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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Harlequin Books S.A.

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Chantagem na cama, n.º 1270 - abril 2018

Título original: Blackmailed into the Greek Tycoon’s Bed

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-288-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

A presença dela, mais do que a arrogância, foi a primeira coisa que chamou a atenção de Xante. O vento forte e a chuva torrencial tinham espantado muita gente das ruas de Londres. Embora fosse pleno dia, os carros que chegavam à porta do hotel traziam os faróis ligados e os limpa-pára-brisas mexiam-se a toda a velocidade. Poucos se atreviam a desafiar o temporal. Com a gabardina por cima da cabeça, corriam do almoço para o escritório ou para a próxima reunião, enquanto os londrinos mais organizados ou experientes abriam os guarda-chuvas e continuavam a conversar ao telemóvel. Só alguns se refugiavam no hall do hotel Twickenham, de Xante Tatsis.

Xante possuía vários hotéis, mas raramente estava em algum dos halls a verificar se estava tudo em ordem. Tinha empregados que se ocupavam desses detalhes. No entanto, naquele dia, era diferente. Xante sentia um fraco por aquele hotel em particular, que lhe permitia desfrutar da sua paixão pelo râguebi. Naquele dia, chegava a equipa de râguebi de Inglaterra para participar num evento oficial, com o objectivo de angariar fundos. A nata da alta sociedade assistiria naquela noite ao leilão de beneficência, que teria lugar a seguir ao jantar e que ofereceria uma oportunidade aos ricos de se gabarem da sua riqueza, com a desculpa de que o faziam por uma boa causa.

Xante gostava de todos os desportos, mas coisa curiosa num grego, o râguebi era a sua paixão. Amava aquele jogo nobre, o sangue, o suor e o esforço que o transformavam num grande desafio. A filotimia, ou seja, o amor da honra, era tão vital para a sua gente que estava previsto no Código Civil grego e, para Xante, o grande jogo de râguebi representava perfeitamente esse conceito.

Quando os jogadores já estivessem no seu hotel, treinariam e viajariam em equipa, mas, naquele momento, estavam a chegar vindos de todo o país e Xante já tinha cumprimentado vários, incluindo o capitão. Era natural que quisesse estar ali para receber pessoalmente a equipa e era natural, embora por razões completamente diferentes, que tivesse reparado na loira esbelta que tinha entrado no hall. Alta e magra, teria chamado a atenção de qualquer homem e ele não era uma excepção.

O modo como tirara o casaco, não com arrogância, mas assumindo que alguém se encarregaria dele, disse-lhe que era rica.

Xante tinha escolhido bem os empregados. Albert, o concierge, mexeu-se com rapidez ao dar-se conta de que o porteiro não se tinha apercebido da aura de riqueza da jovem e agarrou no casaco. A mulher entrou no hall, sem olhar para trás. Contudo, hesitou.

Olhou à sua volta, pareceu perdida por um segundo e Xante percebeu que não era uma hóspede.

O hotel estava lotado e Xante tinha trazido empregados extra para tentar que se respeitasse a privacidade dos hóspedes importantes. Os adeptos permaneceriam lá fora e os jornalistas, por muito que se disfarçassem, eram rejeitados com cortesia à porta. No entanto, aquela mulher tinha passado pela segurança e introduzira-se ali como se fosse a proprietária do hotel.

Xante sabia que havia pessoas que não precisavam de passaporte e aquela mulher parecia ser uma delas.

Caminhava pelo hall, observando os quadros, presumivelmente à espera de alguém.

– Aquela mulher – perguntou Xante ao concierge. – Quem é?

Albert falava com um casal sobre os espectáculos que havia naquele momento no West End. Quando se aproximou da secretária para ver se tinha bilhetes disponíveis, aproveitou para satisfazer a curiosidade do chefe.

– Karin Wallis – disse em voz baixa.

Xante franziu o sobrolho. O nome era-lhe familiar.

– É famosa?

– Pertence a uma das famílias mais famosas de Inglaterra – murmurou Albert. – Aparecem com frequência nas revistas de sociedade.

– E? – insistiu Xante, porque Albert nunca oferecia voluntariamente um mexerico, queria sempre que lhe perguntassem.

– Os pais morreram há alguns anos. O irmão é um pouco descarado, mas encantador. A irmã mais nova estuda num colégio interno.

– E Karin? – Xante começava a fartar-se de arrancar assim a informação. – O que sabes dela?

– A imprensa chama-lhe «A rainha de gelo» – Albert sorriu. – Alguns dizem que é pelas inúmeras viagens que faz para ir esquiar. Suponho que acaba de regressar de uma à Suíça. No entanto… – Albert tossiu um pouco para demonstrar que o incomodava falar daquelas coisas.

– Continua.

– Francamente, senhor, perderia tempo com ela. Ninguém consegue aproximar-se de Karin Wallis – o concierge deu a conversa por terminada quando o casal se aproximou da sua secretária. – Já não demorará muito, senhores – embora Xante fosse o patrão, os hóspedes estavam sempre em primeiro lugar. Afinal de contas, tinham-no contratado para isso.

Xante assentiu com a cabeça e dirigiu-se para a recepção, onde lhes recordou que queria que o avisassem sempre que chegasse um jogador da equipa.

A rainha de gelo.

Gostaria de ter tempo para confirmar as palavras de Albert. Incrivelmente atraente e rico, não lhe era difícil atrair as mulheres. Educado numa ilha grega pela mãe viúva, tinha lutado arduamente para sobreviver, ao extremo de procurar comida nos baldes do lixo dos restaurantes onde comiam os turistas ricos e mexer em redes de pesca à procura de restos. A morte do pai tinha-o arrasado, mas naquele dia maldito, tinha acontecido mais uma coisa que tinha assustado o Xante de nove anos.

Ele estava na praia à espera de notícias, com os tios, primos e amigos, e a mãe ficara em casa a rezar, pedindo um milagre. Até que chegara o bote com o triste fardo.

Um tio que tinha estado a pescar com o pai de Xante dera-lhe a notícia. Deixara-o chorar e depois dissera-lhe que tinha de ser forte. O padre tinha ido dar a notícia à mãe.

Xante não conseguia recordar o percurso até à sua casa. Talvez tivessem ido de carro, não se lembrava de nada. O que recordava era a surpresa ao entrar em casa e ver a mãe vestida de preto da cabeça aos pés. Ela tinha menos de trinta anos, mas naquele dia, parecera-lhe que tinha envelhecido duas décadas. As cores e a vivacidade tinham desaparecido para sempre. Naquele dia trágico, não só perdera o pai, como também a alegria da mãe. E como tinha desejado recuperá-la! Tinha querido vê-la a vestir novamente saias estampadas e camisas brancas de algodão. Tinha querido ver-lhe os caracóis, em vez de ela os esconder debaixo de um lenço preto, tinha querido que se pintasse e usasse perfume.

Contudo, esses dias, tal como o pai, tinham desaparecido para sempre.

No entanto, aos catorze anos, Xante tinha encontrado uma diversão. Era alto para a sua idade, bonito e as turistas consideravam-no atraente. Os rapazes kamaki um pouco mais velhos tinham-lhe dito que, depois de ter dominado a arte de beijar, já estava na hora de passar para as montanhas. Montado na mota, com uma rapariga bonita que usava cores vibrantes e maquilhagem, que se ria das suas brincadeiras e se agarrava à sua cintura, Xante tinha encontrado finalmente a liberdade dos tristes limites da sua casa.

E, claro, tinham-no descoberto. Tinham escrito à mãe, da escola, para lhe contarem que faltava muito e ela tinha contactado o seu tio, que o tinha encontrado na montanha, numa posição bastante comprometedora. Tinha arrastado Xante até casa e tinha-lhe dado uma sova, enquanto a mãe gritava que tinha envergonhado o apelido da família.

Aquilo tinha acabado temporariamente com as suas travessuras.

Xante tinha-se concentrado nos estudos e melhorado as notas, mas a montanha continuava a chamá-lo. E, tantos anos depois, ainda recordava a sensação de triunfo que se apoderava dele nos seus dias de kamaki, quando provocava uma resposta deliciosa num corpo virgem ou ajudava uma dona de casa solitária a fugir da monotonia do leito matrimonial e a voltar a descobrir os seus segredos mais íntimos.

Rainha de gelo. Xante sorriu. Isso não existia.

Contudo, naquele dia, estava demasiado ocupado para distracções. Sentou-se na sala de hóspedes, onde o esperava o computador. Serviram-lhe café, mas não conseguiu evitar observar a mulher em questão quando entrou na sala.

O empregado indicou-lhe imediatamente uma cadeira e Xante apercebeu-se pela primeira vez de que estava nervosa. Entendia bem as mulheres, pois tinha crescido a estudar essa arte. Embora tivesse passado despercebido a muitas pessoas, Karin Wallis estava nervosa. Os seus olhos percorreram a sala ao entrar.

As cabeças viravam-se à sua passagem. Desportistas de elite, que tinham mulheres bonitas ao lado, reparavam nela. Não havia nada de sórdido nisso, as mulheres também olhavam. Simplesmente, porque havia qualquer coisa nela que merecia mais do que um olhar passageiro.

Os seus traços finos de porcelana, o modo elegante como se sentava, com as pernas levemente de lado e cruzadas nos tornozelos, nada disso passou despercebido a Xante.

Não era hóspede do hotel, tinha a certeza. Também não havia um computador portátil ao seu lado, nem olhava para o relógio como se tivesse de se encontrar com alguém. De facto, pegou na ementa e, quando Xante ouviu a sua voz bem-educada a pedir chá e uma sandes, compreendeu que tinha intenção de comer sozinha.

O seu telefone tocou. A chamada era importante, como sempre naquela altura, portanto, atendeu-o e começar a falar em grego com o corrector da Bolsa. Imediatamente, esqueceu a loira para pensar só nos negócios… Até que ela se levantou. Foi um movimento que custou uma grande quantia em dinheiro a Xante, que disse ao corrector que se encarregaria pessoalmente da desgraça, finalizou a chamada e desligou o telemóvel.

Ela caminhava pela sala, olhando para a parede em frente. Xante assumiu que teria perdido peso recentemente, pois usava um fato preto, a saia descaía um pouco nas ancas esbeltas e o casaco era demasiado largo para os ombros. Mesmo assim, tinha curvas generosas nos lugares importantes. Tinha um rabo arrebitado e, ao abrir o casaco, mostrara uma camisola de caxemira. Havia qualquer coisa nela que era quase puritana. Usava pouca maquilhagem e o cabelo loiro estava apanhado num coque. A camisola de caxemira era de gola alta e os sapatos eram demasiado baixos e pesados para lhe favorecerem as pernas. Mas, de qualquer modo, era espectacular e Xante teve de desviar o olhar e fingir que lia o jornal durante cinco minutos, antes de considerar decente levantar-se.

Ocupado ou não, decidiu que havia sempre tempo para uma mulher bonita.

 

 

Karin não sabia o que fazia ali, nem o que ia fazer agora que estava ali.

Tinham passado quatro semanas desde que se dera conta de que a rosa tinha desaparecido. Tinha falado com o irmão e Matthew tinha-lhe dito que a tinha vendido. Ela tinha acedido a vender mais um quadro, uma cómoda elaborada e os brincos favoritos da sua falecida mãe para pagar o último ano de escola da irmã, sem se dar conta de que, ao assinar os documentos, o irmão a tinha enganado, incluindo também a jóia da rosa.

A rosa incrustada de rubis, que tinham dado ao avô no ano em que a equipa de râguebi de Inglaterra tinha vencido todos os jogos, era muito mais do que uma jóia. Tinha sido o bem mais precioso do avô… E também o de Karin, que tinha fugido muitas vezes do caos da sua casa para passar um tempo com o avô viúvo, em Omberley Manor, a casa onde viviam agora Matthew e ela. Tinha passado muitas tardes a ouvir as histórias maravilhosas dos dias de glória do avô e recordava cada uma delas com amor.

Quando Karin tinha quinze anos, o avô já se desligara há muito tempo dos caprichos do filho e da nora, e tinha dito a Karin que, quando morresse, a rosa seria dela. Para Karin, a rosa era o último vínculo com o avô e com o grande homem que tinha sido. Representava também tudo o que a sua família poderia ter sido. E, se conseguisse proteger a irmã da verdade, durante mais algum tempo, talvez também fosse um símbolo de tudo o que Emily poderia chegar a ser um dia.

Karin tinha procurado freneticamente a rosa durante semanas. Na semana seguinte, teria de ir a uma reunião em Twickenham, para celebrar os feitos do avô, e supunha-se que levaria a rosa consigo. No entanto, todas as suas tentativas para a encontrar tinham sido inúteis. Só sabia que a rosa fora comprada por um licitador anónimo, pois, aparentemente, o comprador tinha insistido no anonimato e Karin nem sequer sabia se era um homem ou uma mulher.

Até àquela manhã.

Estava a beber um café na biblioteca e a ler um artigo sobre o início do Torneio de Râguebi das Seis Nações, que começaria em Fevereiro, quando lhe tinha chamado a atenção uma informação sobre o hotel luxuoso de Twickenham, onde a equipa de râguebi de Inglaterra assistiria a um evento de beneficência. Aparentemente, o dono, um empresário naval grego, tinha uma colecção impressionante de lembranças desportivas e a sua última aquisição tinha sido a rosa de rubis.

Karin levava uma vida rígida e organizada. Fazia-o por escolha própria, pois era melhor do que sucumbir ao gene temerário e ambicioso que tinha acabado por matar os pais e que estava a destruir o irmão. Ela raramente agia por impulso. Mas, uma hora antes, tinha-o feito.

Tinha alegado uma enxaqueca, vestira o casaco e apanhara um táxi até ali, um lugar onde mal conseguia pagar uma sandes. As aparências eram tudo para os Wallis, portanto, tinha pedido um chá e sentara-se, a tentar forjar um plano. E, tinha-a visto, numa vitrina, a poucos metros de onde se sentava. Tinham-na limpado.

Quando se aproximou, questionou-se por um segundo se seria a sua rosa, mas claro que era. De facto, estava resplandecente como a recordava na sua infância. Dos dias distantes, em que encostava a cara ao vidro e pedia para segurar a «varinha mágica das fadas», como lhe chamava então. Com os joelhos levemente dobrados e olhando para a vitrina com atenção, apercebeu-se de que era praticamente o que estava a fazer agora.

– A minha rosa é muito bonita, sim – uma voz com sotaque carregado recordou-lhe onde estava e endireitou-se rapidamente.

– Muito – replicou, cerrando os dentes.

O homem apresentou-se como Xante Tatsis e ela virou a cabeça, com hostilidade.

– Na verdade… – quando, finalmente, olhou para ele, não foi capaz de dizer nada, tão forte foi a sua reacção perante aquele homem.

Os olhos pretos dele pousaram nos seus e teve a sensação de que caía num redemoinho perigoso. Queria desesperadamente fazer alguma coisa, mas só conseguiu permanecer atónita, sem reagir.

Normalmente, usava o seu escudo de gelo, mas estava tão concentrada na rosa que tinha baixado a guarda. Ardia-lhe o rosto quando observou o cabelo preto e o nariz direito. Os olhos dele continuaram fixos nos seus durante mais um segundo do que seria decente e a boca, de lábios grossos e sensuais, curvou-se num sorriso ao ver a intensidade da reacção dela.

– Veja.

Ele abriu a vitrina. Xante não precisava de se gabar para a impressionar, mas queria impressioná-la. Estava satisfeito com a sua última aquisição, a rosa de rubis que representava um acessório perfeito para o seu hotel de primeira classe. A sua posse não lhe produzia um verdadeiro prazer, como não o produzia o resto das lembranças. Mas apreciava a ambição que o tinha levado a triunfar. A rosa era excepcionalmente bonita e representava os homens de coração de leão de Inglaterra. Abriu a vitrina e tirou a jóia.

– Merece ser vista mais de perto. Pode segurá-la.

Karin pestanejou e olhou para as mãos morenas a abrirem a vitrina. Por baixo do punho branco da camisa dele apareceu um relógio caro e pesado, e o fato mexeu-se para acomodar os ombros largos quando se inclinou para tirar a jóia. Até a parte de trás da cabeça era sexy. Cabelo preto, sem um único cabelo branco, bem cortado. Quando se endireitou, Karin, já recomposta, não olhou para ele.

– Desculpe, senhor – o director do hotel aproximou-se deles. – Acaba de chegar outro jogador.

– Obrigado.

Xante tinha de se ir embora. Era apropriado que se fosse embora, mas também queria voltar. Seria indelicado tirar-lhe a jóia agora e guardá-la. Ela observava-a, apreciando a sua beleza, tal como Xante apreciava a dela. Tinha uns olhos maravilhosos, a única nota de cor no rosto, de um turquesa-esverdeado, que recordava a Xante o mar Egeu.

– Aprecie – sorriu. – Volto já.