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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Barbara Hannay. Todos os direitos reservados.

A ROSA DO SEU JARDIM, N.º 22 - Agosto 2013

Título original: The Cattleman’s English Rose

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial,são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3367-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Quem é aquela?

A mulher sentada no banco do lado olhou para Kane McKinnon e tocou-lhe na coxa enquanto olhava para a porta do bar.

– Quem? – perguntou ele, sem olhar.

Concentrou toda a sua atenção na cerveja que tinha diante dele.

– Aquela rapariga – insistiu a mulher.

Sabia que estava desejosa que olhasse para a pessoa que acabava de entrar no bar de Mirrabrook. Não quis dar-lhe essa satisfação e continuou com o olhar fixo no copo.

Não havia nada no mundo tão importante como desfrutar da primeira cerveja do dia. Sobretudo com o calor que estava a fazer e depois de ter passado três semanas a trabalhar com o gado. Além disso, incomodava-o como Marsha se mostrava possessiva com ele. Não gostava que lhe tocasse daquela maneira.

A verdade era que estivera de mau humor todo o dia por causa da notícia que a sua irmã mais nova lhe dera naquela manhã.

O seu irmão, Reid, e ele tinham voltado para o rancho Southern Cross antes do amanhecer, prontos para tomar o pequeno-almoço. Sonhavam com comida caseira, talvez ovos e salsichas, mas tinham encontrado a cozinha vazia e um bilhete encostado ao pote do açúcar na mesa.

Tinham tido de ler duas vezes a carta da sua irmã para conseguirem entender e assimilar o que lhes dizia. Annie tinha decidido ir para a cidade, para passar lá uma semana, talvez duas. Conforme lhes dizia na carta, tinha lá um «encontro com o destino».

Pedia-lhes que não se preocupassem com ela, nem com a sua segurança. Ia ficar em casa de Melissa Browne.

Não lhe tinha parecido próprio de Annie partir daquela maneira, sem falar antes com eles. Acreditava que merecia sair um pouco dali e ir à cidade, mas ela sabia que os seus irmãos necessitariam de algum tempo para arranjar alguém que se encarregasse da casa enquanto ela estivesse fora.

Tivera de ir a Mirrabrook para tentar encontrar alguma mulher que pudesse ficar alguns dias lá em casa. A partida da sua irmã sem aviso prévio complicava as coisas e não tinha conseguido encontrar ninguém disponível para cozinhar e limpar. Só havia algumas raparigas, que ficariam com uma ideia errada se lhes oferecesse o trabalho. Não queria que alguma delas interpretasse mal a sua necessidade de ajuda e começasse a sonhar com casar-se com Reid ou com ele.

– Nunca a vi – comentou Marsha. – E tu?

A jovem não parecia nada contente com a recém-chegada. Via todas as mulheres como concorrência e assim parecia tratá-las. Kane pensou que talvez fosse por isso que os calções de Marsha eram cada vez mais curtos e os decotes, mais acentuados. Olhou de esguelha para a blusa que usava naquele dia. Era tão curta, que parecia tê-la comprado na secção infantil.

A atitude de Marsha aumentava o seu mau humor. Não gostava de mulheres muito recatadas, mas o gosto para se vestir da sua acompanhante ia de mal a pior. Também não lhe agradava que o tratasse como se fosse dela. Parecia estar desesperada e não havia nada que o atraísse menos no sexo oposto.

– Porque está a olhar para ti daquela forma? – sussurrou Marsha.

– Não tenho ideia – respondeu ele, contrariado.

Não fez nada para disfarçar o pouco que lhe interessava o que lhe dizia.

– Bom, parece que estás prestes a descobrir – disse-lhe Marsha, enquanto se levantava e se aproximava dele.

Estava tão perto, que lhe roçou com o rabo. Vencido, decidiu virar-se para ver a recém-chegada.

Viu que todos os clientes do bar, a maioria ganadeiros curtidos pelo sol e vestidos com roupa suja de trabalho, a olhavam de boca aberta. Entendeu logo porquê.

Para começar, a jovem usava um vestido. Era de um tecido fino e suave. Era pelo joelho e de um verde intenso.

A sua pele era muito branca. O cabelo, comprido e ondulado, recordou-lhe a cor do conhaque.

O bar estava cheio de ganadeiros, cervejas e bancos. Aquela mulher parecia vir de outra galáxia, como se acabasse de sair de um filme antigo e romântico, e tivesse entrado no estúdio errado para rodar outra cena.

Mas o que mais lhe chamou a atenção foi ver que caminhava diretamente para ele. Olhava-o com os seus olhos verdes enquanto caminhava com segurança. Pensou em Joana d’Arc e em como a heroína enfrentara com valentia os ingleses. Parecia uma mulher muito segura de si mesma.

Sentiu a necessidade de se levantar. Estivera a agarrar o copo de cerveja com a mão direita e tinha-a húmida. Secou-a disfarçadamente na parte de trás das calças de ganga.

– Kane McKinnon? – perguntou a jovem, quando chegou à frente dele. Olhou brevemente para Marsha e depois ofereceu-lhe a mão branca e delicada. – Sou Charity Denham – apresentou-se. – Penso que conhece o meu irmão, Tim.

Era a irmã de Tim Denham. Não podia acreditar. Os seus olhos verdes observavam-no com atenção, mas ele esforçou-se para disfarçar o desconcerto. Não se parecia com o irmão, embora os dois tivessem o mesmo sotaque britânico.

– Tim Denham? Claro, conheço-o – respondeu ele.

Apertaram a mão com um pouco de desconfiança.

– Penso que o meu irmão trabalhou para si no rancho Southern Cross.

– Sim. Esteve a trabalhar com o gado. Veio passar alguns dias aqui?

– Não – respondeu ela, enquanto baixava o olhar.

Deu-lhe a impressão de que tentava reunir a coragem necessária para lhe dizer algo desagradável. Apercebeu-se de que não era tão forte como lhe tinha parecido à primeira vista. Depois de alguns segundos, a jovem voltou a olhá-lo nos olhos.

O verde dos seus olhos recordou-lhe o das folhas dos eucaliptos. A sua pele era tão fina e clara que parecia quase transparente.

– Estou à procura do meu irmão – confessou ela.

– Porquê?

Pareceu surpreendida, como se a resposta devesse ser óbvia. Tão óbvia como o decote de Marsha.

– Tim desapareceu. Há mais de um mês que nem o meu pai nem eu sabemos nada dele – disse-lhe.

Marsha riu-se ao ouvi-la.

– Um mês? Isso não é nada. Tim Denham já tem idade suficiente para cuidar de si mesmo. Não necessita que a irmã venha buscá-lo ao outro lado do mundo.

– Apresento-lhe Marsha – interveio ele.

As duas mulheres sorriram com frieza.

– Quer beber alguma coisa?

– Uma cerveja amarga com lima, por favor.

– Eu peço – ofereceu-se Marsha.

Surpreendeu-o o entusiasmo da mulher, mas não tentou analisar a sua oferta generosa.

– Obrigado, Marsha – disse-lhe, enquanto acabava a sua cerveja de um gole.

– Não penso que esse tipo de cerveja australiana seja apropriado para si – comentou Marsha à recém-chegada. – Pedir-lhe-ei um gim tónico. Não é o que bebem os ingleses?

Charity Denham ficou boquiaberta, parecia confusa.

– Está bem, mas um copo pequeno, por favor.

Marsha foi até ao balcão e Charity ficou a observá-la.

– Sente-se – sugeriu-lhe ele.

Ela sentou-se num dos bancos e colocou as mãos brancas sobre o colo de forma primorosa. Ele voltou a sentar-se como costumava fazê-lo, com um pé apoiado na travessa do banco e a outra perna completamente esticada.

– Como me encontrou? – perguntou-lhe.

– Entrei na estação de correios para que me indicassem como chegar ao rancho Southern Cross. A empregada disse-me que hoje estava na vila e que poderia encontrá-lo aqui.

Não o estranhou. Era impossível que uma pessoa se assoasse naquela cidade sem que Rhonda o descobrisse e o contasse a toda a gente.

– Senhor McKinnon, vim vê-lo com a esperança de que me ajude a encontrar o meu irmão – disse-lhe a jovem, com grande determinação.

Parecia claro que a sua visita não era de cortesia, que tinha um objetivo em mente e que não sairia dali sem o conseguir.

– Não devia preocupar-se com ele. Pode cuidar de si mesmo.

– Mas há mais de um mês que não sabemos nada dele e Tim sabe muito bem como nos preocupamos. O meu pai fê-lo jurar sobre a bíblia que nos manteria informados do seu paradeiro.

– Sobre a bíblia? – repetiu, estupefacto.

– Tim não lhe contou que o nosso pai é o reverendo da igreja de Saint Alban?

– Não – respondeu, sem conseguir esconder a sua surpresa.

– O nosso pai aceitou pagar-lhe o bilhete de avião para que viesse para a Austrália com a condição de que se mantivesse sempre em contacto connosco. Até há um mês, escrevia-nos de forma regular, mas não sabemos nada dele desde então.

– Não devia preocupar-se. De certeza que está bem.

Os olhos dela brilharam ao ouvir as suas palavras. Parecia estar prestes a perder a paciência.

– Como pode ter a certeza? Por acaso, sabe onde está o meu irmão?

– Foi-se embora há quatro ou cinco semanas, mas não sei dizer-lhe para onde foi.

– Não sabe ou não quer?

A sua pergunta rápida surpreendeu-o, mas soube reagir a tempo.

– Não sei dizer-lho – repetiu, com firmeza. – Só sei que saiu da zona.

A jovem franziu o sobrolho.

– Não me parece normal. Tim não lhe contou nada dos seus planos ou para onde ia?

– É um país livre – respondeu, enquanto encolhia os ombros. Charity Denham abanou a cabeça e suspirou com impaciência. – Nesta terra, as pessoas podem ir e vir à vontade – acrescentou ele. – É sempre assim. Viajam de um lado para o outro. É disso que se trata, de ter a liberdade de partir quando surge uma oportunidade melhor – acrescentou, enquanto a olhava. – Talvez o seu irmão estivesse desejoso de se afastar um pouco das saias da mãe – a jovem fulminou-o com o olhar, mas ele limitou-se a sorrir. – Não pode pretender que um jovem como Tim se deixe controlar toda a vida.

– Foi mais ou menos o que me disse a polícia, mas não posso aceitá-lo – respondeu ela.

– Então, já falou com a polícia?

– É óbvio, em Townsville. Registaram Tim como desaparecido, mas deu-me a impressão de que não deram importância à minha queixa. Disseram-me que os jovens desaparecem com frequência e que a maioria o faz de forma voluntária, mas eu sei que o meu irmão não faria algo parecido.

– Como pode ter a certeza?

Viu um vislumbre de raiva nos seus olhos verdes.

– Conheço o meu irmão. Cuidei dele desde que a minha mãe morreu, quando ele tinha sete anos.

Aquilo surpreendeu-o muito.

– Mas você era demasiado jovem para assumir tanta responsabilidade...

– Tinha catorze anos.

– Bom, fez um bom trabalho – respondeu ele, enquanto se concentrava novamente na sua cerveja. – O que mais lhe disse a polícia?

– Pouco mais – confessou ela, com um suspiro. – Verificaram a conta bancária de Tim e não tirou dinheiro dela. Dizem que é bom sinal que ninguém tenha esvaziado a sua conta e que parece indicar que não houve nada ilegal, mas, se Tim não usou nenhum dinheiro, talvez tenha sofrido um acidente. Talvez tenha morrido e esteja caído em algum sítio sem que ninguém o tenha visto.

– Não penso que haja motivos para se deixar levar pelo pânico – assegurou-lhe ele, com mais amabilidade. – Eu paguei-lhe em dinheiro, portanto, foi-se embora com bastante dinheiro.

Ouviu-se os passos de Marsha sobre o chão de madeira. Chegou à mesa pouco depois e ofereceu-lhes as bebidas. Mostrava um sorriso amargo.

Todos beberam durante alguns segundos e o silêncio foi interrompido por outro suspiro de Charity Denham.

– Sei que devo parecer uma mãe histérica e controladora, mas não consigo evitar estar preocupada – disse-lhes. – Tim é muito jovem, acaba de fazer dezanove anos.

Marsha não conseguiu disfarçar a sua surpresa e ele olhou para ela com o sobrolho franzido.

– Nesta terra, um jovem de dezanove anos já tem idade suficiente para votar, beber álcool e inclusive lutar e morrer pelo seu país – disse ele.

– Talvez, mas vou encontrá-lo, esteja onde estiver. Se não puder ajudar-me, pode pelo menos sugerir-me onde deva começar a procurá-lo? – perguntou-lhe ela.

– Poderia estar em qualquer sítio – respondeu Kane, encolhendo os ombros.

– De certeza que consegue dizer-me mais do que isso – insistiu Charity.

Foi ele quem suspirou então. Ao vê-la a entrar no bar, tinha-lhe parecido que era uma mulher forte que não se rendia com facilidade. E estava a descobrir que tinha razão.

– Muito bem, dir-lhe-ei o que penso – disse-lhe ele. – Talvez o seu irmão tenha conseguido trabalho noutro rancho. Pode ser perto daqui ou muito mais a norte, perto de Cape. Se for o caso, passará entre seis a oito semanas a cavalo. Pode estar a pescar no golfo ou ter aceitado trabalho em algum barco – enumerou, sem deixar de a olhar. – Quer que lhe dê mais opções? – ela não disse nada, portanto, decidiu acrescentar: – Talvez esteja à procura de ouro no rio Croydon ou de safiras em Annakie. Ou talvez esteja num bar da ilha Magnetic, a falar com uma sueca de viagem pela Austrália.

Enquanto o ouvia, Charity mordia o lábio inferior, um lábio suave e rosado. Kane não conseguiu evitar reparar na sua boca.

– Pode estar a fazer qualquer uma dessas coisas, mas não é normal que não nos tenha telefonado, escrito, nem mandado sequer um e-mail.

– Talvez esteja muito ocupado ou nalgum sítio demasiado remoto para comunicar com alguém – disse-lhe ele. Charity ficou a olhar para o copo, agitou-o e observou os cubos de gelo. Depois, bebeu um gole da sua bebida. Parecia pensativa. – Faça-me caso – acrescentou ele, com seriedade. – De certeza que o seu irmão está bem.

– Mas como pode sabê-lo?

Frustrado, acabou a sua segunda cerveja do dia.

– Olhe, é melhor que não fique aqui, não é o sítio mais apropriado. Acho que devia voltar para a costa. Porque não viaja um pouco e conhece mais da Austrália? Tenho a morada de Tim em Inglaterra. Se souber alguma coisa dele, entrarei em contacto consigo.

Sabia que aquela mulher não gostaria que a despachasse tão cedo, mas fizera o possível para responder às suas perguntas e começava a perder a paciência.

Surpreendeu-o que parecesse aceitar as suas palavras.

Acabou o gim tónico com nervosismo.

– Obrigada pela bebida – disse-lhe. – Esperava que pudesse ajudar-me, senhor McKinnon, mas vejo que não é assim. Tentarei encontrar outra pessoa nesta região que tenha conhecido Tim.

Levantou-se e viu que parecia instável. Perguntou-se quanto gim lhe teria posto Marsha na bebida.

Charity Denham estendeu-lhe a mão.

– Obrigada e peço desculpa pelo incómodo.

– Lembre-se do meu conselho – disse-lhe ele, enquanto lhe apertava a mão. – Não fique aqui. Volte para a costa e divirta-se um pouco.

– Prazer em conhecê-la, Marsha – disse à outra mulher.

– Igualmente – respondeu Marsha, muito mais animada ao ver que se ia embora.

Charity virou-se, de cabeça erguida, e foi andando devagar e com cuidado até à saída do bar. Kane recordou a decisão e a força que vira no seu olhar ao entrar e não lhe agradou ver que tinha conseguido desanimá-la tão facilmente.

«Obrigada por nada, senhor McKinnon», pensou Charity.

Assim que saiu do bar, deixou-se cair no banco que havia à entrada. Sentia-se tão desiludida como zangada.

Fora uma viagem muito longa e pusera todas as suas esperanças na ajuda que Kane McKinnon pudesse dar-lhe para encontrar o seu irmão, mas a única coisa que lhe dissera era que saísse dali.

Tinha-lhe parecido que o envolvia um halo de mistério. Perguntou-se se se teria mostrado pouco colaborador porque era a sua natureza ou se teria algo a esconder. Dera-lhe a impressão de que tinha tentado adverti-la de algo. As suas palavras tinham-lhe parecido quase uma ameaça.

Estava claro que aquele homem não ia ajudá-la e não sabia o que fazer, nem a quem se dirigir. A sua ida à esquadra de polícia também não lhe tinha servido de muito e não tinha mais ninguém. Estava sozinha num país enorme que não conhecia. Sentia-se deslocada e perdida.

Kane McKinnon pensava que Tim estava tão ocupado ou a divertir-se tanto que nem sequer tivera tempo para entrar em contacto com eles. Perguntou-se se teria razão. Talvez esperasse demasiada responsabilidade e bom senso de um rapaz tão jovem. Talvez se tivesse apaixonado e não conseguisse pensar em mais nada. Mesmo assim, não entendia que não lhes tivesse telefonado.

– Tim era muito querido.

Levantou a cabeça, surpreendida. Era Marsha.

– Ah... Olá novamente.

– Era um cavalheiro – acrescentou a mulher, enquanto se aproximava mais.

– Conheceu-o bem?

– O suficiente – respondeu Marsha, com amabilidade, sentando-se ao seu lado. – Na verdade, penso que Kane foi um pouco brusco contigo. Afinal, vieste de muito longe e não conheces ninguém aqui.

Charity esbugalhou os olhos, surpreendida.

– Porque não vens comigo? Podemos falar um pouco do que te preocupa, de mulher para mulher.

– És muito amável – respondeu Charity, tentando disfarçar a sua surpresa.

Marsha era muito diferente das suas amigas. A última pessoa de quem esperava receber ajuda era da rapariga de Kane McKinnon, pois adivinhara ao entrar no bar que estariam juntos. Embora imaginasse que um homem como ele teria mais de uma namorada. Imaginava que muitas gostassem dos seus olhos cinzentos e do seu corpo musculoso e esbelto.

– Que tal bebermos alguma coisa na esplanada? – sugeriu-lhe Marsha, com um sorriso.

– Obrigada.

Não podia recusar-se. Tinha tão poucas opções, que teria sido absurdo recusar a oferta. Charity levantou-se e seguiu-a. Abriram uma porta que dava para um pátio agradável. O chão era de ladrilhos brancos e pretos e as mesas estavam protegidas do sol por uma pérgula coberta de parras. Havia muitas cestas penduradas com samambaias que ofereciam uma grande sensação de tranquilidade e privacidade.

– Este sítio é mais tranquilo – disse-lhe Marsha, enquanto cumprimentava com a cabeça um casal sentado noutra mesa.

– É muito bonito.

– Senta-te, vou buscar as bebidas.

– Por favor, deixa-me pagá-las – pediu-lhe, enquanto tirava o porta-moedas da mala.

Mas Marsha levantou a mão.

– Podes pagar a próxima rodada – disse-lhe, com um sorriso.

Não acreditava que fosse capaz de beber uma terceira rodada. Talvez fosse por causa do calor, mas a bebida que bebera tinha-a enjoado um pouco.

Marsha voltou rapidamente com as bebidas.

– Saúde! – disse-lhe a mulher, enquanto brindava com ela.

– Saúde! – respondeu ela. – Trabalhas aqui em Mirrabrook?

– Sim. Tenho um cabeleireiro e muitos clientes. Mal tenho tempo livre.

– Deves ser muito boa – comentou, enquanto bebia um gole da sua bebida. – Querias dizer-me alguma coisa sobre o meu irmão?

As argolas grandes de prata que Marsha usava nas orelhas tilintaram quando se aproximou mais dela e baixou a voz.

– Aqui entre nós, a verdade é que estou um pouco preocupada com o rapaz. Tim prometeu que viria ver-me no dia do meu aniversário, mas não apareceu.

– Prometeu que viria ver-te? – perguntou, sem conseguir disfarçar o seu espanto.

Pegou no copo e bebeu um bom gole da sua bebida.

– Surpreende-te? – perguntou-lhe Marsha, com um sorriso.

– Bom... A verdade é que sim.

Não queria sequer pensar em porque Tim quereria visitar alguém como Marsha. Decidiu que era melhor tirá-lo da cabeça.

– Estranhei muito que desaparecesse – disse-lhe Marsha.

– Então, achas que pode ter-lhe acontecido alguma coisa?

– Não tenho a certeza – respondeu Marsha, com preocupação. – Mas gostaria de te ajudar a encontrá-lo.

– És muito amável – disse-lhe ela.

Pareceu-lhe que tinha julgado demasiado depressa aquela mulher e que tinha boas intenções.

– Bebe, bebe! – incitou-a Marsha. – De certeza que conseguiremos chegar a alguma conclusão.