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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Lynne Graham

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Desafiando a sorte, n.º 2180- janeiro 2016

Título original: Challenging Dante

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9387-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Dante Leonetti, banqueiro internacional, filantropo de renome e conde di Martino para aqueles a quem esses títulos arcaicos importavam, franziu a testa quando lhe disseram que o seu amigo de infância, Marco Savonelli, queria vê-lo. Devia haver algo muito errado para Marco ter deixado o seu consultório na vila distante para ir até ao escritório dele no centro financeiro movimentado de Milão.

Com os traços marcantes, bonitos e momentaneamente contraídos numa expressão grave, Dante passou a mão pelo cabelo preto e farto num gesto de preocupação raro para um homem do seu temperamento disciplinado. A visita de Marco só podia estar relacionada com dinheiro. Ambos estavam empenhados na angariação de fundos através de vários meios a fim de financiar um tratamento médico pioneiro nos Estados Unidos para uma criança da aldeia que sofria de leucemia. Desde o início, Dante oferecera-se para cobrir todos os custos, porém, Marco conseguira convencê-lo de que seria muito mais diplomático deixar que a comunidade local assumisse a responsabilidade e contribuísse com serviços voluntários a fim de angariar os milhares de euros necessários. Diversos eventos públicos tinham sido devidamente organizados e um baile de máscaras em casa de Dante, o Castello Leonetti, na Toscana, era o evento importante que se seguiria. Na verdade, seria o grand finale no calendário, lembrou-se Dante, contrariado, pois teria preferido fazer uma doação avultada em vez de ser obrigado a usar um disfarce, como se fosse uma criança numa peça teatral da escola. Não tinha paciência para essas tolices.

O telemóvel emitiu um som, indicando a entrada de uma mensagem e, apesar de suspirar, como banqueiro, estava sempre alerta. O contacto, porém, não fora feito por um dos seus assistentes a avisá-lo sobre uma potencial crise, mas pela linda Della, a namorada atual. Dante franziu a testa ao olhar para a fotografia dos seios magníficos dela no ecrã do aparelho e, irritado, apagou a imagem com impaciência. Não queria fotografias obscenas no telemóvel, não era um adolescente. Estava claro que estava na hora de pôr um fim ao relacionamento passageiro e seguir em frente, como de costume. Infelizmente, a perspetiva de explorar novos horizontes naquela área não lhe pareceu atraente. Sabia, porém, que estava entediado com Della e ainda mais com a sua vaidade excessiva e avareza e que aquele era um bom pretexto para encerrar a breve relação entre ambos.

Apesar de estar aborrecido, um brilho de contentamento iluminou os olhos de um tom de verde intenso quando atravessou o escritório amplo para cumprimentar Marco Savonelli. De compleição forte e no início da casa dos trinta, era o exato oposto de Dante no temperamento, pois o jovial Marco raramente era visto sem um sorriso no rosto. Bom, daquela vez, o amigo não estava a sorrir, notou Dante. Na verdade, o rosto expressivo estava atipicamente tenso e preocupado.

– Lamento interromper-te desta forma – começou ele, com um ar desajeitado, parecendo um peixe fora de água enquanto observava a opulência do ambiente ao redor. – Não queria incomodar-te…

– Relaxa, Marco. Senta-te e vamos beber um café – sugeriu Dante, guiando-o na direção da área de estar luxuosa.

– Não fazia ideia de que o teu local de trabalho era tão sofisticado – confessou o outro homem, num tom descontraído, sem a menor pitada de inveja. – E pensar que achei que atingi o grau máximo de sofisticação quando o gerente da clínica mandou instalar o meu computador…

O café chegou com uma rapidez espantosa.

– Não é típico desviar o tempo dos teus pacientes para outras coisas – comentou Dante, ansioso para que o amigo lhe contasse exatamente o que estava mal. – Alguém desviou algum dinheiro do fundo ou algo desse tipo?

Marco, evidentemente muito mais inocente do que Dante alguma vez fora, lançou-lhe um olhar horrorizado.

– É claro que não! O que me trouxe aqui não está relacionado com o fundo e… Bom, na verdade, tive de vir a Milão para visitar a minha tia Serafina a pedido da minha mãe e, enquanto estava na vizinhança, pensei em passar por aqui e ver como estás.

Dante, perspicaz como poucos quando se tratava de interpretar as pessoas, percebeu que havia uma história fabricada a caminho e questionou-se se Marco achava realmente que podia despistar alguém tão astuto como ele.

– Ah, sim?

– E como disse, já que estou aqui – prosseguiu o amigo, apressando-se a falar como um homem relutante a obrigar-se a algo que teria preferido evitar –, não vi mal em aparecer para conversar.

Tentando não se rir da transparência do velho amigo, Dante assentiu num tom tranquilo.

– Sim, claro. Porque não?

– Tens falado com a tua mãe recentemente?

Dante ficou gelado enquanto a inteligência aguçada levava os seus pensamentos numa direção diferente.

– Ela telefona para conversar quase todos os dias – indicou, com uma casualidade calculada, baixando o olhar para ocultar a tensão que o percorreu.

– Ah, sim? Bom… excelente – comentou Marco, embora com uma expressão de quem não esperara receber uma notícia tão tranquilizadora. – Mas quando a visitaste pela última vez?

Dante retesou os músculos, interrogando-se se aquele tom estaria a insinuar censura.

– Presumi que os recém-casados queriam ser deixados em paz.

– É claro. É claro… – concedeu Marco, sem demora e num tom de desculpa. – Uma dedução natural, mesmo na idade deles. E… perdoa-me se parecer ofensivo, mas, apesar de nunca teres dito nada sobre o casamento da tua mãe, deve ter sido uma surpresa para ti.

Percebendo que o amigo de tato excessivo demoraria a expressar-se, Dante reprimiu a vontade nata de manter cada sentimento e reação em privacidade e decidiu ser franco:

– Mais do que uma surpresa, fiquei chocado e, então, preocupado. Não apenas com a decisão repentina da minha mãe de se casar novamente de maneira tão repentina, mas fiquei perplexo com a escolha dela de marido.

– Ainda assim, não comentaste nada na época – indicou Marco, com um gemido. – Se, pelo menos, tivesses sido mais aberto comigo…

– A minha mãe teve uma vida terrível com o meu falecido pai durante anos, mais do que consigo recordar. Era um tirano. Não é algo que comentaria com alguém, para além de ti. Tendo isso em mente, sou o último homem à face da Terra que devia criticar o novo marido dela ou interferir na sua tentativa de, finalmente, encontrar um pouco de felicidade.

Com um brilho solidário nos olhos castanhos e bondosos, Marco relaxou visivelmente.

– Entendo.

Com uma expressão soturna no rosto, Dante relembrou o casamento repentino da mãe viúva com Vittore Ravallo. O casamento fora realizado há apenas dois meses. Ravallo era um homem de negócios fracassado e já fora um mulherengo. Era tão pobre quanto Sofia, Contessa di Martino, era rica. O casamento fora impulsivo e imprudente, mas, como filho leal e amoroso, Dante guardara as suas reservas para si. Se necessário, interviria para proteger a mãe, no caso de o casamento se revelar o erro que presumia ser, mas a curto prazo, cuidaria da própria vida. Mesmo assim, essa concessão feita em consideração e respeito à mãe mostrava-se um desafio, em especial porque o casal feliz ainda ocupava o castelo de Dante na Toscana enquanto aguardava o fim da reforma no novo lar a vários quilómetros de distância de lá. Por essa razão, não visitava o Castello Leonetti desde a pequena cerimónia de casamento que selara o destino da mãe.

Marco cerrou os dentes.

– Talvez devesses voltar para casa. Há algo estranho a acontecer.

Dante quase se riu do comentário.

– Estranho?

– Nunca dei atenção a mexericos, mas somos amigos há uma vida inteira e achei que deveria dar-te uma noção do que tem acontecido.

– Está bem – concedeu Dante, seco e nem um pouco interessado na propensão do amigo para o drama –, o que está a acontecer no castelo?

– Bom, sabes que a tua mãe sempre foi uma mulher cheia de energia e disposição, certo? Mas já não é. E não se tem envolvido nos seus assuntos de caridade habituais. Nunca deixa o castelo e nem sequer faz jardinagem.

Dante franziu a testa sem conseguir imaginar a mãe tão ativa a abandonar repentinamente e a tal ponto a vida atarefada que construíra para si como viúva.

– Isso parece estranho.

– E há a nova secretária dela…

– O quê? – interrompeu-o Dante, abismado. – A minha mãe contratou uma secretária?

– Uma rapariga inglesa. Bastante atraente e, segundo parece, agradável – relatou Marco, pouco à vontade. – Mas, agora, está a comparecer aos eventos de caridade em vez da condessa e tem sido vista a apanhar boleia com Vittore…

Dante ficou imóvel, uma atitude que os seus funcionários conheciam como a calma antes da tempestade, pois a adição de uma mulher jovem e atraente no cenário que Marco descrevia despertou a sua raiva de imediato. Muitos homens mais velhos eram tolos no que dizia respeito a jovens e era bem possível que o padrasto fosse um deles. Ficou com o coração pesado pela mãe. Esperara que, se o casamento fracassasse, fosse por uma razão menos dolorosa para a condessa do que outra mulher. A infidelidade do próprio pai já causara tanta dor a Sofia Leonetti que Dante não podia ficar simplesmente de braços cruzados e deixar que a situação se repetisse.

– Está a ter algum caso extraconjugal? – cerrando os punhos ao longo do corpo, Dante levantou-se, sem conseguir continuar sentado na área de estar do escritório.

– Sinceramente, não sei. Não há nenhum indício disso, nada mais suspeito do que o aspeto das coisas – indicou o amigo, num tom bastante sério. – E todos sabemos como as aparências podem enganar, às vezes. Mas há um detalhe estranho em relação à jovem que parece não encaixar…

– Continua – pediu Dante, num tom grave, lutando para conter o ultraje ao imaginar a mãe a ser traída de maneira humilhante por uma funcionária e o novo marido no próprio lar dele.

– O meu pai foi convidado para um jantar no castelo em celebração do aniversário de Vittore. A jovem estava a usar um colar de diamantes que o meu pai jurou que valia muitos milhares de euros.

E ambos sabiam que o pai de Marco sabia avaliar tais coisas melhor do que ninguém, pois era um famoso designer de joias.

– É claro que podia ser uma relíquia de família – acrescentou Marco, para ser justo.

– Mas qual é a probabilidade de uma jovem assistente administrativa possuir uma joia dessas ou até de a levar para o estrangeiro com ela? – replicou Dante, sem se deixar convencer pelo argumento. – A impressão que tenho é de que, tendo tudo em conta, os diamantes são uma prova incontestável de mau comportamento de algum tipo!

Mas, mesmo que fosse o caso, o que planeava fazer, questionou-se Dante, zangado, depois de o amigo se ter ido embora. Obviamente, faria uma visita ao antigo lar para verificar a situação e, se houvesse algo duvidoso a acontecer, lidaria com a jovem do colar de diamantes devidamente.

 

 

Topsy reprimiu um gemido de frustração enquanto a irmã Kat continuava a desafiá-la com perguntas repletas de preocupação ao telefone. Como era a família com quem estava a morar? Algum homem estava a assediá-la? Havia uma tranca na porta do quarto?

A culpa que Topsy sentira inicialmente por ter mentido à família em relação ao que estava a fazer e ao local onde ficaria hospedada dissipou-se subitamente. Que idade é que a irmã mais velha achava que tinha? Pensava que era uma adolescente vulnerável? Meu Deus, tinha quase vinte e quatro anos e um doutoramento em matemática avançada. Estava longe de ser um bebé. Mas Kat, exatamente como as irmãs gémeas de ambas, Emmie e Saffy, recusava-se simplesmente a aceitar que Topsy crescera e tinha a sua própria vida.

Era verdade que Kat agira mais como mãe de Topsy do que irmã desde que esta tinha seis anos de idade e a mãe delas, Odette, pusera as três irmãs mais novas num lar adotivo a fim de poder continuar a desfrutar da liberdade de solteira. Não, Odette Taylor não tinha a menor vocação para a maternidade, e Topsy tinha plena consciência do quanto ela e as irmãs deviam a Kat pela sua dedicação e lealdade. Kat assumira a custódia das irmãs mais novas, levara-as para o seu lar em Lake District, e criara-as até à vida adulta com os seus próprios recursos. O sacrifício de Kat nunca poderia ser esquecido ou deixar de ser valorizado, reconheceu Topsy.

Ainda assim, ali estava ela na Itália, longe de casa, a mentir sobre o paradeiro como a adolescente que deixara para trás há muito tempo. A família achava que estava simplesmente a desfrutar de uma folga prolongada e que se hospedara na casa de uma velha amiga dos tempos da faculdade. A amiga Gabrielle, por sua vez, prontificara-se a ajudá-la, confirmando a história de que Topsy estava a passar uns tempos na casa dela e da sua família em Milão.

Topsy suspirou, sentindo o peso na consciência novamente. As irmãs eram tão protetoras que normalmente a enlouqueciam. O facto de se terem casado com homens ricos e poderosos só aumentara o desejo e a habilidade de interferir e controlar cada passo de Topsy. Amava as irmãs realmente, do fundo do coração. Na verdade, adorava-as e desfrutava do tempo em que tinham a possibilidade de estar próximas. Não queria, porém, um emprego arranjado pelo marido de uma delas e também não queria que lhe arranjassem um namorado escolhido a dedo. Perdera a conta dos homens sugeridos, considerados bons partidos e, sem dúvida, investigados a fundo, que a família convidara para festas e jantares por sua causa. Também perdera a conta dos namorados que deixara de arranjar por não terem conseguido a aprovação da família. Além disso, a insistência de que tivesse um guarda-costas não contribuíra em nada para melhorar as suas perspetivas de um relacionamento amoroso. E fora a custo que se livrara do mais recente.

Ou os homens a queriam unicamente por causa dos contactos financeiros e comerciais dos cunhados ricos ou toda a confusão quando a convidavam para sair assustava-os. E, para complicar ainda mais as coisas, agora, era dona de um fundo, beneficiada com uma quantia considerável quando fizera vinte e um anos, um presente generoso em conjunto por parte dos maridos das irmãs, para que permanecesse sempre independente e segura.

Independente? Topsy fez uma careta, refletindo que essa era uma meta que almejava, mas sempre estivera fora do alcance. Que piada era o conceito de independência naquelas circunstâncias! O maldito dinheiro, que nunca quisera, mas que deixara as irmãs protetoras e ansiosas felizes, só servira para a aprisionar mais do que nunca num mundo ao qual tinha a sensação de não pertencer. Agora, os cunhados teriam um pretexto ainda melhor para investigar qualquer homem com quem saísse, temerosos de que estivessem interessados no dinheiro dela!

De qualquer modo, aquele não fora o único motivo que a levara à Itália e àquele lar em especial na Toscana, admitiu, constrangida. Na verdade, se algum membro da família descobrisse a farsa que criara para poder estar naquele castelo, ficaria furioso com toda a razão. Ninguém entenderia, pensou, pesarosa, nem daria a devida importância à motivação poderosa que a fizera ir à Itália e fingir ser algo que não era. Mas, afinal, não era como as irmãs. A forma como encaravam certas questões era completamente oposta à dela. O certo e o errado não eram a preto e branco como acreditavam. Era evidente que, se as coisas acontecessem como esperava, um dia, contaria a verdade. Por enquanto, estava no meio da encenação desconfortável relacionada com a sua missão pessoal e a imagem falsa que projetara já estava a perturbá-la. Antes da sua chegada à Itália, praticamente nunca dissera uma mentira. Fora uma criança bastante direta e lógica que se apercebera muito cedo das consequências inevitáveis inerentes às mentiras. Ainda assim, ali estava, todos aqueles anos depois, supostamente madura e inteligente, e a mentir como nunca! E a pessoas tão amáveis, ponderou, ainda com mais tristeza. Porque é que as repercussões da sua missão só lhe tinham ocorrido depois de começar a morar e a trabalhar ali? Porque fizera um planeamento tão ineficaz?

Por outro lado, como poderia simplesmente desistir de uma causa que significava tanto? As irmãs nunca entenderiam aquele ponto de vista, simplesmente reprovariam as suas ações.

E se soubessem dos extremos a que a mãe a obrigara a ir antes de finalmente ter divulgado a informação por qual ela ansiara, ficariam ultrajadas. Na sua opinião, porém, valera a pena, para obter a verdade… Se aquilo fosse a verdade. Sabia que, infelizmente, não podia confiar por completo na palavra da mãe.

Naquele tempo, estava a viver com todo o luxo num verdadeiro castelo medieval que pertencia à família Leonetti há séculos. Os belos ambientes que a cercavam continham a vibração maravilhosa de locais habitados que fazia com que até os móveis mais formais e esplêndidos emanassem um ar acolhedor. Certamente, não podia queixar-se das condições de hospedagem ali.

A meio da manhã do dia seguinte, com os olhos escuros cansados após uma noite mal dormida e repleta de inquietações, Topsy estava no jardim a colher rosas para a condessa fazer um arranjo. O roseiral maravilhoso cintilava ao sol forte e estava tão quente que ficou aliviada por usar apenas uma saia leve de algodão com uma blusa sem mangas. Vittore, que geralmente se envolvia em tudo o que se relacionava com a sua vida, atravessou o roseiral para lhe entregar uma flor de um tom cor-de-rosa vibrante.

– Esta é a La Noblesse, a favorita dela – explicou ele, um homem magro, de compleição pequena, de quase cinquenta anos, com olhos escuros e benevolentes e rosto ainda bonito.

– Estás a identificá-las agora? – provocou-o Topsy, embora tocada pela consideração dele por Sofia. – O tempo que dedicaste àquele livro sobre rosas, com certeza, está a compensar!

Vittore riu-se, corou ligeiramente e esboçou um sorriso caloroso.

 

 

Essa foi a cena que Dante testemunhou, perturbado, quando contornou o castelo para ter acesso à entrada lateral. O padrasto sorridente estendeu uma rosa a uma jovem risonha e morena. Mesmo que Marco não tivesse plantado suspeitas na sua mente, teria ficado desconfiado diante de tamanha familiaridade entre um homem mais velho e uma jovem funcionária.

– Vittore… – cumprimentou, num tom sério, mas contido, anunciando a sua presença.

Assustado, o padrasto virou-se tão depressa que quase caiu por cima de um arbusto. Endireitando as costas, então, congelou no lugar e manteve-se no roseiral.

– Dante – cumprimentou-o, com um sorriso forçado. – Esta é Topsy. Está a trabalhar aqui para ajudar a tua mãe com as obras de caridade.

chaise longue

– Dante! Porque não me disseste que vinhas?

– Tive receio de ser obrigado a cancelar a viagem no último minuto.

Dante beijou a face da mãe e, depois, segurou-lhe as mãos e deu um passo atrás para a observar.

– Pareces pálida, cansada…

Percebendo o ar de consternação que passou brevemente pelos olhos da condessa diante do comentário, Topsy falou sem parar para pensar:

– A sua mãe ainda está a recuperar da gripe que teve há duas semanas.

– Sim… Isso deixou-me muito cansada – Sofia confirmou a mentira, lançando um olhar caloroso a Topsy por lhe arranjar o pretexto fácil. – Vem sentar-te, Topsy…

– Acho que devo ir trabalhar um pouco! – protestou ela, enquanto a condessa voltava a acomodar-se na chaise longue e dava uma palmadinha no espaço ao seu lado. Com pouco menos de cinquenta anos, Sofia ainda era uma mulher muito bonita com os mesmos olhos verdes incomuns e claros que se destacavam no filho.

– Não, não – argumentou Vittore, pegando no interfone com ar jovial. – Faz um intervalo. Vou pedir café para nós.

Dante observou em silêncio enquanto Topsy se sentava ao lado da mãe. Cerrou os dentes com ar de reprovação ao perceber que a condessa tratava a jovem mais como uma sobrinha favorita do que como uma funcionária. Obviamente, não suspeitava do caráter dela, nem do seu comportamento com Vittore. Este, pela sua vez, mantinha-se perto da chaise longue, ao alcance da esposa, o epítome do marido dedicado que queria fazê-lo acreditar que era.

Dante não pôde conter a onda de hostilidade que o dominou e chegou a interrogar-se se a raiva estava a deixá-lo paranoico, pois, ao observar o trio alegre, ficou convencido de que aquilo se tratava de uma encenação destinada a encobrir algo. Mas o que é que a mãe poderia ter para esconder, refletiu, com crescente frustração. A mãe e ele sempre tinham sido unidos. A sua avaliação da situação, a convicção de que havia algo muito errado ali tinha de ser um equívoco.