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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Michelle Celmer

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um acordo especial, n.º 1029 - setembro 2017

Título original: The Tycoon’s Paternity Agenda

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-308-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Não havia dúvida, aquele homem era insuportável.

Apesar disso, ali estava ele, na sua camioneta, no estacionamento dos escritórios principais da Western Oil, em El Paso, com o escaldante sol do meio-dia do Texas a abrasar-lhe o rosto.

Catherine Huntley já não via o cunhado, Adam Blair, director executivo da Western Oil, desde o funeral da irmã três anos atrás. O telefonema dele tinha-a surpreendido. O que não a tinha surpreendido era que tivesse a cara de pau de lhe dizer que estava demasiado ocupado para a ir ver a Peckins, a duas horas de carro para norte, e tinha-lhe pedido que fosse ela a ir vê-lo. Mas claro, Adam era um multimilionário, um magnata do petróleo, e ela era apenas uma criadora de gado, e supunha que o cunhado estava acostumado a dizerem-lhe que sim a tudo.

Mas não fora por isso que acedera. Há já tempo que precisava de fazer uma visita ao armazém para comprar provisões e, além disso, também podia ir ao cemitério, algo que fazia com muito pouca frequência ultimamente. Mas ver a campa de Rebecca de manhã, recordar que passara de ser a filha mais nova a ser filha única, tinha-a deixado profundamente triste. Não era justo que Becca, com tanta coisa a seu favor, tivesse morrido tão jovem, que os pais sofressem a dor de perder uma filha.

Katy olhou para o relógio no visor da furgoneta e percebeu que ia chegar tarde, e como se pautava por ser extremamente pontual, abriu a porta e sentiu esse calor abrasador como uma bofetada. Cruzou rapidamente o estacionamento em direcção à porta principal e, ao entrar, o frio ar do interior do edifício produziu-lhe um calafrio.

A julgar pela forma como os seguranças a olharam enquanto passava pelo detector de metais, percebeu que não deviam ter visto por ali muitas mulheres de calças de ganga e camisa. E, obviamente, como trazia botas com biqueira de aço, o alarme começou a apitar.

– Despeje os bolsos, por favor – disse-lhe um deles.

Estava a ponto de responder que tinha os bolsos vazios quando uma profunda voz ordenou:

– Deixem-na passar.

Ergueu a cabeça e viu o cunhado do outro lado do balcão de segurança, e sentiu um baque no coração.

Nesse momento, os guardas deixaram-na passar, e Adam aproximou-se para a cumprimentar.

– Que bom ver-te, Katy.

– E eu a ti – respondeu ela oferecendo-lhe a mão.

Mas quando a mão de Adam se fechou sobre a sua, perguntou-se se teria reparado nos calos e nas durezas da pele, para além das unhas curtas e por pintar. Não lhe restavam dúvidas de que Adam estava habituado a mulheres como Rebecca, que passavam horas nos salões de beleza a submeter-se a tratamentos para os quais ela não tinha tempo nem vontade.

Naturalmente, carecia de importância o que Adam pudesse pensar das suas unhas. Mas quando lhe soltou a mão, ela meteu as duas nos bolsos.

Pelo contrário, Adam era a viva imagem de um director executivo multimilionário. Tinha-se esquecido de como ele era muito alto. Não só tinha ar de passar muito tempo no ginásio, como também era mais alto do que o normal. Poucos homens a ultrapassavam em altura, já que media um metro e setenta e cinco, mas Adam tinha um metro e noventa e três de estatura pelo menos.

Tinha o cabelo escuro e usava-o muito curto, e agora umas farripas cinzentas salpicavam-lhe as frontes. Decididamente, como costumava acontecer aos homens como ele, conferiam-lhe um aspecto mais distinto. Também tinha alguma pele de galinha e rugas na testa, talvez lhe tivessem aparecido depois da doença de Rebecca.

Apesar de tudo, para ser um homem de quarenta anos, tinha muito bom aspecto.

Ela tinha apenas dezassete anos quando a irmã se casara com Adam dez anos atrás. E embora jamais o tivesse dito a alguém, o cunhado era o seu amor de adolescente. Mas nem ela nem os seus pais podiam imaginar que esse homem bonito e encantador lhes tentasse arrebatar Rebecca.

– Correu bem a viagem? – perguntou-lhe ele.

– Como sempre – respondeu ela encolhendo os ombros.

Katy esperou que Adam lhe explicasse o motivo pelo qual a queria ver ou, pelo menos, que lhe agradecesse por ter feito a viagem. Mas Adam simplesmente lhe indicou com um gesto a cafetaria que havia do outro lado da entrada.

– Um café?

– Por que não? Obrigada.

Excepto os empregados da cafetaria, todos os que ali estavam sentados usavam fato e gravata, com a cara colada ao computador ou com um telemóvel ao ouvido. Mas quando Adam entrou, todos, absolutamente todos, deixaram o que estavam a fazer para o cumprimentar.

Por outro lado, era normal. Adam era o chefe e, evidentemente, os empregados respeitavam-no. Ou temiam-no.

Katy seguiu-o até ao balcão e Adam pediu uma bebida de nome arrevesado ao empregado; depois, voltou-se para ela e perguntou-lhe:

– Que queres tomar?

– Um café normal – respondeu Katy olhando para o empregado. Não gostava das misturas de sabores tão na moda ultimamente. Os seus gostos eram tão simples como o seu estilo de vida.

Com as bebidas na mão, Adam conduziu-a até uma mesa ao fundo do estabelecimento. Tinha suposto que iriam para o escritório dele, mas não tinha objecções em falar ali.

Melhor, menos formal e intimidante. Embora não tivesse motivos para se sentir intimidada. Nem sequer sabia porque estava ali. Quando se sentaram, Adam perguntou:

– Como estão os teus pais? E como vai o rancho? De certeza que o negócio corre bem.

– Não corre mal. Não sei se sabes que há dois anos nos tornámos totalmente ecológicos.

– Excelente. É o futuro.

Katy bebeu o café. Estava quente e era forte, tal como ela gostava.

– Bom, não acredito que me tenhas pedido para vir aqui para falar da criação de gado.

– Não. Queria comentar-te uma coisa… pessoal.

Katy não podia imaginar que tipo de assunto pessoal quereria Adam discutir com ela, já que o que pudessem ter tido em comum ficara enterrado junto da sua irmã.

– De acordo – respondeu ela encolhendo os ombros.

– Não sei se a Becca vo-lo disse, mas antes de lhe diagnosticarem o cancro, tinha problemas de fertilidade. O médico tinha-nos sugerido a extracção de óvulos e a Becca estava a submeter-se a uma terapia hormonal para isso, foi então que lhe descobriram o cancro.

– Sim, ela disse-me.

Também sabia que a irmã se tinha sentido uma fracassada por ser incapaz de conceber. A ideia de defraudar Adam tinha-a aterrorizado já que a sua vida se centrava em comprazê-lo. De facto, Becca gastava tanto tempo e energia a tentar ser a esposa perfeita dentro dos círculos da alta sociedade que quase não dispunha de tempo para a sua família. Nem sequer fora passar o Natal com eles no ano antes de ficar doente devido aos compromissos de Adam.

– Estava quase certa de conseguir vencer a doença – continuou Adam. – Continuámos com os nossos planos: tínhamos ideia de contratar uma barriga de aluguer para ter o nosso filho. Mas, obviamente, não o fizemos.

– Sim, também mo disse – respondeu, tentando conter a sua amargura.

O processo de extracção de óvulos demorara o tratamento do cancro, e havia a possibilidade de que essa tivesse sido a causa da morte de Rebecca. Tinha pedido à irmã que esquecesse os óvulos e que começasse o tratamento do cancro imediatamente. Além disso, poderiam sempre adoptar uma criança. Mas Becca tinha-lhe dito que, para Adam, era muito importante ter o seu próprio filho e ela, como sempre, tinha estado disposta a qualquer coisa para o comprazer.

Seria fácil culpar Adam da morte de Rebecca, mas a decisão fora dela. Uma decisão que lhe tinha custado muito caro.

– Não compreendo o que tenho eu a ver com tudo isto – disse Katy.

– Pareceu-me que deverias saber que decidi utilizar os embriões e contratar uma barriga de aluguer.

Katy levou uns instantes a assimilar essas palavras.

Adam estava a dizer que ia contratar uma desconhecida para trazer o filho de Rebecca no ventre?

Ficou perplexa… muda. Como podia ser tal coisa? Como podia fazer isso à sua família?

Percebeu que tinha ficado boquiaberta e, de imediato, fechou a boca e cerrou os dentes. Adam estava a olhar para ela, à espera que dissesse alguma coisa.

– Eu… não sei o que dizer – conseguiu responder Katy.

– Deixemos as coisas claras: não te estou a pedir autorização. Nem a tua aprovação. Disse-to por consideração, já que também é filho da Rebecca.

Adam não era o tipo de homem que fazia as coisas «por consideração», a não ser que o beneficiasse a ele. Supunha que Adam consultara um advogado e este lhe aconselhara que se pusesse em contacto com a família da sua defunta esposa.

– Também pensei que me podias aconselhar sobre a melhor forma de o dizer aos teus pais – acrescentou Adam.

Mas o assombro de Katy tinha-a deixado muda.

– O meu conselho é que não o faças – declarou ela.

Adam pareceu confuso.

– Que não lhes diga?

– Que não utilizes os embriões – estava tão aborrecida que a voz lhe tremeu. – Não te parece que os meus pais já sofreram bastante? Parece-me incrível que sejas tão egoísta a ponto de os fazeres passar por isto.

– Dar-lhes-ia um neto, o filho da sua filha. Eu acho que eles iriam adorar.

– Um neto que nunca veriam? Achas que isso os vai fazer felizes?

– Por que dizes que não iam ver o neto? Falas a sério?

– Posso contar pelos dedos de uma mão as vezes que a Becca e tu nos vieram ver durante os três últimos anos do vosso casamento. Os meus pais não faziam mais que tentar, mas vocês quase nunca tinham tempo para eles, estavam demasiado ocupados – pelos olhares que lançavam na sua direcção, Katy percebeu que levantara muito a voz e, depois de respirar profundamente, obrigou-se a baixar o tom. – Porque não te voltas a casar e tens um filho com a tua nova esposa? És um homem rico e giro, tenho a certeza que não te vai custar muito. Ou adopta uma criança. Mas deixa a minha família em paz.

A voz de Adam permaneceu suave e calma ao responder:

– Como disse, não te estou a pedir autorização. Esta reunião foi simplesmente de cortesia.

– Mentira – sentenciou-o ela.

Adam ergueu as sobrancelhas.

– O quê?

– Não sou idiota, Adam, portanto, por favor, não insultes a minha inteligência. Querias falar comigo porque, provavelmente, o teu advogado te disse que os meus pais podiam opor-se e levar o assunto a tribunal, e tu queres evitar meter-te num processo.

A expressão de Adam escureceu-se, o que lhe indicou que acertara em cheio.

– No que à lei se refere, a tua família não tem direito nenhum a respeito dos embriões.

– Pode ser que não. Mas se decidíssemos meter-te um processo em tribunal, isso poderia durar anos, não era?

Adam inclinou-se para a frente ligeiramente.

– Vocês não têm os recursos económicos necessários para lutar comigo em tribunal.

Sem se deixar intimidar, Katy também se inclinou para a frente.

– Tenho a certeza que deve haver algum advogado que aceitaria o caso, recebendo só se ganhássemos.

Adam não se mexeu. Saberia que estava a fazer bluff? Não só não conhecia nenhum advogado assim, como acreditava que não passaria pela cabeça dos seus pais tentar impedir o ele que queria fazer. Sentir-se-iam desgraçados, mas tal como o afastamento de Becca, aceitariam. Não gostavam de causar problemas, fora isso precisamente que permitira que Becca se distanciasse da família.

A expressão de Adam suavizou-se e disse num tom tranquilo e mostrando-se racional:

– Acho que estamos a tirar as coisas de contexto.

– O que sabes tu acerca do que significa ser pai? – sentenciou-o ela. – E quando encontrarias tempo para desempenhar o papel de pai? Já paraste para pensar no que significa ser pai? Já pensaste nas mudanças de fraldas e nos biberões à meia-noite? Ou vais contratar alguém para criar o teu filho por ti?

– Tu não me conheces em absoluto – declarou Adam.

– É uma pena, tendo em conta que foste casado com a minha irmã durante sete anos.

Adam respirou profundamente.

– Acho que começámos mal. Acredita em mim, depois de pensar muito, cheguei à conclusão de que é algo que preciso de fazer. E asseguro-te que tanto tu como os teus pais vão ver o bebé. Os meus pais morreram, portanto vão ser a única família do meu filho. Jamais lhe negaria isso.

– E é suposto eu acreditar em ti?

– Neste momento, não tens outra alternativa. Os dois sabemos que a possibilidade de contratarem um advogado que não receba nada se não ganhar o caso é praticamente nula. Sei quando as pessoas estão a fazer bluff, Katy.

Katy mordeu os lábios.

– Não quero magoar ninguém, Katy. A única coisa que quero é ter um filho.

Mas… porque tinha de ser o filho da Becca?

– Podemos não ser ricos, mas poderíamos lutar contra ti.

– Perderiam.

Sim, era verdade e ela sabia. Não tinha mais remédio que aceitar a situação.

– Posso perguntar-te quem vai ser a mãe de aluguer?

– Ainda não sei. O meu advogado está incumbido de seleccionar as possíveis candidatas.

Katy franziu o sobrolho.

– Como vos podem assegurar que elas são de confiança?

– As candidatas passarão por entrevistas rigorosas e submeter-se-ão a uma rigorosa investigação.

Mas não há forma do averiguar tudo sobre uma pessoa, pensou Katy. Além disso, havia a possibilidade de, depois de nascer o menino, ela querer ficar com ele, embora o óvulo fertilizado fosse de Rebecca e não seu.

Pior ainda, podia desaparecer com o filho de Rebecca e nunca mais o voltariam a ver. Isso seria horrível tanto para os seus pais como para Adam.

– E se a mulher que escolheres te trair no final? – perguntou Katy, cada vez mais agoniada.

– Isso não vai acontecer – assegurou-lhe Adam.

Mas não era suficiente. Bebeu um gole de café e queimou a língua. Se o deixasse fazer aquilo, passaria nove meses de inferno, a morrer de preocupação com o seu futuro sobrinho ou sobrinha.

Só havia uma pessoa em quem confiava para trazer o filho da irmã no ventre. Era uma loucura, mas sabia que era a única opção. A única opção boa. E faria o que fosse necessário para o convencer.

– Conheço a mulher perfeita – informou-o.

– Quem?

– Eu.

Capítulo Dois

 

Adam jamais teria imaginado que Katy se oferecesse para trazer o bebé no ventre. E, na sua opinião, essa não era uma opção aceitável.

Admitia ter decidido entrar em contacto primeiro com Katy porque imaginava que seria mais fácil de manipular, mas a pequena e doce Katy tinha crescido. Era bem mais dura do que antes. E tinha razão acerca do que o advogado lhe tinha aconselhado: caso entrassem em litígio em relação à utilização dos embriões, ele tinha todas as hipóteses de ganhar; no entanto, podiam passar anos nos tribunais. Não queria esperar tanto tempo. Porém, se permitisse que ela fosse a mãe de aluguer, embora isso reduzisse significativamente a possibilidade de oposição por parte da família da sua defunta esposa, também podia originar outro tipo de problemas.

– Não te posso pedir que faças isso – disse-lhe ele.

– Não tens de me pedir, eu ofereci-me voluntariamente.

– Não sei se compreendes o sacrifício que isso implicaria, tanto física como emocionalmente.

– Tenho amigas que já tiveram filhos, portanto sei o que me espera.

– Acho que conhecer uma pessoa que esteve grávida e estar grávida são duas coisas diferentes.

– Quero fazê-lo, Adam.

Sentia-o, mas era uma loucura.

Tentou dar-lhe outro ponto de vista.

– Que vai parecer isto ao teu namorado?

– Não há problema. Vejo o Willy Jenkins de vez em quando, mas não é meu namorado. Somos amigos… com algumas vantagens. Entendes o que quero dizer?

Entendia e, por alguma ridícula razão, tinha vontade de dar um murro a Jenkins. Para ele, ela seria sempre a irmã mais nova de Rebecca. A pequena Katy.

Mas Katy tinha-se transformado uma mulher de vinte e sete ou vinte e oito anos, se a memória não lhe falhava. Não lhe diziam respeito as pessoas com quem saía.

Nem porquê.

– O processo poderia levar um ano – informou ele. – Até mais, se for preciso repetir. E se conheceres alguém durante esse tempo?

– Mas quem é que eu vou conhecer? Peckins tem oitocentos habitantes. Conheço a maioria dos homens desde o jardim-de-infância. Se me fosse apaixonar loucamente por algum deles, já o teria feito.

Outro ponto de vista.

– Já pensaste nas repercussões que teria no teu corpo?

– Não te esqueças com quem estás a falar – Katy assinalou a vestimenta informal e o seu loiro cabelo apanhado num rabo-de-cavalo. – Não sou como a Rebecca. Não fico obcecada com o peso nem me preocupa que me apareçam estrias. E asseguro-te que não vais encontrar ninguém tão responsável como eu. Não fumo nem me drogo, nem sequer tomo analgésicos. Uma ou outra vez tomo uma cerveja, mas quase não bebo, portanto não vou ter problemas em prescindir do álcool por completo. Além disso, sou muito saudável. E outra coisa, nas revisões médicas anuais que faço, o médico diz-me sempre que tenho um corpo feito para ser mãe.

E era verdade. Tinha a figura de um modelo dos anos cinquenta, uma época em que as mulheres pareciam mulheres, e não garotos pré-adolescentes. Na sua opinião, Rebecca sempre fora obcecada com o peso e com o aspecto físico, como se temesse que ele fosse gostar menos dela por não apresentar um aspecto absolutamente perfeito. Nem sequer quando se submetia à quimioterapia deixava de se levantar da cama para se maquilhar; e quando deixou de se poder levantar, fazia com que a enfermeira a maquilhasse.