarde de Outono. Matt sentiu a garganta secar. O mundo parou de girar.

 

 

Apavorada, Eve Allison apertava o ramo entre os dedos, como se as flores pudessem servir-lhe de amparo para as turbulentas emoções que a invadiam. Porque é que aceitara ser madrinha? Tinha tentado convencer Irish de que qualquer uma das encantadoras amigas da irmã seria mais adequada para aquele papel. Mas Irish fora irredutível.

– Eve, não sejas medrosa – dissera Irish. – Eu não pensaria noutra pessoa para ser a minha madrinha de casamento.

– Ninguém diz que somos irmãs – rebatera Eve. – Sou muito alta e desajeitada demais para usar mangas largas. Farei os arranjos de flores, o bolo e até os saquinhos de arroz para atirar aos noivos. Mas, por favor, não me obrigues a vestir um modelo de Scarlett O’Hara e caminhar pela nave principal da igreja em frente a todos. Irish, tu és a mais bela da família, és uma modelo profissional e adoras holofotes, mas eu não. Vou sentir-me uma tola.

Mas Irish fora determinada na sua decisão.

– Eve Allison, não sei de onde é que tiraste essas ideias absurdas. Serás uma linda madrinha no meu casamento. Tornaste-te mais bonita do que eu jamais fui.

– Oh, claro. Devem estar todos a comentar como tive que dispensar a equipa de basebol inteira – ironizou Eve. – Mana, há quase um ano que não tenho um namorado.

– Porque os homens de Cleveland são cegos. Qualquer um pode ver as tuas qualidades. A bem da verdade, desconfio que a tua atitude os mantém afastados. E…bem, tu podias arranjar os cabelos de vez em quando.

Num gesto automático, Eve acariciou os cabelos.

– O que é que há de errado com os meus cabelos?

– Além de não frequentares um salão profissional, de não os escovares diariamente e de os prenderes com um elástico?

– Sim, além de tudo isso?

Irish desatou a rir.

– Tu exageras na tua displicência. O que é que estás a tentar provar?

Na verdade, Eve não tentava provar nada. Simplesmente não se preocupava com a aparência. Jamais o fizera. Irish sempre fora a beleza em pessoa. Eve possuía uma inteligência acima da média. Contentara-se em manter-se na sombra, envolvida com os seus livros e animais. Gostava mais de se ocupar da plantação de flores e vegetais do que fazer as unhas.

Contudo, Irish tinha decidido que estava na altura de Eve dedicar alguma atenção à aparência. Portanto, ambas tinham passado uma semana em Nova Iorque. O noivo, o Dr. Kyle Rutledge, concordara com a esplêndida ideia e insistira em financiar a viagem.

Agora Eve encontrava-se com os cabelos penteados, as unhas arranjadas, maquilhada, usava lentes de contacto e um vestido que a incomodava. Sem dúvida, todos a observaram enquanto caminhava de olhos baixos até ao altar, rezando para que não sucumbisse à tentação de fugir daquela cena constrangedora. Atemorizada como estava, o trajecto pareceu-lhe infinito.

No altar, ao erguer o rosto, Eve avistou um par de olhos negros, que a fitavam. O homem, que ela deduziu ser o primo de Kyle, não se limitava apenas a observá-la. Encarava-a fixamente. Talvez a julgasse uma tola, naquelas roupas. Se pudesse, Eve desapareceria numa nuvem de fumo.

Num gesto instintivo, ela abraçou-se, mas o soutien que Irish insistira que comprasse causava-lhe um grande incómodo a cada movimento. O ornamento de rendas realçava-lhe os seios e forçava-a a manter a postura erecta.

Então, ao invés de se esconder como uma tartaruga, ela empinou o nariz e lançou um olhar desafiante.

Enfrentá-lo não fora difícil. O homem era maravilhoso. Tinha quase dois metros de pura masculinidade, cabelos negros, traços fortes, lábios sensuais e ombros largos.

Ele piscou o olho a Eve. No mesmo instante, ela sentiu o rosto corar e, para disfarçar, virou-se para Irish e para o seu pai, que chegavam ao altar.

«Deve ser Matt Crow», concluiu Eve quando a marcha nupcial terminou.

Tinha conhecido o primo de Kyle, Jackson Crow, durante o jantar da noite anterior. Nunca vira tantos homens atraentes desde que Irish se aventurara a encontrar um milionário. Jackson era particularmente bonito, porém o seu irmão mais novo parecia inacreditável, de tirar o fôlego.

Luzes coloridas começaram a ofuscar-lhe a visão. Eve sacudiu a cabeça, tentando respirar devagar, e virou o rosto em direcção ao padre.

 

 

Atónito, Matt não ousava tirar os olhos da madrinha. Devia tratar-se da irmã de Irish. Ann? Karen? Lisa? Não se lembrava. Quando Irish e Kyle a mencionaram, não tinha registado o nome. Entretanto, agora registava tudo a respeito dela.

Matt mal podia esperar pela festa na qual se apresentaria àquele anjo. Momentos mais tarde, Flint Durham, o padrinho felizardo, ofereceu-lhe o braço e ambos seguiram Kyle e Irish pela nave da igreja. Jackson e a outra madrinha fizeram o mesmo. Matt acompanhou Kim Devlin.

– Qual é o nome da irmã de Irish? – perguntou ele a Kim, quando saíam da igreja.

– Eve. É linda, não?

– Podes apostar.

Matt tentou aproximar-se de Eve, mas o grupo familiar estava cercado de fotógrafos e não houve oportunidade de falar com ela. Rezava para que Jackson não reparasse em Eve e, pela primeira vez, tivera sorte. O seu irmão parecia ocupado com uma das madrinhas, uma morena elegante chamada Olívia.

Jackson, o solteirão mais cobiçado do Texas, passou o braço em redor da cintura de Olívia, sussurrando algo ao seu ouvido. Ela olhou-o como se estivesse indignada com aquela atitude.

– Pela última vez, não estou interessada em ti. E, se não tirares a tua mão da minha cintura, vou partir-te os teus dedos.

Matt quase soltou uma gargalhada. Ficou tentado a gozar com o irmão por ter sido dispensado. Algo que nunca acontecia a Jackson, em se tratando de mulheres. Era o homem mais disputado do mundo e as conquistas eram-lhe sempre fáceis.

Porém, Matt não se sentia disposto a brincadeiras. Estava muito ocupado com Eve. Podia passar horas só a observá-la.

Ela cativara-o, mas não conseguia definir de que maneira. Era linda, claro, mas a atracção não vinha apenas da beleza. Matt estava enlevado com algo mais profundo. Existia uma certa pureza, uma inocência estampada naqueles olhos azuis que o impelia a protegê-la. E a possuí-la.

Naquele instante, Matt descobriu que Eve era a mulher perfeita. Teve a mais absoluta certeza disso. Enquanto a admirava, notou-lhe a expressão preocupada. Queria estar sobre um cavalo para invadir a multidão e raptá-la, para amenizar aquele semblante entristecido.

 

 

Em breve as unhas de Eve estariam lascadas. Posar para fotos ao lado de Irish parecia injusto. A sua irmã era tão estonteante, e ela tão… comum. Desde a infância as pessoas olhavam-na e diziam com espanto:

Tu és a irmã de Irish Allison?

Inúmeras vezes, Eve chorara durante a noite por se abater com comentários desse tipo ou pelas piadas de mau gosto que os seus colegas faziam.

Muito cedo aprendera a valorizar a própria inteligência, porque a irmã fora contemplada com a beleza. Depois de Irish se ter tornado modelo profissional, aparecendo nas capas das principais revistas, a vida de Eve tornou-se um suplício. A comparação era inevitável e ela sobressaía apenas pela capacidade intelectual, enquanto as outras raparigas se preocupavam com namorados e festas.

Discretamente, tentou afastar-se do grupo familiar, mas Irish segurou-a pelo braço.

– Oh, não. Fica onde estás. Quero uma fotografia só de nós as duas.

– Porquê? A minha imagem pode estragar o filme.

– Sua tola! – Irish riu. – Tu estás maravilhosa.

– Precisas de óculos, mana.

– Matt Crow também te acha maravilhosa – sussurrou Irish, enquanto ajeitava o vestido. – Ele não tira os olhos de ti. Tenho quase a certeza de que está interessado.

– Ele? Em mim? Encara a realidade. Não sou o seu tipo. E não te atrevas a fazer de cupido. Atiro-te um feitiço que o teu nariz fica cheio de pêlos durante a lua-de-mel.

Irish soltou uma gargalhada divertida.

 

 

Antes que Matt tivesse a oportunidade de falar com Eve, todos se dirigiram às limusinas para ir para o hotel. Mal chegaram, ele entrou no hall, apressado, e vasculhou a multidão.

Assim que divisou Eve, a conversar com o seu avô, Cherokee Pete, tentou aproximar-se dela, mas a sua mãe agarrou-o pelo braço e insistiu em apresentá-lo aos pais de Irish.

 

 

– Juro que estás tão linda como uma pintura – disse o avô de Kyle, expressando um sorriso simpático. – Tu lembras-me um anjo.

Eve riu. O bom homem, que já chegava aos oitenta anos, era ainda mais charmoso que os netos. Os olhos negros e o rosto moreno, características dos seus ancestrais indígenas, impunham presença e respeito.

– Obrigada, senhor Beamon. Também está muito elegante de smoking – comentou Eve, com sinceridade.

– Sinto-me um idiota, na verdade. Nunca usei trajes deste tipo, mas, como eu não queria embaraçar a tua irmã com as minhas roupas caseiras, decidi abrir uma excepção. Gosto muito de Irish. E mesmo que eu estivesse com a minha carrinha e de macacão, detestaria que me chamassem senhor Beamon. Todos me chamam Cherokee Pete ou apenas Pete.

– Está bem, Pete. Vou revelar-te um segredo. Também prefiro usar umas calças de ganga a estes trajes – Eve sorriu. – Irish falou-me tanto de ti e da tua loja no Texas que estou curiosa para a conhecer. É verdade que sabes esculpir animais em pedaços de madeira, como Kyle faz?

– Sim. Ensinei a Kyle tudo o que ele sabe. Foi o meu único neto a prosseguir a arte de esculpir em madeira. Mas reconheço que terá pouco tempo agora, pois resolveu exercer medicina. Tenho quatro netos, sabes. Kyle é o primeiro a casar. Ainda restam três. Smith, o irmão de Kyle que não pôde vir, Jackson e Matt. São rapazes atraentes – os olhos de Pete adquiriram um brilho diferente. – Posso-te oferecer um deles, caso estejas interessada?

– Creio que não – Eve riu, divertindo-se.

– Tens a certeza? Ofereço-te dois milhões de dólares se escolheres um deles. Jackson é o mais velho dos quatro e eu gostava que ele formasse uma família.

A despeito da aparência, da fala mansa e do estilo de vida, Pete honraria a oferta. Tinha descoberto petróleo na sua propriedade e ficara rico.

– Eles sabem que tenciona vendê-los? – perguntou Eve.

– Oh, seria um acordo somente entre nós. Acabei de convencer o teu pai a aposentar-se e a mudar-se para o Texas com a tua mãe. Como eu disse a Al e Bervely, temos uma vida muito pacata naquela região. Há bastante espaço para todos. Porque é que não te mudas com eles?

– Eu adoraria um lugar espaçoso o suficiente para os meus animais, mas o meu trabalho está em Cleveland.

– Tu tens animais?

– Muitos. A minha mãe diz que sou incapaz de resistir a um animal abandonado. Os pobres bichos parecem descobrir o caminho que leva à minha porta. Tenho dois gatos, Charlie Chan e Pansy, uma cabra chamada Elma, uma porca, um galo, dois patos, quatro cães e…

– Posso oferecer-lhes champanhe? – disse uma voz profunda por trás de Eve.

Ela virou-se para encontrar Matt Crow, que segurava três taças, duas numa das mãos, e uma na outra.

Hipnotizada pelo sorriso charmoso, Eve tentou dizer algo inteligente, mas não surgiu nenhuma palavra. Nem um suspiro, nem mesmo um aceno. Nada.

Matt franziu a testa e ofereceu a bebida. Ela pegou num dos copos, segurando-o com força.

– Avô Pete?

– Sim, preciso de molhar a garganta – confessou Pete, aceitando o champanhe.

– Interrompi algum assunto importante? – perguntou Matt.

– Eu tentava convencer Eve a mudar-se para o Texas, onde ela poderia abrigar todos os seus animais. Eve, este é o meu neto Matt.

– Tens animais? – Matt olhou-a com intensidade.

Mais uma vez, ela tentou falar, mas foi preciso um gole de champanhe para angariar forças.

– Sim.

– Ele conseguiu convencer-te?

Convencê-la? De quê? Eve esforçou-se para se lembrar da conversa. Raciocinar parecia difícil e custoso. Matt devia ter notado tamanha perplexidade porque sorriu com gentileza e disse:

– O avô Pete convenceu-te a mudares-te para o Texas? Parece-me uma grande ideia.

– Impossível – afirmou Eve.

– Nada é impossível – ele tomou o champanhe de uma só vez e deixou o copo de lado. – Queres dançar?

– Eu… não sei dançar muito bem.

– Não acredito. Os anjos flutuam no ar. Vamos – disse, puxando-a.

Eve deixou-se envolver pelos braços de Matt Crow como se fosse a atitude mais natural do mundo. Começaram a dançar a valsa. Ela entrou em perfeita harmonia com os passos de Matt, que sorria e mantinha os olhos atentos à parceira, um gesto suave e ao mesmo tempo arrebatador.

A valsa foi substituída por uma balada lenta e Matt puxou-a para si. Eve recostou a face no rosto quente. Novamente houve sintonia de movimentos; porém, com os corpos a roçar, ela sentiu ondas eléctricas pela pele e a sua pulsação acelerou-se.

O calor da virilidade misturado com o perfume confundia os sentidos de Eve. Matt Crow exalava uma energia visceral, capaz de produzir reacções inusitadas. Arrepios de expectativa percorriam-lhe a espinha. Em contrapartida, o ambiente tornou-se sufocante.

Eve começou a tremer.

– Não… quero isto – murmurou, empurrando-o.