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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Kate Hewitt

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noiva fugitiva!, n.º 1724 - agosto 2017

Título original: The Marakaios Marriage

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-231-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Capítulo 1

 

– Olá, Lindsay.

Como era possível que duas palavras tão inocentes lhe causassem tal sobressalto em todo o corpo, primeiro com alegria, depois com um medo avassalador? Um medo que lhe penetrou o estômago como ácido, corroendo os poucos segundos de frágil felicidade quando sentira o tom frio da voz do homem a quem um dia prometera amar, honrar e obedecer.

O seu marido, Antonios Marakaios.

Lindsay Douglas ergueu os olhos do computador, fechando as mãos no colo, enquanto observava as feições familiares, agora estranhas pela frieza no seu olhar, a linha dura da boca. Com a cabeça ainda às voltas ao ver Antonios, ela disse a primeira coisa que lhe ocorreu:

– Como entraste aqui?

– Estás a falar do segurança? – murmurou Antonios desdenhosamente, mas os olhos cor de uísque brilhavam com fúria. – Eu disse-lhe que era o teu marido e ele deixou-me entrar.

Lindsay humedeceu os lábios secos, tentando concentrar-se. Pensar de modo racional.

– Ele não deveria ter deixado – disse ela. – Não deverias estar aqui, Antonios.

– Não? – Ele arqueou uma sobrancelha, a expressão quase cruel. – Não posso ver a minha esposa?

Ela forçou-se a encará-lo, embora fosse muito difícil.

– O nosso casamento acabou.

– Estou bem ciente disso, Lindsay. Há seis meses, desde que me abandonaste sem aviso.

Ela ouviu a acusação na voz dele, mas recusou-se a reconhecê-la. Não fazia sentido discutir agora, o casamento estava acabado, como tinha dito.

– Eu só quis dizer que todos os prédios académicos estão fechados, com seguranças à porta – respondeu Lindsay, com a sua voz a soar muito mais calma do que ela se sentia. Ver Antonios novamente despertava-lhe memórias, fazendo-a lembrar-se de factos que ela já lutava há seis meses para esquecer. O modo como Antonios a abraçava depois de fazerem amor, a forma como ele lhe punha, carinhosamente, o cabelo atrás das orelhas, lhe segurava o rosto nas mãos, lhe beijava as pálpebras. Quão feliz, segura e amada ele a fizera sentir-se um dia.

Não, ela não podia lembrar-se disso. Era melhor lembrar-se dos três meses de isolamento e confusão que passara na casa dele na Grécia, enquanto Antonios se tornava cada vez mais obcecado pelo trabalho, esperando que ela se encaixasse numa vida que achava estranha e assustadora.

Era melhor lembrar como se sentira deprimida e desesperada, até parecer-lhe impossível ficar na Grécia por mais um dia, por mais um minuto.

Sim, era melhor lembrar-se disso.

– Ainda não percebi por que estás aqui – disse Lindsay. Pondo as mãos sobre a mesa, levantou-se, determinada a encontrar os olhos de Antonios ao mesmo nível, ou o mais próximo possível, tendo em conta que ele era 20 centímetros mais alto.

Porém, bastou olhar para ele para sentir uma onda de desejo. O cabelo negro bem curto. O queixo quadrado. Os lábios sensuais. E, quanto ao corpo… a perfeição esculpida sob o fato cinza-chumbo que ele usava. Ela conhecia o corpo de Antonios tão bem quanto o seu próprio. Memórias da semana doce que tinham passado juntos vieram-lhe à cabeça, e Lindsay reprimiu-as, sustentando-lhe o seu olhar trocista.

Antonios arqueou uma sobrancelha escura.

– Não fazes ideia do motivo que me trouxe aqui, Lindsay? Nenhuma razão para imaginares por que viria eu procurar a minha esposa errante?

Esposa errante. Então ele culpava-a. É claro que sim. E Lindsay sabia que ele tinha o direito de culpá-la, porque ela tinha partido sem uma explicação, ou até mesmo, como ele dissera, sem um aviso. Mas Antonios forçara-a a partir, embora não compreendesse isso.

– Faz seis meses, Antonios, e tu não entraste em contato comigo uma única vez. Acho que é lógico eu ficar surpreendida por ver-te.

– Achaste que eu nunca viria exigir respostas?

– Eu dei-te uma resposta…

– Um e-mail de duas frases não é uma resposta, Lindsay. Dizer que o nosso casamento foi um erro sem explicar porquê é pura cobardia. – Ele ergueu a mão para impedir que ela retorquisse, embora Lindsay não conseguisse pensar em nada para dizer. – Mas não te preocupes com isso. Não me interessam as tuas explicações. Nada me satisfaria agora e o nosso casamento acabou quando me abandonaste sem uma palavra.

Sentiu-se tomada pela frustração e a emoção ardia-lhe no peito. Talvez não tivesse dito muitas palavras quando finalmente partiu, mas isso acontecera porque ela as tinha esgotado por completo. Antonios não ouvira nada disso.

– Eu estou aqui – continuou ele, a voz fria e inflexível – porque preciso que voltes para a Grécia.

Boquiaberta, Lindsay abanou a cabeça instantaneamente.

– Eu não posso…

– Vais descobrir que podes, Lindsay. Faz a mala e entra num avião. É tão simples quanto isso.

Em silêncio, ela abanou a cabeça. Só de pensar em voltar para a Grécia o seu coração disparou e sentiu o sangue latejar nos ouvidos. Concentrou-se em respirar, tentando manter a respiração lenta e regular. Um dos livros que lera aconselhava a focar-se em pequenas coisas que pudesse controlar, em vez de se deixar dominar pelas que não podia. Como o seu marido e o seu súbito retorno à sua vida.

Antonios encarava-a, com os seus olhos cor de uísque semicerrados, os lábios comprimidos. Com esforço, ela reduziu o ritmo da respiração e a velocidade do coração.

Consciente de como ele estava a olhar para ela, Lindsay susteve-lhe o olhar. Não pôde evitá-lo. Mesmo zangado, como ele obviamente estava, e tinha todo o direito de estar, Antonios era lindo. Ela recordou quando o viu pela primeira vez em Nova Iorque, com flocos de neve salpicados pelo cabelo e um sorriso no rosto, quando ele a avistou na Quinta Avenida a olhar para a estrutura em espiral do Museu Guggenheim.

Eu estou perdido, dissera ele. Ou, pelo menos, pensava estar.

Mas era Lindsay quem estava perdida, de tantas maneiras. Devastada pela morte do seu pai. Às voltas num vazio de dor, medo e solidão do qual estivera a tentar arduamente escapar.

E então, perdeu-se em Antonios, no sorriso charmoso que ele lhe ofereceu, no modo como ele a olhava, como se ela fosse a mulher mais interessante e importante do mundo. Por uma semana, eles viveram juntos um puro deleite. E, então, a realidade acertou-lhes em cheio.

– Deixa-me clarificar – disse ele, agora com uma voz simultaneamente suave e fria. – irás para a Grécia. Como teu marido, ordeno-te que vás.

Ela ficou tensa.

– Não podes dar-me ordens, Antonios. Eu não sou uma propriedade tua.

– As leis gregas em relação ao casamento são algo diferentes das leis americanas, Lindsay.

Ela abanou a cabeça, zangada mas, suspeitava, não tão zangada quanto ele.

– Não tão diferentes assim.

– Talvez não – concedeu ele, encolhendo os ombros. – Mas devo assumir que queres o divórcio?

Lindsay franziu a testa face à súbita mudança de assunto.

– O divórcio…

Foi por isso que me deixaste, não foi? Porque não querias que o casamento continuasse.

Lindsay suprimiu a vontade de tremer. Nunca tinha visto Antonios assim. Tão frio, duro e predatório.

– Eu… – Um divórcio parecia tão final, tão horrível, mas, claro, tinha de ser o que ela queria. Afinal, abandonara-o.

Durante os seis meses desde que partira da Grécia, ela imergira-se no casulo confortante da teoria dos números, tentando terminar o seu doutoramento em Matemática Pura. Tentando entorpecer a terrível dor das saudades de Antonios, ou pelo menos, do Antonios que conheceu por uma semana, antes que tudo mudasse. Ela tentou retomar a sua vida, controlar a sua ansiedade e ligar-se às pessoas em seu redor. Fez progressos, e houve momentos, dias inteiros, em que se sentiu normal e até feliz.

No entanto, sentia sempre falta de Antonios. Sentia falta da pessoa que ela fora com ele, quando estavam em Nova Iorque.

E nenhuma daquelas pessoas tinha sido real. O casamento, o amor deles não foi real. Ela sabia disso, mas…

Ainda ansiava pelo que tinham partilhado, tão brevemente.

– Sim – murmurou ela, baixinho. Ergueu o queixo e encontrou o olhar dele. – Eu quero terminar o nosso casamento.

– Um divórcio – esclareceu Antonios. Lindsay encolheu-se um pouco, mas susteve-lhe o olhar, por mais duro e inflexível que este fosse.

– Sim.

– Então, Lindsay – ele falou naquela voz horrivelmente sedosa, – tens de fazer o que peço. Ordeno. Porque, pela lei grega, não podes conseguir um divórcio, a menos que ambas as partes concordem.

Ela fitou-o, com os seus olhos a arregalarem-se perante as implicações do que ele estava a dizer.

– Deve haver outras circunstâncias nas quais um divórcio é permissível.

– Sim, há. Duas, na verdade. – Ele fez uma careta. – Adultério e abandono. Mas, como eu não cometi nenhum desses, não se aplicam, pelo menos no meu caso.

Lindsay encolheu-se novamente e Antonios registou a sua reação com um sorriso.

– Por que queres que eu volte para a Grécia, Antonios?

– Não, como pareces temer, para retomar o nosso casamento. – A voz dele endureceu e Antonios olhou-a com uma expressão desdenhosa. – Eu não desejo fazer isso.

É claro que não. E aquilo não deveria magoá-la, porque fora opção dela, porém magoava.

– Então…

– A minha mãe, como te deves lembrar, gostava de ti. Ela não sabe por que partiste, e eu não lhe falei sobre o estado do nosso casamento.

Sentiu-se corroída pela culpa. Daphne Marakaios fora gentil com Lindsay durante o seu tempo na Grécia, mas isso não fora o suficiente para fazê-la ficar. Para permanecer sã.

– Por que não contaste à tua mãe? – perguntou Lindsay. – Já se passaram seis meses e não podes manter isso em segredo para sempre.

– Por que não lhe contas tu? – devolveu Antonios. – Oh, esqueci-me. Porque és cobarde. Foges da minha casa e da minha cama, e nem te incomodas em ter uma única conversa sobre por que desejas acabar o nosso casamento.

Lindsay respirou fundo, lutando contra o impulso de contar-lhe quantas conversas tentara ter. Mas de que adiantaria isso?

– Eu percebo que estejas zangado…

– Eu não estou zangado, Lindsay. Para estar zangado, eu teria que importar-me. – Ele levantou-se com uma expressão fria. – E parei de importar-me quando me enviaste aquele e-mail. Quando te recusaste a dizer algo, tirando o nosso casamento ter sido um erro, quando te telefonei, querendo saber o que acontecera. Quando me mostraste a pouca consideração que tinhas por mim e pela nossa união.

– E tu mostraste-me a pouca consideração que tinhas pelo nosso casamento todos os dias em que eu estive na Grécia – devolveu Lindsay, antes que pudesse conter-se.

Antonios virou-se para ela lentamente, os olhos arregalados com incredulidade.

– Vais realmente culpar-me pelo fim do nosso casamento?

– Oh, não, é claro que não – brincou Lindsay. – Como poderia eu fazer isso? Como poderias ter qualquer responsabilidade ou culpa?

Ele analisou-a, semicerrando os olhos, e Lindsay quase se riu ao perceber que Antonios não tinha a certeza se ela estava a ser sarcástica ou não.

Então ele encolheu os ombros e respondeu numa voz tensa:

– Eu não me importo contigo ou com os teus motivos. Mas a minha mãe, sim, importa-se. Porque ela está doente, poupei-a ao sofrimento adicional de saber como e porquê te foste embora.

– Doente…

– O cancro dela voltou –informou-a Antonios sem rodeios. – Ela recebeu os resultados um mês depois de partires.

Lindsay fitou-o em choque. Sabia que Daphne tivera um cancro de mama, mas o prognóstico recebido era bom.

– Antonios, eu lamento muito. É… é tratável?

Ele encolheu os ombros, a expressão velada.

– Não muito.

Lindsay sentou-se na sua cadeira, com a cabeça às voltas com a nova informação. Pensou na amável Daphne, com o seu cabelo branco e voz suave, a sua gentileza aparente em cada palavra e ação, e sentiu tristeza pela mulher que conhecera tão brevemente. E quanto a Antonios… ele adorava a mãe. Isto deveria tê-lo abalado muito, e ela, a esposa, não estava lá para confortá-lo e apoiá-lo. Porém, teria sido capaz de fazer isso, se tivesse ficado na Grécia?

Estava tão desesperadamente infeliz lá, e o pensamento de regressar trazia velhos medos à superfície.

– Antonios, eu lamento muito, realmente lamento pela tua mãe, mas ainda não posso voltar para a Grécia.

– Podes e irás – replicou Antonios. – Se quiseres o divórcio.

Ela abanou a cabeça, o cabelo a esvoaçar, o desespero a inundar-lhe a alma.

– Então, não pedirei o divórcio.

– Nesse caso, ainda és minha esposa e pertences-me. – A voz dele era ríspida. – Não há como escapar a isso, Lindsay.

– Como poderei ajudar a tua mãe por ir vê-la? – protestou Lindsay. – Ela ficaria ainda mais magoada quando eu lhe contasse que estamos separados.

– Mas eu não pretendo deixar-te contar-lhe isso. – Antonios encarou-a com fúria no olhar. – É provável que a minha mãe só tenha dois meses de vida, talvez menos. Eu não quero importuná-la com a notícia do nosso casamento fracassado. Por alguns dias, Lindsay, talvez por uma semana, podes fingir que ainda estamos felizes no casamento.

– O quê? – Ela olhou para ele, apavorada, enquanto ele lhe dirigia um sorriso sarcástico.

– Isso é assim tão impossível? Já provaste uma vez que és uma ótima atriz, quando fingiste estares apaixonada por mim.

 

 

Antonios olhou para o lindo rosto pálido da sua esposa e reprimiu a pequena onda de pena que sentiu dela. Lindsay parecia tão horrorizada face à perspetiva de retomar o casamento e de voltar à Grécia.

Não que eles fossem realmente retomar o casamento. Seria apenas uma farsa, pelo bem da sua mãe.

Antonios não pretendia levar Lindsay novamente para a sua cama. Não depois de ela o ter deixado de maneira tão fria e cobarde. Não, ele iria levá-la para a Grécia por alguns dias, depois nunca mais a veria… era obviamente o que ambos queriam.

– Alguns dias? – repetiu ela. – E isso será suficiente?

– O dia do nome da minha mãe é na próxima semana – disse Antonios.

– Dia do nome…?

– Na Grécia, celebramos dias dos nomes, em vez de aniversários. A minha família deseja comemorar este em particular, de maneira especial, tendo em conta a situação. – A dor apertava-lhe a garganta e queimava-lhe o peito. Ele não conseguia imaginar Villa Marakaios sem a mãe. Perder o pai já tinha sido difícil o suficiente. Ele construíra a vinha do nada, ele fora o cérebro por trás da operação, para o melhor e, definitivamente, para o pior, mas a sua mãe sempre fora o coração de tudo. E quando o seu coração parasse…

Mas talvez o seu próprio coração já tivesse parado, destruído quando a sua esposa o abandonara. Ele pensou que Lindsay o amava. Acreditou que eram felizes, juntos.

Que piada. Que mentira. Mas Antonios sabia que deveria estar habituada às pessoas fingirem ser o que não eram. Fingirem sinceridade nas palavras. Já tinha recebido lições duras assim.

– Nós teremos uma comemoração – continuou ele, conseguindo manter a voz neutra. – Família, amigos, todos os nossos vizinhos. Tu estarás lá. Depois, podes voltar para cá, se assim preferires. Eu explicarei à minha mãe que precisas de terminar a tua investigação. – Ele sabia que Lindsay estava a fazer o doutoramento em Matemática Pura, e quando ela o deixou, disse que precisava de resolver algumas coisas em Nova Iorque. Antonios despediu-se de boa-fé, pensando que ela viajaria apenas por alguns dias. Ela já tinha dito que a investigação podia ser feita em qualquer lugar, alegando que não havia nada para ela em Nova Iorque. Todavia, isso, aparentemente, como tudo o resto, tinha sido uma mentira.

O rosto de Lindsay empalideceu ainda mais, e ela levou a mão ao pescoço, engolindo convulsivamente.

– Uma festa? Antonios, por favor. Eu não posso.

A ira percorreu o sangue de Antonios.

– Que te fiz eu para que me trates a mim e à minha família desta maneira? Nós demos-te as boas-vindas à nossa casa, às nossas vidas. – Ele tentou controlar a emoção que Lindsay não podia ver. Dissera que já não se importava com ela, e era verdade. Tinha de ser verdade. – A minha mãe amava-te. Ela tratava-a como uma filha. É assim que pretendes recompensá-la?

As lágrimas brilharam nos olhos de Lindsay, e ela pestanejou para reprimi-las, balançando a cabeça em tão óbvio sofrimento que Antonios quase sentiu pena dela, novamente. Quase.

– Não, é claro que não – sussurrou ela. – Eu… fiquei muito grata à tua mãe, e à gentileza dela para comigo.

– Tens um modo estranho de mostrar isso.

Os olhos de Lindsay lançaram faíscas como reação a tais palavras e Antonios perguntou-se por que estava ela zangada. Ela tinha-o deixado.

– Mesmo assim, é muito difícil para mim voltar à Grécia.

– E porquê? Tens um amante à tua espera aqui em Nova Iorque?

A boca de Lindsay abriu-se em choque.

– Um amante…

Antonios encolheu os ombros, como se aquilo não importasse, embora o pensamento de Lindsay com outro homem, a violar os votos de casamento deles, o fizesse ter vontade de esmurrar qualquer coisa.

– Não sei o que mais te tiraria tão abruptamente da Grécia. – De mim, quase disse.

Ela abanou a cabeça, com uma emoção nos olhos que Antonios não podia nomear.

– Não – negou ela. – Eu não tenho um amante. Só exististe tu, Antonios. Sempre.

Todavia, ele não fora, obviamente, o suficiente. Antonios nem sabia se acreditava nela, disse para si mesmo que aquilo não importava.

– Então não há motivo para não quereres ir para a Grécia.

– A minha investigação…

– Não pode esperar uma semana? – perguntou ele com impaciência. Ela não percebia como estava a ser egoísta e cruel?

Mesmo agora, seis meses depois de aceitar e aprender a viver com o abandono da sua esposa, ele ficava impressionado pelo quanto ela o enganara. Antonios acreditou no amor de Lindsay por ele. Contudo, eles só se conheciam há uma semana quando se casaram. Foi um ato impulsivo, mas ele teve tanta certeza. Certeza do seu amor por Lindsay, e do amor dela por ele.

Como tinha sido tolo.

Lindsay estava a olhar para ele, o rosto ainda pálido e sofrido.

– Uma semana – disse Antonios. – Sete dias. E, depois, pretendo nunca mais ver-te. – Ela encolheu-se, como se aquelas palavras a magoassem, e ele riu. – A ideia não te agrada?

Ela desviou o olhar, pressionando os lábios para impedi-los de tremerem.

– Não – respondeu após um momento. – Não me agrada.

Antonios franziu o sobrolho.

– Eu não te compreendo.

– Eu sei. Nunca me compreendeste.

– E isso é culpa minha?

Ela abanou a cabeça.

– É tarde demais para atribuir culpas, Antonios. O nosso casamento foi um erro, como te disse por e-mail e ao telefone.

– Entretanto, nunca disseste o porquê.

– Nunca perguntaste.

– Eu perguntei ao telefone…

– Não, não perguntaste – Lindsay falou em voz baixa. – Perguntaste se eu estava a falar a sério. E eu disse que sim. Depois desligaste.

Antonios encarou-a, o maxilar rígido.

– Foste tu quem partiu, Lindsay.

– Eu sei…

– Entretanto, agora estás a tentar implicar que o nosso casamento fracassou porque eu não fiz as perguntas certas quando te telefonei, depois de me abandonares. Theos! É difícil entender.

– Não estou a implicar nada do género, Antonios. Eu estava apenas a relembrar os factos.

– Então, deixa-me recordar-te um facto. Não estou interessado nas tuas explicações. A hora para isso já passou. Só o que me interessa, Lindsay, é a tua concordância. Um avião parte para Atenas esta noite. Se quisermos estar nele, temos de sair daqui durante a próxima hora.

– O quê? – exclamou ela, indignada. – Eu nem concordei.

– Não queres o divórcio?

Ela fitou-o por um momento, o queixo erguido orgulhosamente, os olhos cinza frios.

– Talvez penses que podes chantagear-me para me levares a concordar, Antonios, mas não podes. Eu irei à Grécia, não porque quero o divórcio, mas porque quero mostrar o meu respeito pela tua mãe. Explicar-lhe…

Antonios interrompeu-a:

– Nem penses que vais contar-lhe alguma história triste sobre o nosso erro de um casamento. Eu não quero aborrecê-la…

– Quando pretendes contar a verdade à tua mãe?

– Nunca – respondeu Antonios. – Ela não tem muito tempo de vida.

As lágrimas inundaram os olhos de Lindsay, novamente, tornando-os luminosos e prateados.

– Achas realmente que esse é o melhor curso de ação? Enganá-la…

– Olhe quem fala em enganos…

– Eu nunca te enganei, Antonios. Eu amei-te, por aquela semana em Nova Iorque.

A dor que o assolou foi tão intensa que Antonios quase gemeu. Quase pôs a mão no peito, como se estivesse a ter um enfarte, como o seu pai teve, morrendo aos 59 anos.

– E então? – Conseguiu ele dizer com voz neutra. – Paraste simplesmente de amar-me? – Parte dele sabia que não deveria estar a fazer aquelas perguntas, nem deveria importar-se com as respostas. Disse-lhe que a hora para explicações já tinha passado, e era verdade. – Esquece – acrescentou ele. – Isso não importa. Vais para a Grécia pela razão que quiseres, mas tens de estar pronta dentro de uma hora.

Ela olhou para ele por um longo momento, parecendo frágil e linda, e lembrando-lhe como era maravilhoso abraçá-la. Tocar-lhe.

– Muito bem – concordou Lindsay, com um tom triste e resignado. Suprimindo a dor do desejo que o percorreu, Antonios virou-se de costas para a sua esposa e esperou, com as mãos na cintura, enquanto ela arrumava a mala. Então, sem uma palavra ou um olhar na sua direção, ela passou por ele e saiu do quarto.