desj241.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Metsy Hingle

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Rapto por amor, n.º 241 - setembro 2017

Título original: The Kidnapped Bride

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-320-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Não és obrigada a fazer isso. Ainda podes voltar atrás.

– Voltar atrás em quê? – perguntou Lorelei Mason à sua irmã Desiree.

– No casamento – explicou Desiree enquanto se aproximavam das portas da igreja. – Se não tens mesmo a certeza de que te queres casar com o Herbert, não devias continuar. Ainda estás a tempo de dizer que mudaste de ideias.

– E o que é que te faz pensar que não tenho mesmo a certeza? – perguntou Lorelei com um nó na garganta por causa dos nervos. Não era que estivesse convencida de querer casar com Herbert Van Owen III, mas, na verdade, tinha muitas dúvidas em relação a isso. Sobretudo, desde há duas semanas, depois de Jack Storm aparecer novamente na sua vida. Lorelei não pensava que ia voltar a encontrar aquele homem horrível e não entendia como é que um amante do mar como ele estava no meio do deserto do Arizona. E por que é que aparecia mesmo quando ela se ia casar?

– Não tens o aspecto que uma noiva tem no dia do casamento.

Lorelei olhou para o vestido de noiva branco que tinha encomendado há meses atrás numa loja de Phoenix, que lhe tinha custado dois meses do seu ordenado. Olhou para os sapatos brancos que usava a combinar, observou o ramo de rosas que agarrava com a mão direita e olhou para a sua irmã com um ar de superioridade e sabedoria que lhe davam os dois anos a mais que tinha em relação a ela.

– É curioso! Eu acho que pareço uma noiva. E garanto-te que estou vestida como deve ser.

– Não sejas tão literal, Lorelei – retorquiu Desiree. – Sabes que não estou a falar do vestido. Estou a referir-me a ti: és tu que não pareces uma noiva.

– E que aspecto é que devia ter? – perguntou-lhe. Não estava disposta a deixar que a sua irmã mais nova despertasse em si nenhum tipo de dúvidas sobre o seu casamento. Tinha pensado nos prós e nos contras daquela união com muito cuidado e tinha decidido dar aquele passo. Estava nervosa, sim, mas por acaso não era normal? Só queria acabar quanto antes o acto em si… Porque é que o seu pai e a sua irmã mais velha estavam tão atrasados?

– Devias parecer… feliz.

– Estou feliz – garantiu Lorelei, concentrando a sua atenção novamente em Desiree.

– Mas a tua cara não… brilha. Uma noiva devia estar radiante no dia do seu casamento.

– Eu não sou nenhuma lâmpada, valha-me Deus! Não conheço nenhuma mulher que ande por aí a brilhar no dia do seu casamento… nem noutro dia qualquer! – respondeu… Bom, talvez a sua mãe se iluminasse cada vez que olhasse para o marido, o pai de Lorelei. – Essa é outra das estupidezes com que os centros comerciais bombardeiam as pessoas para vender um monte de coisas inúteis.

– Não é verdade – protestou Desiree, que não parava de se mexer muito inquieta. Porque é que estava tão nervosa? Há anos que Lorelei não via a sua irmã tão pouco calma. – Os centros comerciais não têm nada a ver com isto. Qualquer noiva devia estar radiante de felicidade no dia do seu casamento. E tu não estás.

Lorelei reconheceu tacitamente que não estava radiante, mas qual era o problema? Ela não era uma criança que acreditava em todos aqueles disparates românticos. Não, já tinha vinte e nove anos e era uma mulher sensata e responsável.

– Desiree, querida, acho que entraste em demasiadas comédias românticas – comentou Lorelei.

– Isto não tem nada a ver com os papéis que eu interpreto.

– Então, tem a ver com quê? E, meu Deus!, queres deixar de te mexer? Por que é que estás tão nervosa? Lembro-te que sou eu que me vou casar, não és tu.

– Lorelei… – suspirou Desiree enquanto apertava a mão da sua irmã.

– O que é? O que é que se passa? – perguntou-lhe esta inquieta.

– És minha irmã e eu gosto muito de ti – respondeu, tentando não chorar. – É só que eu não quero que cometas um erro e te arrependas toda a vida.

– Por que é que pensas que me hei-de arrepender de casar com o Herbert?

– Porque não o amas. E se não o amas, não vais ser feliz com ele.

– Isso é ridículo! – exclamou Lorelei, cada vez mais incomodada.

– Não, não é. Eu acho que queres amar o Herbert. Acho mesmo que o queres amar de verdade, mas não consegues porque, na realidade, continuas apaixonada pelo Jack…

– Não te atrevas a falar desse… canalha indesejável à minha frente – ordenou-lhe Lorelei, que preferia não se lembrar de Jack Storm mesmo no dia do seu casamento. Em relação a ele, Lorelei tinha sido realmente uma idiota.

– Mas…

– Preparada? – interrompeu-as o pai, que se tinha aproximado com a irmã delas, Clea.

– Sim – respondeu Lorelei, depois de lançar um olhar a Desiree que dava por acabada a discussão.

– Então, vamos lá – disse Henry Mason.

– Estás bem? – perguntou Clea à sua irmã. – Não estás com bom aspecto…

– Não é nada. Só quero acabar com isto quanto antes – disse Lorelei com brusquidão. – Desculpa, é que estou um pouco nervosa – desculpou-se depois de reparar na expressão de surpresa da cara de Clea.

– Estou a ver – disse esta. – Por isso é que eu estou contente por seres tu, e não eu, a casar.

Lorelei forçou um sorriso e depois fez um gesto ao organista. A música invadiu todos os cantos da igreja. Clea começou a avançar pelo corredor que ia dar ao altar.

– Os punhos! – exclamou Henry Mason, a olhar para as mangas da camisa. – Deixei-os no quarto!

– Acalma-te, pai. Não faz mal.

– Nada disso. Não posso levar a minha menina querida sem ir vestido como deve ser. Além disso, a tua mãe atirava-me isto à cara o resto da minha vida – sorriu. – Volto já.

Lorelei sentia que as palmas das suas mãos começavam a transpirar. Agarrou com força no ramo de noiva para que não se notasse que lhe tremiam as mãos. Tinha calor e tinha frio. Pôs uma mão no estômago, como para acalmar a guerra que se travava no seu interior. «Já chega», disse numa tentativa de controlar os nervos. «É normal. Acontece o mesmo a todas as noivas», tentava convencer-se.

Tinha a certeza que gostava de Herbert. Conhecia-o há quatro anos e estavam noivos há dois.

«Não o amas». As palavras da sua irmã Desiree ressoavam no interior da sua cabeça. Está bem. Talvez não chegasse a sentir um cataclismo de emoções quando se beijavam, mas isso não queria dizer que não o amasse. Nada disso. Gostava muito dele… e ia casar com ele.

Quando Clea chegou a meio do corredor, Desiree pôs-se na ombreira da porta e olhou para o altar onde Herbert já esperava Lorelei.

– Lorelei – disse a sua irmã mais nova no último momento, deixando transparecer um certo sentimento de culpa, – desculpa… Eu só quero que sejas feliz. Espero que me perdoes.

– Perdoar-te, por quê? – perguntou-lhe, confusa.

– Por impedir que te cases com o homem errado – disse uma voz.

Lorelei deu meia volta ao ouvir Jack. Ficou gelada, muda, imóvel… De repente, estava ali, de pé, enorme, com as suas calças de ganga desbotadas e uma camisola de algodão; com o cabelo escuro e encaracolado até ao pescoço e um olhar azul e malévolo. Lorelei olhou para as mãos dele, fortes e bronzeadas, que seguravam num lençol dobrado.

– Olá, borracho – cumprimentou-a com um amplo sorriso.

– Pode saber-se o que…? – exclamou Lorelei por fim.

Jack sacudiu o lençol e tapou a cabeça da noiva. De repente ficou tudo escuro para Lorelei, que se esforçava por se libertar, em vão.

Então, sem forças para gritar, de tal maneira estava assustada, sentiu que lhe pegavam ao colo e a punham sobre uns ombros fortes e musculados que, de repente, começaram a mexer-se.

Mal tinham começado a tocar os acordes da marcha nupcial, Lorelei sentiu o calor de um raio de sol de Julho e apercebeu-se que acabava de sair da igreja. Não, não podia ser. Era impossível que uma coisa daquelas estivesse a acontecer.

– Vamos, quieta! – disse-lhe enquanto Lorelei redobrava os seus esforços para fugir.

Estava muito furiosa e começou a espernear. Então sentiu um sobressalto no peito que, obviamente, se devia aos degraus da igreja. Não tinha pensado que os ia descer assim quando os subiu para se casar.

Tinha vontade de vomitar e, na verdade, ele bem merecia que ela o fizesse em cima dele… embora, claro, não pudesse evitar sujar o vestido de noiva; o seu vestido! A música ouvia-se cada vez mais distante. Lorelei voltou a espernear e levou uma palmada no traseiro como castigo. Estava desesperada e, de repente, quando lhe ia dar outro pontapé, notou que a metiam no banco de algum veículo e que a atavam com uma espécie de cabos elásticos com ganchos.

Ouviu uma porta bater e o barulho de uma outra a abrir do outro lado. Jack já tinha ligado o carro quando Lorelei conseguiu tirar a cabeça de dentro do lençol.

– Como é que te atreves! – gritou irada depois de afastar uma madeixa de cabelo que lhe caía sobre a face. O lençol tinha arruinado o seu penteado; o seu caríssimo penteado. – O que é que achas que estás a fazer? – perguntou-lhe enquanto tentava libertar o resto do corpo.

– Já te disse – voltou a sorrir enquanto fazia marcha-atrás com a carrinha e virava a toda a velocidade. – Estou a impedir que te cases com o homem errado – repetiu enquanto se afastavam da igreja.

– Estás maluco!

– Sim, provavelmente.

Lorelei afastou outra madeixa de cabelo da cara e conseguiu ver Desiree pelo vidro: estava na escadaria da igreja e continuava a ter uma expressão de culpa.

Jack deu uma guinada, carregou no acelerador e os convidados da cerimónia foram diminuindo até desaparecerem à distância. O que é que os seus pais iam pensar?, perguntou Lorelei a si mesma. O que é que Herbert ia pensar?

Deus! De certeza que ele ainda estava à espera dela juntamente com a sua mãe. A senhora Van Owen II nunca a perdoaria se deixasse o seu filho plantado no altar.

– Pára! Pára agora mesmo! – ordenou-lhe Lorelei que por fim se tinha livrado do lençol completamente. Jack não lhe ligou. – Jack Storm: pára agora mesmo ou eu juro que… que salto pelo vidro.

– Não te aconselho – respondeu com calma. – Acabavas por estampares essa cara tão bonita que tens no chão e depois eu voltava para te apanhar e meter na carrinha.

Lorelei olhou para o conta-quilómetros e ficou sem respiração: iam muito depressa. Demasiado depressa. Agarrou no fecho da porta e, sem se deixar intimidar pela situação, insistiu:

– Estou a falar a sério, Jack. Pára ou eu atiro-me do carro.

Jack continuou sem dar importância às ameaças dela, pois pensava que Lorelei não tinha coragem. Mas ele ia ver. Iria doer-lhe muito? Toda a vida tinha visto os especialistas atirarem-se enquanto viajava com os seus pais de rodagem em rodagem. Numa ocasião, um deles tinha-lhe chegado a explicar como se fazia: tinha que se encolher todo e rolar. Era tudo. Respirou fundo e aproximou-se da porta… mas ele não reagia.

Lorelei via que Jack continuava a sorrir, então, mais decidida que nunca, levantou o trinco de segurança, mas, logo a seguir, este desceu outra vez, instantaneamente.

– Este fecho automático centralizado é uma maravilha, não achas? É uma carrinha tão segura que ninguém pode sair até o motor estar desligado – explicou com satisfação. – Não me posso esquecer de escrever ao serviço de assistência técnica para agradecer terem-mo instalado.

Lorelei estava cada vez mais enfurecida. Fechou as mãos e teve vontade de lhe bater. Mas não: não lhe ia dar essa satisfação. Ela já não era aquela menina infantil de há dez anos atrás e sabia que não devia deixar-se levar pelos seus ataques de cólera.

– Jack, exijo-te que me leves à igreja imediatamente.

– Desculpa, borracho. Não posso fazer isso. Se voltasses lá, acabavas por te casar com aquele convencido do Herbert.

– Eu quero casar com o Herbert! E ele não é nenhum convencido!

– Claro que é! Senão porque é que usava fato e gravata quando nos encontrámos há duas semanas? Com o calor que faz em Julho!

– Pelo menos ele usa fato e gravata – contra-atacou Lorelei.

– E tem mãos de rapariga – continuou Jack. – Quando lhe estendi a mão, pensei que estava a acariciar o rabinho de um bebé. Aposto qualquer coisa em como ele faz a manicura.

– Por acaso gosto de como ele se veste. E as mãos dele são muito bonitas.

– Ouve, se isso te excita, não há problema: eu visto um fato e gravata e assunto arrumado, está bem? – propôs Jack no gozo. – Mas não me peças mais nada. Recuso-me a deixar que uma mulher qualquer me faça a manicura.

Lorelei olhou para as mãos fortes e grandes de Jack enquanto estas agarravam no volante com firmeza. Não havia nada de delicado nelas. Eram as mãos de um homem muito forte, endurecidas pelo trabalho manual e esforço físico. E, contudo, ela sabia muito bem a suavidade com que aqueles dedos ásperos podiam acariciar o corpo de uma mulher.

– Isto é absurdo! – exclamou Lorelei depois de se livrar da cor das suas faces. – Quero lá saber como te vestes ou como tens as mãos. Dá meia volta a este calhambeque imediatamente e deixa-me na igreja.

– Desculpa, borracho. Acho que não estou disposto a fazer isso.

– Por que não? – perguntou.

– Porque, querida – disse então, sem o menor vestígio de sorriso, – há muito tempo prometeste-me que te casavas comigo e eu decidi que tens de cumprir a tua palavra.

 

 

Tinha-a desconcertado. Jack sabia isso pela sua expressão, pela maneira como Lorelei olhava para ele e abria a boca sem conseguir dizer nada.

– Não estás a falar a sério, pois não? – perguntou por fim.

– Muito a sério – respondeu com grande convicção, embora no seu interior não tivesse tanta certeza de estar a fazer o que devia. Em qualquer caso, o seu instinto dizia-lhe que tinha que tentar. Sim, essa impressão no estômago graças à qual tinha salvo a vida em tantas ocasiões durante as suas expedições à caça de tesouros escondidos, essa intuição inata que lhe dizia que tinha que recuperar Lorelei, o único tesouro da sua vida que perdera e do qual sentia tanta falta.

– Isso foi há muito tempo. Éramos só umas crianças.

– Foi só há dez anos e não havia nada de infantil na nossa relação, nem no que sentíamos um pelo outro. Tu entregaste-te a mim – lembrou-lhe Jack. – Disseste que me amavas e prometeste-me que ias ser minha mulher.

– Não fui eu que me esqueci de ir à igreja no dia do casamento! – exclamou Lorelei indignada.

– Atrasei-me – justificou-se Jack corado, arrependido e envergonhado ao mesmo temo. – Eu…

– Deixaste-me plantada! – interrompeu-o.

– Lorelei…

– Esperei-te durante horas – atirou-lhe à cara, com a voz quebrada. – Fiquei sentada numa cadeira velha e partida, enquanto uma mulher olhava para mim cheia de pena. Esperei-te todo o dia e toda a noite. Quando o dia seguinte amanheceu, soube que já não ias.

Jack não suportava a dor que detectava na voz de Lorelei. Desviou-se para o lado, parou a carrinha e olhou-a nos olhos.

– Lorelei, ouve – pediu-lhe com suavidade enquanto lhe agarrava no rosto com as mãos para que ela não desviasse o olhar. Esse rosto que o tinha perseguido obsessivamente nas suas aventuras pela selva da Colômbia, pelas montanhas do Peru e pelo fundo do oceano Atlântico.

Ele sabia que, em algum momento, as suas vidas voltariam a encontrar-se e que então tudo se resolveria. Mas tinham passado muitos anos até a encontrar naquela livraria há duas semanas. Nesse momento teve a certeza de que não só era a mulher e o amor da sua vida, mas também era o seu amuleto da sorte. Com ela ao seu lado encontraria todos os tesouros do mundo. O destino tinha-o levado para junto dela e ele não era ninguém para contrariar o destino.

Olhou para aqueles olhos castanhos, cujo brilho tinha recordado tanto tempo. Contudo, nesse preciso instante, estavam apagados; não restava neles nenhum brilho de amor. Na verdade, só deixavam ver uma imensa dor e uma raiva terrível. E tudo por sua culpa. Jack sentiu-se muito mal, mas não era por isso que iria concordar em obedecer-lhe e deixá-la casar com um homem que a faria infeliz.

– Eu juro-te que fui – continuou Jack, disposto a ganhar a confiança de Lorelei desde que ela lhe desse uma oportunidade. Viu que ela o olhava incrédula. – A sério. Cheguei no dia seguinte. Atrasei-me. Tinham-me convidado para fazer mergulho e…

– Não tens vergonha nenhuma! – interrompeu-o. – Um maldito desavergonhado sem sentimentos. Menti aos meus pais e às minhas irmãs por ti. Magoei-os. Disse-lhes que não queria passar as férias com eles porque preferia estar com os meus amigos. Magoei-os naquela altura para que pudéssemos estar juntos tal como tínhamos planeado. E agora dizes-me que tudo isto não serviu para nada porque o menino queria brincar a encontrar tesouros no mar?

– Não era uma brincadeira, Lorelei – defendeu-se Jack. – Estava isolado e não havia maneira de te telefonar para te avisar.

– Não precisavas do telefone para nada para falares comigo. Devias era estar ao meu lado!

– Digo-te que fui lá. Mas tarde. Querida, eu sabia que estavas preocupada com o nosso futuro, como havíamos de nos sustentar…

– E pões-me a culpa? Descobrir tesouros não é, digamos, a profissão mais segura do mundo.

– Queria surpreender-te – disse quase a explodir, em parte por raiva, em parte porque sabia que Lorelei tinha razão. Há dez anos atrás não tinha nada para lhe dar e, embora nesta altura a sua situação mal tivesse mudado, tinha um mapa de um tesouro e o palpite de que este seria a chave para o seu bem-estar comum. – Ganhei uns cem mil dólares naquela tarde de mergulho. Eu…

– Tu… – interrompeu-o. – Tu estiveste quase a arruinar a minha vida. Eu amava-te, Jack. Amava-te e confiava em ti. Mas tu só querias encontrar um maldito tesouro.

– Lorelei, isso não é verdade – disse, magoado.

– Não quero saber nada das tuas viagens nem dos teus tesouros – afirmou com frieza. – A única coisa que quero é que me leves à igreja para poder casar com o Herbert.

Jack pensou em como a tinha encontrado lá, tão bonita, à porta da igreja com o seu vestido de noiva. Estava tão bonita que não tinha palavras para descrever a sua beleza… Mas quase tinha casado com outro homem.

Fechou a boca com força, destravou o travão de mão, olhou pelo retrovisor, arrancou com a carrinha e conduziu em direcção ao Caminho Apache e às Montanhas Brancas.

– Jack, disse-te para virares. Vá lá, leva-me à igreja. Vou casar com o Herbert.

– Não se eu o puder evitar, garanto-te.