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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Sara Craven

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Às ordens do seu marido, n.º 1104 - agosto 2017

Título original: The Virgin’s Wedding Night

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-254-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– Como? Não podes cumprir a tua parte do acordo? – Harriet Flint ficou a olhar para o rosto corado do jovem que estava sentado com ela à mesa. – Estava tudo resolvido e tínhamos combinado almoçar para decidirmos os pormenores do casamento. Dependo de ti.

– A situação mudou por completo para mim, tens de compreender – defendeu-se ele, com uma expressão teimosa. – Quando fizemos o acordo, não me importava com nada. Tinha perdido a rapariga que amava e, nesse momento, pareceu-me uma boa forma de ganhar uma quantia considerável de dinheiro e ir dar a volta ao mundo. Mas agora, Janie voltou para mim, vamos casar-nos e não vou permitir que nada nem ninguém se interponha entre nós.

– Mas se lhe explicasses…

– Explicar o quê? – Peter Curtis emitiu uma gargalhada irónica. – Queres mesmo que lhe diga que, enquanto estávamos separados, acedi a casar-me com uma completa desconhecida por dinheiro?

– Podias explicar-lhe que não é um casamento a sério, que é só um acordo temporário que durará alguns meses e é exclusivamente uma questão de negócios. Não compreenderia?

– Não, claro que não – respondeu ele, impaciente. – Janie nunca deixaria que eu me envolvesse numa coisa tão estranha. E, mesmo que acreditasse em mim, pensaria que tinha ficado louco.

Peter abanou a cabeça e acrescentou:

– Lamento muito, mas não há acordo. Não vou correr o risco de Janie me deixar outra vez. É a única pessoa que me importa no mundo. Tens de compreender.

– E eu tenho uma herança que é igualmente importante para mim – respondeu Harriet, friamente. – E vou perdê-la se não conseguir casar-me antes do meu próximo aniversário. Também tens de compreender isso.

Peter levantou-se para se ir embora. Então, parou e olhou para ela com o sobrolho franzido.

– Pelo amor de Deus, Harriet, não precisas de comprar um marido. Se vestisses outra roupa e te penteasses de outra maneira… podias ser bastante atraente. Portanto, considera-o uma sorte e concentra-te em encontrar um marido real, está bem?

– Obrigada por me dares um conselho que não pedi – gozou ela, – mas prefiro fazer as coisas à minha maneira. E não estou disposta a perder tempo a tentar dar ênfase à pouca beleza que possa ter com o fim de encontrar um homem. Não, não vou fazê-lo nem agora nem nunca, prefiro dedicar o meu tempo ao meu trabalho.

– Nesse caso, não me digas que fui o único que respondeu ao anúncio porque não acredito. Fala com outra pessoa.

«Mas tu és o único que o meu avô aceitaria para meu marido», pensou Harriet. «Ajustas-te perfeitamente à sua ideia do que um cavalheiro inglês respeitável e jovem deve ser. Ainda que, na minha opinião, até Judas pudesse ter o teu aspecto».

– Espero que não te arrependas da decisão que tomaste – declarou Harriet, sorrindo enquanto tirava o porta-moedas da mala para pagar a conta. – Desejo-te o melhor.

É claro, não era verdade. Harriet teria gostado de o assassinar. A ele e à sua namorada.

E o que raios ia fazer a respeito do ultimato do seu avô?, perguntou-se, enquanto o via a afastar-se.

Enfim, naquela tarde não ia conseguir resolver nada. Tinha uma reunião de trabalho difícil e devia concentrar-se nela.

Harriet chamou o empregado, que olhou para o seu prato de massa em que ela quase não tocara.

– Não gostou da comida, menina?

– Gostei, estava muito boa – garantiu ela. – Mas não tinha apetite.

«Alguém mo tirou», acrescentou ela, em silêncio. «Uma pessoa bastante atraente». E porque se mostrava tão altiva?

Supunha que, no aspecto físico, devia parecer-se com o seu pai desconhecido. O que mais gostava em si própria era do cabelo castanho com reflexos dourados. Se o soltasse, chegava-lhe aos ombros. Os seus olhos eram cinzentos e com pestanas espessas. À excepção disso, o resto das suas feições não tinha nada de especial. Se o seu pai fora assim, o que raios é que a espantosa Caroline Flint vira nele? A menos que, é claro, tivesse encantos escondidos.

Nesse caso, ela não herdara esses encantos do seu pai.

No entanto, não permitiria que isso a preocupasse. Não queria parecer-se com a sua mãe, nem no aspecto físico nem no psicológico.

Impaciente, levantou-se, agarrou na mala e, com o casaco de linho preto no braço, atravessou o restaurante e dirigiu-se para o balcão para pagar. Lá, encontrou Luigi, o proprietário do estabelecimento.

Mas Luigi estava ocupado com um jovem alto que acabara de entrar enquanto ela atravessava a sala de jantar. E não sabia porque entrara ali, pensou Harriet, ressentida por ter de esperar. E esperar por alguém como aquele indivíduo…

Porque as calças de ganga meio rasgadas, os sapatos velhos e usados e as camisas gastas não eram a roupa que os clientes de Luigi usavam normalmente. O cliente tinha um cabelo escuro despenteado e um rosto que precisava de ser barbeado.

Na verdade, Harriet imaginara que Luigi expulsaria aquele indivíduo imediatamente.

No entanto, Luigi estava a desfazer-se em sorrisos e, para cúmulo, estava a tirar o seu livro de cheques.

Ia dar-lhe dinheiro para que se fosse embora?, perguntou-se Harriet, sem compreender nada.

Enquanto aquele tipo aceitava o cheque, ela reparou que ele o guardava numa carteira velha que tirara do bolso traseiro das calças de ganga.

Trocaram algumas palavras, apertaram as mãos e o tipo virou-se para se ir embora. Durante um instante, Harriet ficou de frente para ele e não conseguiu evitar reparar que, apesar de parecer que acabara de se levantar da cama, o seu rosto era frio e contido, tinha o nariz recto, a boca firme e o queixo quadrado. Talvez não fosse bonito no sentido exacto da palavra, mas era incrivelmente atraente, com umas costas largas e um corpo esbelto e musculado.

Também reparou nos seus olhos, tão pretos como a noite. Ele olhou para ela brevemente com indiferença enquanto saía do restaurante.

Luigi estava de bom humor e não a deixou pagar pela refeição.

– Não comeu nada, menina Flint, e só bebeu água. O seu amigo também não comeu grande coisa. Espero que tenha melhor apetite na sua próxima visita.

«Quando chegar esse momento, talvez já tenha perdido toda a minha herança», pensou Harriet com amargura, enquanto forçava um sorriso.

Ao virar-se para se ir embora, Luigi baixou o tom de voz e acrescentou, num tom confidencial:

– Aquele homem que acabou de sair… viu-o, não foi? De certeza que achou estranho…

Harriet, com tristeza, sentiu que acabara de corar.

– Não me diz respeito…

– Não, não, espere, de certeza que isto lhe interessa, porque me parece que a menina foi a primeira pessoa que reparou no quadro e que me disse que gostava muito dele – Luigi indicou o quadro amarelo-pálido atrás do balcão. – Devia ter-lho dito.

– Dizer-lhe o quê? Quer dizer que aquele homem era… o pintor?

– Sim – Luigi assentiu. – E o seu aspecto é o típico de um artista a tentar sobreviver, não é? Mas tem muito talento, tal como a menina disse.

Harriet voltou a olhar para o quadro. Sim, era verdade, gostara do quadro assim que o vira, apesar de não ser o tipo de pintura de que mais gostava.

A olho nu, era uma composição bastante simples: uma cena claramente mediterrânea com um céu azul, uma praia e o mar. Também tinha umas rochas e, em cima das rochas, uma mesa com uma garrafa de vinho e dois copos, um deles estava caído e deixara uma mancha na superfície branca da mesa. Sob uma pedra, meio escondida na areia, via-se uma sandália de salto alto de mulher. Mais nada.

Era um quadro que convidava à especulação, no entanto, não fora isso que a atraíra, mas a luz dourada que a fizera ter a impressão de estar a olhar para a essência do calor. Quase conseguia senti-lo na sua pele.

Quando o vira pela primeira vez e perguntara a Luigi sobre o quadro, o dono do restaurante respondera-lhe que se tratava de uma experiência para ver a reacção dos clientes.

Agora, observando-o outra vez, disse num tom comedido:

– Sim, acho que é muito bom. Eu gosto muito…

Ao mesmo tempo, a pintura produzia-lhe um certo desassossego. Era como se a raiva contida no quadro a agredisse.

– Está à venda? – perguntou Harriet, impulsivamente.

– Lamento dizer-lhe que já o compraram – respondeu Luigi, com tristeza. – Mas o pintor tem mais quadros e eu já pus algumas pessoas em contacto com ele. Também aceita encomendas.

Luigi fez uma pausa e acrescentou:

– O que ele precisa é de um mecenas, menina, alguém com contactos no mundo da arte. Precisa de uma galeria que queira expor a sua obra e que o torne famoso.

Luigi tirou um cartão de impressão barata de debaixo do balcão. O cartão só tinha o nome «Roan» e um número de telemóvel.

– Os começos, em qualquer carreira, nunca são fáceis.

– Não, suponho que não – Harriet pôs o cartão na mala com a intenção de o deitar fora quando chegasse a casa.

Além disso, tinha outras coisas em que pensar, reflectiu, ao sair para a rua londrina iluminada pelo sol.

Harriet caminhou a passo ligeiro até ao seu escritório. Amava muito o seu avô e também lhe devia muito, contudo, sabia exactamente como ele era.

Gregory Flint era um dinossauro carnívoro. Era um Tiranossauro. E por muito ridículas que as suas exigências fossem, não era boa política ignorá-las e esperar que o seu avô acabasse por se esquecer delas, tal como estava a descobrir com tristeza.

Não queria pensar na cena que devia ter-se desenvolvido quando a sua mãe, com dezoito anos e solteira, dissera ao seu pai que estava grávida, que não podia casar-se com o pai do bebé e que não estava disposta a abortar. E, é claro, também não queria dar o bebé para adopção.

No final, Carolina Flint foi expulsa do lar paterno e só voltou a entrar em contacto com a família seis anos depois.

– O teu avô quer conhecer-te, querida – anunciara a sua mãe, um dia. – O que significa que a filha pródiga talvez seja perdoada. Acontecem coisas muito estranhas na vida.

O companheiro sentimental da sua mãe naquela época, Bryn, um violonista desempregado, olhara para ela e dissera:

– Não o estragues, princesa. Estamos mesmo a precisar de um pouco de massa.

No dia seguinte, foram a Gracemead e, quando o táxi que as levara desde a estação de comboios parara à frente da casa, Harriet contivera a respiração de puro êxtase. Porque não lhe parecia possível que, depois dos apartamentos baratos em que tinham vivido até àquele momento, ela pudesse estar num lugar assim.

Com o tempo, começara a perceber que Gracemead não era realmente bonito e que o seu antepassado Flint, o comerciante vitoriano rico que comprara uma casa georgiana e a decorara com uma fachada gótica e umas torres que imitavam as da casa de férias que a família real tinha em Balmoral, fora nos seus tempos uma espécie de vândalo.

O reencontro entre Gregory Flint e a sua filha errante tivera lugar em privado. Harriet fora levada para a cozinha por uma mulher gordinha, que fora a ama de Caroline. A mulher dera-lhe leite e alguns biscoitos em forma de rosto sorridente que a senhora Wade, governanta e cozinheira, fizera especialmente para ela.

A sua mãe também sorrira quando se reunira com ela, apesar de ter os olhos avermelhados.

– Isto é muito bonito, não é, querida? Vais ficar aqui com o avô e vais divertir-te muito. Ele vai mimar-te muito, não achas, Nanny? – perguntara à sua antiga ama.

– Não vais ficar também? – perguntara Harriet à sua mãe, com pânico.

Mas Caroline abanara a cabeça.

– Eu vou ter com Bryn, querida. Ele vai fazer uma digressão pela América com um cantor famoso. Vamos passar muito tempo fora, portanto será melhor ficares aqui. É um sítio óptimo para cresceres – declarara a sua mãe, com tristeza.

E assim fora, pensou Harriet. Depois daquele momento, nunca mais vivera com a sua mãe, só se viam de vez em quando e com cada vez menos frequência.

A casa transformara-se numa constante na sua vida, transformara-se no seu lar. Continuava a produzir-lhe espanto, apesar dos anos decorridos. Era o lugar a que pertencia.

Para ela, Gracemead fora um sítio mágico para brincar e explorar. E a ama e a senhora Wade tinham feito tudo o que estava ao seu alcance para lhe proporcionarem comodidade e segurança na vida.

Estabelecer uma relação com o seu avô custara-lhe mais. Às vezes, surpreendera-o a olhar para ela com uma expressão especulativa, como se houvesse alguma coisa que ele não compreendia.

Então, um dia, o seu avô encontrara-a no seu escritório absorta na leitura de Beleza Negra e, a partir desse momento, tudo mudara entre eles.

O seu avô olhara para ela com um sorriso terno e replicara:

– Esse era o livro preferido da tua mãe.

Depois, sentara-se numa poltrona que havia à frente da lareira e começara a falar, a ouvir pacientemente as respostas entrecortadas dela e a encorajá-la a ser menos tímida e a dizer o que quisesse.

Agora, ao olhar para trás, Harriet até podia dizer que tivera uma boa infância, apesar da ausência contínua e prolongada da sua mãe. Ao princípio, recebia postais dela dos Estados Unidos. Depois de ela acabar com Bryn, também recebera postais de diversas cidades europeias.

Com o passar dos anos, a correspondência começara a rarear. Na última carta que Harriet recebera, um postal de parabéns pelo seu vigésimo primeiro aniversário, Carolina dizia estar na Argentina a viver com um jogador de pólo. Mas no envelope não havia remetente e, depois, não voltara a dar sinais de vida.

Ao mesmo tempo, a vida com o seu avô, embora muito afectuosa, começava a ser mais complicada.

Gregory Flint estava decidido a fazer com que a sua neta não seguisse o exemplo da sua mãe. E assim Harriet encontrara-se submetida a um despotismo pouco benevolente, com a liberdade restringida e com o seu bom-senso sempre posto em dúvida.

E o facto de ser compreensível não evitava que fosse incómodo.

O principal confronto entre o seu avô e ela acontecera quando Harriet tinha dezoito anos, acabara o bacharelato e o seu avô anunciara que encontrara uma escola para meninas na Suíça onde aperfeiçoaria os seus idiomas e faria um curso de Culinária cordon blue.

Harriet ficara a olhar para ele, boquiaberta.

– Quer dizer que acabou tudo para mim? Avô, não podes estar a falar a sério. Qualquer pessoa pensaria que vivemos com um século de atraso.

As sobrancelhas do seu avô tinham-se arqueado.

– Tens uma ideia melhor?

– Claro que tenho – Harriet esforçara-se para esboçar o melhor dos seus sorrisos. – Decidi entrar no negócio familiar.

– Queres… trabalhar na Flint Audley? – o seu avô emitira uma gargalhada. – E de onde tiraste essa ideia ridícula?

– Pareceu-me natural.